terça-feira, 5 de novembro de 2013

Vivendo um dia sem enxergar

 

Uma exposição chamada de “Mostra Invisível”(Nevideltiná Výstava), atualmente aberta ao público na capital da República Tcheca, Praga, leva o espectador a refletir e sentir-se como um cego. A extraordinária ideia de possibilitar ao público essa experiência resulta em uma descoberta de um mundo vivido na escuridão, mas que é tão rico e emocionante, basta saber viver.

Após visitar uma sala com informações sobre artistas que perderam a visão ou que nasceram sem ela, como Ray Charles, Andrea Bocelli e Steve Wonder, e explicações sobre a criação do Braile, sua introdução em faculdades, bibliotecas etc. Você é levado por um guia cego por um percusso na total escuridão, durante uma hora. É essa a melhor e mais tocante parte.

O início do passeio

Depois de passar por uma porta e uma cortina, somos introduzidos no mundo sem luz, ainda não sabemos para onde “olhar” ou como andar, e sentimos medos, mas após alguns instantes nos sentimos mais confortáveis e prontos para explorar a nova experiência.

Diferentes ambientes, como o interior de uma casa, com sala, quarto, banheiro percorridos sem luz. Usamos o tato, sentimos os objetos, esbarramos uns nos outros, pedimos ajuda e entendemos, ainda mais, a importância da acessibilidade, o quanto é importante, o quanto é essencial, o quanto é básico e percebemos o quanto falta em inúmeras cidades espalhadas pelo mundo.

Durante a conversa com o guia, ele explica como deve ser a ajuda nas ruas, como a pessoa deve ajudar, que segurar na mão é a melhor maneira, falar o nome do ônibus que chega na parada, atitudes simples, mas que fazem a diferença.

Enxergar a arte sem visão. Tocamos esculturas, réplicas de obras famosas de arte e tentamos adivinhar que trabalho é aquele. Pensamos, os museus tem explicações em braile?

A realidade de conhecer uma cidade sem luz

Outro ambiente é a rua. Um som gravado serve de sonoplastia durante a visita, de background para dar mais vivacidade à atmosfera. Buzinas de carros, automóveis e vozes de pessoas, estamos soltos andando na escuridão pelo centro da cidade. Um pouco de sentimento de pânico é percebido entre o grupo que faz parte da visita. Somos ensinados a seguir pelo caminho da voz do guia, que fala constantemente e nos direciona, e por desacostume nos perdemos, depois de encontros de mãos seguimos.

O último ambiente é um bar, sentamos, ainda na total escuridão, o guia nos diz o menu de bebidas e pedimos um café, um chocolate quente, uma cerveja. Tudo preparado e servido na ausência de luz. O pagamento feito por moedas, o troco dado corretamente por quem já foi ensinado a perceber a diferença entre as moedas e seus valores.

O que fica para quem participa desta exposição? Uma descoberta. Não sentimento de piedade e comparações entre uma pessoa que enxerga e outra que nunca “viu”, não! Muito mais um sentimento de grandiosidade, de saber que uma vida pode ser plena, mesmo sendo vivida sem luz. Por outro lado, certificamos que falta muito para facilitar o dia a dia desse grupo da sociedade, será que nas universidades tem livros suficientes em braile? Que os semáforos estão adaptados com sinais sonoros que podem ajudar na travessia?

Saímos de lá com a percepção mais apurada e com o espírito mais questionador para observar se a cidade onde vivemos está ajustada para facilitar e oferecer possibilidades de locomoção para o público que não enxerga como nós.

Roberta Clarissa Leite
Escreve também para o Cursodeingles.net

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