A Banda Música do Silêncio, um projeto musical de São Paulo, no Brasil, com jovens cegos e surdos, apresentou-se no sábado em Coimbra para mostrar que a música é uma ferramenta de inclusão e de desenvolvimento pessoal.
Fábio Bonvenuto, coordenador da Banda Música do Silêncio, gesticulou ordens, olhou em redor e por vezes usou a sua voz, num esforço de atenção, a diferentes níveis sensoriais, para poder comunicar com a sua orquestra.
O maestro tem que "adaptar a regência tradicional de orquestra" para uma regência na qual pode "usar o corpo todo", explicou, depois de uma pequena demonstração do projeto na Escola Básica Poeta Manuel Silva Gaio, em Coimbra, no sábado, à tarde, antes da atuação às 21:00 na mesma escola.
O maestro da Banda Música do Silêncio introduziu sinais da linguagem gestual nessa regência, para que os alunos surdos o possam compreender, enquanto alunos cegos "têm ao lado" colegas que lhes vão dando comandos "através do toque da mão".
Nesta viagem internacional, a convite da Câmara de Vidigueira, no Alentejo, surgiram apenas 40 alunos, mas pelo projeto, contou Fábio Bonvenuto, já passaram "quase 600 alunos", desde 2005, altura em que o projeto foi iniciado.
A Banda Música do Silêncio surgiu por "12 alunos surdos desejarem ter aulas de música", contou Fábio Bonvenuto, que recebeu um convite da Prefeitura de São Paulo para iniciar o projeto.
"A gente ouve, mas muitas vezes não escuta", afirmou o maestro, explicando que "escutar envolve outros sentidos", como "o recurso visual".
A "escuta" da música surge também através da vibração, com os alunos surdos a "ouvirem os graves na região abdominal e os agudos na zona das costas e nuca", disse à Lusa Fábio Bonvenuto.
Emily Santos, de 11 anos, que está na Banda Música do Silêncio desde 2010, contou "que gosta da sensação" da batida, e que escolheu o surdo, instrumental usado nas escolas de samba, por "gostar mais da sua vibração".
O coordenador e maestro do projeto afirmou que a Banda Música do Silêncio tem, na sua maioria, crianças de estratos sociais mais baixos, conseguindo também, através da música, dar-lhes outras perspetivas de futuro.
"Para eles, isto é muito maior do que os aplausos", explicou Fábio Bonvenuto, contando que um aluno "disse que não" a um trabalho no supermercado "a carregar caixa", "porque se ele consegue tocar música, vai poder estudar mais e vai poder ganhar mais".
O maestro enalteceu também a experiência de um antigo aluno seu que "foi para uma empresa e quando terminou o seu período de experiência foi promovido", considerando que, "por ter aprendido música, sabe cumprir melhor os tempos das tarefas na fábrica".
"A música é uma forma de chegar a todo o tipo de alunos", frisou Amélia Loureiro, diretora do Agrupamento de Escolas Coimbra Centro, do qual faz parte a Escola Silva Gaio.
Amélia Loureiro disse à agência Lusa que o objetivo é de que os professores "se entusiasmem com este projeto e que depois o possam promover" no agrupamento, que é "a referência para alunos surdos e cegos" na região Centro.
A diretora do agrupamento considerou que a música poderá ser "fundamental" para "ajudar as crianças a nível da postura, da socialização ou da capacidade de concentração".
"É engraçado como os alunos estão atentos ao seu professor e fazem música como qualquer um de nós", disse Amélia Loureiro sobre a Banda Música do Silêncio, evidenciando "o entusiasmo e a capacidade de mobilizar todos".
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