domingo, 30 de novembro de 2014

1 DE DEZEMBRO – COMEMORAÇÃO DO DIA INTERNACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA GRANDE AUDITÓRIO DA CASA DAS ARTES

1 DE DEZEMBRO – COMEMORAÇÃO DO DIA INTERNACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
GRANDE AUDITÓRIO DA CASA DAS ARTES EM VILA NOVA DE FAMALICÃO

PROGRAMA

10.00 – Sessão de Abertura
Dr. Leonel Rocha, Vereador da Educação da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão

10.10 – "Os meninos de Famalicão"
Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco

10.20 - “Alegre Banda Desenhada”
APPACDM – Complexo de Vila Nova de Famalicão

10.35 – “ACIP a brilhar”
Dança apresentada pelos jovens do Centro de Atividades Ocupacionais da ACIP

10.45 – “Sorrir é Crescer”
AFPAD – Valência Lar

11.00 – "Alibabá"
Jovens do Centro de Atividades da AFPAD

11.15 – “Um Dia Decidi Ser Feliz”
Encenação apresentada pela APPACDM – Complexo de Vila Nova de Famalicão

11.30 –"A princesa e a ervilha"
Encenação apresentada pelo Centro Social e Cultural São Pedro de Bairro

800 oftalmologistas debatem em congresso doenças oculares e novos tratamentos

800 oftalmologistas portugueses vão reunir-se no Hotel Tivoli Marina Vilamoura, de 4 a 6 de Dezembro, no 57º Congresso Português de Oftalmologia, para conhecer as últimas novidades terapêuticas da área, no ano em que a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia assinala 75 anos de existência. Nesta edição do congresso irão participar 16 convidados internacionais e estará em destaque a forte cooperação e intercâmbio de conhecimentos que é feita com os especialistas brasileiros.

Entre as várias áreas da oftalmologia, vão ser discutidos temas importantes como as doenças da retina, uma das principais causas de cegueira evitável em Portugal, e as cirurgias refractivas, utilizadas para corrigir a miopia, hipermetropia e astigmatismo. Todos os anos são realizadas no nosso país 15 mil cirurgias refractivas: 2500 correspondem a implantações de lentes intra-oculares e 12500 a cirurgias com laser.

As doenças da retina que mais afectam os portugueses são a degenerescência macular relacionada com a idade (DMI) e a retinopatia diabética. A DMI é principal causa de baixa visão nos países desenvolvidos. Trata-se de uma doença crónica e progressiva da zona central da mácula, onde a visão é mais importante, atinge cerca de 350 mil portugueses, um número que tende a aumentar à medida que a população portuguesa fica mais envelhecida. Já a retinopatia diabética é, actualmente, a maior causa de cegueira nos adultos entre os 20 e os 70 anos de idade. A prevalência desta complicação aumenta com a duração da doença e afecta mais de 60% dos doentes com diabetes do tipo 2 com mais de 20 anos de evolução de doença. Em Portugal, calcula-se que existam cerca de 30 mil indivíduos com baixa visão por retinopatia diabética.

Paulo Torres, presidente da SPO, explica que “este nosso 57º Congresso Nacional será um espaço de partilha de conhecimentos entre especialistas nacionais e internacionais, que aqui poderão ter contacto com os mais recentes avanços científicos e tecnológicos no tratamento das patologias oftalmológicas”. E, a propósito do 75º aniversário da SPO, o especialista lembra que “a oftalmologia portuguesa acompanha a evolução científica e tecnológica que acontece no mundo. Temos no país as melhores técnicas de diagnóstico, tratamento e de seguimento de todas as doenças oculares. Os nossos oftalmologistas e os nossos hospitais estão ao nível dos melhores do mundo. E a SPO tem contribuído para este panorama de excelência através da promoção da divulgação da ciência médica, do ensino médico e desenvolvimento profissional continuado e da cooperação com os Países Africanos de Língua Portuguesa”.

O 57º Congresso Português de Oftalmologia contará com 450 apresentações em forma de comunicações livres, posters e vídeos, 19 simpósios, cursos e workshops, 9 conferências magistrais, 6 mini-conferências e apresentação da monografia "Neuroftalmologia baseada na evidência".

Portugal lidera investigação europeia em oftalmologia

A Associação para Investigação Biomédica e Inovação em Luz e Imagem (AIBILI), sedeada em Coimbra, está a coordenar 11 ensaios clínicos em mais de 19 países da Europa, colocando Portugal numa posição de liderança na investigação europeia em doenças oftalmológicas. A AIBILI é a instituição coordenadora da Rede Europeia de Investigação Clínica – EVICR.net que inclui 91 membros de 19 países europeus e que tem uma infraestrutura para gestão de ensaios clínicos multicêntricos em oftalmologia.

Além dos ensaios clínicos integrados na Rede Europeia de Investigação Clínica – EVICR.net, a AIBILI é também responsável por 32 ensaios clínicos em Portugal, em áreas como a degenerescência macular relacionada com a idade, doenças raras, glaucoma e retinopatia diabética. Num total, mais de 1.478 doentes e 9 investigadores principais estão envolvidos em ensaios clínicos em curso neste centro de investigação.

“As actividades que desenvolvemos na AIBILI contribuem de forma positiva para melhorar a visão das pessoas no mundo inteiro e é pelo reconhecimento do nosso trabalho que somos hoje o Centro de Referência em Investigação Clínica em Oftalmologia, tanto em Portugal como na Europa”, refere José Cunha-Vaz, presidente do conselho de administração da AIBILI.

No próximo dia 19 de Novembro, entre as 9h30 e as 13h, a AIBILI vai assinalar os seus 25 anos de existência, no auditório central da Universidade de Coimbra, Polo III – Ciências da Saúde.

Ao longo dos últimos 25 anos de actividade, a AIBILI realizou 187 ensaios clínicos, participou em 61 projectos relacionados com desenvolvimento de novas tecnologias e imagem médica, e lançou, a nível internacional, o primeiro produto - Retmarker® - um software que permite analisar automaticamente exames fotográficos do fundo do olho, identificando alterações nos números de microaneurismas e assim identificando os olhos com doença activa e em risco de desenvolver edema macular.

A actividade da AIBILI e a investigação nela desenvolvida tem sido também reconhecida através de prémios nacionais e internacionais atribuídos ao Sr. Prof. Doutor José Cunha-Vaz, Presidente da AIBILI, sendo os mais recentes a Medalha de Mérito da Ordem dos Médicos (2012), a medalha Gian Battista Bietti atribuída pela Sociedade Italiana de Oftalmologia (2012), Prémio Bial de Medicina Clínica (2012), a Weisenfeld Award atribuído pela Association for Research in Vision and Ophthalmology dos EUA (2014), Prémio Albert C. Muse (2014) e o Prémio Nacional de Saúde (2014).

Aluno da UBI pede ajuda para ganhar mobilidade

Nelson Fernandes, aluno da UBI, doente neuromuscular pede ajuda a todos para aquisição de uma carrinha e assim poder voltar a estudar.



Ver mais informações aqui e na página do facebook

"A Metodologia ABA na Intervenção das Perturbações do Espectro do Autismo”

O Ciclo de Debates do Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos, apelidado de “Quartas-feiras temáticas, Saberes e Fazeres”, pretende ser um desafio, coincidente com as estações do outono até à primavera, isto é, de outubro a maio, desafio de manter um espaço alargado de partilha de Ideias (Saberes) e Experiências (Fazeres) inovadoras, integradoras e possibilitadoras de maior empreendedorismo educativo, pessoal e social.

O 2º Ciclo de Debates, intitulado "A Metodologia ABA na Intervenção das Perturbações do Espectro do Autismo” terá lugar no dia 10 de dezembro., às 18:00, no Auditório da Escola Sede do Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos, em vila Nova de gaia.

A oradora, a Drª Sónia Assunção, Responsável Técnica do Centro ABCReal-Portugal, virá para partilhar o seu conhecimento e experiências.

Que estratégias utilizam os Educadores de Infância e Professores do 1.º ciclo junto dos seus alunos... com Perturbações do Espectro de Autismo?

O presente fórum de debate pretende construir-se em torno de uma melhor compreensão sobre o conhecimento do autismo, na educação das crianças com PEA, por parte dos intervenientes e, consequentemente, proporcionar reflexões de maior importância, de modo a contribuir para um processo de inclusão e de aprendizagem mais positiva.

Para participar deverá inscrever-se via telefone ou enviar, por mail, a Ficha de Inscrição disponível para o efeito.

A História Animada de Helen Keller

Helen ficou cega e surda aos 19 meses de idade, devido a uma doença diagnosticada então como "febre cerebral" (hoje acredita-se que tenha sido escarlatina ou meningite).


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Dia internacional das pessoas com deficiência - 3 de Dezembro (é já amanhã)

dia internacional das pessoas com deficiência (3 de dezembro) é uma data comemorativa internacional promovida pelas Nações Unidas desde 1998, com o objetivo de promover uma maior compreensão dos assuntos concernentes à deficiência e para mobilizar a defesa da dignidade, dos direitos e o bem estar das pessoas.
 Procura também aumentar a consciência dos benefícios trazidos pela integração das pessoas com deficiência em cada aspecto da vida política, social, económica e cultural. A cada ano o tema deste dia é baseado no objetivo do exercício pleno dos direitos humanos e da participação na sociedade, estabelecido pelo Programa Mundial de Ação a respeito das pessoas com deficiência, adotado pela Assembleia Geral da ONU em 1982.

Assim, apresento algumas sugestões de atividade:


Livros





Uma história cheia de cor -  de Miguel Borges Silva é um livro muito interessante para falar sobre a diferença. Recomendo!!


"Porque uma manhã, num tremor do pintor Vicente, provocado pela voz estridente do seu amigo Leandro que o chamou para lanchar, nasceu uma mancha de tinta diferente. Não era amarela, nem magenta, nem azul, nem verde, nem violeta, nem vermelha – alaranjada! Era diferente! Muito diferente!"






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imagens dos livros "Olá eu sou o João" e "Olá eu sou a Vera"
Trissomia 21, autismo e paralisia cerebral são os primeiros livros
a serem lançados no âmbito do projecto da Pais em Rede

Explicar às crianças o que é um amigo com trissomia 21, autismo ou paralisia cerebral é o objectivo dos três livros que são esta quinta-feira apresentados em Lisboa. As histórias são escritas por Alice Vieira, Luísa Beltrão e Luísa Ducla Soares.

“Cada um tem a sua síndrome. A Vera tem Trissomia 21 e é uma menina muito bonita. O segundo é uma criança com autismo, o João, e o terceiro uma criança, o Tiago, com paralisia cerebral”, explica à Renascença a escritora Luísa Beltrão.

As histórias “levam a criança a ter um ponto de partida para perceber a importância que tem a outra criança, diferente, ser tratada como igual. Também precisam de afecto e carinho”, acrescenta.

A colecção “Meninos Especiais” nasceu da boa vontade de todos, “pessoas de várias áreas – autores, ilustradores, editores, paginadores, gráficos – que se juntaram e deram o que tinham de seu para realizar um projecto tão bonito como este”.

Cada livro custa três euros, que revertem para a Pais em Rede. O lançamento acontece na Livraria Ler Devagar, em Lisboa, com a presença dos pequenos heróis que inspiraram as escritoras.
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Para mais informações aceda ao link


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Edmar, o Passarinho Albino de Manuela Mota Ribeiro

Esta história pretende chamar a atenção dos leitores para a necessidade de respeitar e ajudar os outros, de um modo especial aqueles que, por alguma razão, apresentam limitações ou se consideram diferentes.
Dirige-se a todos aqueles que se sentem vitimizados e aos seus familiares em particular.
Edmar é um passarinho albino que consegue, com o apoio e o amor incondicional da família, superar as inúmeras dificuldades inerentes à sua doença.


Uma música


Um vídeo



quarta-feira, 26 de novembro de 2014

"Educação Especial: supervisão e intervenção"- PORTO

Centro de Formação da PIN-ANDEE (Pró-Inclusão- Associação Nacional de Docentes de Educação Especial" vai promover a Ação de Formação "Educação Especial: supervisão e intervenção" acreditada com o registo CCPFC/ACC-77321/14- 25H - 1U.C., dinamizada pelo Prof. Doutor David Rodrigues, a decorrer na Escola Secundária Garcia de Orta - PORTO, com a seguinte calendarização.

A ação de formação tem um custo de 30€ para Sócios da PIN-ANDEE e de 50€ para Não Associados. Os docentes do Agrupamento Garcia de Orta têm prioridade de frequência devendo fazer a sua inscrição na Direção do Agrupamento.


As restantes inscrições são aceites pela ordem de chegada e podem ser realizadas até o dia 30 de janeiro em:


Para mais informações contatar: cfproandee@gmail.com ou 927138331

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Campanha de Brinquedos Adaptados

O Centro de Paralisia Cerebral Calouste Gulbenkian está a realizar uma Campanha de recolha de brinquedos a pilhas para serem adaptados e utilizados por crianças com paralisia cerebral. 

Caso tenha brinquedos a pilhas que já não use e queira oferecer a estas crianças colabore.


Para mais informações 
Centro de Reabilitação de Paralisia Cerebral Calouste Gulbenkian
Avenida Rainha Dª Amélia, Lumiar 1600-676 Lisboa
Tel. 21 751 27 00

colecção MENINOS ESPECIAIS

Lançamento de mais 3 livros da colecção MENINOS ESPECIAIS
5 Dezembro, 18h, Museu da Electricidade


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

27 mil de visitas, obrigada

Assim se atinge o bonito e FANTÁSTICO número de 27 mil de visitas. 
Obrigada!

ACAPO reúne com Eurodeputados em Bruxelas

fonte: ACAPO

 
ebu blind date logo

Durante o evento «High Speed Blind», a ACAPO tem reunido com deputados portugueses no Parlamento Europeu.

Nestas reuniões, Ana Sofia Antunes, Presidente da Direção Nacional da ACAPO, tem abordado temas como a ratificação do Tratado de Marraquexe pela União Europeia e Portugal, uma nova diretiva da acessibilidade que abranja as questões do design universal no desenvolvimento de novos produtos e tecnologias e a emissão de um “acessibility act”.
Mais informações em: http://www.euroblind.org/
 

Projecto permite que cegos "toquem" nas suas memórias

Touchable Memories é o nome de um novo projecto que “traz uma fotografia à vida”, permitindo que os invisuais possam tocar nas suas memórias fotográficas. Esta iniciativa recorre a uma impressora 3D que imprime as fotografias do passado dos participantes em pequenas esculturas que depois são tocadas pelos próprios, permitindo-lhes um regresso ao passado. A iniciativa está a ser levada a cabo por parte da Pirate 3D. O comovente vídeo além de contar um pouco da história pessoal de algumas pessoas, consegue captar ainda o momento em que uma fotografia impressa do seu passado lhe é passada para as mãos. Um dos participantes, de nome Gabor, era director de fotografia até ter perdido a visão há oito anos.

DEFICIÊNCIA VISUAL: RAÍZES HISTÓRICAS E LINGUAGEM DO PRECONCEITO


Cego Harpista nos jardins de Senaqueribe em Ninive - baixo relevo em pedra - séc. VII aC
Cego Harpista nos jardins de Senaqueribe em Ninive
baixo relevo em pedra, séc. VII a.C.
 
1. Investigando a posição do sujeito cego na história.
Desde a antiguidade, a cegueira vem sendo considerada como algo de difícil compreensão. As pessoas cegas, segundo Lorimer (2000), foram sempre consideradas como incapazes e dependentes, maltratadas e negligenciadas, sendo que algumas civilizações chegavam mesmo a eliminá-las. Somente há 200 anos atrás é que a sociedade começou a perceber que as pessoas cegas e com baixa visão poderiam ser educadas e viver independentemente. Este percurso histórico e a forma como a cegueira era considerada e tratada em diversas regiões do mundo, o que será apresentado abaixo, ajudam-nos a compreender as razões pelas quais a sociedade, em geral, ainda associa algumas profissões, mitos e idéias pré-concebidas às pessoas cegas.
Na China, a cegueira era comum entre os moradores do deserto. A música era uma alternativa para se ganhar a vida e, para isto, os cegos precisavam exercitar o ouvido e a memória.
Os japoneses, desde os tempos mais remotos, desenvolveram uma atitude mais positiva com relação às necessidades das pessoas cegas, enfatizando a independência e a auto-ajuda. Além da música, poesia e religião, o trabalho com massagem foi encorajado. Muitos cegos se transformaram em contadores de história e historiadores, gravando na memória os anais do império, os feitos dos grandes homens e das famílias tradicionais, sendo encarregados de contar isto para outras pessoas, perpetuando, assim, a tradição.
O Egito era conhecido na antiguidade como o país dos cegos, tal a incidência da cegueira, devido ao clima quente e à poeira. Referências à cegueira e às doenças nos olhos foram encontradas em papirus e os médicos que cuidavam dos olhos se tornaram famosos na região mediterrânea.
Na Grécia, algumas pessoas cegas eram veneradas como profetas, porque o desenvolvimento dos outros sentidos era considerado como miraculoso.
Em Roma, alguns cegos se tornaram pessoas letradas, advogados, músicos e poetas. Cícero, por exemplo, orador e escritor romano, aprendeu Filosofia e Geometria com um tutor cego chamado Diodotus. Entretanto, a grande maioria vivia na mais completa penúria, recebendo alimentos e roupas como esmola. Os meninos se tornavam escravos e as meninas prostitutas.
No Reino Unido, as primeiras referências às pessoas cegas datam do século XII, e mencionam um refúgio para homens cegos, perto de Londres, aberto por William Elsing. Os cegos eram geralmente mendigos que viviam da caridade alheia.
Na Idade Média, mais atenção foi dada às pessoas pobres e com deficiência, principalmente devido à lei - "The Poor Law Act", lavrada em 1601, que mencionava, explicitamente, os pobres, os incapazes e os cegos, prevendo abrigo e suporte para estas pessoas. Desta data em diante e por mais uns duzentos anos, os cegos viveram em suas casas ou em instituições, os chamados "asylums", contando com algum suporte dos governantes.
Na Bíblia, a cegueira é sinônimo de escuridão, de pecado. Deus é luz, é claridade. O pecado é a escuridão, a ausência de Deus. Segundo Hull (2000), a Bíblia foi escrita por pessoas que enxergam e os textos bíblicos traduzem imagens negativas da cegueira e da deficiência. A cegueira é símbolo da ignorância, de pecado e falta de fé. Além disto, é considerada como um castigo enviado por Deus.
A cura dos cegos, na Bíblia, está sempre ligada à remissão dos pecados, à confissão dos pecados. De uma certa forma, conforme comentado por Barasch (2001), a Bíblia reflete o pensamento cultural da antiguidade em relação à cegueira, tendo grande influência sobre artistas e escritores da época e também colaborando para manter o círculo vicioso do preconceito.
Em suma, a história, as lendas, a literatura e a própria Bíblia contribuíram para perpetuar as idéias negativas, os mitos sobre o efeito da falta da visão na vida das pessoas. A falta de conhecimento e entendimento sobre o tema, segundo Hutchinson et al (1997), acaba resultando em uma limitação das oportunidades que são oferecidas às pessoas cegas e com baixa visão. A cegueira e a baixa visão não deveriam ser barreiras para uma participação maior na sociedade e na escola. Estas barreiras são, na grande maioria, construídas pela própria sociedade, sendo traduzidas na linguagem utilizada para descrever as pessoas com deficiência pela cultura da normalidade, que discuto a seguir.

2. A linguagem do preconceito e os significados da cegueira.
Além da influência dos fatores históricos, já mencionados anteriormente, a forma como a mídia usa os significados da deficiência e mostra a figura do cego e das pessoas com deficiência, infiltra-se na vida das pessoas, contribuindo para a construção dos sentidos negativos e a manutenção do estigma, criando um círculo vicioso.
Com o objetivo de investigar os significados e referências à cegueira, Hull (2001) fez uma busca em um conceituado jornal britânico, The Guardian, cuja linha editorial se preocupa com justiça social e educação. Hull coletou 750 usos da palavra, classificando-os quanto ao significado literal e metafórico. O que mais chamou a sua atenção foi o uso metafórico, carregado de um significado extremamente negativo, que relacionava a cegueira à ignorância, à indiferença, à falta de sensibilidade, à falta de inteligência crítica e à violência. Os poucos usos metafóricos que não foram negativos se referiam ao amor e à justiça.
Hull comenta que, mesmo sendo a cultura britânica tão preocupada com o uso discriminatório das palavras, evitando aquelas que possam traduzir preconceito, o mesmo cuidado não foi verificado com relação à cegueira.
As imagens negativas, não somente na língua inglesa, vão se infiltrando na vida, atitudes e linguagem, colaborando para manter o estigma e a discriminação com relação à deficiência. Os discursos carregam e perpetuam essa posição negativa, vetando ao cego e às pessoas com outras deficiências o direito à participação plena na sociedade.
Também no cinema e na televisão, a figura da pessoa com deficiência está, geralmente, ligada a alguma figura monstruosa em filmes de suspense ou terror, ao humor grotesco, à amargura e desesperança em dramas. A deficiência é, assim, retratada com um teor melodramático e, segundo Longmore (2003), nos filmes de terror e suspense, onde fazem o papel de monstros, o texto que está implícito traduz o medo e a aversão pelas pessoas com deficiência.
Estes personagens, geralmente, aparecem com alguma deformidade física e, nas caracterizações de criminosos, também com uma deformidade da alma. Estas imagens refletem o que Goffman (1988) descreve como a essência do estigma: a pessoa que é estigmatizada é considerada, de alguma forma, como desumana e exemplifica o efeito multiplicador e devastador do preconceito.
Nesse caso, os vilões com deficiência destilam o seu ódio e o rancor pelo seu destino cruel e despejam sua ira naqueles que escaparam desta sina, numa retaliação à normalidade. O exposto acima reflete e reforça três preconceitos muito comuns: a deficiência como uma punição para o mal; as pessoas com deficiência são amargas devido ao seu destino; as pessoas com deficiência sentem inveja das pessoas normais e querem destruí-las. A história, entretanto, revela uma realidade diferente em que as pessoas é que foram, durante muito tempo e, de uma certa forma, até hoje, os algozes das pessoas com deficiência.
Além do vilão e do monstro, as pessoas com deficiência também começaram a aparecer na televisão e no cinema, principalmente nos anos 70 e 80, como pessoas desajustadas, que não se conformam com a deficiência imposta devido a algum acidente ou à guerra. A culpa de seus males está sempre neles próprios e não no ambiente restritivo da sociedade e na atitude preconceituosa das pessoas. Estes dramas ignoram ou distorcem as possibilidades de inclusão social e uso da moderna tecnologia assistiva, apresentando a morte como uma das únicas soluções possíveis para tanto sofrimento.
Ultimamente, a televisão, jornais e revistas, têm mostrado pessoas com deficiência que "superaram" sua deficiência, tornando-se profissionais bem sucedidos ou pessoas ativas em busca de seus objetivos pessoais e profissionais. Estas histórias são a antítese dos criminosos, dos monstros e das pessoas desajustadas mostradas nos filmes, mas ainda assim, traduzem uma visão distorcida da deficiência, considerando-a como um problema emocional de aceitação pessoal. O sucesso ou fracasso de uma pessoa com deficiência estaria ligado muito mais a fatores individuais, como coragem, determinação e equilíbrio emocional, deixando de levar em consideração o estigma, a discriminação, a limitação e falta de oportunidades impostos pela sociedade.
As questões discutidas, as quais incluem o conhecimento sobre a cegueira, as raízes históricas da deficiência e a linguagem do preconceito, me possibilitaram entender os sentidos que eu, professora e pesquisadora, atribuía e atribuo à cegueira, para entender a constituição do sujeito cego e com baixa visão e para analisar os sistemas de atividade, nos quais participam, dentre eles a sala de aula. Além disso, permitiram que eu pudesse entender melhor as possíveis barreiras para a inclusão escolar e social.

Referências bibliográficas.
  • BARASCH, M. 2001. Blindness - The History of a Mental Image in Western Thought. Routledge. London.
  • GOFFMAN, E. 1988. Estigma: Notas sobre a manipulação da Identidade Deteriorada. Rio de Janeiro.
  • HULL,J. 2000. Do you think I am stupid? In Echoes: Justice, Peace and Creation News (World Council of Churches), no 19/2001. Geneva. Switzerland.
  • HULL,J. 2000. Blindness and the Face of God: Toward a Theology of Disability. In Hans-gerg Ziebertz et all (eds) The Human Image of God (Johannes A.Van Der Ven Festschrift) Leiden, Brill, pp 21-229 ISBN 9004120319
  • HUTCHINSON, J. O., ATKINSON, K. & ORPWOOD, J. 1997. Breaking down Barriers - Access to Further and Higher Education for Visually Impaired Students. Stanley Thornes Publishers. Great Britain.
  • LONGMORE, P. K. 2003. Why I burned my book and other essays on disability. Temple University Press. Philadelphia. LORIMER, P. 2000. Reading by Touch - Trials, Battles and Discoveries. National Federation of the Blind. Baltimore.
     
NOTA: Este texto parte da fundamentação teórica de minha tese de doutorado, "Aprendendo a Ensinar Inglês para Alunos Cegos e com Baixa Visão - Um Estudo na Perspectiva da Teoria da Atividade", defendida em junho de 2004, na PUC de São Paulo, discute as raízes históricas e a linguagem do preconceito, fatores estes que podem explicar os sentidos negativos que são atribuídos à cegueira e baixa visão. O texto divide-se em duas partes: a primeira discute as raízes históricas e, a segunda, a linguagem do preconceito.
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Lívia Maria Villela de Mello Motta é doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem e atua na área de formação de professores para a escola inclusiva em cursos de graduação e pós-graduação na PUC Cogeae. Trabalha também com a inclusão cultural das pessoas com deficiência visual com foco na audiodescrição, ministrando cursos naFaculdade de Belas Artes de SP.

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Deficiência Visual: Raízes Históricas e Linguagem do Preconceito
Lívia Maria Villela de Mello Motta
2008
fonte: Bengala Legal

Breve balanço do projeto europeu SENnet

O projeto europeu SENnet, financiado pelo Programa Lifelong Learning (LLL), está a chegar ao seu final.

Constituiu-se como rede para as necessidades educativas especiais, foi coordenado pela European Schoolnet (EUN) e integrou instituições educativas e parceiros ligados à educação especial e às tecnologias de informação e comunicação de 7 países - Áustria, Bélgica, Dinamarca, Estónia, Itália, Portugal e Turquia -, articulando com a Agência Europeia para as Necessidades Especiais e Educação Inclusiva.

Criou um sítio Web onde se encontram todos os resultados das atividades e produtos realizados - http://sennet.eun.org/ - e comunidade no Facebook - https://www.facebook.com/groups/SENnetwork/ .

Todos os alunos beneficiam do potencial pedagógico das TIC, mas para os alunos com NEE as tecnologias podem mudar a sua vida, permitindo-lhes mais acesso e maior autonomia, graças à utilização de ampliadores de carateres, leitores de ecrã, sintetizadores de fala, comunicação por símbolos, tecnologias móveis e outros dispositivos.

O projeto apresenta resultados positivos em três áreas nucleares: (i) investigação e estudos de caso; (ii) recursos educativos digitais; e, (iii) formação online sobre inclusão e acesso às tecnologias.

Na área de investigação e estudos de caso foram produzidos relatórios temáticos sobre inovação relativa ao papel das TIC na inclusão de alunos com NEE em escolas regulares, ao desenho universal de aprendizagem e à utilização de tablets. Um conjunto de estudos de caso sobre impactos das tecnologias na aprendizagem de alunos com NEE foram levados a cabo por todos os parceiros, os quais foram ilustrados com vídeos, disponíveis no sítio web do projeto SENnet. O parceiro português apresentou oito estudos de caso que se encontram reunidos em e-book - http://crtic1estudos1caso.pressbooks.com/ .  

No âmbito dos recursos educativos digitais foram identificados cerca de 200 novos recursos pelos parceiros, e, no total, foram classificados cerca de 600 recursos de acordo com especificações de acessibilidade, tendo sido aberta uma nova categoria NEE no repositório da EUN - http://lreforschools.eun.org .

Relativamente ao desenvolvimento de competências de professores foi organizado um curso online sobre «Inclusão e Acesso às Tecnologias», que os parceiros europeus adaptaram e localizaram aos respetivos contextos nacionais. Das várias iniciativas, destaca-se o curso massivo aberto online (MOOC) organizado em Portugal - http://www.inctec2014.blogspot.pt/ - o qual mobilizou 927 inscrições.


Resume-se, deste modo, o balanço dos três anos de atividade do projeto europeu SENnet.

Mais informação - 
http://dge.mec.pt/educacaoespecial/index.php?s=directorio&pid=119
 
Fonte: DGE

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

color ADD

Miguel Neiva, professor da UMinho e designer gráfico, fala do projeto “ColorADD”, um código de cores universal para daltónicos. [em Story Telling, 10 nov’14]

IMAGEM CORPORAL: CORPOREIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL


1. INTRODUÇÃO
O corpo é a expressão material da personalidade. Sendo intrínseco e inerente, identificado a nós como nosso esqueleto, nosso aparelho muscular, o corpo como um todo.
Temos percepção corpórea própria. Diariamente, frente ao espelho, nos comparamos com os padrões vigentes, estereótipos de beleza e perfeição, e a tendência é imitá-los. Imitação do vestir, do pentear, do modelar o corpo e, principalmente, como agir a partir dos gestos e movimentos. O comportamento do ser humano segue padrões que podem ser compreendidos de forma mais ou menos nítida que entendemos como arquétipos, criando seu próprio mundo através da conquista da natureza. A “corpolatria” é expressão da cultura somática da sociedade de consumo. Estas colocações fazem-nos refletir sobre a dificuldade e modificar uma representação sócio-cultural.
Os órgãos dos sentidos têm o papel de “situar-nos” perante o mundo. Assim como a linguagem que está baseada nas imagens, é através da visão que construímos a opinião sobre o mundo.
Para a pessoa com deficiência visual a percepção de si e do mundo à sua volta é alterada devido às informações que recebe serem reduzidas e suas representatividades, pobres. Assim, tais informações, feitas através da exploração do ambiente pelas mãos e outros sentidos, têm sua representatividade, às vezes, distorcida, gerando ansiedade e insegurança. Seus conceitos se formam ao longo do tempo e a partir de seus relacionamentos sociais, com informações produzidas a partir da descrição de objetos e espaço, por pessoas não cegas.
De acordo com Diehl (2006) a imagem do corpo, bem como sua relação com o meio ambiente, são conceitos abstratos para os cegos, tendo em vista que eles não dispõem ou possuem poucas referências visuais. Eles constroem o seu mundo físico basicamente através de sensações táteis, olfativas e auditivas.
Um dos aspectos mais inquietantes, na concepção do desenvolvimento perceptivo-motor do indivíduo com deficiência visual, é o de reconhecê-lo como um sujeito capaz de realizar e expressar sua corporeidade com a mesma “grandeza” que um vidente. Na Educação Física, é fundamental a utilização do corpo como instrumento de comunicação e expressão no desenvolvimento do indivíduo com deficiência visual. Atividades que busquem satisfazer as necessidades pessoais e sociais no dia a dia, de forma independente e auto-suficiente são, por exemplo: expressão corporal, música, dança, teatro e atividades esportivas adaptadas. “O contato com o fato artístico, os sons, a música, o movimento, a dança e as artes plásticas, são elementos que nutrem as vivências e a conduta pessoal”. (BRIKMANN, 1989, p.105).
A proposta deste artigo destina-se, fundamentalmente, pesquisar os parâmetros da percepção corporal em deficientes visuais, identificar capacidades de percepção da imagem de seu corpo, suas inter-relações entre eles e com os demais. Gallahue & Ozmun (2003), comenta que fatores como um sentimento de bem-estar, imagem corporal, posição de controle e depressão, podem ser influenciados pelo envolvimento em atividades físicas.

2. METODOLOGIA
Este trabalho é um estudo descritivo-exploratório. Demarca o perfil de um grupo, analisa certos fenômenos, define pressupostos, identifica estruturas e possíveis relações com outras variáveis.
Definiu-se a população de indivíduos com deficiência visual, tendo como amostra nove sujeitos com cegueira total e dois com baixa visão, na faixa etária entre 19 e 45 anos, pertencentes à região metropolitana de Porto Alegre. Dois dos entrevistados são do sexo feminino e nove do sexo masculino.
O instrumento utilizado foi uma entrevista semi-estruturada. Os itens norteadores da pesquisa foram os seguintes:
  1. como se dá a percepção da imagem corporal do indivíduo com deficiência visual;
  2. sua percepção em relação ao corpo e sua mobilidade nas atividades da vida diária e também nas atividades físicas mais intensas;
  3. relação e interação com o meio, a família, a sociedade, etc.;
  4. como se processa seu lado emocional, seus medos, inseguranças, alegrias e tristezas.

3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Após a coleta dos dados foi possível chegar a 3 categorias de análise: conforme o aspecto físico-motor, social e emocional.
Perspectiva físico/motora
Observamos que estes indivíduos possuem dificuldade em relação à percepção de seu corpo quanto aos aspectos físicos e motores. A percepção, muitas vezes, ocorre a partir das informações dadas pelo outro. Informações que são fundamentais para seu crescimento integrado sob vários aspectos.
“O que eu percebo do meu corpo é assim, eu percebo o que os meus amigos falam” (Entrevistado 2);
“... eu não me importo muito com isso, mas...eu só sei o que as pessoas dizem, né...” (Entrevistada 10).
Quanto maiores forem os estímulos e novas experiências do indivíduo, mais completo será seu desenvolvimento perceptivo, principalmente sob o ponto de vista psicomotor.
“Falar sobre a percepção que o cego tem do mundo, só ele pode falar, pois somente ele pode percebê-lo pelo seu corpo” (PORTO, 2005, p.35).
Quando nos deparamos, ou imaginamos um objeto, ou quando construímos a “imagem” de um objeto, não agimos como uma simples máquina perceptora, mas como uma personalidade que experimenta essa percepção. Através da elaboração da imagem corporal percebemos que somos iguais aos demais, pelo menos em nossa forma. Os cegos têm, na maioria das vezes, uma “visão” distorcida da realidade corporal.
“... Eu sou alto, um pouco... tenho 1,63m” (Entrevistado 8).
O Entrevistado 6, aproximadamente mesma altura, disse que era meio alto. “Sou meio magro... meio gordinho” (Entrevistado 1).
Percebemos que a tendência é perceber o mundo, mais como eles crêem ou querem que seja do que através da informação recebida através dos diferentes estímulos. Acreditamos que para adquirir real percepção, os indivíduos dependem das relações entre os fatores do estímulo captados e das experiências vividas com este estímulo.
Vivemos numa cultura em que a aparência é extremamente valorizada. É através dessa aparência que os demais nos percebem e nos reconhecem, por isso pode-se destacar a importância da imagem na determinação do conceito de auto-identidade e de autovalorização.
Essa cultura constrói sua imagem de corpo e essa imagem se constitui numa maneira própria de “ver” e viver o corpo. Porém se percebe que os indivíduos cegos mesmo estando, às vezes, fora do “padrão” de beleza estabelecido pela cultura da corpolatria, relatam estarem contentes com seus corpos.
“...Me sinto um pouco alta, né,.. eu me sinto realizada com meu corpo... não sinto bonita e nem feia, me sinto no padrão normal” (Entrevistada 10).
A maioria dos sujeitos entrevistados demonstrou preocupação com a postura, relatando que freqüentemente alguém lhes faz alguma observação a respeito do assunto.
“Sim, eu ando sempre de cabeça baixa... eu tenho que levantar a cabeça e não consigo” (Entrevistado 7);
“... Sim, a professora de teatro. Ela sempre fazia comentários com a gente, sempre caminhar com a cabeça alta, “olhando” para a frente e nunca caminhar encurvado, apoiando-se na bengala”(Entrevistado 8).
Uma vida fisicamente ativa e habilidade para desenvolver tarefas da vida diária, são fatores que podem ter efeito positivo no conceito que adultos têm de si e na maneira como os outros os vêem (Gallahue & Ozmun, 2003). Devemos ter em mente as dificuldades sofridas pelos indivíduos cegos quanto às possibilidades de ação e interação motora. Dificuldades ocasionadas pela reação da família e da sociedade que tendem a super protegê-los e a cercearem suas ações.
“Às vezes eu tenho medo de ir para certos lugares, porque não tenho boa mobilidade. Às vezes eu vou para esquerda quando é para direita. Eu tenho uma mania, de não ”olhar” para a pessoa que está falando” (Entrevistado 6).
Poucas atividades esportivas e exercícios reforçam este aspecto. Por isso, decorrente dessa já citada tendência à inatividade e a super proteção, constatamos que existe um déficit motor, acarretando uma diminuição de sua mobilidade. Tudo isso, traz consigo uma criação de barreiras e obstáculos que dificultam sua acessibilidade nos lugares onde poderia ir sozinho.
“Uso bengala, eu não ando na rua sozinho, só se agarrar no braço de uma pessoa para caminhar” (Entrevistado 3);
“Olha, na rua eu não ando sozinha ainda...mas eu estou fazendo aulas de locomoção” (Entrevistada 5).
Os obstáculos encontrados podem levá-los a um processo desencadeador de severos comprometimentos relacionados à independência, segurança e integração com o meio e consigo mesmo.
O ser humano é um complexo de emoções e ações, propiciadas por meio do contato corporal nas atividades psicomotoras, que também favorecem o desenvolvimento afetivo entre as pessoas, o contato físico, as emoções e ações. A psicomotricidade contribui de maneira expressiva para a formação e estruturação do esquema corporal, o que facilitará a orientação espacial. Consiste em relacionar-se através da ação, como um meio de tomada de consciência que une o “ser corpo”, o “ser mente”, o “ser espírito”, o “ser natureza” e o “ser sociedade”. A psicomotricidade está associada à afetividade e à personalidade, porque o indivíduo utiliza seu corpo para demonstrar o que sente.
É importante ressaltar que, quando foram questionados sobre as atividades da vida diária, se alguém na família ajudava em alguma coisa, dois sujeitos responderam que a mãe, além de outras ajudas, até abotoava suas roupas, ajudando a colocar a cinta nas calças e amarrar os sapatos. “A minha mãe faz tudo para mim” (Entrevistado 3);
“...Eu ainda não apreendi. A maioria dos cegos, a família faz isso com ele, para proteger. Só que depois prejudica um pouco” (Entrevistado 11).
Muito embora todos os outros tenham relatado que sentem alguma dificuldade para a elaboração de suas atividades da vida diária, demonstraram que têm mais iniciativa a respeito.
“Eu procuro fazer tudo sozinho, independer das pessoas, mas eu gosto quando uma pessoa vem se oferecer para me ajudar em alguma coisa, eu gosto disso” (Entrevistado 9).
A criança só apreende aquilo que vive concretamente. É importante que ela faça suas próprias descobertas através da manipulação e exploração do ambiente físico-social. Para isso podem e devem ser exploradas situações referentes às atividades domésticas, como por exemplo: alimentação, higiene pessoal, saúde, segurança e vestuário.
Segundo Tavares (2003, p.81), “O desenvolvimento de nossa identidade corporal está intimamente ligado ao processo de vivenciar sensações dimensionadas à singularidade de nossas pulsões e de nossa existência desde a mais tenra idade”.

Perspectiva social
A família, muitas vezes, cria ao redor da criança cega uma redoma formada pela superproteção, causada pelo sentimento de culpa, pela desestruturação que o nascimento de uma criança deficiente causa, pelo medo e por falta de informações. Existe um total cerceamento da ação motora, tudo vindo à criança sem que ela saiba a origem, ocorrendo situações abaixo do seu limiar de captação, fazendo com que ela tenha a tendência de fechar-se cada vez mais em seu mundo.
“...Eu levanto todo o dia às 8 horas. Tomo café. Vou para meu quarto, sento em minha cadeira giratória que a minha mãe me deu e fico escutando rádio o dia todo” (Entrevistado 3).
Para Gandara (1992) a família desempenha papel fundamental no desenvolvimento e educação do indivíduo com deficiência visual, pois resultados mais imediatos e corretos viriam de esclarecimentos e atendimentos prestados a partir da infância.
Como a pessoa cega é muito dependente do meio, não tem muitas chances de escolha, só lhes resta atribuir valor ao que nele acontece. Sua área afetiva poderá estar saturada destes sentimentos equivocados, manifestando ansiedade, inseguranças ou até mesmo, sentimentos de incapacidade. Os indivíduos entrevistados deixaram transparecer a carência afetiva, trazendo a reboque outros sentimentos, como o medo, a tristeza e o pior de todos, o sentimento de solidão. “Ser carente é ser humano, é estar vivo e atuante numa eterna luta, sempre recomeçada e nunca finda” (SAÚDE, 2001, p.82).
A compreensão do quanto o indivíduo cego pode e é capaz diante das situações de vida é um desafio para ele e seus familiares. A maneira como a família se comporta pode acelerar ou retardar o processo de independência, trazendo conseqüências profundas ao longo do seu desenvolvimento. Nesse sentido, entendemos a importância da estimulação na família.
A preocupação com o desenvolvimento da criança com deficiência visual deve iniciar-se no nascimento, para que possam se estabelecer suas bases e atingir a maturidade necessária para uma boa interação sócio-afetiva no seu meio. Cabe, ainda, aos especialistas da Educação Especial, assumirem seu papel enquanto responsáveis pela orientação e estimulação durante o desenvolvimento da criança procurando evitar, prevenir e minimizar, na medida do possível, as defasagens que poderão ocorrer tanto no desenvolvimento, quanto na aprendizagem.
Em conformidade com Schilder (1980, p.243): “Nossa imagem corporal só adquire suas possibilidades e existência porque nosso corpo não é isolado”. Segundo este autor, um corpo é necessariamente um corpo quando está entre outros corpos. As pessoas aprendem a avaliar seus corpos através da interação com o meio em que vivem, assim sua auto-imagem é desenvolvida e reavaliada continuamente.
É preciso estimular o indivíduo com deficiência visual para que se mostre através de sua linguagem corporal, prestando atenção à sua maneira de mover-se, de relacionar-se com o mundo. Cada um traz, em seu corpo, uma memória de vida, uma história, um contexto familiar. Saber olhar esses corpos com a singularidade de cada um é o fundamento de uma didática cuidadosa, que valoriza a subjetividade e estimula potencialidades. Para as pessoas cegas, as maiores alegrias são centradas nos contatos, criando referenciais com alguém que lhes dê atenção. Em contra-partida, manifestam grande frustração quando são relegadas à condição de deficientes e até mesmo uma redução de atenção desperta- lhes tristeza. A indiferença dos videntes não é bem assimilada, tendo como conseqüência a insegurança. Identificou-se que a maioria do público entrevistado não possui muitos amigos e, que o pouco que tem, também é deficiente visual.
“...Eu prefiro ter amigos cegos do que videntes, porque me sinto mais seguro, sabe... o vidente não me dá muita segurança... porque já tentei me aproximar de pessoas que enxergam, mas acabei não conseguindo” (Entrevistado 7).
A partir de experiências que valorizem atividades que contemplem o contato com o outro, com o mundo, podemos destacar a contribuição da construção de uma identidade e o desenvolvimento do indivíduo. Para o deficiente visual, estas experiências se tornam fundamentais, desenvolvendo e fortalecendo sua independência e sua auto-estima.
Conforme Porto (2005), o ser humano é inseparável do meio ambiente e esse entorno humano se dá pela natureza e sociedade. Nessa pesquisa, apenas um sujeito relatou que participa de festas com videntes.
“Vou bastante, mas eu peço aos amigos para não me deixar no meio para não bater em ninguém.”(Entrevistado 2)
Na maioria das vezes, suas relações pessoais são comprometidas, fugindo do padrão de normalidade estabelecido.
“Eu converso mais é por telefone. Eles (os amigos) nunca têm tempo. Eles falam, ah eu vou te visitar, mas na vão. Aí eu tenho que ligar, senão não me ligam”.(Entrevistado 11).
Assim, podemos identificar o quanto é complicado para esse público participar de eventos para videntes. O que se constatou é que na maioria das vezes, eles só participam de festas promovidas por entidades representativas dos indivíduos com deficiência visual.
Quatro sujeitos relataram que nunca participam.
O relacionamento entre as pessoas caracteriza a unidade básica do sistema. Esta é formada sempre que duas ou mais pessoas prestam atenção ou participam nas atividades da outra, constituindo-se como um contexto crítico para o desenvolvimento. As pessoas não constroem seu esquema corporal sozinhas, sendo essencial o diálogo com os pais, professores, colegas e amigos, sobre o esquema corporal e a imagem do corpo.
“Perceber e relacionar-se com o meio ambiente não se resume apenas aos sinais diretos que o cérebro recebe de determinados estímulos” (PORTO, 2005, p.88).

Perspectiva emocional
A pessoa cega, muitas vezes, chega à fase adulta sem um “passado” de experiências, não apresentando as rotinas da vida cotidiana de acordo com a sua idade.
Seus conceitos básicos como esquema corporal, lateralidade, orientação espacial e temporal, são quase inexistentes e sua mobilidade difícil, o que poderá levar à baixa estima.
De acordo com estas colocações, pode-se entender o quanto a criança deficiente visual pode ser mal conduzida em seu desenvolvimento e aprendizagem, quando guiada pela insegurança, superproteção e, mesmo, desconhecimento das pessoas que a cercam.
A partir dos relatos, podemos evidenciar alguns pontos relativos à perspectiva afetiva, onde os entrevistados revelaram possuir uma grande carência, acarretando dificuldades para o equilíbrio emocional e a construção de sua personalidade.
“Às vezes eu quero conversar com minha mãe e ela diz que não pode. Ela finge que não escuta. Então, foi aí que fui me fechando... me fechando” (Entrevistado 6).;
“Como moro com minha sogra, eu tenho que agüentar muita coisa. Falam as coisas..., que eu não sei fazer comida na frente de todo mundo. Não deixam eu fazer absolutamente nada” ( Entrevistada 10).
A maneira preconceituosa de categorizar e rotular a pessoa cega é mantida e alimentada pela ideologia do déficit, num círculo vicioso que se mantém nas exigências produtivas de uma “sociedade de consumo” que só reconhece o indivíduo na medida em que ele produz. Ao mesmo tempo, essa mesma sociedade legitima sua isolação e justifica a criação de instituições asilares. Incontáveis são as pessoas cegas, confinadas em si mesmas, temerosas de “enxergar” a vida com suas próprias mãos, estagnadas em seu desenvolvimento pelas demandas de uma certa dotação física: a visão.
Porém, existem aqueles que ousam desafiar as “leis”, ignorando supostas “inaptidões” e mobilizam recursos no sentido de pleitear e tomar posse dos espaços conquistados. Não se pode negar que é através da interação que estabelece com o outro que o deficiente visual conquista um corpo seguro, ganhando confiança para a delimitação do espaço físico em que convive.
O desenvolvimento da auto-estima acarreta desafios que precisam ser enfrentados, pois a promoção da auto-estima passa pelo processo de desenvolvimento da aquisição de autonomia.
“Ah, eu me sinto feliz. Antigamente eu nem saía de casa. Eu me sinto assim, que estou bem melhor. De fazer piscina. Aqui na Associação, a gente faz expressão corporal, eu me sinto muito bem”.(Entrevistada 5);
“Eu sou uma pessoa de bastante alto astral.”(Entrevistada 10).
Normalmente, a auto-estima manifesta-se pela aceitação de si mesmo como pessoa e por sentimentos de valor pessoal e de autoconfiança, constituindo-se em fator determinante para o bem-estar psicológico e do funcionamento social.
“No meu trabalho onde tem muita gente eu tenho que provar que eu tenho capacidade... não é porque eu não enxergo que eu vou querer que a pessoa me dá um trabalho com pena de mim, da minha cegueira”. (Entrevistado 10)
Muitos apresentam relatos de inibição quando se encontram entre outras pessoas.
“Na hora assim... que eu tenho que pegar um ônibus, tem que estar perguntando toda hora. As pessoas te ”olham” diferente...” (Entrevistado 2).
“...Sinto medo quando como demais, de bater nas pessoas...entrar num lugar errado” (Entrevistado 3).
A vergonha é um sentimento que pode desencadear uma série de reações pessoais e sociais, havendo “remédios” que, no final, resumem-se a poucas medidas. Da vergonha, só nos livramos aceitando-nos com nossos defeitos, o que significa aceitar-se sem esconder as próprias faltas, falhas ou carências. A cura fica em torno de fortificar a auto-estima a ponto de nos permitir suportar o olhar do outro sem nos sentirmos na obrigação de dissimular o erro.
O medo é um sentimento que surge quando estamos diante de um perigo ou ameaça real a nossa integridade física ou psicológica. É uma emoção essencial, já que possui uma função protetora, pois prepara o corpo para enfrentar ou se esquivar do perigo. “ Eu tenho medo de ser assaltado, quando ando sozinho”(Entrevistado 7);
“ Sinto medo de eu perder... algo que eu precise para sobreviver, por exemplo, a minha mãe”. (Entrevistado 9);
A aprendizagem, para lidar com os medos e dominar as preocupações e os receios é longa, exigindo que o indivíduo com deficiência visual “se sustente em seus próprios pés”.
Dessa forma, deverá enfrentar suas fantasias e testá-las inúmeras vezes para verificar o quanto são produtos de sua imaginação ou em que aspectos são relevantes, contendo sinais reais e objetivos de perigos dos quais eles de fato precisam se proteger.
As emoções não são e não podem ser vistas como obstáculos a serem evitados. Nas interações com o meio social e cultural criamos sistemas organizados de pensamentos, sentimentos e ações que mantêm entre si um complexo entrelaçado de relações. Assim como a organização de nossos pensamentos influencia nossos sentimentos, o sentir também configura nossa forma de pensar. A tristeza, por exemplo, pode ser originada da perda de algo ou de alguém de muito valor ou importância. Esta emoção pode ser potencializada se aquele que sofre de tristeza passa a acreditar que poderia ter feito algo para recuperar ou evitar a perda, mesmo que este algo a fazer seja na prática impossível de se concretizar, e independe da vontade do triste. A tristeza pode ser a conseqüência de emoções como insegurança, baixa auto-estima e desilusão.
Nos relatos transcritos, observamos que o sentimento de tristeza está presente no dia-a-dia do indivíduo cego, principalmente quando ele se sente “abandonado” pelos amigos, pelas pessoas de seu meio. “ O que me deixa triste é ser excluído” (Entrevistado 9);
“Ah, me deixa triste o dia que não tenho meus amigos, que não me ligam...” (Entrevistada 5).
A deficiência causa efeitos no desenvolvimento da personalidade e do processo de adaptação social do indivíduo. O sentido da deficiência na vida de uma pessoa é o produto do entrelaçamento de sua história pessoal com o meio social onde vive. Sobre o indivíduo considerado deficiente, recairá o estigma da “incapacidade”, da “invalidez”.

4. PALAVRAS FINAIS
As dificuldades encontradas pelas pessoas com deficiência visual relacionadas à sua percepção corporal, sua mobilidade e tudo que se relacione com suas ações são muitas.
Bem como poderia ser com a pessoa vidente. Porém, a falta de estimulação precoce, os obstáculos encontrados no seu dia-a-dia dificultando sua acessibilidade, a pouca oferta de espaços, para através do esporte e do lazer, desenvolver suas necessidades sócio-afetivas são maiores do que as demais pessoas. A carência dessas atividades pode levá-los a um processo desencadeador de severos comprometimentos relacionados à independência, segurança, aquisição e desenvolvimento de conceitos, integração com o meio e consigo mesmo, assumir ou concluir tarefas de conhecimento e satisfação pessoal.
Essas relações entre imagem corporal, aspectos motores e de bem estar psico-social são fundamentais para se compreender a complexidade do universo da imagem corporal, auxiliando na melhor compreensão do desenvolvimento desse fenômeno e dos parâmetros que determinam todo o julgamento de si. Além disso, pode-se levar a especulações sobre trabalhos no sentido de fazer com que haja uma maior aceitação de si por parte do indivíduo com deficiência visual.
Encontramos algo de profundo questionamento à sociedade, o meio em que vive este público. A influência do social no pessoal é um fator existencial pouco considerado numa sociedade individualista, mas determinante para se compreender as limitações e possibilidades do indivíduo cego. Ao analisar o contexto das pessoas com deficiência visual entrevistadas, não fica difícil perceber que estes indivíduos, carentes do sentido da visão, não têm as mesmas condições e oportunidades de viver plenamente sem estímulos.
Ao fazer parte de uma sociedade, o ser humano quer ter direitos e deveres, para ter a oportunidade de participar de modo efetivo do seu processo de construção, estabelecendo relações de troca, como qualquer outro.
Através de atividades específicas e sua total interação com o meio, pessoas com deficiência visual poderão ter mais oportunidades de conquistar seu espaço como cidadãos, independente de sua deficiência. A afirmação da individualidade e o desenvolvimento de uma identidade positiva dependem fortemente disto, contribuindo significativamente para uma vida plena desses indivíduos.

REFERÊNCIAS
  • BRIKMAN, L. A Linguagem do Movimento Corporal. Trad. Beatriz A. Cannabrava. São Paulo: Summus, 1989.
  • DIEHL, Rosilene Moraes. Jogando com as Diferenças. Jogos para Crianças e Jovens com Deficiência. São Paulo: Phorte, 2006.
  • GALLAHUE, David L., OZMUN, John C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: Bebês, Crianças, Adolescentes e Adultos. Trad. Maria Aparecida da Silva P. Araújo. São Paulo: Phorte, 2003.
  • GANDARA, Mari. A Expressão Corporal do Deficiente Visual. Campinas: Gandara, 1992.
  • PORTO, E. A Corporeidade do Cego. Novos Olhares. Porto Alegre: Mennon,2005.
  • SAÚDE, Educação e Prevenção, Coleção. Psicologia para Leigo. Porto Alegre: Conceito, 2001.
  • SCHILDER, P.A. Imagen do corpo: as energias construtivas da psique . São Paulo: Martins Fontes, 1999.
  • TAVARES, M.C.C. Imagem Corporal: Conceito e Desenvolvimento. São Paulo: Manole, 2003.

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IMAGEM CORPORAL: CORPOREIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUALautores:ф  Rosilene Moraes Diehl – professora do Centro Universitário UNILASALLE, Canoas, RS
ф  Paulo Peixoto – Acadêmico do Centro Universitário UNILASALLE, Canoas, RS