sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O namoro: desejos, sonhos e medos em adolescente com deficiência visual


"Quando o amor é visto de outra forma, tudo pode acontecer!!!" Fernando Channoschi



Um dos aspectos peculiares da passagem da infância para a idade adulta é a maturação fisiológica, que inclui a capacidade de procriar, caracterizada pela primeira ejaculação do menino e a menarca da menina. Essa fase é marcada pela descoberta da masturbação, pelo despertar da atração sexual pelo outro.
Quando se trata do adolescente portador de deficiência visual, o "jogo do namoro", como se pode verificar em suas falas, fica comprometido, pois não há o contato visual que tanto estimula o desejo de aproximação e a criação de fantasias sexuais.
Embora os adolescentes, nas suas falas, demonstrem um desejo de realizar a vivência afetivo-sexual com um outro, permeia  o seu discurso um medo que paralisa os esforços para tal fim. Esse temor torna-se uma barreira que impede a reciprocidade necessária para o encontro ocorrer.
Outro fator que prejudica o envolvimento amoroso desses adolescentes é que, inseridos numa sociedade de consumo, sem se enquadrar nos padrões estéticos veiculados pela media, e vivendo um período de necessidade de auto-afirmação, respaldado pela sociedade, eles passam a agir como se fossem seres assexuados e sem desejo, dessa forma, respondendo às expectativas estigmatizadas que os videntes têm deles.
Esses preconceitos revelam-se também no modo de rotular os relacionamentos entre os deficientes: se o cego se envolve com um deficiente, é porque é inseguro; se ele se envolve com um vidente, é porque procura status. O que resta à pessoa cega fazer, então, diante de suas possibilidades de escolhas amorosas? Tal indagação nos leva a outra questão: Os videntes seriam diferentes em suas escolhas amorosas?, ou: O cego não possuirá outras qualidades que possam provocar o interesse do outro, independentemente de sua deficiência? Esse foco na deficiência reforça o estigma da imperfeição, desconsidera que a atração sexual possui "química própria" e que o amor rompe preconceitos, como comprova Bruns (2001) em sua pesquisa sobre relacionamentos de pessoas videntes com pessoas cegas.
É necessário perceber, pois, que, embora, na vivência concreta desses jovens, não ocorram namoros, porque se sentem imaturos, inexperientes e inseguros, eles demonstram o desejo, ainda que de forma idealizada, de que essas vivências possam se realizar um dia. Afinal, são sexuados! É preciso lembrar sempre que os deficientes visuais entram em contato com o mundo, ou seja, experienciam a vida, pelas mãos, pelo toque, pelo tato, pelo cheiro, pelos sons a sua volta. E não é por serem portadores de deficiência visual que a libido não está neles presente.


excerto da obra:
título: SEXUALIDADE DE CEGOSautora: Maria Alves de Toledo Bruns edição: Editora Átomo, 2008.
site da autora:  
http://www.sexualidadevida.com.br
email:  
toledobruns@uol.com.br 

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