Os resultados dos testes intermédios do 2.º ano do 1.º ciclo, realizados nos últimos quatro anos, foram analisados. Dificuldades detetadas, sugestões apresentadas. As associações de professores de Matemática e de Português leram o relatório e têm observações a fazer, nomeadamente quanto ao destaque dado a aspetos demasiado formais e abstratos para o nível de ensino em questão.
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A análise aos testes intermédios do 2.º ano do 1.º ciclo do Ensino Básico, realizados nos últimos quatro anos, está feita. O Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) passou a pente fino as provas de Português e de Matemática e realçou vários aspetos. A Português, há alunos que têm dificuldades em interpretar um texto, escrever sem erros ortográficos e de forma coerente, aplicar acentos gráficos. No relatório do IAVE propõe-se aos professores que insistam na construção de frases, na estruturação do texto, na produção de narrativas, que trabalhem nos conteúdos gramaticais e na leitura de enunciados. Na Matemática, evidenciam-se problemas em entender o conceito de igualdade, na contagem de dinheiro e em reconhecer o que é um quadrado e o que é um retângulo. As dificuldades estendem-se à interpretação do enunciado de um problema e à definição de uma estratégia apropriada à sua resolução. Sugere-se atenção ao cálculo mental, à compreensão da relação entre adição e subtração, ao significado dos símbolos matemáticos e a conteúdos relacionados com Geometria e Medida.
Lurdes Figueiral, presidente da Associação de Professores de Matemática (APM), lembra que em 2014 cerca de 65% dos alunos realizaram o teste intermédio do 2.º ano e que na disciplina dos números se nota uma melhoria em praticamente todos os domínios ao longo dos últimos anos. Há, no entanto, algumas dificuldades sobretudo na resolução de problemas, no raciocínio matemático e comunicação, nomeadamente em justificações claras e coerentes. Antes de mais, Lurdes Figueiral faz questão de avisar que esses exames são feitos por alunos do 2.º ano que têm 7 e 8 anos de idade. Por isso, o relatório merece-lhe algumas observações. “Não se percebe a relevância dada à contagem de dinheiro (ao cêntimo) ou ao reconhecimento de que o quadrado é um caso particular do retângulo”. “Também em relação à interpretação do sinal de igual é dito que relativamente 'à compreensão do uso do sinal de igual numa expressão numérica, notou-se uma evolução positiva no desempenho dos alunos' mas, nas conclusões, refere-se que deve ser dada especial atenção 'ao significado do sinal de igual (que estabelece uma relação de igualdade dos valores apresentados em cada um dos lados do sinal), trabalhando-se no sentido da passagem de uma visão procedimental (a seguir ao sinal de igual coloca-se o resultado) para uma visão relacional'”.
Não compreende, portanto, a importância dada a aspetos que, na sua perspetiva, são demasiado específicos, demasiado formais, demasiado abstratos para este nível de ensino. O que lhe parece “um mau contributo para a qualidade do relatório e só evidencia a desadequação das metas curriculares que foram tidas em conta 'cumulativamente' ao programa de 2007 em vigor para estes alunos, mas que o contrariam profundamente”. Lurdes Figueiral recorda que aí, nas metas, “aparecem de facto preciosidades como esta: 'reconhecer o quadrado como caso particular do retângulo', uma meta para o 1.º ano”. É importante, por isso, perceber o que é relevante e adequado na aprendizagem e há questões que, para a presidente da APM, nunca deveriam ter o destaque dado no relatório, “uma vez que não são aprendizagens significativas no âmbito do programa de referência para a realização destes testes”.
Mesmo assim, o tratamento dos resultados dá, naquilo que a APM considera fundamental, orientações que, contudo, são desvalorizadas no programa de 2013, como “dar importância à resolução de problemas, ao raciocínio matemático e à comunicação matemática. E dizem-nos que os alunos têm vindo a melhorar em praticamente todos os domínios apresentando até, em alguns temas, melhorias muito significativas”.
Melhorar práticas pedagógicas
Luís Filipe Redes, da Associação de Professores de Português (APP), também realça que o relatório do IAVE se concentra em testes feitos por crianças que ainda estão numa fase inicial da leitura e da escrita e que têm muitos anos pela frente para exercitarem essas competências. “O mais importante não são estas conclusões que podemos registar agora, mas sim os efeitos que cada teste teve sobre o trabalho dos professores com os seus alunos.” E esse trabalho, sustenta, terá sido cumprido por muitos professores com os seus alunos na altura própria, em vários exercícios para identificar fonemas e sílabas em jogos orais, rimas e versos, bem como na ortografia, na compreensão do discurso tanto na leitura como na oralidade, e na escrita de textos em situações comunicativas.
Os testes intermédios têm, do seu ponto de vista, dois aspetos essenciais: familiarização dos professores com métodos rigorosos de avaliação e informação relevante sobre o decurso da aprendizagem da leitura, da escrita e da oralidade. “Os testes apesar de estarem muito bem elaborados revelam algumas dificuldades que prejudicam também algumas das conclusões.” “Os próprios autores do relatório deram conta de alguns desses problemas”, acrescenta. Há ainda o problema na comparação de resultados entre testes diferentes e que revelam alguma evolução no tipo de itens. “Essa preocupação levada ao extremo impedir-nos-ia de melhorar os enunciados, ano a ano”, alerta.
Para Luís Filipe Redes, a melhor maneira de perspetivar as conclusões é pensar no que se pode melhorar em termos de prática pedagógica. Na compreensão oral, verificou que os testes não avaliam textos inteiros, mas apenas partes. “O bom desempenho da maioria dos alunos tem a ver também com o facto de o grau de dificuldade ser bastante baixo.” Na leitura, o desempenho foi bastante satisfatório. “No que respeita à compreensão inferencial, quero chamar a atenção para o baixo nível de inferências exigido nos testes. Seria interessante verificar que uma parte, ainda que pequena, das crianças do 2.º ano conseguem fazer inferências muito mais afastadas da compreensão literal”. Na ortografia, reconhece que o desempenho é baixo. “Mas repare-se que o próprio relatório relativiza os resultados com problemas do enunciado e do contexto semântico das palavras que foram objeto desses exercícios.” Na escrita, apenas 26% dos alunos escreveram com o máximo de desempenho na ortografia. A comparação dos resultados revelou melhorias de ano para ano na textualização.
Há sempre questões a melhorar. Fazer mais exercícios com rimas e lengalengas que chamem a atenção para sílabas e fonemas. Na escrita, ter em consideração a intenção dos próprios testes influenciarem a didática da escrita, na medida em que solicitam às crianças que planeiem um texto e sigam as fases da sua construção no próprio teste. “Trata-se de uma tarefa que os programas mais recentes enfatizaram e a que antes não era dada tanta atenção: escrever um tipo de texto determinado, com uma certa intenção comunicativa percorrendo uma série de fases - da planificação à revisão”.
Célia Mestre, professora do 1.º ciclo, leu o relatório do IAVE e realça a evolução positiva dos alunos tanto a Matemática como a Português nos vários domínios analisados. Os resultados não a surpreendem e os pontos em que os alunos demonstram maiores dificuldades são “aspetos mais complexos e abstratos que exigem um maior tempo para a aprendizagem”. E apresenta como exemplos as dificuldades de interpretação de textos e escrita sem erros ortográficos no Português, na contagem de dinheiro e no reconhecimento do quadrado como caso particular do retângulo na Matemática. A aprendizagem destes conceitos e aquisição destas capacidades, na sua opinião, levam tempo. As dificuldades são, por isso, analisadas como próprias desse nível de escolaridade.
Ao ler as recomendações, particularmente no caso da Matemática, Célia Mestre fica um pouco perplexa já que “parecem ser um pouco dissonantes com aquilo que é preconizado no Programa de Matemática de 2013 e nas Metas Curriculares. “Apresentando as metas um conjunto vasto de descritores, nenhuma ou pouca ênfase é dada, por exemplo, à construção da conceção do sinal de igual enquanto símbolo relacional, à exploração de estratégias de cálculo mental e às capacidades de resolução de problemas, raciocínio matemático e comunicação matemática”, observa a docente.
Lurdes Figueiral, presidente da Associação de Professores de Matemática (APM), lembra que em 2014 cerca de 65% dos alunos realizaram o teste intermédio do 2.º ano e que na disciplina dos números se nota uma melhoria em praticamente todos os domínios ao longo dos últimos anos. Há, no entanto, algumas dificuldades sobretudo na resolução de problemas, no raciocínio matemático e comunicação, nomeadamente em justificações claras e coerentes. Antes de mais, Lurdes Figueiral faz questão de avisar que esses exames são feitos por alunos do 2.º ano que têm 7 e 8 anos de idade. Por isso, o relatório merece-lhe algumas observações. “Não se percebe a relevância dada à contagem de dinheiro (ao cêntimo) ou ao reconhecimento de que o quadrado é um caso particular do retângulo”. “Também em relação à interpretação do sinal de igual é dito que relativamente 'à compreensão do uso do sinal de igual numa expressão numérica, notou-se uma evolução positiva no desempenho dos alunos' mas, nas conclusões, refere-se que deve ser dada especial atenção 'ao significado do sinal de igual (que estabelece uma relação de igualdade dos valores apresentados em cada um dos lados do sinal), trabalhando-se no sentido da passagem de uma visão procedimental (a seguir ao sinal de igual coloca-se o resultado) para uma visão relacional'”.
Não compreende, portanto, a importância dada a aspetos que, na sua perspetiva, são demasiado específicos, demasiado formais, demasiado abstratos para este nível de ensino. O que lhe parece “um mau contributo para a qualidade do relatório e só evidencia a desadequação das metas curriculares que foram tidas em conta 'cumulativamente' ao programa de 2007 em vigor para estes alunos, mas que o contrariam profundamente”. Lurdes Figueiral recorda que aí, nas metas, “aparecem de facto preciosidades como esta: 'reconhecer o quadrado como caso particular do retângulo', uma meta para o 1.º ano”. É importante, por isso, perceber o que é relevante e adequado na aprendizagem e há questões que, para a presidente da APM, nunca deveriam ter o destaque dado no relatório, “uma vez que não são aprendizagens significativas no âmbito do programa de referência para a realização destes testes”.
Mesmo assim, o tratamento dos resultados dá, naquilo que a APM considera fundamental, orientações que, contudo, são desvalorizadas no programa de 2013, como “dar importância à resolução de problemas, ao raciocínio matemático e à comunicação matemática. E dizem-nos que os alunos têm vindo a melhorar em praticamente todos os domínios apresentando até, em alguns temas, melhorias muito significativas”.
Melhorar práticas pedagógicas
Luís Filipe Redes, da Associação de Professores de Português (APP), também realça que o relatório do IAVE se concentra em testes feitos por crianças que ainda estão numa fase inicial da leitura e da escrita e que têm muitos anos pela frente para exercitarem essas competências. “O mais importante não são estas conclusões que podemos registar agora, mas sim os efeitos que cada teste teve sobre o trabalho dos professores com os seus alunos.” E esse trabalho, sustenta, terá sido cumprido por muitos professores com os seus alunos na altura própria, em vários exercícios para identificar fonemas e sílabas em jogos orais, rimas e versos, bem como na ortografia, na compreensão do discurso tanto na leitura como na oralidade, e na escrita de textos em situações comunicativas.
Os testes intermédios têm, do seu ponto de vista, dois aspetos essenciais: familiarização dos professores com métodos rigorosos de avaliação e informação relevante sobre o decurso da aprendizagem da leitura, da escrita e da oralidade. “Os testes apesar de estarem muito bem elaborados revelam algumas dificuldades que prejudicam também algumas das conclusões.” “Os próprios autores do relatório deram conta de alguns desses problemas”, acrescenta. Há ainda o problema na comparação de resultados entre testes diferentes e que revelam alguma evolução no tipo de itens. “Essa preocupação levada ao extremo impedir-nos-ia de melhorar os enunciados, ano a ano”, alerta.
Para Luís Filipe Redes, a melhor maneira de perspetivar as conclusões é pensar no que se pode melhorar em termos de prática pedagógica. Na compreensão oral, verificou que os testes não avaliam textos inteiros, mas apenas partes. “O bom desempenho da maioria dos alunos tem a ver também com o facto de o grau de dificuldade ser bastante baixo.” Na leitura, o desempenho foi bastante satisfatório. “No que respeita à compreensão inferencial, quero chamar a atenção para o baixo nível de inferências exigido nos testes. Seria interessante verificar que uma parte, ainda que pequena, das crianças do 2.º ano conseguem fazer inferências muito mais afastadas da compreensão literal”. Na ortografia, reconhece que o desempenho é baixo. “Mas repare-se que o próprio relatório relativiza os resultados com problemas do enunciado e do contexto semântico das palavras que foram objeto desses exercícios.” Na escrita, apenas 26% dos alunos escreveram com o máximo de desempenho na ortografia. A comparação dos resultados revelou melhorias de ano para ano na textualização.
Há sempre questões a melhorar. Fazer mais exercícios com rimas e lengalengas que chamem a atenção para sílabas e fonemas. Na escrita, ter em consideração a intenção dos próprios testes influenciarem a didática da escrita, na medida em que solicitam às crianças que planeiem um texto e sigam as fases da sua construção no próprio teste. “Trata-se de uma tarefa que os programas mais recentes enfatizaram e a que antes não era dada tanta atenção: escrever um tipo de texto determinado, com uma certa intenção comunicativa percorrendo uma série de fases - da planificação à revisão”.
Célia Mestre, professora do 1.º ciclo, leu o relatório do IAVE e realça a evolução positiva dos alunos tanto a Matemática como a Português nos vários domínios analisados. Os resultados não a surpreendem e os pontos em que os alunos demonstram maiores dificuldades são “aspetos mais complexos e abstratos que exigem um maior tempo para a aprendizagem”. E apresenta como exemplos as dificuldades de interpretação de textos e escrita sem erros ortográficos no Português, na contagem de dinheiro e no reconhecimento do quadrado como caso particular do retângulo na Matemática. A aprendizagem destes conceitos e aquisição destas capacidades, na sua opinião, levam tempo. As dificuldades são, por isso, analisadas como próprias desse nível de escolaridade.
Ao ler as recomendações, particularmente no caso da Matemática, Célia Mestre fica um pouco perplexa já que “parecem ser um pouco dissonantes com aquilo que é preconizado no Programa de Matemática de 2013 e nas Metas Curriculares. “Apresentando as metas um conjunto vasto de descritores, nenhuma ou pouca ênfase é dada, por exemplo, à construção da conceção do sinal de igual enquanto símbolo relacional, à exploração de estratégias de cálculo mental e às capacidades de resolução de problemas, raciocínio matemático e comunicação matemática”, observa a docente.
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