segunda-feira, 1 de junho de 2015

A criança cega em idade pré-escolar


U.S. Department of Health, Education and Welfare
[Artigo traduzido e adaptado da obra "The preschool child who is blind"

1985

Todos os pais esperam ansiosamente o nascimento do seu filho. Mas, quando a criança nasce cega, ou fica cega pouco depois do nascimento, os pais ficam chocados. Por vezes ficam mesmo esmagados pelo enorme desgosto. Isto pode ser devido ao facto de nunca terem conhecido uma pessoa cega. Lembram-se apenas dos cegos que viram na rua a pedir ou a vender cautelas. Não têm conhecimento de que existem milhares de pessoas cegas que exercem cargos de responsabilidade e bem remunerados, que desempenham actividades especializadas ou são administradores de negócios. Não conseguem conceber a ideia de não conseguir ver. Pensam que a criança sentirá a cegueira da mesma forma que eles.
A criança que nasceu cega não sabe o que é ver. Nem tão pouco sabe que está privada de algo, que lhe falta qualquer coisa. E não se aperceberá disso durante bastante tempo. Não sabe que é diferente dos outros. Portanto é tão feliz como qualquer outra criança. Até se aperceber de que não vê, pode ter-se tornado uma pessoa feliz, que encara a vida como qualquer outra criança. Pode sentir que é amada e desejada pelos pais e que consegue viver a sua vida plenamente. Geralmente a maior parte dos pais necessita de bastante tempo para se acostumar à ideia de que o seu filho não pode ver. E não é de admirar. Todas as expectativas e planos que tinham para este filho parecem ir por água abaixo. Sentem-se isolados e perguntam-se: "Porque terá isto acontecido ao nosso filho?" Ficam também preocupados com a felicidade futura da criança. Podem até sentir-se culpados. Pensam que tinham obrigação de estar felizes com o nascimento do filho, mas que isso não se verifica.
OS OUTROS PAIS PODEM AJUDAR
É perfeitamente natural e normal a ocorrência dos sentimentos referidos. Não são de modo algum raros. Alguns pais sentem-se apoiados se conversarem com os pais de outras crianças cegas. Os pais que já ultrapassaram a angústia dos primeiros meses e que viram o seu filho crescer, podem dar esperanças aos pais que se vêem agora confrontados com a mesma situação. Podem dizer-lhes que, à medida que o tempo passa, e que a criança começa a crescer e a desenvolver-se, eles terão orgulho nela e nas suas conquistas.
Traumatizados pelo desapontamento e pela tristeza, por vezes os pais sentem dificuldade em se aperceber de que o filho é antes de tudo uma criança. Ser cego é apenas um aspecto da sua vida. Mas a sua vida tem muitos outros aspectos. A cegueira não o torna tão diferente duma criança que vê, como geralmente se pensa. Na realidade tem muito mais semelhanças com a criança que vê do que diferenças. Portanto, quanto mais os pais aprenderem sobre a criança, mais a poderão ajudar.
Como acontece com todos os pais, a mãe e o pai de uma criança cega querem que tudo o que acontece ao seu filho contribua para desenvolver a autoconfiança, e a independência. Querem que ele coma, ande, se vista, brinque com outras crianças, vá à escola e tenha uma vida social como todas as outras crianças.
ELE PRECISA DAQUILO QUE TODAS AS CRIANÇAS PRECISAM
Há certas coisas de que todas as crianças precisam. Precisam de saber que são amadas e desejadas e que são membros importantes da Família. Precisam de ser capazes de se desembaraçarem sozinhos e gostam que os outros se apercebam disso. Precisam de conhecer a sensação de ter feito algo bem feito. Precisam de desenvolver continuamente as suas capacidades. A criança cega precisa de tudo isto tanto como as outras. Precisa ainda de ser saudável. Para além dos cuidados normais do pediatra, a criança cega precisa dos cuidados de um oftalmologista (médico especializado em doenças dos olhos). O oftalmologista pode informar os pais sobre o problema dos olhos do seu filho.
Por vezes a criança cega necessita do auxílio de outros técnicos especializados. Se assim for, o médico ou o oftalmologista podem fazer o encaminhamento conveniente, para neurologista, uma assistente social, uma enfermeira de saúde pública, etc. A saúde mental e emocional andam de mãos dadas com a saúde física e são igualmente importantes para o desenvolvimento de uma criança feliz.
Durante os primeiros meses tudo o que a criança precisa é de comida, sono e mimo. Pegar nela, apertá-la ao peito e passeá-la pela casa contribuem para que se sinta amada e segura. A criança nasce desejosa de conhecer as coisas do mundo exterior e de percorrer todos os lugares. Mas se não vê, precisa de ser estimulada a pegar nos objectos e a mexer-se por meio de palavras e de sons e de uma grande variedade de objectos para manipular. Assim essa curiosidade inata levará ao seu crescimento e desenvolvimento. Para começar , a criança precisa de ser levada de um local para o outro muito mais do que qualquer outra criança. Ela gosta de ouvir as conversas das pessoas que a rodeiam e gosta sobretudo de que falem com ela. Deve sentar-se a criança amparada com almofadas durante algum tempo todos os dias, na mesma idade em que isso se faz com as crianças que vêem. Se a criança cega souber que existe um fio atravessado no seu berço com objectos vários pendurados ela começará a esforçar-se por alcançar e manusear esses objectos.
Alguns pais só muito tarde começam a brincar com o filho cego. Não o fazem saltar nos seus joelhos e muitas vezes nem sequer lhe pegam. Todos os bebés gostam dessa brincadeira e de demonstrações de carinho sejam cegos ou não. Podem ser pequenos, mas não são frageís e apreciam uma boa brincadeira com o pai ou com a mãe. Deve sempre dizer-se ao bebé quando se lhe vai pegar ao colo. Caso contrário ele poderá assustar-se se lhe pegarem, de repente, sem contar.
AJUDE-O A COMEÇAR
Alguns pais deixam o seu bebé cego demasiado tempo deitado no berço - mesmo quando ele próprio já quer movimentar-se e pôr-se em pé agarrado às grades. Fazem isso com medo de que ele se magoe quando começar a andar de um lado para o outro. Mesmo quando o colocam no chão, limitam-lhe o espaço ao do parque. O uso do parque é bom desde que não se exagere e não se limite a criança à exploração do seu interior. A maior parte das crianças cegas podem perfeitamente explorar o espaço exterior ao parque. Utilizam-no para andar à sua volta e para se segurarem quando se querem pôr em pé. Logo que conseguem manter-se sentadas e tocar o chão, algumas crianças gostam do andarilho. Pode ser necessário estimular a criança cega a dar alguns passos para fora do seu ambiente natural para sentir a diferença entre o tapete e o chão liso, para tentar encontrar os carrinhos que se puseram em determinado local para ela, ou para sentir nos pezinhos o contacto da relva do jardim. Mas não deve nunca forçar-se a isso. Nesse dia ela pode não estar disposta a fazer novas experiências e pode mesmo recusar-se a fazê-las. No dia seguinte ou dois dias depois poderá ser ele próprio a querer fazer esse "jogo". Deve dar-se à criança liberdade para ser ela a decidir.
A criança que vê agarra os objectos à sua volta e movimenta-se para os ir procurar. Uma criança cega não procura no desconhecido a menos que seja motivada nesse sentido. Uma voz ou um som que chame a sua atenção - um sino por exemplo - pode ser o ponto de partida para que ela se desloque em sua direcção. Alguns pais tentam atrair a criança, utilizando o seu brinquedo preferido ou orientam-no nas deslocações tocando-lhe ao de leve. Até ao momento em que a criança começa a deslocar-se na sala ou no local onde costuma permanecer, o seu campo de exploração é extremamente limitado e os objectos que manuseia são igualmente limitados. Para além disso o movimento é importante, não só para o conhecimento do mundo que a rodeia, mas também para o seu desenvolvimento muscular.
INTELECTUALMENTE, A CRIANÇA CEGA É IGUAL A QUALQUER OUTRA
No início, algumas crianças cegas podem ser mais lentas na execução de certas actividades e na aprendizagem. Esta lentidão pode preocupar os pais. Podem ser levados a pensar que o seu filho tem um atraso mental, contudo a lentidão não é factor indicativo de deficiência mental. As crianças cegas têm a mesma capacidade de aprendizagem que as outras crianças. A maior parte são intelectualmente médias, algumas ligeiramente abaixo da média e algumas são mesmo super dotadas, como de resto acontece com as crianças em geral.
Ainda não se conseguiu um teste suficientemente válido para avaliar a capacidade intelectual da criança cega, contudo os psicólogos, os assistentes sociais e outros técnicos que trabalham com deficientes visuais são unânimes em afirmar que existe uma ligação estreita entre o nível de desenvolvimento e aprendizagem que a criança consegue atingir e as oportunidades e a segurança que lhe foram dadas. Os pais de uma criança cega podem esperar que ela participe em certas tarefas, tal como acontece com as outras crianças. Não é necessário esperar "que ela seja mais velha", pois, para algumas, ela já tem a idade suficiente e apenas necessita de ter oportunidade. Se a criança cega tiver as mesmas oportunidades que uma criança que vê, tornar-se-á do mesmo modo uma pessoa válida de pleno direito. Se os pais chegam à conclusão de que determinada tarefa é demasiado difícil para o seu filho, não o devem forçar para que consiga realizá-la inteiramente, mas devem encorajá-lo, elogiá-lo, pelo esforço despendido e tentar de novo noutra altura.
Se a criança tem ainda resíduos visuais, ainda que seja apenas percepção luminosa, os pais devem estimulá-la a utilizar esses resíduos o mais possível. Alguns pais preocupam-se quando o seu filho ganha o hábito de esfregar ou tocar nos olhos, abanar as mãos em frente dos olhos, baixar a cabeça ou virá-la de um lado para o outro. As crianças que vêem por vezes também fazem isto, mas perdem esse hábito muito rapidamente, porque têm muitas outras coisas para verem e ocuparem a sua atenção. Quanto menos importância os pais derem a estes maneirismos, melhor. Se a criança cega estiver interessada por outras coisas, deixará aos poucos de fazer essas coisas. É necessário criar condições para isso e eles desaparecerão com a idade.
A CRIANÇA CEGA PRECISA DE MAIS TEMPO
Não há grande diferença entre o modo de tratar um filho cego e outro que o não seja, apenas é necessário mais imaginação, mais paciência e geralmente mais disponibilidade, contudo não se trata de uma forma diferente de actuação. Não existe uma fórmula mágica que resulte sempre, tal como não há para as outras crianças. O método utilizado por uns pais pode não resultar com outros. Cada criança é um indivíduo. De criança para criança, os interesses são diferentes, as condições em casa também são e daí que o método a utilizar tenha que ser igualmente diverso.
Da mesma forma, não existe um método único para todos os pais, porque os pais também são diferentes, por isso não há informações ou sugestões que possam considerar taxativas. Ajudar qualquer criança a crescer é uma tarefa difícil. Por vezes pode até ser bastante ingrato e frustrante. Quando a criança é cega essa tarefa é ainda mais árdua tanto para o pai como para a mãe.
A CRIANÇA CEGA UTILIZA OS OUTROS SENTIDOS
A aprendizagem e o comportamento da criança cega estão dependentes da audição, do tacto, do gosto e do olfacto. Desde muito cedo ela aprende a utilizar estes sentidos com maior grau de eficiência do que qualquer outra criança. A criança que vê, usa simultaneamente os olhos, os ouvidos e as mãos. Escuta a mãe dizer-lhe o que vai fazer e vê-a guardar um brinquedo numa caixa. Ela vê o que a mãe faz, ouve a explicação e em seguida imita.
No caso da criança cega os ouvidos e as mãos têm que trabalhar em conjunto. Tem que ouvir e apalpar o que vai fazer. Muitas vezes os pais têm que a ajudar, motivando-a. Isto leva um certo tempo, e sobretudo exige dos pais maior paciência e força de vontade. Seria muito mais rápido e muito mais fácil, se os pais fizessem tudo em vez do filho, mas nesse caso ele nunca aprenderia a fazer nada, pela simples razão de que só se aprende, fazendo. Se assim fosse a criança estaria sempre à espera que lhe fizessem as coisas e nunca seria capaz de as fazer por si própria, o que certamente lhe desagradaria.
COMPARTILHE DAS SUAS ALEGRIAS
Dê ao seu filho oportunidade para fazer coisas e tempo suficiente para isso. Estimule-o a dedicar-se a novas actividades. Quando ele aprende qualquer coisa, uma palavra nova por exemplo, a tirar uma meia ou a ajudar a mãe a pôr a mesa, compartilhe da sua alegria. Isso dar-lhe-á vontade de continuar a fazer novas experiências. Ele pode aprender quase tudo o que a criança que vê aprende. Pode aprender a fazer, com segurança, coisas que de início se pensariam impossíveis, como, por exemplo, correr, andar de patins ou de triciclo. Dará com certeza muitos trambolhões, mas acabará por conseguir, se não se ligar demasiada importância a isso. Todas as crianças dão trambolhões, umas mais do que outras. Alguns pais de crianças cegas pensam que de cada vez que o seu filho cai é apenas porque não vê. Mas a maior parte das vezes isso acontece porque ele está a tentar manter-se em pé sozinho, a andar ou a mover-se de um lado para o outro.
Tenta dar-lhe muitas oportunidades de fazer coisas por si próprio. Deixe-o adquirir informação táctil através das suas próprias investigações. Dê-lhe sempre algo que lhe ocupe o cérebro e as mãos. Como todos os bebés, o seu gostará de amarrotar e rasgar papel, de brincar com blocos de madeira, com tampas de panelas ou de tocar tambor com uma colher de pau. As crianças aprendem muito com os seus brinquedos e objectos que manipulam. Hoje em dia muitos dos brinquedos que se vendem são feitos especialmente com essa finalidade: pequenos conjuntos de ferramentas bonecas com roupas, serviços de chá, carrinhos, autocarros, aviões...
Muitas vezes a criança que vê compreende imediatamente a utilização do brinquedo, por já ter visto o mesmo objecto em tamanho natural a ser usado pelas pessoas crescidas. A criança cega pode já ter ouvido o barulho de um martelo ou de um serrote, já ter andado de autocarro, ouvido um avião, mas não tem uma ideia exacta de como esses objectos são na realidade. Enquanto ela examina o brinquedo com as suas mãozinhas, explique-lhe bem para que serve, e como é. Mas não se admire se ela preferir usar o brinquedo de forma diferente daquela para a qual foi concebida. As crianças que vêem também fazem isso. Em vez de andar com o carrinho para traz e para diante, ela pode preferir virá-lo e fazer rolar as pequenas rodas com a mão. A criança não é obrigada a seguir as regras de utilização dos brinquedos.
Quando dá de comer ou veste o seu filho, dê-lhe qualquer coisa para estar entretido e fale com ele sobre isso. Fale com ele desta maneira: "Agora vamos vestir o casaco. Estende o braço." Antes de lhe pegar ao colo diga-lhe "agora, upa!" para o preparar. Desta maneira ele aprende o significado de algumas palavras e relaciona-as com o que se está a fazer. Quando lhe disser "Aqui tens a tua torrada", ele estenderá o braço para lhe pegar. Use exactamente as mesmas palavras que as pessoas que vêem usam. "Maria, olha que lindo vestido tem esta boneca!" "João, vamos ao jardim ver as flores."
Mas, quando disser estas coisas, deixe a Maria ver o vestido tocando-lhe com as mãos, ou deixe o João ver as flores, pegando-lhe e cheirando-as. Pelo tacto é perfeitamente possível distinguir o cetim da lã, da mesma maneira que pelo olfacto podemos sentir a diferença entre uma rosa e um cravo com tanta certeza como utilizando os olhos.
PERMITA-LHE FAZER MUITAS EXPERIÊNCIAS
Tudo o que o seu filho faz, todos os lugares onde vai, tudo o que manipula e fica a conhecer - por outras palavras, todas as suas experiências - ajudam-no no seu desenvolvimento cognitivo. Leve-o consigo à mercearia, ao armazém, ao jardim, ao pinhal, ao rio, ao jardim zoológico, ao museu, à igreja, ao concerto, ao supermercado, à casa da vizinha, à biblioteca, ao restaurante, à praia, à bomba da gasolina, ao emprego do pai... Isto é, leve-o consigo para toda a parte. Tente sair com ele todos os dias. Vá a pé em vez de ir de carro ou de autocarro, e, quando regressar a casa, fale com ele sobre o que aconteceu. Vá-lhe explicando o que lhe está a mostrar e, sempre que possível, deixe-o tocar e apalpar as coisas para as sentir bem. Ele tem tanto interesse como os outros. A sua curiosidade aumentará se for estimulada.
A VIDA EM CASA É A MELHOR
A casa é o lugar preferido para a maior parte das crianças. Este facto é duplamente real se se trata de uma criança deficiente - tal como, por exemplo, um cego. Há com certeza excepções, mas, regra geral, a criança deficiente sente-se muito mais segura na sua própria casa. Alguns pais hesitam entre colocar o seu filho em idade pré-escolar num jardim infantil para cegos ou mantê-lo em casa, Pensam que, se o mantiverem em casa, estão a privá-lo duma série de oportunidades de aprendizagem. Duma maneira geral, o que a criança aprende no ambiente familiar, não pode ser aprendido em mais parte nenhuma. Desde que não sinta que têm pena dela ou não lhe permitam que crie pena de si própria, desde que os pais a aceitem e amem tal como ela é e lhe dêem oportunidade de criar autoconfiança, então a criança aprenderá a ocupar o seu lugar no mundo que a rodeia. Nalguns casos de crianças cegas com problemas especiais, tais como, por exemplo, outra deficiência, um auxílio extra, fora de casa, poderá ser a melhor solução.
A CRIANÇA PODE FREQUENTAR UM JARDIM INFANTIL
Se for possível, inscreva o seu filho cego num jardim infantil. Se a criança estiver preparada para isso, necessita dessa experiência mais ainda do que as crianças que vêem. Isto é verdade, porque muitas crianças cegas não tiveram as oportunidades suficientes e necessitam, por isso, de tudo o que lhes possa ser dado que facilite o seu desenvolvimento global. Nalguns países, a criança cega pode frequentar o mesmo jardim infantil que as outras crianças. Se houver um jardim infantil no local,onde vive, fale com as educadoras sobre esta hipótese. Você e elas podem decidir se a criança está ou não preparada para esta experiência.
INFORME-SE ACERCA DAS ESCOLAS
Enquanto o seu filho cego é pequeno, você tem muito tempo para se informar sobre as várias possibilidades que a comunidade lhe pode oferecer relativamente à sua futura educação escolar. Procure aquilo que houver de melhor para as crianças que vêem e não se satisfaça com algo que não ofereça as condições necessárias. É necessário um certo trabalho de planeamento com as entidades escolares locais antes que o seu filho entre na Escola. Informe-se dos apoios locais em matéria de Ensino Especial, escreva para a Equipa de Ensino Especial mais próxima ou mesmo para a sua Direcção Regional de Educação. Informe-se sobre os apoios já existentes ou que poderão vir a existir quando o seu filho atingir a idade escolar. Os Servicos que consultar compreenderão o seu desejo de que a educação do seu filho não seja de modo nenhum prejudicada.
OS AMIGOS SÃO IMPORTANTES
A criança cega não deve começar demasiado cedo a brincar com crianças normo-visuais. As crianças aprendem muito umas com as outras, e desde muito cedo as crianças compreendem o que é que os seus companheiros de brincadeira esperam deles, a nível de comportamento. É a fase das trocas, há regras que têm de ser seguidas e os brinquedos têm que ser partilhados. Tudo isso contribui para o seu desenvolvimento.
Normalmente as crianças que vêem encaram a cegueira duma forma muito mais natural do que a maior parte dos adultos. Quando os amigos do seu filho lhe fizerem perguntas sobre a cegueira, responda-lhe duma forma simples e franca, porque eles estão realmente interessados em saber. Mas essa curiosidade é a mesma que revelam, quando perguntam porque é que uma pessoa é ruiva ou porque é que algumas pessoas usam roupas diferentes das deles.
No inicio pode ser necessário um certo esforço para que as crianças comecem a brincar juntas. Mas vale a pena, pois assim, em breve o seu filho começará a enfrentar situações reais. Se puder coloque um recipiente com areia e outros brinquedos simples no seu jardim, tenha sempre à mão barro ou plasticina para modelagem e tintas para digitinta, ou palhinhas para fazer bolas de sabão. Em suma, as coisas com que os outros pais não gostam de se preocupar. Ofereça um lanche às mães de algumas das crianças que bricam com o seu filho e diga-lhes que os tragam. Todas as ocasiões em que ele possa encontrar e brincar com outras crianças representam novas experiências e benefícios para o seu filho.
Em famílias em que há mais crianças, os pais podem ter a tendência para superproteger ou beneficiar a criança deficiente. Deixe-a colaborar em todas as tarefas em que isso seja possível, distribua-lhe trabalhos fixos tal como faz com os seus irmãos ou irmãs. Ele gostará de ser tratado como as outras crianças, e ficará triste se ficar de fora em qualquer situação. A criança cega sentir-se-á muito mais feliz se sentir que faz algo de útil para a família em vez de estar sempre na situação de receber. Quando ela e a família colaboram, isso contribui para que a criança se sinta útil e importante.
Algumas pessoas pensam que demonstrar pena ajuda a criança. Esquecem-se de que na realidade ninguém gosta de que sintam pena de si. É muito melhor manter uma atitude que leve à autoconfiança, pois ela é importante para toda a gente. Por isso se sentimos pena dos outros e se a mostramos, não os ajudamos a eles nem a nós próprios.
AS PESSOAS SABEM MUITO POUCO ACERCA DA CEGUEIRA
O sentimento de infelicidade que ligamos à cegueira, não é efectivamente provocada por ela, mas sim pela forma como a família, a comunidade e as pessoas em geral actuam para com um cego. Poucos pais conseguem manter-se calmos quando, na rua, uma pessoa totalmente estranha os aborda e manifesta pena relativamente à cegueira do seu filho. Essa pessoa poderá mesmo querer dar à criança dinheiro ou guloseimas.
Este tipo de actuação das pessoas que vêem em relação aos cegos é devida pura e simplesmente à ignorância. As pessoas em geral sabem muito pouco sobre a cegueira e muitas vezes o que julgam saber não corresponde à realidade. Uma mãe dizia: "Foi necessário muito tempo até eu conseguir controlar-me e não ficar irritada. Mas agora já consigo com toda a sinceridade virar-me para o meu filho e dizer-lhe: Eles não querem magoar-te. Só fazem estas coisas, porque não sabem."
PROCURE OBTER TODA A AJUDA NECESSÁRlA
Logo que saiba que o seu filho é cego, comece imediatamente a tentar procurar todo o auxílio possível para que ele cresça e se desenvolva duma forma, tão semelhante quanto possível, à de qualquer outra criança. Dirija-se aos Serviços de Segurança Social e de Educacão da sua região, onde poderá obter todas as informações.
Nalgumas terras os pais de crianças cegas estão organizados em associações. A ideia dessa iniciativa é não só obter e dar informação a outros pais nas mesmas condições, mas promover o convívio entre todos. Eles pensam que os encontros de pais não só servem de encorajamento mútuo, mas também como forma de conseguir sugestões e auxílio para outros pais. Por vezes, com este trabalho conjunto, já conseguiram motivar a comunidade para a criação de valências de atendimento para os seus filhos. Muitas vezes estas associações são subsidiadas por organismos oficiais ou particulares. Nalguns casos a comunidade não dispõe de qualquer serviço de atendimento a cegos. Nesse caso, em vez de desistir, eles associam-se a outros serviços, pois pensam que, melhorando as condições das outras crianças, estão automaticamente a melhorar as condições da deles.
LEMBRE-SE
A primeira e última lição de que os pais de uma criança cega necessitam é:
  • Acredite no seu filho e convença-se de que ele pode ter sucesso na vida.
  • Dê-lhe amor, afeição e promova a sua saúde.
  • Dê-lhe possibilidade para aprender e para ter todas as experiências que contribuem para o seu desenvolvimento global.

Se fizer isto, o seu filho estará no caminho da independência e de uma vida tão interessante, feliz e útil como a de qualquer outra passoa.
 
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: DGEBS - DIVISÃO DO ENSINO ESPECIAL

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