quarta-feira, 29 de julho de 2015

Uma mulher cega vai chegar a deputada: "Uma alegria mas também uma tristeza - porquê só agora?"

fonte: DN

Uma mulher cega vai chegar a deputada 
Entrevista a Ana Sofia Antunes, candidata a
deputada do PS pelo círculo de Lisboa

>> Como é que surgiu esta ideia de ser candidata a deputada pelo PS?

Surgiu como um convite por parte de António Costa que eu, depois de ponderar devidamente, aceitei.

>> Trabalhou muito com ele na Câmara Municipal de Lisboa?

Não muito diretamente com ele. Mas assessorei durante vários anos o vereador da Mobilidade na Câmara de Lisboa, o professor Nunes da Silva, e fazia assessoria jurídica na câmara. Em função da minha área de interesse, o facto de ser uma pessoa com uma deficiência e de estar muito ligada ao movimento das pessoas com deficiência, fiz sempre muita pressão na câmara com um plano de acessibilidade pedonal, que teve grande apoio e incentivo de António Costa. Era outra das minhas tarefas. O executivo era dirigido por António Costa, com o qual trabalhei muito, embora indiretamente, ao nível da revisão da regulamentação da câmara, em 2012 e 2013.

>> E a cidade está agora bem equipada?

Isso ainda é um bocadinho uma miragem, mas temos agora bons instrumentos para começar a fazer obra física, é isso que interessa. Não podemos avançar para a obra sem planificação, mas toda a planificação serve de muito pouco se não tomarmos a decisão de fazer o que interessa, que é obra física no espaço público. Há coisas que já começaram a ser feitas nas passadeiras - rebaixamentos e sinais sonoros, por exemplo -, mas temos de reconhecer que ainda há muito para fazer.

>> Os direitos dos deficientes serão o seu principal cavalo de batalha na Assembleia da República?

Obviamente que sim, por todas as razões. Sou uma pessoa com uma deficiência visual congénita [de nascença]. Não faria sentido nenhum, tendo esta oportunidade, não constituir como minha principal prioridade o trabalho em prol das pessoas com deficiência. Sinto uma grande alegria porque nunca uma pessoa com uma deficiência fora indicada para a Assembleia da República nem para qualquer outro cargo de relevo, de eleição ou nomeação. É um momento de alegria, mas também de tristeza: porquê só agora. Porque é que isto só está a acontecer em Portugal agora?

>> E tem alguma explicação para isso? Passará por alguma incapacidade de o movimento associativo dos deficientes se organizar de forma eficaz e constituir um grupo de pressão com poder?

Não creio que isso passe pela incapacidade de organização dos deficientes. A nossa capacidade de organização não é diferente da que existe nos outros países europeus. Não estamos atrás deles, pelo contrário. Mas há muitos anos que há ministros deficientes noutros países - como a Suécia ou Inglaterra ou a Grécia -, e já nem sequer falamos em deputados, que são imensos. Já houve países com presidentes da República com deficiência. Obviamente que a pressão tem de ser feita, mas tem de ser aberto espaço para os deficientes e esse espaço não existe na representação política, como não tem existido em diversos outros níveis da vida social.

>> Sente alegria nas pessoas que conhece no associativismo de defesa dos deficientes?

A notícia ainda não foi muito divulgada mas da parte das pessoas que me conhecem há um sentido de alegria.

>> E independentemente das opções partidárias?

Não noto que isso seja relevante. As pessoas sentem-se representadas por uma pessoa com deficiência, independentemente da bancada.

>> É jurista. O que é premente fazer no ordenamento legislativo português em defesa dos deficientes?

A grande prioridade para os deficientes é sentirem que têm uma vida digna. E isto não é uma questão legal, é uma questão social. Isto está na mente das pessoas, na forma como se aceitam umas às outras. A possibilidade de uma pessoa sentir que tem uma vida digna passa por vários aspetos. Olhe, por exemplo, pela educação. As pessoas sentem que há cada vez mais restrições a educação para deficientes. A educação especial fornecida pelo Estado recuou brutalmente: professores de apoio que existiam foram retirados, houve equipamentos que deixaram de funcionar, escolas de referência deixaram de funcionar. E quando o Estado diz que vai apostar em escolas de referência porque não tem meios para equipar condignamente todas as escolas, e assim só aposta nalgumas. Se vamos selecionar só algumas, então teremos de fazer espaços de privilégio. Não posso dizer a uma criança de Vila Real que tem de fazer 70 quilómetros por dia para aceder a uma escola de referência, e depois esta escola não tem o apoio que devia ter. E não falamos só de escola básica. Continua a revelar o nosso terceiro-mundismo o facto de os apoios educativos para crianças com deficiência se limitarem ao ensino obrigatório. Em 2015, um deficiente que entre numa universidade está na maior parte dos casos por sua conta. E no acesso ao emprego. Se falamos em níveis altíssimos de desemprego jovem [um terço, é o número normalmente usado], então para os jovens com deficiência esse valor pode triplicar. Em 2012, um estudo da ACAPO revelava 60% de desemprego entre jovens cegos. Isto passa por uma mudança de mentalidades - mas também uma necessária revisão dos mecanismos de apoio a empresas que contratem pessoas com deficiência. Tudo isso tem de ser revisto. E no Estado também: o decreto-lei 29/2001 obriga a que uma em cada três vagas sejam ocupadas contratando-se uma pessoa com deficiência. Não foram poucos os casos em que para se contratar quatro pessoas se abriam dois concursos para duas pessoas cada, porque abaixo de três vagas não é necessário cumprir a quota. Essa lei foi muito contornada.

>> Diria que a sua intervenção terá um pendor quase suprapartidário?

Esta causa não é de esquerda nem de direita - é uma causa. Mas eu sou uma mulher de esquerda. E senti neste programa do PS uma preocupação com as condições de vida das pessoas com deficiência - e acredito nisso, pelo trabalho que fiz com António Costa na Câmara de Lisboa. Acredito que ele é o homem com a garra necessária para assumir esta cruzada, para pagar estas múltiplas dívidas de consciência.

>> Mas dá um tempo a António Costa? Acha que ao fim de um ano pode chegar à conclusão de que isto é mais do mesmo e ir embora?

Não acredito que tenha de chegar a esse ponto. Pelo menos nesta fase ainda não acredito. Acredito que à frente desta lista está uma pessoa com capacidades para se ir mais além e para nos representar nesta luta, para nos dar abertura para trabalharmos os instrumentos legais de que precisamos.
 

domingo, 26 de julho de 2015

Tetraplégica realiza sonho de criança e escreve quatro livros com a língua


Criação do primeiro livro, ainda na máquina de escrever, demorou 5 anos.
Hoje, com teclado do computador adaptado, ela prepara outros dois livros.


O teclado do computador foi adaptado para que Ana Cris escreva seus livros com a língua (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)O teclado do computador foi adaptado para Ana Cris escrever seus livros com a língua (Foto: Reprodução/Facebook)
A paralisia cerebral que provocou a tetraplegia em Ana Cris Ferreira, de Campos dos Goytacazes, no Norte Fuminense, não tirou dela um sonho que carregava desde a infância: escrever os próprios livros. Aos 54 anos, ela conta que conseguiu chegar ao quarto livro publicado teclando com a língua. O primeiro, feito ainda na máquina de escrever, aos 28 anos, demorou cinco anos para ficar pronto. Para publicar a obra, contou com a ajuda de doações. Com o sucesso nas vendas, a escritora conseguiu adquirir um computador, adaptou o teclado, publicou outros três livros e, para 2015, mais dois estão sendo preparados.
A maioria confunde esse tipo de deficiência com a deficiência intelectual"
Ana Cris
Ana, que atualmente reside em Niterói, no Rio de Janeiro, tem uma mobilidade que não permite um controle completo dos movimentos, além de ter a voz um pouco distorcida. De acordo com a escritora, a sequela surgiu no nascimento.
"Passei da hora de nascer. Então, faltou oxigênio no meu cérebro. O médico disse que eu não passaria dos 4 anos de idade. A maioria confunde esse tipo de deficiência com a deficiência intelectual, por causa da parte motora", destacou Ana Cris.
Primeiro livro escrito ainda na máquinha demorou 5 anos para ficar pronto (Foto: Arquivo pessoal)Primeiro livro escrito na máquinha de escrever demorou 5 anos para ficar pronto (Foto: Reprodução/Facebook)
"Não sou apenas escritora, sou formada em Pedagogia, Psicopedagogia, tenho curso de espanhol. Ser escritora é uma forma de explicar como uma pessoa com a sequela de paralisia cerebral vive, tem suas dificuldades passa por muitos preconceitos, mas com oportunidade pode 'ser alguém'! Ser escritora é a oportunidade de ser porta-voz daqueles colegas que possuem a mesma sequela", declarou a escritora.

Trabalhos
Segundo, terceiro e quarto livro, lançado em Campos, da escritora Ana Cris (Foto: Arquivo pessoal)Segundo, terceiro e quarto livro, lançado em Campos, da escritora Ana Cris (Foto: reprodução/Facebook)

Nos livros publicados, Ana Cris escreve sobre superação e a inclusão de pessoas com deficiência. O título de sua primeira obra, “AnAlfaBeta”, escrita na antiga máquina de escrever elétrica, surgiu depois que, ao tirar o documento de identidade, no lugar da assinatura, veio carimbada a palavra “analfabeta”.
Tetraplégica com leitor em Campos dos Goytacazes.  (Foto: Reprodução / Inter TV)Ana Cris com leitor durante último lançamento em
Campos (Foto: Reprodução / Inter TV)
Já com o computador, ela conseguiu a segunda publicação, “Transformação”, em que narra sua luta incessante, concentrada num ponto: ser uma pessoa. Em “Lesão Cerebral, Superando os Obstáculos do Dia a Dia”, a escritora explica que uma pessoa com paralisia cerebral, independentemente da sua sequela, pode ser, dentro do possível, uma pessoa cognitivamente normal.  Já em “A Inclusão na Prática, Respeitando a Diferença”, a autora esclarece sobre o tema com palavras simples, diretas e objetivas aos profissionais das áreas de educação e saúde, e também às famílias de pessoas com lesão cerebral. No livro ela conta sua experiência de vida e formação profissional.

“Se nós tivermos oportunidades, sensibilidades e acessibilidades, poderemos ter uma vida, na medida do possível, dentro do normal”, declarou Ana Cris.

Os custos para publicar os livros ficaram por conta da escritora, mas ela ainda contou com alguns apoiadores e amigos. Outro fato interessante é que Ana utiliza nas capas de suas obras uma borboleta, que a autora considera símbolo de transformação.
Escritora tetraplégica adaptou o teclado para escrever com a língua (Foto: Reprodução / Inter TV)Escritora tetraplégica prepara outros dois livros
(Foto: Reprodução / Inter TV)
Projetos futuros
Ana se prepara para escrever mais dois livros. A ideia, segundo ela, é fazer algo para o público infanto-juvenil e outro ligado à sexualidade da pessoa com deficiência. Os temas estão na fase da pesquisa para que depois as obras comecem a ser escritas.

“O livro infanto-juvenil será de vocabulário bem fácil. Uma das personagens será uma criança com paralisia cerebral, ou seja, a minha história. Quero passar para as pessoas como é tornar o impossível em possível. Mostrar que a realização de um sonho é fruto do esforço de cada um.  Além de escritora, também sou palestrante e desenvolvo o tema ‘Como lidar com seu aluno com paralisia cerebral’. Ministro para professores, diretores e coordenadores de escolas”, destacou Ana Cris, que também é graduada em pedagogia e pós-graduada em psicopedagogia.
Ana diz que ser escritora é a oportunidade de ser porta voz daqueles colegas que possuem a mesma sequela (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)Ana diz que ser escritora é a oportunidade de ser porta-voz daqueles que possuem a mesma sequela (Foto: Reprodução/Facebook
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sexta-feira, 24 de julho de 2015

Nike cria tênis para melhorar vida de pessoas com deficiência física

O último tênis da Nike é visualmente moderno como qualquer outro modelo da marca. Contudo, ele possui um diferencial bastante interessante para um grupo de pessoas em específico. O Zoom Soldier 8 Flyease foi desenvolvido para pessoas com deficiência física dos mais diversos tipos, com o objetivo de facilitar algo que para grande parte de nós é tão básico que nem sequer pensamos sobre o assunto: colocar os tênis diariamente.

O novo tênis da Nike desenvolvido para pessoas com deficiência física: o Zoom Soldier 8 FLYEASE / Foto: Nike
O novo tênis da Nike desenvolvido para pessoas com deficiência física: o Zoom Soldier 8 FLYEASE / Foto: Nike
Esse modelo de tênis possui um zíper que envolve os pés do usuário sem qualquer necessidade de cadarços, permitindo que o tênis seja colocado ou retirado dos pés com uma só mão. Com a maior facilidade, só é necessário deslizar os pés para que o Zoom Soldier 8 Flyease seja removido.
A tecnologia foi desenvolvida por Tobie Hatfield há poucos anos, quando ele teve contato com o jovem Matthew Walzer, um adolescente que sofre de paralisia cerebral. A condição de Walzer faz com os seus músculos fiquem fracos e rígidos, impedindo mobilidade. Walzer estava preocupado em ter que entrar na Universidade e não poder contar com a ajuda dos pais diariamente para amarrar os seus cadarços; por isso, pediu ajuda à Nike.
Matthew Walzer com o jogador de basquete americano LeBron James / Foto: Nike
Matthew Walzer com o jogador de basquete americano LeBron James / Foto: Nike
Como Matthew é um fã apaixonado de basquete, Hatfield quis desenvolver um modelo que lembrasse os tênis destinados a esses atletas. Assim, o Zoom Soldier 8 Flyease foi criado, possibilitando que não só Matthew mas muitos outros com deficiência física dos mais variados tipos possam se beneficiar dessa tecnologia.
Hatfield e outros designers da Nike trabalharam com Walzer durante três anos, enviando ao garoto protótipos dos tênis que eram desenvolvidos até chegarem ao design final do Zoom Soldier 8 Flyease. Hatfield diz que o modelo não é perfeito, mas que está adequado e que aperfeiçoamentos serão feitos no futuro – o importante foi colocar o calçado nas prateleiras para que as pessoas com deficiências possam utilizá-lo o quanto antes.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Associação Promotora de Emprego de deficientes Visuais - 35 anos

Grupo de Cegos fundou a Associação Promotora de Emprego de deficientes Visuais ..." foi assim há 35 anos!

“Minha Rotina Especial”: aplicativo para pais, professores e terapeutas


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Recebemos um grande presente quando tivemos a oportunidade de conhecer o app “Minha Rotina Especial“. Lançado esse ano o app tem a proposta de ser um aliado na organização da rotina de crianças com deficiência e disfunções (Autismo, Paralisia Cerebral, Síndrome de Down, dentre outras). A ideia é que seja uma ferramenta útil para pais, professores e terapeuta na organização e manutenção da rotina da criança.  A manutenção de uma rotina é uma prática que organiza e dá sentido ao cotidiano, a rotina comunica e quando bem estruturada dá oportunidade ao desenvolvimento de habilidades.
Os criadores do app, o empresário Paulo Zamboni e o terapeuta ocupacional Regis Nepomuceno, explicam que o programa – disponível para iPads e vendido na Apple Store –  atende uma procura crescente de aplicativos para crianças com deficiência, autismo, síndromes ou déficits motores ou cognitivos e foi lançado considerando as principais demandas desse público. O objetivo é oferecer não apenas a organização da rotina, mas estímulos para o desenvolvimento das crianças e integração de informações para facilitar a comunicação entre os diferentes profissionais, ou seja, um facilitador para a criança, seus familiares e equipe especializada.
A parceria entre o empresário e o terapeuta ocupacional revela um pouco da alma do aplicativo: a integração de saberes para promover o desenvolvimento de crianças com diferentes perfis. Paulo é empresário e especialista em aplicativos, tem um filho autista que adora tecnologia e conhece bem os desafios da rotina para uma criança que precisa se preparar para cada uma de suas atividades. Já Régis tem ampla experiência em orientação e consultoria na inclusão e estimulação cognitiva, para que tanto no ambiente escolar como em casa as crianças possam participar das tarefas com a maior autonomia possível e se integrar aos diversos ambientes.
Ambos conhecem os desafios dessa rotina especial: o planejamento para tantas atividades, a importância da personalização, a comunicação entre os profissionais que atendem a criança e, não menos importante, o fascínio que a tecnologia exerce e as opções de acessibilidade, para alcançar diferentes públicos.
O conhecimento da família sobre a execução das tarefas, aquilo que a criança mostra mais resistência ou dificuldade para fazer, os interesses e características são informações que nem sempre a escola e os profissionais de reabilitação conseguem acompanhar. Promover o trabalho conjunto  e estimular o desenvolvimento da criança são alguns dos objetivos do programa. “Quanto mais as informações estiverem ao alcance de toda a equipe e quanto mais a criança participar dessa rotina, do planejamento à execução das tarefas, melhor será seu desenvolvimento”, defende Régis.
“Se a criança já usa e gosta de um aparelho, nada melhor do que fazer dele um canal de aprendizagem, lúdico e estimulante e oferecer isso para o máximo de famílias, já que tanto a rotina como a integração da comunicação entre os profissionais é um desafio comum a tanta gente”, defende Paulo.
Como funciona o aplicativo?
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Em formato de agenda, de forma lúdica e de fácil compreensão, “Minha Rotina Especial” mostra os dias da semana, dentro de cada dia as atividades e cada as etapas de cada atividade pode ser acessada ao tocar na mesma. Para tornar a função do aplicativo ainda mais intuitiva, são usadas fotos que um responsável inclui, onde também pode gravar áudio para ajudar na compreensão e orientação das etapas de cada atividade. tudo no aplicativo é personalizável, o que ajuda no reconhecimento da criança das atividades como parte da sua rotina.
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O aplicativo foi desenvolvido pensando na organização da rotina de uma criança, ou seja, aquele aplicativo será inteiramente personalizado para a rotina dela. Pensando também que a vida é feita de outros momentos que fogem da rotina, no app existe a possibilidade de personalizar os campos “Viagem” e “Imprevistos”. A ideia de Viagens é ter no aplicativo imagens do lugar para onde se vai, as pessoas que encontrará e as atividades que estão previstas, auxiliando na compreensão e na sensação de segurança da criança.  O espaço destinado a Imprevistos é ter algumas imagens que tornem mudanças e novidades na rotina mais concretas, exemplo: professora substituta, uma babá nova, ou condições climáticas que dificultem alguma atividade. A ideia é sempre transformas as mudanças em algo mais concreto possível e a criança entender que a rotina não é sempre igual, às vezes algumas tarefas previstas não são realizadas e outras, não previstas, modificam a rotina, sem que isso precise causar insegurança; assim, mostrando que até as mudanças fazem parte do cotidiano.
Além disso, o aplicativo gera relatórios das atividades para que escola,  terapeutas e familiares trabalhem juntos no processo de desenvolvimento da  criança, o que é um grande desafio: integrar informações, estabelecer objetivos e propor tarefas pertinentes à cada etapa ou desenvolvimento da criança. Mais do que um aplicativo para organizar a rotina, trata-se de um programa para acompanhar e estimular o desenvolvimento, colaborando para a autonomia da criança enquanto facilita a vida de pais e terapeutas pelo compartilhamento de informações valiosas.
Terapeutas, professores e familiares têm a oportunidade de compartilhar e de usar da mesma estratégia e recurso para manter e organizar a rotina das crianças.
Muito legal a ideia do app, não é mesmo? Vocês podem encontrá-lo na Apple Store (clica aqui) e saber mais informações do site www.minharotina.com.br
Para tirar dúvidas, a equipe envolvida no app está à disposição de vocês no contato@minharotina.com.br

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Blitab, o primeiro tablet para deficientes visuais

Quando você usa aparelhos touchscreen, um dos principais sentidos estimulados é a visão: afinal, com a tela plana, você precisa ver o que está acontecendo para interagir com o aparelho, ainda que existam diversos recursos de assistência por áudio. Mas um gadget alternativo para cegos e deficientes visuais está próximo de chegar no mercado: o Blitab, tablete que interage com o interlocutor em braile.
O projeto virou startup na Áustria e tem como principal triunfo a tecnologia que transforma o display com microbolhas que emulam os símbolos do braile. O lançamento da ferramenta está previsto para 2016.

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Lei de Bases do Sistema Educativo - Conselho Nacional de Educação

Lei de Bases do Sistema Educativo - Conselho Nacional de Educação

Pobreza prejudica o desenvolvimento do cérebro na infância - Ciência - DN

Pobreza prejudica o desenvolvimento do cérebro na infância - Ciência - DN

IPCA PROMOVE INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA

IPCA promove inclusão de crianças com deficiência

Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico do Cávado e Ave (IPCA) vai colaborar com a Associação de Pais e Amigos de Crianças no desenvolvimento de um projeto que visa a promoção da inclusão social de crianças com deficiência mental. O desafio é realizar a adaptação de brinquedos às necessidades concretas de cada criança.

Crianças com mobilidade reduzida ganham baloiço em Leiria

O Parque Infantil Ponte dos Caniços, em Leiria, reabriu com capacidade para receber crianças com mobilidade reduzida, informou hoje a autarquia.

ponte dos caniços - parque inclusivoUm baloiço especificamente preparado para cadeira-de-rodas foi ali instalado, para permitir que todas as crianças possam usufruir de espaços de jogos e recreio, sublinha a vereadora responsável pelo Desenvolvimento Social, Ana Valendim.
A autarca lembra que “não existe legislação relativa a Parques Infantis para crianças com deficiência”, mas “é possível implementar alguns equipamentos que permitam tornar estes espaços mais inclusivos, à semelhança do Parque Infantil Afonso Lopes Vieira (Parque do Avião), o qual dispõe de placas identificativas em braille e com imagens pictográficas para crianças invisuais e com espectro do autismo”.
O Parque Infantil Ponte dos Caniços foi o último dos 19 espaços infantis que a Câmara de Leiria reabriu com novas condições de segurança nos últimos dois anos.
O investimento na reabertura destes 19 parques custou cerca de 70 mil euros. O município sublinha que a maior parte das intervenções nos parques infantis "devem-se sobretudo a atos de vandalismo e não tanto ao desgaste dos materiais", obrigando a uma despesa que, desde 2014, atingiu até ao momento dez mil euros.

37000 VISITAS :)

OBRIGADA, E BOA SEMANA A TODOS !



Correio do Minho - Torneio Boccia-Formação do SC Braga foi um êxito

Correio do Minho - Torneio Boccia-Formação do SC Braga foi um êxito

terça-feira, 21 de julho de 2015

3 ferramentas gratuitas para estudantes com problema de visão


A qualidade da educação depende de vários fatores que estão além da sala de aula. O baixo rendimento escolar muitas vezes está relacionado a algumproblema de visão e o estudante, pais e professores nem se dão conta disso. E, quanto menor a idade desse aluno, maior é a dificuldade para identificar essa deficiência porque a criança não sabe avaliar que enxerga mal.
Detectar e corrigir esse problema já na fase pré-escolar pode ser crucial já que é nessa faixa etária, em geral até os 7 anos, que os nossos olhos permanecem em desenvolvimento. Por isso, cabe aos pais e professores ficarem atentos aos sintomas que a criança pode apresentar.
Segue lista de ferramentas gratuitas que podem servir de apoio no processo de aprendizagem de estudantes com deficiência visual.
Extensão para estudantes com problemas de visão pois além de promover e facilitar a leitura de conteúdo ao permitir guardar coisas para revisar depois, eliminando os elementos visuais que sobrarem (anúncios, vídeos, botões, etc.) e deixando só o texto, inclui opções para aumentar ou diminuir o tamanho da letra, a cor de fundo e a tipografia. Agora, para quem sofre com problemas de leitura por distrações, também pode ser de enorme ajuda.
Com um simples clique você pode converter a página em um texto legível tanto para a voz da intérprete, disponível em vários idiomas também, como para o estudante com problemas de leitura: O texto fica em tamanho maior, o que estiver em desuso aparece opaco, assim como vai sendo eliminado o que já tiver sido lido.
Ferramenta para quem tem problemas de visão e dificuldades na leitura: apenas selecionando um fragmento de texto em qualquer site, clicando com o botão direito do mouse e em seguida em “Leia o texto selecionado”, que tal fragmento será lido em voz alta. A interpretação é extremamente fluída, especialmente porque está vinculada à tecnologia do Google Translate. O botão da extensão permite trocar os idiomas ou ingressar uma palavra própria para que seja lida.

Jovem daltónico vê roxo pela primeira vez

Ethan Scott é daltónico e embora o mundo do estudante de Los Angeles não seja a preto e branco, o jovem vê o que o rodeia de uma forma “mais aborrecida”. 

Para Ethan, de 24 anos, a cor verde poderá ser semelhante com castanho ou amarelo, o rosa similar ao cinzento ou ao azul. Contudo, o estudante não fazia ideia de como poderia ser a cor roxa. 

No aniversário, Ethan recebeu um par óculos especiais, os EnChroma, que conseguem ajustar a visão de pessoas daltónicas para que consigam ver cores que normalmente não veem. A reação de Ethan, à medida que entra em contacto com uma realidade nunca antes experimentada, foi filmada e contagiou as redes sociais. 

O vídeo mostra os primeiros momentos em que o jovem vê a cor roxa pela primeira vez, ficando surpreendido e emocionado.


Fonte: TVI24 

Educação inclusiva: barreiras e soluções

Educação inclusiva: barreiras e soluções

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Cadeira anfíbia torna Praia Fluvial de Adaúfe mais inclusiva

A Praia Fluvial de Adaúfe está a partir de hoje, 20 de Julho, equipada com uma cadeira anfíbia que possibilita o acesso de banhistas com mobilidade reduzida à água. A cadeira foi atribuída pela Fundação Vodafone e premeia todos os melhoramentos realizados pelo Município de Braga e pela Junta de Freguesia de Adaúfe naquela zona balnear.
Numa visita realizada à praia fluvial, o vereador do Ambiente, Altino Bessa, salientou que o trabalho realizado em Adaúfe serve de exemplo para o país. “A atribuição da cadeira só foi possível graças às condições criadas no recinto, desde as casas de banho adaptadas passando pelos acessos, e hoje temos uma praia verdadeiramente inclusiva que é um exemplo para todos”, referiu na visita que contou também com a presença da vereadora do Desporto e Juventude, Sameiro Araújo.
Sobre a atribuição de uma Bandeira Azul nesta praia fluvial, Altino Bessa reiterou que esse é um objectivo do Município que, em parceria com a Agere e o SEPNA, já detectou 145 ligações indevidas nos rios Cávado e Este. “Vamos continuar a ter ‘tolerância zero’ relativamente às descargas e efetuar todos os esforços para que a água tenha uma qualidade cada vez melhor”, disse, apelando à responsabilidade dos cidadãos e das empresas.
Já a vereadora do Desporto e Juventude, Sameiro Araújo, destacou a “excelente qualidade da praia” e congratulou-se com a atribuição da cadeira anfíbia que permite às pessoas com mobilidade reduzida usufruírem da praia na sua plenitude.
Sameiro Araújo aproveitou para anunciar que o programa ‘Mexe-te Braga’, que tem decorrido na Avenida Central e no Complexo Desportivo da Rodovia, vai ter atividades na Praia Fluvial de Adaúfe aos domingos de manhã durante todo o mês de Agosto.

Revisitar a Educação: Da Educação e da Pedagogia

Revisitar a Educação: Da Educação e da Pedagogia: Educação: Perspetivas e Desafios de  Maria Formosinho ,  Helena Damião ,  João Boavida   Edição/reimpressão: 2013 Páginas:  281...

A Família na Educação Inclusiva

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Estratégias Pedagógicas para Alunos com TDAH

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Comunidade surda e ouvinte mais perto - TSF

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domingo, 19 de julho de 2015

Terapia genética com vírus cura cegueira ao tratar olhos e cérebro ao mesmo tempo


GettyImages/Pablo Blazquez Dominguez/Stringer
Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia constataram que a terapia genética
com vírus feita anos atrás tem influência positiva nas vias neurais também

Novas evidências a respeito da terapia genética aplicada em pessoas que sofrem de cegueira demonstraram que essa técnica também é capaz de reorganizar o cérebro dos pacientes – fortalecendo as vias neurais e melhorando ainda mais a capacidade deles de enxergar. A constatação foi feita por um grupo de cientistas da Universidade da Pensilvânia que já havia observado resultados positivos com a técnica anteriormente.

Por meio de um estudo iniciado em 2007, dez voluntários cegos que sofriam de amaurose congênita de Leber, uma doença genética que provoca a degeneração progressiva da retina, receberam a injeção de um vírus inofensivo em um dos olhos. Todos os pacientes da amostra tinham mutações em um gene chamado RPE65. O vírus agiu inserindo “cópias” saudáveis de RPE65, que foram colocados na retina.

Meses depois, como reportou a New Scientist, alguns voluntários que antes tinham dificuldade em notar uma mão acenando a meio metro de seu rosto conseguiram ler várias linhas em um gráfico. Outros foram capazes até de andar por entre obstáculos em ambiente com baixa luminosidade – algo que seria impossível antes da terapia.

O que ainda não estava claro sobre a terapia eram seus efeitos sobre outros aspectos da visão – sobretudo quão bem as vias neurais associadas à visão haviam se recuperado, mesmo após a função da retina ter melhorado. As conexões no cérebro relativas à visão são compostas por milhões de neurônios conectados. Tais conexões permanecem estimuladas (fortalecidas) quando recebem sinais sensoriais, mas podem, por outro lado, ficar fracas e desorganizadas quando subutilizadas, podendo levar à cegueira.

Então, cerca de três anos depois da terapia, a equipe realizou uma técnica avançada de ressonância magnética para analisar partes específicas do cérebro. As digitalizações revelaram que as vias neurais associadas com o olho tratado estavam semelhantes às de pessoas que não tinham nenhum problema de visão. Quando comparadas com as vias neurais do olho não tratado, as vias sadias estavam mais “fortes”.

Uma constatação, no entanto, surpreendeu os cientistas. Como a maioria dos voluntários estavam na faixa dos 20 anos (um deles tinha 45), eles esperavam que fosse mais difícil verificar alguma mudança cerebral, já que após uma certa idade na infância (por volta dos sete anos) o cérebro diminui drasticamente sua plasticidade, ou capacidade de se remodelar conforme novas experiências, apresentando resistência para alterar tais vias neurais.

“Pode ser que exista uma época crítica de plasticidade cerebral acelerada, mas mostramos que isso não significa que você perde a capacidade de reestruturar vias como um adulto", disse Manzar Ashtari, neurocientista líder da pesquisa.

A descoberta é importante porque atesta que a plasticidade neuronal tem, em ao menos alguma instância, influência na melhoria da visão. A equipe agora busca aprovação da Administração Federal de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos para a terapia genética ser usada como remédio prescrito para a amaurose congênita de Leber – seria, então, a primeira droga de terapia gênica aprovada daquele país.

Fonte: New Scientist e Live Science
 

sexta-feira, 17 de julho de 2015

O TACTO E SUAS IMPLICAÇÕES NO ENSINO DO DESENHO A CRIANÇAS CEGAS


Butades Tracing the Portrait of Her Shepherd or The Origin of Drawing - Jean-Baptiste Regnault  - Palace of Versailles
Butades Tracing the Portrait of Her Shepherd or The Origin of Drawing
Jean-Baptiste Regnault  - Palace of Versailles

RESUMO
O presente artigo trata da necessidade de se pesquisar sobre o sistema tátil. Cita alguns estudos brasileiros e internacionais relevantes sobre o sistema háptico. Aponta vieses científicos na interpretação de dados em algumas pesquisas sobre a produção e reconhecimento de desenhos por cegos congênitos. Sugere algumas questões importantes e necessárias a serem investigadas, para um melhor conhecimento do tato e da capacidade háptica de sujeitos com limitação visual. Trata, ainda, de algumas questões relativas aos mapas táteis, seu uso na educação e na orientação e mobilidade dos cegos. Por fim sugere que bastariam, tão somente, o empenho e a união de pesquisadores, educadores e das pessoas com limitação visual, e um maior apoio, inclusive financeiro, de órgãos oficiais e, mesmo, não-governamentais, para que essas pesquisas ocorram, e delas se beneficiem essas pessoas.

1- INTRODUÇÃO
Recente pesquisa na literatura especializada, tanto em revistas e teses, como em sistema eletrônico de divulgação científica, vem confirmar o que tem ocorrido já há muito tempo no Brasil: raras são as publicações de estudos científicos a respeito do tato, sua implicação na educação, na orientação e mobilidade ou na vida social das pessoas com limitação visual, em geral.
Entretanto, em relação aos assuntos concernentes às pessoas com limitação visual, a falta de pesquisa não reside apenas na área do sistema tátil. Também na saúde não há pesquisas nacionais que nos dêem dados estatísticos oficiais precisos de quantos são os cegos congênitos; quais são as doenças que mais causam cegueira ou perda da acuidade visual em crianças; que doenças ou outras causas provocam a perda da visão do adolescente ou adulto, embora seja fato ululante que no Brasil, crianças nascem cegas ou perdem a visão total ou parcialmente, ainda quando muito novas; e, em um número maior, jovens e adultos ficam cegos ou perdem parcialmente a visão por motivos diversos (e.g. acidentes de automóvel, com armas de fogo etc).
Doenças como o retinopatia da prematuridade (rop), glaucoma, catarata, diabetes, entre outras, também constituem causas freqüentes de cegueira ou de perda parcial da visão de recém-nascidos, jovens, adultos e anciãos. Todavia, no caso da catarata, os oftalmologistas relatam que pessoas poderiam ter sua visão restituída, fossem-lhes dadas condições médicas, hospitalares, financeiras e principalmente de informação sobre a natureza e possível reversibilidade dessa doença.
Contudo, alguns órgãos não governamentais têm, com esmero, tentado suprir essa lacuna, oferecendo recursos para que oftalmologistas e educadores possam ter subsídios para seus estudos e programas, visando políticas de saúde e de ensino desses indivíduos.
Algumas patologias, e.g. o diabetes, a hanseníase, podem fazer com que pessoas percam o sentido do tato, parcial ou totalmente, infligindo a essas pessoas sofrimento e dificuldade de fazer até mesmo as tarefas mais corriqueiras, como por exemplo, ao tomar banho, o sujeito diabético pode não conseguir segurar o sabonete, por falta de sensibilidade tátil, o mesmo ocorrendo ao tentar segurar uma faca ou garfo ao se alimentar.
Sob essas circunstâncias, começamos a dar valor a esse sentido do qual aprendemos a depender desde pequenos e do qual negligenciamos sua natureza, seu conhecimento e sua pesquisa, tal a naturalidade com que o usamos.

2- O TATO EM ESTUDO
Exceção à pouca produção científica sobre o sistema háptico sinestésico e proprioceptivo, no Brasil, são os estudos de Lima, Heller e Da Silva (1998 a e 1998b), Lima e Da Silva (1998), Zedu, Yano, Souza e Da Silva (1992), Heller, Calcaterra, Green e Lima (1999).
Alhures, inúmeros pesquisadores (e. g. Schiff, W., & Foulke, E., 1982; Loomis & Lederman, 1986; Katz, 1989 e Heller, 1991) têm-se mostrado interessados em decifrar os mistérios que envolvem esse que é um dos mais complexos meios de comunicação entre o mundo interno e externo do homem: O TATO.
Heller (1991) sumariou, com excelência, as principais questões que precisam urgentemente de respostas mais completas e satisfatórias quanto à relação entre o sistema tátil e visual: Nós pensamos sobre o mundo em termos de imagens? A modalidade pela qual obtemos esta informação tem importância? Será que as pessoas cegas imaginam os objetos da mesma forma que o fazemos? Será que entendem o espaço da mesma forma que o resto de nós? As pessoas cegas têm imagens? As imagens dos cegos são como as dos videntes? Quais são as implicações da falta de experiência visual para as imagens? As pessoas cegas percebem objetos e relações espaciais indefinidas de modo deficiente, porque podem faltar-lhes imagens mentais? Qual a natureza de seu imaginário? As imagens mentais são necessárias para alguns tipos de compreensão espacial?
A essas perguntas acrescentamos: Como fazem ou são as representações mentais de pessoas cegas, produzidas a partir de objetos descritos por pessoas não cegas, uma vez que estas, ao descreverem algo, usam de representações próprias de quem está vendo? Como são as representações mentais de “objetos” amorfos (e. g., chuva), feitas pelos cegos? Que processos são usados para a compensação do limite imposto pela falta parcial ou total da visão?
Por outro lado, sabemos que as pessoas portadoras de limitação visual aprenderam a se utilizar do tato, assim como as pessoas portadoras de visão normal o fazem de sua visão.
Destarte, não basta buscarmos as respostas apenas na introspecção de um vidente (o mundo do cego não é o mundo de um vidente com os olhos fechados ou em um ambiente sem luz, meramente), é mister buscá-las via pesquisa que nos possa dar dados concretos sobre tal assunto, de tal sorte que possamos entender o sistema de percepção tátil mais profundamente e proporcionar aos usuários mais freqüentes desse sistema sensório (os indivíduos portadores de limitação visual), subsídios para que estes possam utilizar direta ou indiretamente, seja por meio do próprio conhecimento que tais estudos possam trazer, seja pelo virtual uso dele para o desenvolvimento de tecnologia apropriada às necessidades desses indivíduos. Por exemplo: materiais educacionais como sintetizadores de voz para leitura, kits para confecção de mapas e desenhos tangíveis em geral (Lima e Da Silva, 1998), equipamentos que auxiliem a orientação e mobilidade; instrução formal dos profissionais que lidam com as pessoas com limitação visual e destes próprios, no desenvolvimento de estratégias de que possam valer-se para a compreensão e adequação ao mundo das pessoas com visão normal.
A questão, pois, reside no fato de que sem um maior conhecimento das questões relativas ao tato, ficamos inermes às condições ou limitações reais ou imaginárias desse sistema sensório complexo e indispensável.
Assim, um conhecimento mais profundo de como se processa a representação mental que os cegos têm ou fazem do mundo visual pode-nos possibilitar oferecer a essas pessoas melhores condições de reabilitação, adaptação e inclusão no mundo das pessoas com visão normal, uma vez que podemos propiciar às pessoas com limitação visual subsídios para que saibam como melhor usar o tato, como este funciona, a fim de conhecerem até que ponto podem chegar, superando sua limitação sensória.
O sistema sensório visual nos dá a conhecer o mundo através de uma grande variedade de estímulos, experienciados quase que ao mesmo tempo, propiciando que distingamos uma variedade ainda maior de situações que nos poderiam ser aversivas ou mesmo fatais.
Através da exploração do ambiente pelas mãos, auxiliado por outros órgãos do sentido, principalmente audição e olfato, as pessoas com limitação visual vêm conhecendo e/ou reconhecendo o meio ambiente em que vivem e tirando dele as informações necessárias para sua sobrevivência e seu desenvolvimento físico, mental e intelectual.
Uma vez recebidas tais informações, as pessoas com limitação visual têm de decodificá-las e compreendê-las, a fim de discriminá-las como sendo de perigo, prazer etc., sob pena de, não o fazendo, porem sua vida em risco, mesmo nos atos mais simples do dia-a-dia.
O tato, que comparativamente à visão, é altamente hábil no reconhecimento de padrões 3D (Lederman e Klatzky, 1987, Lima e Da Silva, 1997, 1998 e Lima, Heller e Da Silva, 1998 a e b), oferece-nos, ainda, informações que a visão encontraria dificuldade ou mesmo se veria impedida de oferecer. Ao olharmos para um objeto, podemos inferir que ele tem esta ou aquela forma. Associando sua cor com o material observado, podemos, mesmo, arriscar predizer sua temperatura. Todavia, quanto a esse particular, é o tato que nos pode dar as informações mais precisas e fidedignas, da mesma forma que o faz para textura, aspereza, fio etc.
Muito embora pesquisas na área do sistema háptico tenham trazido informações ricas à luz de nosso conhecimento, muito desse conhecimento ainda se restringe aos laboratórios e revistas especializadas. Educadores e pesquisadores às vezes trabalham paralelamente sem que as informações, por eles alcançadas, se cruzem. Os indivíduos que desse conhecimento poderiam estar-se beneficiando mais prontamente são deixados de lado ou só têm contato com tal conhecimento de modo indireto e muito mais tarde. Por outro lado, algumas teorias ou visões enviesadas ainda perduram entre psicólogos e educadores no que tange ao conhecimento háptico e à capacidade, ou potencialidade dos indivíduos cegos (Heller, 1991, Lima et alii, 2000).
Devido a teorias como de Revesz (1950), pontos de vista como de Lederman, Klatzky e Barber (1985), entre outros, muitos pesquisadores e profissionais que lidam com pessoas com limitação visual total acreditam que o sistema háptico não se presta adequadamente ao reconhecimento de padrões bidimensionais, e que desenhos em relevo não podem ser reconhecidos satisfatoriamente pelos sujeitos com limitação visual, mormente pelos cegos congênitos totais. Essas teorias, contudo, não recebem a unanimidade dos pesquisadores (eg. Heller, 1989 e 1991, Millar, 1975; Lima, 1998), principalmente porque aquelas pesquisas trazem procedimentos questionáveis seja na sua aplicação, seja em sua análise.
Muitos estudos sobre a produção de desenhos por pessoas cegas incluíram crianças para aumentar a amostra e faziam uso de lápis para os desenhos. Outros, para verificarem a capacidade dos cegos em reconhecer desenhos pelo tato, pediam aos sujeitos que nomeassem os desenhos que apalpavam, quando o indivíduo cego não apontava o nome para o desenho, a conclusão direta era que o tato não era adequado ao reconhecimento de figuras. Assim, os indivíduos cegos totais, mormente os cegos congênitos, foram considerados incapazes de reconhecer desenhos com os dedos.
Estes estudos se equivocaram em suas conclusões, pois não levaram devidamente em consideração alguns fatores importantes que diferenciam os cegos da pessoa com visão normal, tais como os que mencionam Lima e Da Silva (1998):
“(...) os cegos congênitos nem mesmo são acostumados com o uso da caneta ou do lápis, pois sua escrita se faz pelo código Braille, geralmente com o uso de uma reglete e punção, ou máquina Braille para datilografia, o que requer movimentos motores fortes, lineares, principalmente horizontais, e/ou de pressão vertical, de cima para baixo. Portanto, os movimentos motores usados com o punção ou mesmo com a máquina Braille são diferentes do movimento mais fino requerido pela caneta. Além do mais, a escrita Braille, feita na reglete, dá-se da direita para a esquerda, e sua leitura, da esquerda para a direita, exigindo que o sujeito escreva de um lado da folha, e vire-a para lê-la no lado inverso.
A uma criança vidente é propiciada, desde muito pequena, a experiência com giz de cera, canetinha etc., para desenhar. Fotos, figuras e desenhos são-lhes apresentados em livros infantis, jornais, revistas, entre outros materiais, que os pais usam para a estimulação dessas crianças, seja lúdica ou educacionalmente. O mesmo não ocorre com as crianças cegas. Primeiro, o desenho ainda é tido como algo inacessível aos cegos. Segundo, os materiais que permitem aos cegos desenhar são raros, caros e, devido a sua natureza física, impróprios às crianças pequenas.
Há muitas variações entre os sujeitos cegos congênitos, assim como há nos videntes e cegos adventícios. Portanto, é perigoso generalizar a partir de quaisquer dados, sem levar em consideração que muitos desses indivíduos têm menor educação formal, foram criados e/ou vivem em ambientes físicos e sociais restritos, diversos ao ambiente dos videntes, com os quais são comparados." (pp. 138-139)
Quanto à crença de que, uma vez os cegos não alcançando um nome correto para um desenho examinado com o tato, eles são incapazes de reconhecer padrões bidimensionais, constitui também um equívoco de interpretação. Um indivíduo vidente perante um quadro pode reconhecer nele uma paisagem, porém pode desconhecer o jacarandá ali pintado. Isso não significaria que a visão, embora fosse capaz de reconhecer paisagens, não fosse capaz de reconhecer árvores. Pelo contrário, isso significa que, ou o observador não sabe, ou não se recorda do nome da árvore. Portanto, quando os cegos congênitos, ao examinar hapticamente um desenho, não alcançam uma concordância nominal, isso não implica, necessariamente, que o sistema tátil não seja capaz de reconhecer figuras bidimensionais tangíveis, ou que o cego congênito não esteja apto a entender essas figuras, por não ter experiência visual prévia. Isso apenas sugere que os indivíduos cegos congênitos, por não estarem acostumados a observar padrões bidimensionais, teriam um menor banco de memória pictográfica que os videntes vendados e os cegos adventícios, os quais detêm um maior registro dessas configurações na memória.
Há uma diferença crucial entre limitação e deficiência (Lima et alii, 2000), assim como há uma diferença significativa entre potencial e desempenho (Heller, 1991). Em dada tarefa, o sujeito pode não se ter um bom desempenho, contudo, isso não significa que ele não tenha o potencial para desenvolver e desempenhá-la com excelência. O que ocorre com o indivíduo cego é que não lhe foi propiciada estimulação suficiente e adequada a sua capacidade de produzir desenhos, nem mesmo lhe foi dada a oportunidade de observar uma quantidade de desenhos que lhe permita criar um banco de memória de imagens. Assim, ao se deparar com uma dada configuração, o sujeito cego pode não saber o que ela significa, isto é, oferecer-lhe um nome.
Além do mais, não se sabe com certeza se os desenhos, na forma em que são apresentados, refletem a melhor descrição do tridimensional para o sistema tátil, uma vez que este sistema tem demonstrado modalidades específicas. Lima et alii (1998 a) demonstraram que os cegos são capazes de produzir desenhos em relevo, variando sua produção de acordo com habilidades individuais e complexidade dos padrões representados. Nesse estudo a mediação da visão pareceu ter tido influência no desempenho de sujeitos cegos congênitos, uma vez que seus desenhos foram considerados menos representativos que os produzidos por cegos adventícios e videntes vendados. Contudo, uma explicação alternativa é que os sujeitos cegos não detêm as regras que regem o desenho à mão livre, e faltam-lhes a prática com o desenhar ou ver (tocar) desenhos com os dedos.
A mediação da visão, de fato, é usada para explicar, em grande parte, o baixo desempenho que alguns sujeitos cegos têm no reconhecimento de desenhos (Lederman et alii, 1987). Não obstante, Heller (1989), Lima (1998), entre outros, obtiveram resultados que mostram que os sujeitos cegos são capazes de reconhecer figuras bidimensionais em relevo, comparativamente aos videntes.
É fato, pois, que não se sabe com certeza como são as representações mentais feitas pelos cegos congênitos a partir da captura háptica, mas há indícios fortes que nos levam a acreditar que essas representações são diversas das imagens mentais dos videntes, uma vez que estes têm a experiência visual e aqueles jamais enxergaram.
Como não temos dados definitivos quanto à capacidade tátil e os estudos nessa área de investigação científica são incipientes, ainda não sabemos como realmente lidar com tais conhecimentos. Assim, a transcodificação do mundo visual para uma linguagem tátil e/ou oral traz consigo a nomenclatura de quem vê, o que dificulta a compreensão do mundo interno ou da representação mental que o cego faz do mundo. A despeito disso, em geral, oferece-se aos cegos, na forma de verbalização, o mesmo tratamento educacional usado para os videntes.
Vejamos, como exemplo, a seguinte situação: duas crianças, de mesma idade, entram para a escola. Uma delas é cega, a outra é portadora de visão normal. Sabemos que, por questões idiossincráticas, de natureza social, econômica, enfim de ambiente e relação, ambas as crianças, ainda que tendo uma mesma idade, têm diferenças particulares marcantes. Entretanto, sabemos que em situação normal, tanto professores como as próprias crianças têm mecanismos para lidarem com essas diversidades. Porém, em nosso exemplo, contamos com mais uma diferença, uma das crianças é cega, i.e., tem limitação total da visão. Embora a criança possa já ter desenvolvido seus próprios mecanismos para lidar com sua limitação, talvez seu professor, por questões de formação e informação, ainda não tenha tido a oportunidade de fazê-lo.
Aqui, temos uma típica situação onde o conhecer das limitações de um sujeito pode proporcionar ao profissional uma melhor elaboração ou resolução de eventuais problemas decorrentes desta relação, com conseqüente superação de tais limites.
De volta ao nosso exemplo, ambas as crianças são igualmente capazes e estão perfeitamente prontas para o início da educação escolar. Seu professor as ensinará do mesmo modo, seus exemplos serão os mesmos dados aos alunos portadores de visão normal. Além da verbalização, não haverá, pois, diferenças na explanação do professor, visando a um indivíduo ou indivíduos em particular na sala de aula, porém a toda esta.
Assim, mesmo que o professor tenha habilitação para educação especial, ele poderá estar presumindo que a representação que formula para explicação de dada informação ao aluno sem limitação visual seja a mesma que deveria dar ao aluno cego. É possível que seu pressuposto seja de que uma vez verbalizando o exemplo dado à sala, isso bastará à compreensão do aluno cego.
Já no ensino fundamental II, por exemplo, certo professor de Matemática ao ensinar Geometria pode, com esmero, descrever as formas e expor o problema oralmente ao aluno, ou ainda, com a melhor das boas intenções, proporcionar a esse aluno desenhos e gráficos em alto-relevo, crendo que isto baste para sua compreensão. Mas será que basta?
Lederman e Klatzky (1987) mencionam o fato de que geralmente os gráficos tangíveis são réplicas em relevo de seus originais em tinta, sendo presumido que o que serve para a visão deva servir para o tato. Tal pressuposto, contudo, alertam as autoras, não deve ser aceito sem reserva, uma vez que “mecanismos" de codificação de modalidade específica foram encontrados.
É fato, pois, que as experiências vividas pela criança com limitação visual são muito diversas das das crianças portadoras de visão normal, requerendo daquela criança um maior esforço mental para aprender o mesmo conteúdo que seus colegas, já que, primeiro, tem de decodificar o que lhe está sendo explicado.
Assim, dessa criança é exigido que formule ou lance mão de estratégias diversas, muitas vezes, extremamente complexas para a resolução de um problema que o aluno com visão normal não precisa ou nem se dá conta de fazer.
Claro, pois, que as crianças com limitação visual se adaptam invariavelmente muito bem a essas situações, porém isso requer-lhes tempo e grande esforço mental e mesmo físico, uma vez que eles mesmos não conhecem o(s) mecanismo(s) que rege(m) a(s) representação(ões) mental(is) das situações por elas experienciadas.
Daí, mais uma razão e urgência de se conhecer profundamente o sistema sensório tátil (por exemplo a partir de práticas, de pesquisas e não somente pela introspecção de quem vê), para tirar ou minimizar a “carga mental” imposta ou exigida às pessoas com limitação visual ou cegas.
Posto isso, caberia ressaltar que a pesquisa de tais estratégias permitiria a criação de uma teoria sobre o funcionamento do tato, não só nas pessoas com de limitação visual como também nos videntes. Com efeito, o descobrimento de tais estratégias desvendaria o funcionamento desse sentido, uma vez que ele é utilizado otimamente por indivíduos cegos, inclusive por aqueles que jamais tiveram a experiência visual (os cegos congênitos totais).

3- O DESENHO EM RELEVO: UMA PROPOSTA DE ENSINO
Considerando, pois, a importância do sistema tátil e as implicações do tato na vida das pessoas em geral, e na educação das pessoas cegas, em particular, propomos, como mais uma via de pesquisa, e principalmente instrumento de ensino, de lazer e terapêutico, o uso de desenhos na formação de crianças cegas. Isso começando o mais cedo possível: inicialmente, com a apresentação de padrões em relevo, aliado a outras configurações, textura e técnicas correlatas; em seguida, na própria produção de desenho pelo cego, de tal forma que ele possa expressar seus sentimentos e visão de mundo através do desenho, o que lhe propiciaria, ao nosso ver, tanto um aumento do conhecimento do mundo tridimensional, como uma maior aquisição do léxico, além de proporcionar o conhecimento de layouts antes mesmo de a criança percorrê-lo fisicamente (eg. a escola que vai estudar, a nova casa para onde mudou etc). Os benefícios são óbvios, então.
Quanto ao uso de desenhos em situação terapêutica, contudo,
“é importante notar que, antes de que se venha a fazer qualquer interpretação clínica de um desenho produzido por um indivíduo cego, é mister que:
1) se desenvolva, onde for necessária, uma linguagem própria para a representação pictórica tangível;
2) que essa linguagem seja ensinada às crianças portadoras de limitação visual;
3) que o desenho faça parte do cotidiano da criança cega, como o faz da criança vidente;
4) que se faça pesquisa, visando à padronização da produção desses desenhos para uso clínico. Antes de se tomarem esses cuidados, constituiria falta de bom senso, insensatez e mesmo de ética fazer a menor interpretação que seja da produção pictórica do cego.” (Lima et alii, 1998 a, p. 140)
A utilização do desenho como uma via de compreensão do tato e do mundo de representações mentais dos cegos, não é a única e nem dará todas as respostas, porém contribuirá para ampliarmos nosso conhecimento sobre o sistema háptico, a fim de que possamos propiciar melhores condições de vida e de reabilitação às pessoas com limitação visual congênita ou adventícia.
O uso do desenho e do desenhar como forma de lazer ou expressão artística propiciará, ainda, o vencer limites sociais e quiçá fazer com que pessoas cegas e videntes vejam o mundo mais semelhantemente, compartilhando idéias, imagens e representações de si, do outro e do mundo que os cerca e os mantém em sociedade.
Porém, talvez sejam nas áreas de estudos da geometria, geografia e de orientação e mobilidade que mais se poderá aplicar o treino e o uso do desenho bidimensional em relevo por pessoas cegas. Isto porque o reconhecimento háptico de configurações bidimensionais poderá ajudar na solução de alguns dos problemas de orientação e mobilidade encontrados por indivíduos com limitação visual, parcial ou total, por exemplo os mencionados por Marston e Golledge (1997).
Segundo esses autores, a falta de visão dificulta prever pistas para perceber e corrigir padrões espaciais; acessar conhecimento espacial para localizar atalhos; bem como dificulta o acesso ao conhecimento espacial para integrar uma via conhecida em uma compreensão espacial ampla, o que restringe muitas pessoas com limitação visual a rotas já conhecidas. De acordo com os autores, ainda, para essas pessoas o tempo domina o espaço sobre uma compreensão espacial, por exemplo como quando andam de ônibus.
Muitas pesquisas têm enfatizado a necessidade de se introduzir o ensino de mapas táteis às crianças cegas o mais cedo possível e demonstrado que o uso desses mapas pode ser um meio útil de fornecer às pessoas com limitação visual informações espaciais complexas, as quais não lhes estão prontamente disponíveis através da experiência direta ao percorrer um caminho (Ungar, Blades e Spencer, 1993; 1995; 1996a, 1996b). Isso porque pessoas cegas e com limitação parcial da visão teriam dificuldade em construir uma representação precisa e flexível de seu ambiente, tão somente a partir de uma experiência direta de mobilidade por esse ambiente (Rosa e Ochaíta, 1993; Spencer, Blades e Morsley, 1989).
Consoante Ungar et alii (1994), o conhecimento do caminho de determinado lugar impõe limitações no nível de mobilidade a que uma pessoa pode alcançar, i. e., passagens alternativas ou atalhos não são deduzidos desse conhecimento. Isso pode ser problemático, quando uma pessoa com limitação visual se muda para uma nova região ou precisa freqüentar um grande logradouro público desconhecido.
Todavia, muito pouco se tem estudado sobre como mapas táteis são utilizados por pessoas com limitação visual. Menos ainda se tem considerado o modo pelo qual as pessoas cegas formam representações mentais do espaço, a partir de experiência direta e de mapas táteis, a despeito de os psicólogos, há muito, se interessarem em saber de que maneira as pessoas manipulam e formam representações mentais do ambiente espacial (Ungar et alii, 1996).
No Brasil, como temos afirmado reiteradamente, os estudos relativos ao tato e suas implicações são incipientes e ainda muito tímidos. Exceção à quase inexistência desses estudos é o trabalho de Oka (1999, s/p), o qual visa defender “o uso de mapas táteis como recurso gráfico enquanto recurso didático e para o uso cotidiano (principalmente na mobilidade)”. A autora intitula seu trabalho indagando se mapas táteis são necessários. A resposta (que na opinião da autora deve ser afirmativa) “pode parecer óbvia, no entanto, poucas pessoas utilizam o mapa tátil.” Isso se daria por conta de uma “escassez de material, de pesquisas na área (aqui no Brasil), de incentivo para a produção e de pessoal especializado” (Oka, 1999, s/p).
Segundo a autora, ainda, “muitas pessoas vêem o deficiente visual como incapaz de ler mapas, esquemas e outros materiais gráficos” (op cit). Com tal visão, essas pessoas acreditam que a utilização desses recursos seria dispensável para os indivíduos cegos, dada a dificuldade que estes teriam em compreender o “emaranhado de linhas, pontos, nomes etc”.
Visões como esta, citada pela autora, constituem exemplos de vieses socioculturais e científicos enraizados no conhecimento e postura de educadores, pesquisadores e dos próprios indivíduos com limitação visual, e que precisam ser extirpadas em benefício desses mesmos sujeitos (Lima et alii, 2000.)

4- CONCLUSÃO
Como vemos, pois, de um lado são muitos os benefícios que se pode obter através do uso do desenho, de outro se faz urgente dedicarmo-nos séria e profundamente ao estudo do tato nas suas formas háptica, sinestésica e proprioceptiva, buscando desenvolver e aprimorar equipamentos e técnicas que beneficiem às pessoas com limitação visual, tanto na sua educação e lazer, quanto na sua orientação e mobilidade. Desenhos, mapas e diagramas em relevo, produzidos especialmente para uma leitura tátil, podem constituir meios de superação de algumas dificuldades vivenciadas por essas pessoas.
A união de pesquisadores, educadores, psicólogos e dos sujeitos com limitação visual pode alcançar esse feito, pois como disse Morsley, Spencer e Baybutt (1991), melhorar a qualidade de vida de crianças cegas pode, muitas vezes, ser alcançado por mudanças relativamente diretas, sem a necessidade de depender de alta tecnologia, nem de grande despendimento de tempo por professores ou pais. Cremos que para que isso ocorra, é necessário, tão somente, que se tenha boa vontade, diligência e apoio, inclusive financeiro, de órgãos oficiais e, mesmo, não-governamentais.

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Fonte: LERPARAVER