domingo, 12 de outubro de 2014

O CEGO TARVAA


 ~- lenda mongol -~


Conta-se que, há muitos anos, a peste negra se espalhou entre os mongóis matando centenas, se não milhares de pessoas. Os que ainda conservavam a saúde fugiram para salvar a própria vida deixando para trás os entes queridos doentes, confiando ao destino a decisão sobre o seu futuro.
Entre os que foram deixados para trás havia um rapazinho de quinze anos chamado Tarvaa.


Quando ele desmaiou, a alma deixou o corpo e dirigiu-se ao inferno. O Khan do inferno ficou estupefacto ao ver a alma e perguntou-lhe:
"Por que razão vieste para cá? O teu corpo ainda não morreu."
"Eles abandonaram-me porque pensaram que o meu corpo já estava morto,"  respondeu a alma, "E eu decidi não esperar mais, e vim."
A obediência e a paciência da alma agradaram ao Khan, que disse:
"A tua hora ainda não chegou. Tens de regressar ao teu corpo. Mas antes de ir, podes pedir um desejo."
O Khan conduziu a alma através do inferno e lá estavam todas as coisas que os seres humanos podem encontrar na vida: riqueza, fortuna e alegria, tristeza e dor, felicidade e prazer, canções e música, dança, histórias e lendas. A alma de Tarvaa olhou para tudo aquilo e, por fim, pediu para levar as histórias. O Khan deu-lhas e mandou-a de volta à Terra.
A alma regressou ao corpo, que não mostrava quaisquer sinais de vida. Um corvo tinha-lhe já picado os olhos. A alma ficou muito triste por ver o estado em que se encontrava o corpo em que tinha nascido, mas não se atreveu a desobedecer à ordem do Khan. E assim escorregou de volta ao corpo.
 

O Cego Tarvaa teve uma vida longa em que conheceu toda a magia e histórias do mundo. Apesar de cego era capaz de ver o futuro. Andou por toda a Mongólia, contou as suas histórias e com elas ensinou as pessoas.
Diz-se que é desde essa altura, que os mongóis contam histórias.
FIM

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