sábado, 30 de maio de 2015

Tabaco (também) faz mal à vista

fonte: TVI 24

Médica oftalmologista Sara Pinto alertou na TVI24 para as doenças oculares que podem resultar da exposição às substâncias nocivas do tabaco.
Que fumar faz mal quase todos sabem, mas que faz mal à visão poucos imaginam, alertou a médica oftalmologista Sara Pinto, nesta sexta-feira, na TVI24.
“Não parece que as pessoas estejam muito alertadas, mas é muito importante estar, porque o tabaco ao ter substâncias nocivas que entram dentro do nosso organismo vão ser distribuídas por todo o corpo e também no olho. O olho é um órgão muito rico em vasos, muito vascularizado, portanto muito suscetível às alterações provocadas pelas substâncias nocivas do tabaco”, explicou.
Fumar pode, segundo a clínica, agravar doenças como a diabetes ocular e a deiscência macular, uma das principais responsáveis pela cegueira no mundo ocidental.
“Um dos principais efeitos do tabaco é atuar ao nível dos pequenos vasos, o que faz com que todas as doenças do olho, que são provocadas por alterações dos pequenos vasos, sejam mais suscetíveis e até agravadas pelo facto de as pessoas fumarem, como é o caso da diabetes, da deiscência macular, que muitas pessoas não conhecem”, afirmou Sara Pinto.
Não há, porém, uma “relação definida” entre a quantidade de fumo e a cegueira, no entanto “sabe-se que o tabaco é um fator predisponente”, esclareceu a oftalmologista, que não deixa de fora os fumadores passivos nem os espaços onde é permitido fumar, “que aumentam a exposição e o risco”.


Um em cada quatro portugueses fuma

Segundo um inquérito Eurobarómetro, um em cada quarto portugueses (25%) é fumador. Comparando com 2012, são mais dois pontos percentuais. Desde essa altura, 12% deixaram de fumar.
O inquérito, que foi divulgado em Bruxelas, indica, ainda, que quase dois terços (63%) dos portugueses nunca fumaram. Os homens (34%) fumam mais do que as mulheres (18%), em linha com a média da UE: 31% e 22%, respetivamente.
Na União Europeia (UE), a média de fumadores é, atualmente, de 26%. É na faixa 25-39 anos que se concentra a maior percentagem de fumadores portugueses (38%), seguindo-se a dos 40-54 (35%), a dos 15-24 (22%) e mais de 55 anos (13%).
Os cigarros de maço são o produto de tabaco mais fumado, fazendo as preferências diárias de 83% dos consumidores portugueses, seguindo-se os de enrolar, para 16%. Um outro dado é que a maioria dos fumadores em Portugal (55%) começou na faixa entre 15 e os 18 anos, 21% começaram a fumar antes dos 15 anos e 20% entre os 19 e os 25. 

SANGUE NO OLHO


Blind woman - Diego Velazquez, mid 17th c.
Mulher cega - Diego Velasquez

O estouro
Estava acontecendo. Naquele momento. Fazia tempo que tinham me avisado e, no entanto. Fiquei paralisada, as mãos molhadas de suor empunhando o ar. As pessoas na sala prosseguiam com suas conversas e gargalhadas, até sussurrando exageravam, enquanto eu. E alguém gritava mais alto que os outros, baixem o volume do rádio, não façam tanta bagunça que à meia-noite em ponto os vizinhos vão chamar a polícia. Me concentrei naquela voz estrondosa que parecia não cansar de insistir que mesmo aos sábados os vizinhos iam dormir cedo. Aqueles gringos não eram gente de passar noites em claro como nós, não eram dados a farras, de jeito nenhum. Eram protestantes e protestariam se não os deixássemos dormir em paz. Do outro lado das paredes, sobre nossos corpos e também sob nossos pés, agitavam-se todos aqueles gringos acostumados a madrugar já com a meia no pé e os cadarços amarrados. Gringos que, com a roupa de baixo impecável e a cara engomada, sentam-se toda manhã para comer seu cereal com leite frio. Mas ninguém ligava para aqueles que não conseguiam pregar os olhos, para suas cabeças afundadas sob os travesseiros, para suas gargantas atulhadas de comprimidos que não lhes trariam nenhum alívio se continuássemos sapateando em seu descanso. Sapateando eles, lá na sala. Eu não.
Eu fiquei agachada no quarto, com o braço estendido para o chão. E de repente me peguei pensando na insuportável vigília dos vizinhos, imaginando que iam apagar as luzes depois de enfiar tampões ressecados nos ouvidos; que os empurrariam com tanta força que o silicone acabaria estourando.
Pensei que preferia ser eu a ter os tampões arrebentados, ser eu a ter os tímpanos trepanados por seus estilhaços. Queria ser a velha que cobre firmemente as pálpebras com a máscara, para tirá-la em seguida e acender a luz. Queria isso porque minha mão ainda suspensa não encontrava nada. Só gargalhadas etílicas atravessando as paredes e me salpicando com sua saliva. Só a voz estridente da Manuela dizendo sem parar por cima da gritaria, pô, galera, um pouco de silêncio! Não, por favor, não, pensei, continuem falando, continuem vociferando, uivem, soltem grunhidos se for preciso. Morram de rir. Eu dizia isso a mim mesma com o corpo todo tenso, embora poucos segundos tivessem se passado. Tinha acabado de entrar no quarto de casal, acabado de me inclinar, eu, em busca da minha bolsa e da seringa. Precisava me injetar à meia-noite em ponto, mas não ia conseguir, porque o precário equilíbrio dos casacos derrubou minha bolsa no chão, porque em vez de parar cuidadosamente, como devia, eu me dobrei e estiquei o braço para apanhá-la. Foi então que um fogo de artifício atravessou minha cabeça. Só que o que eu via não era fogo e sim sangue vertendo dentro do meu olho. O sangue mais espantosamente belo que já vi na vida. O mais incrível. O mais assombroso. Fluía aos borbotões, mas só eu podia percebê- lo. Vi com absoluta clareza como o sangue se adensava, vi que a pressão aumentava, vi que estava atordoada, vi que meu estômago revirava, que sentia ânsia de vômito e, no entanto. Não me levantei nem me movi um milímetro, nem mesmo tentei respirar enquanto observava o espetáculo.
Porque essa era a última coisa que eu veria, naquela noite, com esse olho: um sangue intensamente negro.

Sangue escuro
Já não haveria recomendações impossíveis. Que eu parasse de fumar, primeiro, e segundo que não prendesse a respiração, que não tossisse, que de jeito nenhum levantasse pacotes, caixas, malas. Que jamais me inclinasse nem me jogasse na água de cabeça. Proibidos os arroubos carnais, porque até mesmo num beijo apaixonado as veias podiam se romper. Eram frágeis essas veias que tinham brotado da retina e se esticado e se enroscado na espessura do vítreo.
Era preciso observar o crescimento dessa trepadeira de capilares e vasos, vigiar dia a dia sua expansão milimétrica.
Isso era tudo o que podia ser feito: espreitar o movimento sinuoso dessa trama venosa que avançava para o centro do meu olho. Isso é tudo e é bastante, sentenciava o oftalmologista, isso, é isso, repetia, desviando suas pupilas para meu histórico clínico, que se transformara num calhamaço, num manuscrito de mil páginas embutidas numa pasta grossa. Juntando as sobrancelhas grisalhas, Lekz escrevia uma biografia exata de minhas retinas, o prognóstico incerto.
Depois limpava a garganta e me apresentava os pormenores de inovadores protocolos de pesquisa. Comentou, de passagem, os transplantes em fase experimental. Só que eu não era qualificada para nenhum experimento: ou era pojovem demais, eu, ou as veias eram grossas demais, ou o procedimento arriscado demais. Era preciso esperar que os resultados fossem publicados em revistas especializadas e que o governo aprovasse os novos medicamentos.
O tempo também se prolongava como veias arbitrárias e o oftalmologista continuava falando sem trégua, driblando minha impaciência. E se houver uma hemorragia, doutor, eu dizia, apertando seus protocolos entre os dentes. Melhor não pensar nisso, dizia ele; melhor não pensar em nada, só continuar observando e fazendo anotações que depois ele mesmo não conseguiria decifrar. Mas logo levantava a vista da caligrafia ilegível para convir que, se isso acontecesse, se chegasse a acontecer, se efetivamente se desse essa ocorrência, aí veríamos. Você verá, respondi, refugiada em meu ódio, sem articular uma única letra: espero que distinga alguma coisa quando eu não mais. E isso já tinha acontecido.
Eu não estava vendo nada além de sangue num dos olhos. Quanto tempo o outro ia aguentar sem se romper?
Esse era, enfim, o beco sem saída, o beco sombrio onde só se ouvem anônimos gritos prisioneiros. Mas não, talvez não, pensei, abraçando a mim mesma, sentando em cima dos casacos naquele quarto que era da Manuela, encolhendo os dedos dos pés enquanto meus sapatos balançavam feito mortos. Não, pensei, porque com os olhos já estourados eu poderia voltar a dançar, pular, dar chutes nas portas sem o risco de me esvair em sangue; poderia me jogar da sacada, enterrar uma tesoura aberta entre as sobrancelhas. Virar a padroeira do beco ou achar uma saída. Pensei nisso sem pensar, fugazmente. Comecei a revirar as gavetas em busca de um maço de cigarros esquecido e de um isqueiro. Ia incendiar uma unha acendendo o cigarro e me entupir de tabaco antes de voltar àquele consultório para dizer ao Lekz, empinando o nariz, me diga o que vê agora, doutor, me diga, fria e urgente, sufocada pelo ressentimento, como se suas mãos enluvadas tivessem arrancado meu olho doente pela raiz: diga logo, diga o que quiser, porque ele já não ia conseguir me dizer mais nada. Era noite de sábado, ou melhor, de domingo, e não havia como localizar o oftalmologista.
Mas o que ele poderia dizer que eu já não soubesse?, que eu tinha litros de rancor dentro do olho?
FIM


fotografia de Lina Meruane
          Lina Meruane
Elogiada por Roberto Bolaño e por Enrique Vila-Matas, Lina Meruane tem o seu primeiro livro publicado no Brasil, pela Cosac Naify. A escritora nasceu em Santiago, Chile, em 1970, e mora nos Estados Unidos, onde fez doutorado e dá aulas de cultura latino-americana na Universidade de Nova York.
O romance “Sangue no olho” narra, na primeira pessoa, a história exasperante de uma mulher que está ficando cega, com os olhos cheios de sangue, sem conseguir chegar a um diagnóstico. Aos poucos, conforme a enfermidade avança, a relação com a família e sobretudo com o namorado é colocada à prova. Numa conversa sobre o romance, Lina Meruane diz que o considera ao mesmo tempo “duplamente autobiográfico” e “completamente ficcionalizado”.  in O Globo.

 
excerto de:
'Sangue no Olho'
autora: Lina Meruane
tradução: Josely Vianna Baptista
editora: Cosac Naify, 2015

Publicação do Despacho n.º 5741/2015 sobre a certificação das ações de formação de curta duração

Publicação do Despacho n.º 5741/2015 sobre a certificação das ações de formação de curta duração

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Ter um irmão diferente - Life&Style

Ter um irmão diferente - Life&Style

WEBINAR DGE - «Tablets na Educação Especial»

No dia 28 de maio, a partir das 15 horas, assista a mais um webinar DGE, que terá como convidados o Diretor do Agrupamento de Escola de Freixo, Dr. Luís Fernandes, e a Coordenadora do Departamento de Educação Especial, Dra. Cristina Pontes.

Neste webinar, os oradores vão partilhar a sua experiência, apresentando alguns exemplos práticos do uso dos tablets, em contexto de sala de aula, para alunos com Necessidades Educativas Especiais.




Lente biónica dá visão três vezes melhor que a normal

Um optometrista americano, Garth Webb, afirma ter criado uma lente que, quando implantada num olho, faz com que a visão fique "três vezes melhor que 20/20 [parâmetro associado à visão normal]" para sempre. "Se mal consegues ver um relógio a 3 metros, quando tiveres as lentes biónicas podes ver o relógio bem a 9 metros de distância", disse Webb à agência Canadian Press.

A lente biónica Ocumetics é inserida dentro do olho, numa operação semelhante à que se executa às cataratas, durante um procedimento indolor que apenas demora 8 minutos. A lente é dobrada em forma de taco e inserida no olho com uma seringa.
Webb é o director da empresa Ocumetics Technology Corp e passou oito anos a investigar, tendo gastado 3 milhões de dólares para chegar ao produto que segundo ele, pode matar os óculos e as lentes de contacto.

O optometrista não revela como é que a tecnologia funciona, mas diz que os seus efeitos não se deterioram com o tempo. A única limitação é que só podem ser implantadas em pessoas com mais de 25 anos, porque até essa idade os olhos ainda estão em desenvolvimento.

Agora vai começar a fase de testes clínicos em animais e depois em humanos cegos. As primeiras lentes biónicas poderão chegar ao mercado em 2017.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Pirilampo Mágico 2015

Pirilampo Mágico 2015
PERIODO DA CPM | De 9 a 31 de maio
LEMA | Ilumina Sorrisos!
CONCEITO
Este ano de 2015 associamo-nos ao Ano Internacional da Luz e ao ano Europeu da Cooperação para o Desenvolvimento. Acreditamos que, é sustentados na cooperação e virados para o desenvolvimento que, seremos capazes de construir uma sociedade onde os direitos e as oportunidades, sejam iguais para todos. É essa a luz que queremos alimentar com o Pirilampo Mágico.

Este já é meu! :)

Inclusão e Sucesso Educativo

A Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares disponibliza, numa página, alguma informação relativa ao processo de inclusão e sucesso educativo.

Ano letivo 2014/2015

A escola pública, enquanto escola para todos, enquadra o princípio da igualdade de oportunidades, através de um conjunto de ofertas educativas que procuram responder às necessidades educativas especiais de caráter permanente das crianças e jovens com limitações ao nível da comunicação, da aprendizagem, da mobilidade, da autonomia e do relacionamento e participação social.

Para consultar toda a informação, aqui.

Delegação de competências para diretores

O Despacho n.º 5533/2015 delega e subdelega nos Diretores dos Agrupamentos de Escolas e Escolas não Agrupadas e Presidentes das Comissões Administrativas Provisórias

Delegação de competências nos delegados regionais de educação

 Despacho n.º 5533/2015 procede à delegação e subdelegação de algumas competências nos Delegados Regionais de Educação. 

As revoluções na educação

http://www.publico.pt/n1696795

Dia 1 de Junho é dia Mundial da Criança

e para assinalar este dia a ACAPO Coimbra vai apresentar no âmbito da Feira Cultural de Coimbra uma peça de teatro intitulada "Sentinela e Pé de Chumbo!" que se irá realizar no Coreto do Parque Manuel Braga às 14h30.


Na Floresta, repleta de animais, flores, árvores e cor, vivem 8 anões muito divertidos, a quem a Branca de Neve vai usualmente visitar. No entanto, há uns tempos para cá, novos habitantes chegaram à floresta…os terríveis e assustadores Gigantes!

Mas o Gigante Pé de Chumbo, ou vulgarmente conhecido por Gigante O Fraco, é um gigante diferente de todos os outros, pois não gosta de assustar nenhum anão, e aliás, deseja ser amigo de um deles! Depois de várias tentativas hilariantes mas falhadas desta amizade proibida, o Pé de Chumbo consegue finalmente aproximar-se de um anão… O Sentinela! Daí nasce uma forte amizade entre ambos, que os leva a descobrirem-se a si mesmos, muito graças à ida ao País das Cores, onde as cores ganham vida e, apesar das constantes zaragatas entre elas, mostram como a sua harmonia se traduz numa bela mensagem.

Toda esta amizade é um processo de descobrimento das capacidades e limitações de cada um, percebendo que todos temos o nosso valor e que a amizade, o carinho e a partilha são elementos fundamentais no desenvolvimento pessoal. A chave será sempre a esperança, não devendo nunca desistir dos nossos objetivos e ambições, pois o “sonho comanda a vida”. Ver não será só com o olhar mas sim com todos os sentidos e até mesmo com o coração! Ser diferente não é ser fraco ou inferior, é, pelo contrário, um ato de grande coragem – é preciso ter coragem para se assumir como diferente – e ser diferente pode ser algo muito bom. Afinal quem faz o mundo avançar ao longo da história?

Convidamos todos os pequenos e até mesmo os graúdos a virem ver o trabalho incrível que os utentes e associados da ACAPO têm vindo a desenvolver !

O EFEITO DA MOTRICIDADE DO JUDO NO EQUILÍBRIO DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL


Judoca cega Piracicaba (Foto: Thomaz Fernandes/G1)
Alice Yasmim, uma judoca cega de 7 anos

    índice

O JUDÔ
Aspectos históricos do Judô
Ninguém sabe realmente quando e onde as artes marciais começaram (BERNARDES, 2007). Guerreiro (2003) acredita que as manifestações de luta foram uma constante na vida do ser humano desde o período antes de Cristo, tendo a sua origem na defesa da vida e integridade física frente a situações que fizessem perigar a sobrevivência do homem. Bernardes (2007) acrescenta que através do comércio e da migração, as formas de combate se espalharam-se por todo o oriente ainda no período antes de Cristo. E, desde então, desenvolveram-se uma variedade de sistemas de artes marciais que foram precursores das artes marciais modernas, havendo evidências de que uma das mais antigas delas tenha sido o jiu-jitsu. Este mesmo autor acrescenta que o jiu-jitsu tinha vários estilos ensinados e foi durante muito tempo a luta mais praticada no Japão. Esta arte era tratada como uma das jóias mais preciosas do Oriente, sendo considerado um crime ensiná-la a pessoas de outras nacionalidades. No entanto, no ensino do Jiu-jitsu não existia uma atitude metodológica bem definida. Cada mestre do Jiu-jitsu ensinava as técnicas de forma diferente, sem passar aos alunos uma única forma (correta) de execução (VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2006).
Além disso, nesta arte havia um caráter muito violento e desrespeitoso com seu próprio praticante. Muitos mestres ganharam a vida colocando as lutas em exibição pública e ainda cobravam ingresso para as pessoas assistirem, como se de shows se tratasse (GUERREIRO, 2003). Crianças, por exemplo, aprendiam desde tenra idade golpes estritamente traumáticos, sendo que a escola que os ensinava não era responsabilizada por alguma lesão severa que porventura algum aluno pudesse sofrer.
Sendo assim, o Jiu-jitsu, a par da disciplina e moral públicas, a partir da segunda metade do século XIX, começou a entrar em declive e perder sua popularidade. As pessoas não queriam praticar uma arte que pusesse em causa a sua própria saúde (BERNARDES, 2007).
Foi neste momento que Jigoro Kano, um jovem japonês que não possuía muitos atributos físicos que pudesse se sobressair aos outros, medindo apenas 1,50 metro e pesando apenas 50 quilos, passou a repensar de maneira muito inteligente os ensinamentos que havia aprendido na arte do jiu-jitsu. Preocupado com a falta de ética e moral do jiu-jitsu e com a inexistência de princípios pedagógicos e científicos, passou a estudá-lo de forma sistemática para que pudesse adquirir conhecimentos que pudessem não só ajudá-lo em sua defesa pessoal, mas que pudesse ajudar o homem a desenvolver-se integralmente, trazendo verdadeiros benefícios à sua vida e fazendo-o viver mais racionalmente (ARAÚJO, 2005).
Kano desejava criar um esporte completo, desafiante e competitivo (VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2006). Tentou, portanto, contemplar não somente as práticas físicas, mas também, e de acordo com o seu ideal, uma educação moral e intelectual (GUERREIRO, 2003).
Adequou primeiramente uma vestimenta especial de treino (o Judogi), pois não havia um traje específico para a prática do Jiu-jitsu (BERNARDES, 2007), sendo desenvolvido para que pudesse ajudar na preensão durante as pegadas no treinamento de judô (GUERREIRO, 2003). Estipulou a cor branca, representando a pureza de espírito, tendo o objetivo de atrair boas vibrações e energias (ARAÚJO, 2005).
Ao novo desporto, desejoso de evitar os perigos do combate, definiu regras para um combate educativo (ARAÚJO, 2005). Selecionou então, as técnicas do jiu-jitsu que melhor se adequavam a seus ideais e excluiu as mais prejudiciais e lesivas à sua prática por leigos, pois afirmava que os judocas deveriam conscientizar-se que para haver a luta precisava-se do outro companheiro, o que denota responsabilidade em respeitar o limite e a integridade física de seu oponente (ARAÚJO, 2005).
Neste contexto, também foi aperfeiçoada a forma de cair, que era primitivamente muito traumatizante (GUERREIRO, 2003). E adicionou o cumprimento (Rei), como uma forma de demonstrar humildade e respeito ao seu semelhante e ao local de treino (dojo), sendo utilizado até os dias de hoje quando se entra no Dojo, no início ou encerramento de algum treinamento com um companheiro e para cumprimentar os professores, faixas pretas e colegas (ARAÚJO, 2005).
Dojo é um termo de proveniência budista que traz consigo a corrente filosófica que tem grande influência na arte ―zen‖ (ARAÚJO, 2005). Conforme Sugai (2000), Zen significa meditação que se refere a um grau de consciência elevado, um estado de ser íntegro, da transcendência e elevação do espírito, num estado tranqüilo e desperto. Assim sendo, dojo é o termo designado ao local onde se estuda o judô, de modo que uma vez que se encontra nele, deve-se respeitar e praticar também os princípios da arte ―zen‖ (ARAÚJO, 2005). Criou por fim, novas técnicas e para dar suporte à elas estudou: a anatomia, a fisiologia, a psicologia, a filosofia e a biomecânica (BERNARDES, 2007).
Jigoro Kano percebeu, além disso, que a arte que estava a criar necessitava de um princípio universal, de onde basearia as técnicas que estava a criar (VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2006). Os princípios que elegeu para o desporto que sistematizou, sintetizou-os em duas expressões: Seiryoku Zenyou - O máximo de eficácia, com um mínimo de esforço. O melhor uso da energia. Jita Kyouei - Prosperidade e benefícios mútuos (CATT, 2006). Estes princípios que têm muito de sua origem na filosofia taoísta, trazem consigo a idéia de ceder para poder vencer, procurando não resistir, mas utilizar a força do adversário a seu próprio favor, por exemplo, puxando quando se é empurrado ou empurrando quando se é puxado (ARAÚJO, 2005). Dessa forma, a maioria dos movimentos é feita com menos força para obter a vitória sobre o oponente sem causar lesões (VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2006).
Kano pensou ainda, que a sua nova arte marcial deveria ter outro nome, pois a sua prática era diferente do Jiu-jitsu. Tendo em conta a sua essência, a não resistência e o aproveitamento da força do oponente, chamou a esta nova arte ―Judô‖. Sendo assim em 1882 surge um novo conceito de arte, o ―Judô‖, palavra japonesa composta por duas partes: JU - Suave, Flexível, fácil, e DO - caminho, via, meio; portanto podemos dizer que o Judô é o ―caminho da suavidade‖, a ―via da não resistência‖ (SUAREZ, 2002).
Portanto, o judô como é praticado nos dias atuais é baseado no antigo jiu-jitsu japonês. As técnicas do jiu-jitsu, re-examinadas, refinadas, sistematizadas e unidas a um ideal proposto por Jigoro Kano, tornaram-se as técnicas do judô (VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2006).
Após sua fundamentação, Jigoro Kano passou então a dedicar sua vida a trabalhar para a expansão do judô, primeiramente no Japão e depois em todo o mundo (BERNARDES, 2007). Um dos primeiros e mais importantes acontecimentos para a expansão do Judô dá-se por volta dos anos de 1885 e 1886, quando os primeiros discípulos de Kano participam num torneio aberto a todas as escolas de jiu-jitsu e obtêm uma vitória retumbante. Se, por um lado, este acontecimento determinou a expansão da nova arte, o ―Judô‖, por outro fez com que o inverso sucedesse com o antigo jiu-jitsu (GUERREIRO, 2003; VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2006).
Para difundir ainda mais o desporto, Kano iniciou em 1889, com seus discípulos uma série de apresentações e palestras em outros países, de modo que, na década de 1930 o Judô já era conhecido em quase todas as nações do mundo (BERNARDES, 2007).
No Brasil, um dos precursores do Judô foi um dos discípulos de Kano, o japonês Eisei Maeda, conhecido por Conde Koma, o qual realizou demonstrações em São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, por volta de 1925. Já muito famoso e após ter difundido o judô em várias partes do Brasil, radicou-se no Pará, local onde fundou uma academia, até hoje existente. Em 1954, no Rio de Janeiro, houve então, a realização do I Campeonato Brasileiro de Judô. (VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2006). O primeiro campeonato mundial aconteceria em Tóquio, dois anos depois, em 1956 (ARAÚJO, 2005).
Em 1962 foi criada a Federação Internacional de Judô, que passou a ser o órgão regulamentador do judô no mundo. Em 1964, a modalidade foi introduzida como um desporto olímpico, nos Jogos Olímpicos de Tóquio (VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2006).
Assim, em 1969, foi fundada a Confederação Brasileira de Judô, cuja sede encontra-se no Rio de Janeiro (ARAÚJO, 2005). Atualmente a federação internacional de judô é a segunda maior em numero de participantes e tem 187 países filiados (MATSUMOTO; KONNO, 2005). O judô é o segundo esporte mais popular do mundo, estando atrás apenas do futebol. É praticado por homem, mulheres, crianças e idosos, independente de idade ou sexo (CATT, 2006). No Brasil, é também um dos esportes mais desenvolvidos. A qualidade técnica do judô, aqui representada atualmente, está entre as melhores do mundo (VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2006).

Benefícios do Judô para o deficiente visual
Conforme já explorado anteriormente, a ausência de visão, aliada ao não conhecimento da organização dos objetos e pessoas no ambiente, dificultam o deslocamento, ocasionando por vezes, tombos, esbarros, entre outros acidentes, que podem resultar em frustrações que retardam a confiança em conquistar o espaço (VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2006).
A ansiedade aliada à insegurança e ao medo de cair e se machucar ao andar na rua atrapalham os movimentos, agindo diretamente no tônus muscular do indivíduo com deficiência visual, levando a tensão muscular e interferindo na postura e no equilíbrio das pessoas que têm problema de visão (VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2006). Assim, muitas vezes, a pessoa com deficiência visual interrompe uma atividade ou a impedem de participar dela pelo medo de se machucar com uma queda (INTERNATIONAL BLIND SPORTS FEDERATION, 2010).
Sabe-se que não existe um esporte como o judô, em que seja ensinado um método eficaz de como cair sem se machucar. Por exemplo, quando jogamos futebol, não é estudada a queda, ela apenas acontece. No entanto, no judô, estuda-se teoricamente e praticamente a melhor maneira de absorver com o corpo os efeitos no terreno, a fim de evitar danos físicos (INTERNATIONAL BLIND SPORTS FEDERATION, 2010). No judô, a posição e forma de cair (com a batida do braço no solo) são ensinadas baseadas no estudo da física e da anatomia humana, buscando a melhor forma de amortecer a queda, evitando lesões. O ensino da posição e forma de cair baseia-se tanto pela aplicação da 3º Lei de Newton (ação e reação), quanto baseada no princípio físico de que quanto maior a superfície de contato com o solo, maior a distribuição da força de pressão, devido ao maior número de pontos, que ajudarão no amortecimento da queda (SILVA; PELLEGRINI, 2007).
Assim, através dos rolamentos (ukemis), batidas e quedas, o deficiente visual promove a descontração muscular, ampliando suas possibilidades espaço-temporais e dificilmente o fator ―medo de cair‖ interferirá no cotidiano deste novo judoca (VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2006).
O aprendizado de amortecimento de queda é uma forma eficaz de proteger o organismo em qualquer situação repentina de queda e em desafios cotidianos que comumente os deficientes visuais se defrontam (INTERNATIONAL BLIND SPORTS FEDERATION, 2010).
Além disso, o judô é um desporto que por suas características intrínsecas possibilita que os deficientes visuais pratiquem-o sem necessidade de adaptações de materiais ou grande tipo de ajudas específicas (CASTERLENAS; PÉREZ, 2002).
Normalmente, na prática cotidiana do Judô, o judoca não olha para o seu adversário, durante um treinamento ou competição. A visão, neste caso, não tem um papel muito importante: a sensibilidade transmitida pela forma de segurar o judogui (percepção tátil-cinestésica) é suficiente na luta do judô, e permitirá uma compreensão adequada do movimento do adversário e verificação do momento oportuno de efetuar o ataque, o contra-ataque ou uma mudança dinâmica 52 de posição (PERRIN et al, 2002). Por este motivo, o judô para cegos é uma modalidade Paraolímpica desde 1988, em Seul (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE DESPORTOS PARA CEGOS, 2010).
Outra prova de que o judô não necessita de tantas aferências visuais é que embora a IBSA (International Blind Sports Federation – entidade organizadora dos campeonatos internacionais de esportes para cegos) divida os deficientes visuais em três classes que vão de cego total aos atletas que têm alguma acuidade visual (até 6/60) para divisão nos esportes, no judô todos disputam juntos, sendo divididos apenas por categorias de peso (COMITÊ PARAOLÍMPICO BRASILEIRO, 2010).
Na competição, também são poucas as regras que mudam em relação à competição olímpica de judô (RODRIGUEZ, 2006). Os judocas lutam entre si com as mesmas regras de competição da Federação Internacional de Judô-IJF, com apenas duas modificações: a luta é interrompida quando os oponentes perdem o contato das mãos no judogui do adversário e não há punições para quem sai da área de combate (GROSSO et al., 2007).
No entanto, vale considerar o judô mais do que como um desporto paraolímpico para cegos ou como a única arte marcial nas Paraolimpíadas (RUFFONI; LASSANCE, 2007), mas como uma atividade pedagógica desportiva que irá complementar um processo de orientação e mobilidade a partir do sucesso na diminuição das defasagens psicomotoras, podendo ser considerado fator de promoção e exploração das possibilidades sociais, afetivas, culturais e motoras e interferindo diretamente no processo de reabilitação do deficiente visual e de sua inclusão na sociedade (VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2006).
A International Blind Sports Federation (2010) fala que a prática do judô é uma atividade que estimula o desenvolvimento global do indivíduo, obrigando um treinamento de toda a musculatura corporal, a qual aumenta a força e a elasticidade, assegurando uma melhora da resistência física geral, o domínio da respiração e o aumento do tempo de reação dos seus praticantes.53 Especificamente na prática pelos deficientes visuais, Ruffoni e Lassance (2007) observaram que após um ano de prática de judô, há maior independência, maior disposição, melhor poder de concentração, maior orientação espacial e noção de lateralidade.
Segundo a Confederação Brasileira de Desportos para Cegos – CBDC (2010), o judô também dá ao atleta um grande aperfeiçoamento do equilíbrio estático e dinâmico, fundamentais no cotidiano dos deficientes visuais.
Assim, em relação às principais características desenvolvidas através da prática sistemática do Judô que podem beneficiar os deficientes visuais, podemos citar: consciência do próprio corpo; organização do esquema corporal; domínio do equilíbrio; orientação de tempo e espaço; mobilidade segura; exploração das possibilidades corporais; resistência aeróbia e anaeróbia, potência muscular, flexibilidade, eficiência nas coordenações globais e segmentadas (VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2006).
Os benefícios psicológicos decorrentes da prática do judô também são grandes. Os aspectos filosóficos e educacionais são, sem dúvida, de grande valia para a grande aceitação deste esporte. A agressividade diminui, assim como a ansiedade. Já a auto-estima, atenção e relações interpessoais aumentam (MATSUMOTO; KONNO, 2005).
Em relação à aquisição de qualidades comportamentais, Vieira (2005) em seu estudo verificou que o judô diminui a ansiedade de adolescentes cegos, indivíduos estes que estão mais expostos a situações geradoras de ansiedade. Observaram também que os alunos de locomoção falha geralmente demonstravam mais medo que aqueles que apresentavam maior independência na locomoção. Assim sendo, o efeito da diminuição na ansiedade de adolescentes cegos interferia diretamente para a melhora da orientação e mobilidade destes.
Por tudo isso, compreendemos o Judô como uma importante ferramenta de atuação no trabalho com indivíduos em condição de deficiência visual (ARAÚJO, 2005), sendo adequado utilizar uma arte marcial em um programa de atividades motoras adaptadas por proporcionarem ricas experiências motoras e, além disso, possuírem em sua maioria, como componentes de seu programa, sistemas filosóficos os quais regem a vida do praticante tanto dentro da prática, como em sua vida em sociedade (ALMEIDA; SILVA, 2009).

Metodologia de ensino do judô para crianças com deficiência visual
Considerando que algumas precauções devem ser tomadas na atenção a criança com deficiência visual (CRAFT; LIEBERMAN, 2004), algumas medidas básicas foram adotadas para a execução do presente protocolo de treinamento.
A ambientação, realizada na primeira aula do protocolo de treinamento utilizado neste estudo, constitui segundo Conde, Sobrinho e Senatore (2006), o reconhecimento (conceituação e mapa mental) das áreas, implementos e materiais a serem utilizados pelo aluno deficiente visual em aulas que ele participará. É essencial que esse processo aconteça antes da aula em si, para que o deficiente visual se familiarize com a área e possa evitar acidentes no decorrer das atividades.
Outro fator a ser considerado é que como as possibilidades da criança com deficiência visual aprender por mera imitação (através da observação) é muito diminuída ou nula, os professores precisam conduzir fisicamente as crianças ao longo do movimento, em vez de mostrá-lo a elas (CRAFT; LIEBERMAN, 2004). A ajuda cinestésica, tocando no aluno com deficiência visual e deixando que ele o toque e perceba seu movimento somado ao comando e feedback verbal é, muitas vezes, suficiente para proporcionar o aprendizado da criança deficiente visual (CONDE; SOBRINHO; SENATORE, 2006).
Desta maneira, a criança com deficiência visual acaba por necessitar receber diretamente uma quantidade de informações muito maior do que a ensinada para as outras crianças, devendo estas informações serem repetidas diversas vezes para melhor assimilação. Também, além do comando é necessário o feedback verbal, pois a criança nem sempre sabe como está se saindo (CRAFT; LIEBERMAN, 2004).
Assim sendo, é importante evitar ambientes profundamente ricos em estímulos sonoros, para evitar distrações e proporcionar um ambiente mais adequado ao aprendizado da criança com deficiência visual (CONDE; SOBRINHO; SENATORE, 2006).

Alongamento X Aquecimento
Outro aspecto a ser discutido para elaboração de um protocolo de treinamento é a questão do alongamento e do aquecimento. Vários estudos dizem que o alongamento evita lesão ou melhora a performance . No entanto, não o analisam isoladamente. Em geral, o avaliam seguido de um aquecimento, fato este que mascara qualquer suposto efeito do alongamento como fator que previne lesões. Não há um único estudo na literatura que demonstre que o alongamento tenha algum tipo de propriedade benéfica para evitar lesões (BORBOLLA NETO, 2007).
O aquecimento, sim, tem sua eficácia comprovada por causar diversas mudanças no organismo, como aumento na temperatura muscular e maior recrutamento neuromuscular, fatores estes que são considerados fundamentais para a melhora na performance e diminuição na ocorrência de lesões (BISHOP, 2003).
Para Borbolla Neto (2007), o alongamento praticado no pré-exercício pode, de forma contrária, ser inclusive prejudicial na produção de força pelo músculo, não sendo útil, portanto, para integrar um protocolo de aquecimento, tendo apenas seu efeito relaxante comprovado e podendo, portanto, integrar a parte final de um protocolo de treinamento, permitindo o relaxamento muscular e o retorno à amplitude normal de movimento articular.
Neste sentido, no presente protocolo utilizaremos o aquecimento na parte inicial do treinamento e o alongamento na parte final.

A importância da ludicidade no ensino do Judô para crianças
No Brasil, a atenção dada ao judô tem sido apresentada unicamente em função do interesse do esporte de alto rendimento, em que serve para fabricar vencedores nas competições, tendo em vista os interesses capitalistas e não tendo nenhum significado educacional maior 56 (ARAÚJO, 2005). Por este motivo, segundo Freitas (2005), os professores, em sua maioria são preocupados apenas com o aspecto competitivo dos praticantes, o que para as crianças acaba sendo apresentado como uma aula ―chata‖, ―monótona‖ e fadigante.
No entanto, nem todo aluno quer ser atleta. E na tarefa de formar alunos críticos, criativos e conscientizadores do mundo global, o ensino do esporte de forma educacional é fundamental.
Neste contexto, a ludicidade vem facilitar a aprendizagem para fins educativos (ARAÚJO, 2005).
Para este mesmo autor, o lúdico apresenta dois elementos importantes que o caracterizam e podem ajudar na atenção à criança no judô: o prazer e o esforço espontâneo (ARAÚJO, 2005).
Além disso, sabe-se que a disciplina deve existir nas aulas de judô, mas não de uma forma tirana e castradora (GROSSO, 2005). Os ensinamentos deixados por Jigoro Kano mantêm como sua ―magia‖ o seu perfil filosófico e educacional, que faz com que o judô mantenha em sua prática um equilíbrio entre a ―tradição e a modernidade‖, podendo isto ser feito de forma atrelada ao ensino lúdico (ARAÚJO, 2005).
O lúdico tem sua origem na palavra latina "ludus" que, do ponto de vista etimológico, quer dizer ―jogar‖, ―brincar‖ (GRILO et al., 2002) e está diretamente ligado a motivação em participar em qualquer atividade (SPIGOLON, 2006).
Sabe-se que toda criança gosta de brincar e jogar. A criança deficiente não é diferente (CONDE; SOBRINHO; SENATORE, 2006). Diferentes autores consideram que o lúdico, através das brincadeiras e jogos, é um importante fator no desenvolvimento global da criança, contribuindo na constituição social, motora, afetiva e cognitiva da criança (HUEARA, et. al., 2006).
Na diferenciação entre um e outro, podemos dizer que o jogo é uma brincadeira que envolve certas regras e a brincadeira, um jogo sem regras (ALMEIDA; SHIGUNOV, 2000).
Os jogos de regras se desenvolvem na fase dos seis aos doze anos (LORENZINI, 2002) e são atividades motivacionais fundamentais para a socialização do indivíduo (OLIVEIRA FILHO, et a., 2006). Porém, os jogos são muito mais do que um instrumento motivacional no ensino (DIAS, 2006). É na interação com os pares durante o jogar que a criança tem as primeiras 57 experiências com outros valores, como a responsabilidade; além de aprender a importância da negociação, da conquista, de conviver com regras e a resolver conflitos (CORDAZZO, et al.
2007).
Desta maneira, todo esporte que tem sua atenção voltada à criança, deve ser integrado ao lúdico com o intuito de obter motivação e esforço espontâneo para a realização das tarefas. E, no judô, existem atividades lúdicas diretamente relacionadas à aquisição de habilidades específicas que ajudarão na performance no esporte e que podem estar sendo atreladas a sua prática e ensino para crianças (ARAÚJO, 2005).
Por todos estes motivos, algumas atividades lúdicas específicas comumente utilizadas no ensino de judô para crianças, foram selecionadas e utilizadas no presente protocolo de treinamento.

EQUILÍBRIO
O termo ―equilíbrio‖ é oriundo do latim ―aequilibriu‖ e, em seu sentido literal, significa ―Estado de um corpo solicitado por duas ou mais forças que se anulam entre si‖(MOSQUERA, 2000). É a capacidade de neutralizar forças que poderiam perturbar o estado de um corpo, o qual requer coordenação e controle (BERNARDES, 2007).
Equilíbrio é o sentido básico para manter o domínio do corpo, dando sustentação através da gravidade, forças internas, fatores internos e externos (MOSQUERA, 2000). Freqüentemente é definido como equilíbrio estático ou dinâmico. O equilíbrio estático é habilidade de o corpo manter-se em certa posição estacionária, o equilíbrio dinâmico é a habilidade do indivíduo manter-se na mesma posição, quando em movimentos de um ponto a outro (GALLAHUE; OZMUN, 2003).
O equilíbrio é essencial para a manutenção da postura ortostática e para execução da marcha (CAMPOS, 2003). As manifestações dos distúrbios do equilíbrio corporal podem levar o indivíduo à redução de sua autonomia social, uma vez que acabam por reduzir as suas AVD‘s, 58 pela predisposição a quedas e lesões, trazendo sofrimento, imobilidade corporal, medo de cair novamente e altos custos com o tratamento de saúde (RUWER; ROSSI; SIMON, 2005).
Ele é base para todo movimento e é influenciado por estímulos visuais, táteis, cinéticos e vestibulares (GALLAHUE; OZMUN, 2003). Portanto, a manutenção do equilíbrio depende da integridade anatômica e funcional do aparelho vestibular, dos sistemas visual, proprioceptivo, musculoesquelético e centros nervosos (WIENER-VACHER, 2008). Essa atividade é um processo complexo que envolve os esforços coordenados de mecanismos aferentes (visual, vestibular e somatossensorial ou proprioceptivo) e mecanismos eferentes (força muscular e flexibilidade articular) (FREITAS; CANÇADO; GORZONI, 2006).

Equilíbrio Postural
Tratando mais especificamente da postura do corpo, seja aquela ideal em posição bípede ou aquela mantida em situações de desportos, entende-se que o controle postural é algo bastante complexo e que depende da interação de diversos sistemas orgânicos (BERNARDES, 2007).
Quando estudamos postura corporal automaticamente estamos estudando o sistema de equilíbrio corporal postural, porque entendemos existir uma relação de dependência entre ambos (BANKOFF et al., 2002).
Para que o equilíbrio postural seja alcançado pelo sistema de controle postural, são necessárias a percepção (integração das informações sensoriais para analisar a posição e o movimento do corpo no espaço) e a ação (capacidade de produzir forças para controlar os sistemas de posicionamento do corpo). Dessa forma, o controle postural exige uma interação contínua entre o sistema musculoesquelético e o neural (SUMWAY-COOK; WOOLACOTT, 2003).
A postura corporal é uma resposta neuromecânica que se relaciona com a manutenção do equilíbrio, e um sistema está em equilíbrio mecânico quando o somatório das forças que agem sobre o sistema é igual zero ([F=0). Entretanto, este sistema tem estabilidade somente se após 59 uma perturbação ele retorna a sua posição de equilíbrio, lembrando que quando se fica numa posição em pé ereta, o corpo oscila para frente e para trás. A atividade muscular que evita que se perca o equilíbrio e se caia, representa a atividade de controle automático da postura (ENOKA, 2000).
A manutenção do equilíbrio postural é um complexo mecanismo de controle, alimentados por um fluxo de impulsos neurológicos provenientes dos sistemas proprioceptivo, vestibular e óculomotor (MARRELLO; TEODOROSKI, 2004), cujas informações são processadas pelo sistema nervoso central e retornam pelas vias eferentes para manter o controle do equilíbrio corporal pela contração dos músculos antigravitacionários (BARAÚNA et al., 2004).
O equilíbrio pode ser definido como o processo pelo qual o SNC gera os padrões de atividade muscular necessários para regular a relação entre centro de massa e base de sustentação (FREITAS; CANÇADO; GORZONI, 2006). Assim, a queda ou a perda do equilíbrio pode ser definida pelo movimento do centro da massa para fora dos limites da base de apoio (LEONARDI et. al., 2009).
A estabilidade do corpo está relacionada, mais especificamente, à projeção do centro de massa na base de sustentação. O Centro de gravidade (CG) é o ponto por onde passa o suporte do vetor resultante do somatório das forças peso do corpo. É um ponto virtual, e é equivalente ao centro de massa (CM) de um corpo, local onde a massa deste corpo se supõe concentrada. A base de sustentação delimita a área que suporta o restante do corpo em qualquer posição. (BERNARDES, 2007).
O equilíbrio postural refere-se ao alinhamento dos segmentos articulares necessitados para manter o centro de gravidade dentro dos limites máximos da estabilidade (MARRELLO; TEODOROSKI, 2004). O equilíbrio consiste, assim, na manutenção do centro de gravidade dentro da área da superfície de apoio (LEONARDI et. al., 2009).
Existem vários fatores que influenciam a estabilidade dos corpos, entre estes podemos destacar os seguintes: projeção do centro de gravidade, distância do centro de massa até ao solo, inércia, tamanho da base de sustentação, força de atrito, e além destes também existem fatores neuromusculares e fisiológicos que devem ser levados em consideração (BERNARDES, 2007).60 Um dos princípios biomecânicos que influenciam a estabilidade do corpo é a base de apoio, que na postura ereta é representada pela área compreendidas entre os calcanhares e os pés (RAMOS, 2003). Os limites de estabilidade do corpo delimitam uma área sobre a qual os movimentos do CM devem ser realizados para assegurar a condição de equilíbrio. (SHUMWAYCOOK; WOOLLACOTT, 2003).
Existem dois principais fatores correlacionados à BA que influenciam a estabilidade do corpo: tamanho da área e a distância relativa entre CM e BA.
Quanto maior for esta área, maiores são os limites de estabilidade do sujeito e maior é a área disponível para o sujeito controlar seu centro de massa para manter a estabilidade. Dessa maneira, é de se esperar que qualquer redução nesta área afetará o equilíbrio (RAMOS, 2003).
Assim, o tamanho da base de sustentação interfere na estabilidade do corpo. Quanto maior for o seu polígono de sustentação, maior será a capacidade do indivíduo em resistir à ação de forças desestabilizadoras. Uma área aumentada dificulta a saída da projeção do centro de massa para fora dos limites da base. Isto quando a projeção do centro de gravidade do indivíduo se faz no centro da sua base de suporte (BERNARDES, 2007).
O artifício de se ampliar a base de sustentação para garantir maior estabilidade é freqüente no desporto. Nas ações defensivas das lutas, em geral, o lutador aumenta a sua base para dificultar a sua queda pelo oponente. Já em posições de ataque, o mesmo pode acontecer justamente para que o lutador em vantagem mantenha a sua estabilidade numa determinada posição (FRANCHINI, 2001).
A estabilidade do objeto é mais garantida se a projeção do centro de gravidade se faz no centro geométrico da sua base de sustentação. Isto quer dizer que, quando a projeção do centro de massa do indivíduo se afasta do centro geométrico de seu polígono de suporte, o corpo em questão fica mais vulnerável à instabilidade (BERNARDES, 2007).
A altura da localização do centro de massa em relação aos limites da sua base de sustentação interfere também na estabilidade de um corpo. Quanto mais baixa é a sua posição, mais estável estará o corpo (BERNARDES, 2007).61 A postura quadrúpede é estável porque a BA, limitada ao redor dos quatro apoios, é grande e o CM do animal localiza-se próximo ao solo em relação às dimensões da BA. Na postura bípede, entretanto, além da altura do CG em relação a BA ser grande, suas dimensões são pequenas restringindo a área de deslocamento do CM (RAMOS, 2003).
Para manter o CM dentro dos limites da base de apoio, sabendo que o corpo está constantemente sujeito a forças, o sistema de controle postural procura alcançar um estado de equilíbrio entre as forças externas (gravitacionais, inerciais, de atrito e de reação) que são produzidas pelo ambiente e as forças internas, produzidas pelas contrações musculares (torques articulares). Como resultado deste processo, o corpo exerce força sobre a superfície de apoio para mover ou manter o CM em uma região de estabilidade, a resultante vertical desta força é chamada centro de pressão (CP). O CP representa todo o resultado das ações do sistema de controle postural e da força da gravidade na manutenção do equilíbrio postural. A medida do CP durante a postura ereta tem sido por décadas a principal ferramenta biomecânica para o entendimento do equilíbrio postural (RAMOS, 2003).
Pode-se verificar que a postura e o equilíbrio envolvem tanto a capacidade de se recuperar da instabilidade como a habilidade de antecipar e mover-se de forma que o ajude a evitar a instabilidade. A conservação da estabilidade é um processo dinâmico, que envolve o estabelecimento de equilíbrio entre as forças de estabilização e desestabilização (LEONARDI et. al., 2009).
Um problema que o sistema de controle postural tem que resolver, durante a manutenção de uma posição corporal, é que as forças atuando nos segmentos corporais não são constantes.
Uma consequência da variação destas forças é que, mesmo em uma posição estática, como por exemplo a manutenção da posição ereta, o corpo nunca está totalmente imóvel (BARELA, 2000).
A posição do centro de massa oscila de um lado para o outro e para frente e para trás.
Estas oscilações são decorrentes da dificuldade em manter os muitos segmentos corporais alinhados entre si sobre uma base de suporte restrita, utilizando um sistema muscular esquelético que produz forças que variam ao longo do tempo (BARELA, 2000).62 Segundo Shumway-Cook e Woollacott (2003), muitos estudos têm mostrado que a eficácia do sistema de controle postural estaria diretamente associada à amplitude de deslocamento do CP: grandes amplitudes de movimento indicariam uma baixa qualidade do controle do equilíbrio, sendo que um ―bom‖ controle seria representado por pequenas amplitudes de deslocamento do CP (RAMOS, 2003).
Estudos descrevem que, mesmo em uma posição estática, a manutenção da posição ereta, o corpo nunca está totalmente imóvel, o corpo humano como sendo um pêndulo invertido suspenso sobre uma base e que oscila constantemente tendo um equilíbrio quase-estático instável devido ao controle do equilíbrio e da postura (BANDY; SANDERS, 2003).
Também relatam, que a chamada ―postura estática‖ tem mostrado ser impossível, pois sempre existe uma oscilação, que traduz uma situação dinâmica com indispensáveis e contínuos ajustes da posição destinados a manter o equilíbrio (BANKOFF et al., 2004).

Sistema Proprioceptivo/Somatossensorial
A maioria dos autores, especificamente os estudiosos das áreas de neuro-anatomia, neurofisiologia e neuro-biomecânica referem-se muito claramente em seus estudos sobre equilíbrio e manutenção do equilíbrio corporal postural, à importância dos sistemas proprioceptivos e o meio ambiente para a manutenção do equilíbrio corporal postural (BANKOFF; BEKEDORF, 2007).
O termo propriocepção é utilizado para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem a necessidade de utilizar a visão (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002).
A propriocepção descreve a consciência da postura, do movimento, e das mudanças no equilíbrio, assim como o conhecimento da posição, do peso e da resistência dos objetos em relação ao corpo (ANDREWS; HARRELSON; WILK, 2000).63 Segundo Bear, Connors e Paradiso (2002), cada informação neural originada de articulações, músculos, tendões e tecidos profundos contribuem para a propriocepção, a qual informa como o corpo posiciona-se e se move no espaço, mas essa função só é exercida devido ao envolvimento de uma importante classe de receptores, fornecedores das informações acerca de forças mecânicas originárias do próprio corpo. Estes receptores são denominados proprioceptores.
Segundo Purves et al. (2005), proprioceptores significam ―receptores para si próprios‖. O principal objetivo dos proprioceptores é o fornecimento contínuo e detalhado acerca da posição dos membros e de outras partes do corpo no espaço.
Os proprioceptores transmitem a sensibilidade cinética, postural, barestesia, dor profunda e vibratória. Fornecem informações ao sistema nervoso central e medula sobre a posição e os movimentos das articulações, estado de tensão de músculos e tendões, possuindo papel ligado ao controle da postura e locomoção (DUTTON, 2006).
Segundo Dutton (2006), a propriocepção é considerada uma variação especializada da modalidade sensorial da percepção, que inclui sensação da posição estática das articulações (sensibilidade da posição articular), sensações de movimento das articulações (sensibilidade cinestésica ou cinestesia), de velocidade dos movimentos e de força da contração muscular.
Ao descrever a sensibilidade articular, os termos propriocepção e cinestesia, são, com frequência, erroneamente usados como sinônimos. A propriocepção descreve a consciência da postura, do movimento, e das mudanças no equilíbrio. Entretanto, cinestesia refere-se à capacidade de controlar e realizar movimentos, sendo um importante componente da propriocepção (ANDREWS; HARRELSON; WILK, 2000).
Segundo Cohen e Abdalla (2005), a propriocepção é responsável por dois aspectos de sensação da posição o corpo, uma estática e outra dinâmica. A sensação estática proporciona orientação consciente de uma parte do corpo em relação à outra, enquanto a sensação dinâmica informa o sistema neuromuscular a quantidade e direção do movimento. Portanto, a propriocepção é um processo neuromuscular complexo que envolve sensações aferentes e 64 eferentes, permitindo ao corpo manter estabilidade e orientação durante as atividades estáticas e dinâmicas.
Os fatores neuromusculares, fisiológicos e psicológicos fazem parte ou afetam o sistema sensorial, sistema que é responsável pelo controle postural e fornece informações acerca das posições relativas dos segmentos do corpo, bem como da magnitude das forças aplicadas sobre o mesmo. Estes sistemas atuam de forma complexa, integrada e diferenciada, para cada perturbação sobre o corpo humano (DUARTE, 2001).
O sistema somatosensorial é uma das principais fontes de informação para o controle postural, incluindo a proprioceptividade e a exterioceptividade. Destes sistemas fazem parte os fusos neuromusculares (com grande sensibilidade do estiramento passivo do músculo) e os receptores cutâneos (bastante heterogéneos, diferenciando-se em mecanoreceptores que são sensíveis à dor e em receptores articulares, que se localizam na cápsula articular e que são sensíveis à pressão e tensão capsular) (GUYTON; HALL, 2002).
As informações somatossensoriais provém de receptores de toque e de posição localizados na pele (mecanoreceptores), nos músculos (fusos musculares e órgãos tendinosos de Golgi), tendões, ligamentos, articulações e órgãos internos. Estes receptores são sensíveis a deformações mecânicas na superfície do corpo, estimulando a sensação de toque, e a distorções físicas como alongamento e flexão, fornecendo a posição do corpo no espaço, a direção e a intensidade do movimento (RAMOS, 2003).
Para Guyton e Hall (2002), os receptores profundos localizam-se em músculos e tendões e articulações. Incluem os receptores musculares e articulares. Estão relacionados primariamente com a postura, senso de posição, propriocepção, tônus muscular, velocidade e direção de movimento. Os mesmos referem que os receptores sensoriais profundos abrangem fusos musculares, órgãos tendinosos de Golgi, terminações nervosas livres, corpúsculos de Pacini e receptores articulares.
O sistema somatossensorial fornece ao Sistema Nervoso Central (SNC) informações sobre a posição e movimento do corpo, em referência às superfícies de apoio e, além disso, fornece 65 dados sobre a inter-relação de diferentes segmentos do corpo (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003).
Segundo Cohen e Abdalla (2005), a informação sobre o grau de alteração mecânica das estruturas articulares é projetada a centros de processamento no cérebro pela inervação aferente da articulação. O estado de tecidos articulares é enviado em código de impulso neural a muitos níveis do Sistema Nervoso Central, de forma que possam ser avaliadas informações relativas às condições estáticas e dinâmicas, equilíbrio e desequilíbrio, relação biomecânica de esforço e atenuação.
As informações são transmitidas pelas vias aferentes, enquanto o SNC obtém as respostas motoras eferentes (controle neuromuscular), essencial na mediação da propriocepção (DUTTON, 2006).
As sensações são mediadas pelo sistema espinotalâmico ântero-lateral, ou pelo sistema da coluna dorsal-lemnisco medial(fig.8). Assim sendo, O'Sullivan e Schmitz (2004) relata que a informação sensorial somática entra na medula espinal através das raízes dorsais. Os sinais sensoriais são então levados para os centros superiores através das vias ascendentes o Sistema Espinotalâmico Antero-lateral e o Sistema da Coluna Dorsal Lemnisco Medial.
A mais importante via consciente parece ser a que envia ao cerebelo, região talâmica e cortical, o impulso proveniente de estímulos proprioceptivos vestibulares e de sensibilidade profunda (BAKOFF; BEKEDORF, 2007).
O cerebelo é a parte do encéfalo responsável pela manutenção do equilíbrio e postura corporal, controle do tônus muscular e dos movimentos voluntários, bem como pela aprendizagem motora (RIBEIRO, 2009).
A ação muscular esquelética é importante para a manutenção do equilíbrio porque fornece o trofismo necessário, executando uma função contrátil tônica antigravitacional (GUYTON; HALL, 2002). A regulação do tônus muscular através do corpo para a manutenção da postura e realização de movimentos é função do sistema proprioceptivo (FIGUEIRA, 2000).66 De acordo com Laughton et al., (2003), a fraqueza dos grupos musculares envolvidos no controle postural prejudica a habilidade do indivíduo de corrigir as oscilações do centro de massa para prevenir quedas. Assim, estes indivíduos acabam mantendo a ativação destes músculos como tentativa de fornecer mais estabilidade ao corpo.
A organização do movimento está a cargo das áreas corticais de associação, gânglios da base e cerebelo e a execução do movimento depende do córtex motor, das vias descendentes e do arquicerebelo (RIBEIRO, 2009).
A manutenção do equilíbrio e da postura se faz basicamente pelo arquicerebelo e pela zona medial (vérmis), promovendo a contração dos músculos axiais e proximais dos membros mantendo o equilíbrio e a postura normal. Esta influência é transmitida aos neurônios motores pelos tractos vestíbulo-espinhal e retículo-espinhal (MACHADO, 2003).
Portanto, mesmo um comportamento cotidiano como a manutenção da posição ereta, ao contrário do que parece, é uma tarefa complexa que envolve um intricado relacionamento entre informação sensorial e atividade motora (BARELA, 2000).

Sistema Visual
O sistema visual fornece informações sobre a localização e a distância de objetos no ambiente, o tipo de superfície onde se dará o movimento e a posição das partes corporais uma em relação à outra, e ao ambiente (RIBEIRO, 2009).
O sistema visual também fornece informações sobre a direção vertical, a posição e o movimento da cabeça em relação aos objetos circunjacentes e orienta a cabeça a manter uma posição correta além de informar acerca do movimento dos objetos circundantes, oferecendo assim, orientação da velocidade do movimento (LENT, 2001).
Segundo Lord e Menz (2000) a visão desempenha um papel importante na estabilização da postura, por fornecer continuamente ao sistema nervoso informação atualizada a respeito da posição e dos segmentos do corpo em relação a eles mesmos e ao ambiente.67 A visão contribui para um aperfeiçoamento do controle postural, assegurado inicialmente pelos sistemas somatoriosensorial e vestibular (RIBEIRO, 2009).
O sistema visual é importante para manutenção do equilíbrio corporal postural.
(BANKOFF et al., 2004). Segundo Silva, Ribeiro e Rabelo (2008), o equilíbrio é um mecanismo de grande importância, pois uma criança com a visão normal consegue desenvolver seus mecanismos sensoriais, já a criança com deficiência visual é afetada mecanicamente devido à falta de estímulos.
Segundo Santos (2001), ocorrem frequentemente em crianças com deficiência visual defasagens como: esquema/imagem corporal, reações de equilíbrio estático e dinâmico, postura, mobilidade, marcha, expressão corporal, expressão facial, coordenação/habilidade motora, tônus muscular, condicionamento físico, organização têmporo-espacial, lateralidade, sensibilidades, reações de endireitamento, adaptação ao meio, a relação consigo e com o outro, apresentando ainda atrasos no desenvolvimento social, afetivo, cognitivo e psicomotor.
Um dos aspectos referentes às alterações motoras em crianças com deficiência visual que podem, portanto, estar relacionados a alterações do equilíbrio é a presença de hipotonia muscular generalizada nestas crianças (LEVTZION-KORACH et al., 2000).
Para Prechtl et al. (2001), a alteração se deve principalmente à calibração que o sistema visual deixa de exercer sobre o sistema proprioceptivo e vestibular.
Para Guyton e Hall (2002), o equilíbrio estático depende, basicamente, do bom funcionamento do sistema vestibular. Contudo vários estudos verificaram diferença importante nos índices de estabilidade obtidos pela criança cega e pela vidente e, além disso, verifica-se em geral também que a criança vidente ao realizar as provas de equilíbrio apresenta desempenho inferior quando realizam com olhos fechados (RIBEIRO, 2009). Portanto, a literatura em geral apóia a hipótese que sustenta que a visão é fundamental para a calibração dos outros sentidos (PASCUAL-LEONE et al., 2005).
A deficiência visual afeta mecanicamente a marcha, devido à perda de dados sensoriais necessários para distribuir temporalmente os passos, empobrecendo o equilíbrio e provocando uma deficiência nos reflexos de proteção (MOSQUERA, 2000). Vários relatos na literatura 68 apontam para um risco aumentado de quedas de indivíduos cegos nas diversas condições ambientais (LEGOOD; SCUFFHAM; CRYER, 2002).
Os deficientes visuais sem a informação visual podem tornar-se mais instáveis, apresentando maior dificuldade em manter-se na postura em pé e a ausência da experiência visual diminui as repostas de regulação automática da postura (NAKATA; YABE, 2001).
Visto que o sistema visual oferece referências pobres ou nulas aos deficientes visuais congênitos, o desenvolvimento do equilíbrio nesses indivíduos passa a depender dos outros 2 sistemas (somato-sensorial e vestibular) (FIGUEIREDO; IWABE, 2007).
O desenvolvimento do equilíbrio através da atividade física se faz necessário para o deficiente visual desde a infância, devido suas limitações físicas, motora, psicológicas, afetivas, postural e dificuldades na lateralidade, consciência corporal e no equilíbrio. Por isso se faz necessário a estimulação desde a infância até a idade adulta, para uma maior auto-independência do deficiente visual (SILVA; RIBEIRO; RABELO, 2008).

Sistema Vestibular
Tribastone (2001) relata a importância da superação de limites em treinamento, fechando os olhos normalmente ou os vendando. Isso porque o ser humano se julga normal, ou seja, quando ele possui um sistema de visão normal, ele confia quase que 100% no seu sistema de equilíbrio e manutenção de equilíbrio corporal postural, sobre os olhos ou sobre o sistema de visão, utilizando muito pouco do sistema vestíbulo coclear. Para isso, ele sugere a realização de qualquer tarefa com os olhos vendados para superação dos limites.
O sistema vestibular tem um papel importante na manutenção do equilíbrio, com interação com o sistema nervoso central, através das fibras nervosas aferentes que provém das cristas ampulares ou das máculas otolíticas, que atingem a cavidade craniana pelo meato acústico interno, onde se encontram os corpos celulares bipolares formando o gânglio de Scarpa (ou 69 gânglio Vestibular), são essas fibras que vão formar a porção vestibular do oitavo par de nervos craniano (BAKOFF; BEKEDORF, 2007).
O sistema vestibular é constituído por uma estrutura óssea dentro da qual se encontra um sistema de tubos membranosos cheios de líquido, cujo movimento – provocado por movimentos da cabeça – estimula células ciliadas que enviam impulsos nervosos ao cérebro ou diretamente a centros que controlam o movimento dos olhos ou os músculos que mantêm o corpo numa posição de equilíbrio. Para além do líquido, na sácula e no utrículo encontram-se otólitos (sensíveis à posição da cabeça e à aceleração linear) corpos rígidos cujo movimento estimula igualmente os nervos que controlam a postura do animal (BERNE; LEVY; ESBÉRARD, 2000).
O sistema vestibular é formado pelos três canais semicirculares (sensíveis à rotação da cabeça) que se juntam numa região central chamado o vestíbulo. Este recebe e integra os sinais de informações proprioceptivas e visuais transmitindo-as para o controle motor que se utiliza dos músculos oculares e da medula espinhal (RIBEIRO, 2009).
O sistema vestibular, que se localiza no ouvido interno, possibilita a percepção do movimento, especialmente em relação à posição da cabeça. Por sua vez, o sistema visual recolhe a informação sobre a localização do corpo em relação ao meio envolvente, enquanto que o sistema somatosensorial recebe o feedback sobre a posição do corpo (CARTER; KANNUS; KHAN, 2001). Estes sistemas enviam informações para o sistema nervoso central, que possibilitam ajustes posturais, ao integrarem esta informação e ao gerarem, através da ação muscular, toques articulares, controlando amplitudes articulares (SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003).
O controle motor dá uma resposta através de dois reflexos que são responsáveis para manter o controle postural: o reflexo vestíbulo-ocular é responsável pelo controle da estabilidade ocular e a orientação da cabeça à medida que se movimenta; e o reflexo vestíbulo-espinhal influencia os músculos esqueléticos do pescoço, tronco e membros e gera um movimento compensatório do corpo mantendo o controlo cefálico e postural (RIBEIRO, 2009).
Os reflexos de endireitamento utilizados para a manutenção de postura também influenciam na manutenção do equilíbrio (RIBEIRO, 2009). Estes reflexos de endireitamento e 70 labirínticos, os que atuam sobre a cabeça, pescoço, corpo, e os ópticos estão situados na parte ventral do mesencéfalo, situado em frente ao terceiro par de nervos cranianos. Sabemos o quanto esses reflexos contribuem para proporcionar uma postura corporal ereta e de equilíbrio, e também, sabemos o quanto eles são importantes (DI GRAZIA; BANKOFF; ZAMAI 2005).
A informação proprioceptiva mais importante, necessária à manutenção do equilíbrio, é a proveniente dos receptores articulares do pescoço, pois quando a cabeça é inclinada em determinada direção, pela torção do pescoço, fazem com que o sistema vestibular dê ao indivíduo uma sensação de desequilíbrio. Isto se deve ao fato de eles transmitirem sinais exatamente opostos aos sinais transmitidos pelo sistema vestibular. No entanto, quando todo o corpo se desvia em uma determinada direção, os impulsos provenientes do sistema vestibular não são opostos aos que se originam nos proprioceptores do pescoço, permitindo que nessa situação a pessoa tenha uma percepção de uma alteração de equilíbrio de todo o corpo (GUYTON; HALL, 2002).
As sensações proprioceptivas, originadas dos órgãos locomotores, não são suficientes para permitir reconhecer a posição e a orientação do corpo no espaço, se está na vertical ou na horizontal. Essa noção só será permitida pela percepção da cabeça no espaço, graças às sensações labirínticas reforçadas pela visão. Sensações táteis contribuem para tal fato (RODRIGUES, 2007).
Em virtude da pouca movimentação de cabeça é que a criança com perda visual apresenta baixa reação vestibular, mostrando-se tensa e insegura nos movimentos do corpo. Isso prejudica a formação de reações de equilíbrio e os primeiros deslocamentos no espaço (RIBEIRO; NORONHA FILHO; SILVEIRA, 2005).
O balanceio do corpo ativa o ouvido interno. As crianças cegas necessitam de maior ativação do órgão do equilíbrio que as crianças com visão normal em decorrência da sua baixa atividade motora. Como a criança cega tem dificuldade de controlar a sua postura, gerada pela ausência de informações visuais, ela depende muito do órgão de equilíbrio para adquirir a capacidade de marcha (RODRIGUES, 2007).

Sistema Tônico Postural
As sensações exteroceptivas são importantes na manutenção do equilíbrio, por exemplo, as sensações de pressão das plantas dos pés podem expressar: se o seu peso está distribuído de maneira igual entre os dois pés e se seu peso está mais para frente ou para trás em seus pés.
Existe uma relação reflexa de sensibilidade, com a velocidade do olho durante os movimentos de condução das passadas na locomoção humana, estão diretamente ligadas também com a manutenção da postura corporal, onde informações provenientes de captores sensitivos externos, como os situados no pé são importantes para a manutenção do sistema tônico-postural (BAKOFF; BEKEDORF, 2007).
Os captores que intervêm prioritariamente no ajustamento postural estático e dinâmico são, principalmente, o pé e o olho. Captores principais do sistema postural, eles associam exterocepção e propriocepção. São ao mesmo tempo receptores sensitivos internos e externos (BRICOT, 2001).
As informações vindas de diferentes captores sensitivos serão integrados no computador central que é composto por núcleos vestibulares, gânglios da base, cerebelo, sistema reticulado e colículo (BRICOT, 2001).
A partir do momento em que um ou vários receptores localizados nos músculos, pele e articulações estiverem desregulados, aparecerá em desequilíbrio tônico postural e com ele seu cortejo de forças contrárias anormais (BRICOT, 2001).
De acordo com Umphred (2004), freqüentemente, os profissionais consideram o estímulo sensorial como sendo uma simples graduação contínua. A situação real não é tão elementar. Ela deve ser considerada como no mínimo um fenômeno tridimensional e possivelmente quadridimensional, que ocorre com extrema rapidez no SNC. Os sistemas sensoriais múltiplos são ativados, simultaneamente, pela maioria dos estímulos terapêuticos. A modificação do estímulo é determinada pelo terapeuta e graduada de acordo com a resposta.
Do ponto de vista clínico, a separação entre os processos de equilíbrio sensoriais e motores significa que um indivíduo pode apresentar um equilíbrio deficiente por duas razões: a 72 posição do centro de gravidade em relação a base do suporte não está sendo percebida com precisão; os movimentos automáticos necessários para levar o centro de gravidade não está sendo sincronizados ou coordenados de maneira eficiente (GANANÇA; PERRACINI; GANANÇA, 2002).

Equilíbrio e Judô
Nem sempre uma grande estabilidade é desejada, principalmente quando se trata dos desportos, uma vez que em muitas situações, os atletas tendem a ficar menos estáveis, afim de vencer mais facilmente a inércia e efetuar um ataque, como é o caso do Judô (BERNARDES, 2007).
O objetivo principal no combate de judô é desequilibrar o oponente, fazendo-o cair (GUERREIRO, 2003). Desta forma, tanto no treino quanto na competição de judô, judocas estão constantemente sujeitos aos movimentos imprevisíveis de seu adversário, que tenta desestabilizá- lo (PERRIN, et al., 2002).
Todas as técnicas do Judô são edificadas sobre um princípio fundamental - o Kuzushi (desequilíbrio) - consistindo no rompimento da sua posição de equilíbrio estático / estável, através da utilização de um esforço mínimo para efetuar a projeção de um adversário ao solo, (GUERREIRO, 2003).
Conseguir desequilibrar o adversário é regra fundamental na primeira fase das técnicas de projecção (NOWOISKY, 2005). O desequilíbrio serve para fazer com que seja deslocado o centro de massa do adversário, para fora da sua base se sustentação, para desta forma ficar mais fácil de ser vencida a sua inércia (BERNARDES, 2007).
Se o seu centro de massa está fora da base de sustentação, este indivíduo encontra-se em desequilíbrio. Esta verdade universal também é de aplicação no judô (GUERREIRO, 2003).
No Judô, o SNC age controlando a posição do centro de gravidade do corpo, em relação aos seus pés e organiza padrões posturais nesta tarefa de equilíbrio (PERRIN et al., 2002).73 O treinamento do judô realça a faculdade de usar informações proprioceptivas e somestésicas, utilizando a estimulação de mecanorreceptores musculares, articulares e cutâneos, o que melhora a capacidade postural dos desportistas (PERRIN et al., 2002).
De fato, a melhora do controle postural concomitante ao treino de Judô parece ser a conseqüência de um melhor domínio das estratégias de controle do equilíbrio, especialmente, aqueles baseados em entradas somatossensitivas. Assim, indivíduos cegos também podem alcançar um alto nível no judô (PERRIN et al., 2002).
 

excerto de:
O EFEITO DA MOTRICIDADE DO JUDÔ NO EQUILÍBRIO DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
ANA CAROLINA PEREIRA NUNES PINTO & JOSIANE DE OLIVEIRA LIMA E LIMA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Fisioterapia do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade da Amazônia para obtenção do grau em Fisioterapia.
Orientador: Prof. Said Kalume Kalif.
fonte: UNAMA