Crónicas do Avó Chico – Nostalgia da minha infância no Alentejo
Pedro Jardim
Chiado Editora (2012 – 2ª edição)
O título do livro desvenda desde logo o conteúdo abordado. O subtítulo remete para um relato nostálgico.
A intenção é propositada em ambos os casos.
Partindo da definição de dicionário, nostalgia, significa literalmente a tristeza causada pelas saudades, neste caso, a de um avô.
O avô do autor, que este retrata através das memórias de infância, descritas neste livro em cenas soltas, referidas como cenas. Episódios vividos na infância do autor, sem qualquer ordem cronológica mas que se interligam num fio condutor, dando-nos a conhecer a sua vida, desde à infância até à atualidade.
Do avô, que escrevia poemas, o autor aproveita alguns para inserir na abertura de cada capítulo/cena, bem como ilustrações de Cíntia Almeida que constituem de certa forma uma antevisão do conteúdo a ser abordado.
Toda a narrativa gira em torno das memórias de infância e vivências vividas em Vila Viçosa em época de férias de verão. Tradições e cultura alentejana não são esquecidas, remetendo mesmo para um glossário dos termos e regionalismos.
Destas crónicas nostálgicas, como personagem fulcral sobressai, como é visível, um avô. Personagem que influencia definitivamente o autor, prestando-lhe homenagem através da escrita, de certo modo a perpetuar a sua existência.
É na fase das primeiras descobertas sobre a vida, jogos de infância, factos da história e pequenas cenas do quotidiano, que estas crónicas incidem, período de vida definitivamente crucial e marcante no desenvolvimento. Os laços afetivos cruzam-se com as aprendizagens lúdicas, sempre lúdicas mas profundamente enraizadas.
De forma poética, embora escrito em prosa, lê-se de forma fluída e devora-se num ápice, que é como quem diz, lesse de um fôlego.
Pode num primeiro impacto, pensar-se que esta obra tem pouco a ver com a temática da inclusão ou com as temáticas da aprendizagem. Desenganem-se, é nos afectos das experiências individuais vividas que se constrói o Ser e as aprendizagens. O avó Chico sabia disso instintivamente e o Pedro recebeu como uma dádiva cada um dos saberes aprendidos. Assim deveria ser a escola inclusiva: professores com alma de avô. Um livro de memórias, memórias de infância repletas de afetos, afetos puros e genuínos.
Elvira Cristina Silva
In: Sugestão de Leitura: Newsletter nº 69 - março 2014 Pró-Inclusão
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