quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Terapia para doenças da retina ganha Prémio de Visão Champalimaud


in: Expresso


Sete cientistas de universidades americanas recebem em Lisboa o maior prémio do mundo na área da visão, no valor de um milhão de euros.
Investigação. Os sete cientistas premiados, na Fundação Champalimaud, em Lisboa FOTO TIAGO MIRANDA
Investigação. Os sete cientistas premiados,
na Fundação Champalimaud, em Lisboa [FOTO TIAGO MIRANDA]
A investigação desenvolvida por sete cientistas de universidades americanas, que levou ao desenvolvimento da terapia anti-angiogénica para as doenças da retina, acaba de ganhar o Prémio de Visão António Champalimaud 2014, no valor de um milhão de euros. O prémio, considerado o maior do mundo na área da visão, é entregue hoje ao fim da tarde na sede da Fundação Champalimaud, em Lisboa, numa cerimónia presidida por Cavaco Silva.

A angiogénese é o mecanismo fisiológico normal que permite que se formem novos vasos sanguíneos a partir dos que já existem no nosso corpo. Mas é também um processo importante na transição dos tumores de um estado benigno para um estado maligno, que leva a medicina a usar inibidores angiogénicos no tratamento do cancro.

As doenças que a terapia agora premiada trata, em especial a degenerescência macular relacionada com a idade (DMRI) e a retinopatia diabética, "atingem milhões de pessoas e são as maiores causas da cegueira na Europa e das maiores no mundo", reconhece um dos sete cientistas premiados, Napoleone Ferrara (ver entrevista abaixo), que trabalha na Universidade da Califórnia em San Diego (EUA).

A DMRI é uma doença degenerativa da retina que provoca a perda progressiva da visão central e leva à cegueira. A mácula é a zona do centro da retina que permite a uma pessoa distinguir os detalhes do que vê. A retinopatia diabética é a lesão da retina provocada pela diabetes.

Napoleone Ferrara foi quem iniciou o trabalho de investigação que acabaria por isolar e reproduzir a proteína responsável pelo crescimento dos vasos sanguíneos, conhecida por factor de crescimento endotelial vascular (VEGF, na sigla em inglês). Depois, desenvolveu uma molécula que bloqueia a ação nociva do VEGF e é fundamental no tratamento e gestão de vários tipos de tumores que desenvolvem metástases, em especial no cólon, pulmão, mama, rim e ovário.

Envelhecimento da população e crescimento da diabetes
A prevalência daquelas duas doenças dos olhos está a aumentar hoje em todo o mundo, "devido ao progressivo envelhecimento da população e à crescente epidemia global de diabetes", explica um comunicado da Fundação Champalimaud sobre o Prémio de Visão.

Os outros seis cientistas que partilham o prémio com Napoleone Ferrara - Joan Miller, Evengelos Gragoudas, Patricia D'Amore, Anthony Adamis, George King e Lloyd Aiello - desenvolvem o seu trabalho de investigação na Harvard Medical School e no Colégio de Medicina da Universidade de Illinois. Eles demostraram o papel decisivo que o VEGF tem em doenças graves da retina e provaram que o uso de agentes anti-VEGF no seu tratamento pode bloquear esse efeito negativo. Por isso estão agora disponíveis no mercado mundial medicamentos "que melhoram significativamente a visão das pessoas afetadas por doenças devastadoras e incapacitantes", assinala o comunicado da Fundação Champalimaud.

A investigação realizada pelos premiados abrange todas as etapas científicas, desde a identificação da molécula que bloqueia o VEGF à descrição do seu papel na doença retino-vascular, à avaliação experimental de um inibidor e à sua aplicação no tratamento dos doentes afetados.

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