Grupo usa técnicas de captação de imagens em saídas a campo na cidade.
Modelos do 'Retratos Especiais' resgatam autoestima, afirma coordenador.
Resgatar a autoestima de quem clica ou é clicado. Esse é o principal objetivo da oficina "Retratos Especiais", em que um grupo de deficientes visuais de Piracicaba (SP) aprende técnicas de fotografia. Os modelos dos retratos são encontrados nas ruas do Centro da cidade ou em comunidades da terceira idade e o resultado revelou autonomia, qualidade artística e técnica.
As aulas, que começaram em setembro e têm duração de três meses, são frequentadas por oito alunos, seis deles cegos e dois com baixa visão.
A equipe de professores é composta por dois repórteres fotográficos e funcionários do Museu Prudente de Moraes de Piracicaba, espaço cultural que apoia a iniciativa.
As aulas, que começaram em setembro e têm duração de três meses, são frequentadas por oito alunos, seis deles cegos e dois com baixa visão.
A equipe de professores é composta por dois repórteres fotográficos e funcionários do Museu Prudente de Moraes de Piracicaba, espaço cultural que apoia a iniciativa.
Após 25 anos no ofício de captar imagens, o fotojornalista Claudio Coradini e, coordenador do projeto, resolveu fazer algo por aqueles que não podem enxergar.
"Nesse tempo todo, eu vivi exclusivamente do meu olhar. Então pensei que precisava fazer algo de relevante àqueles que, apesar de privados de visão, têm muito a mostrar", disse.
"Nesse tempo todo, eu vivi exclusivamente do meu olhar. Então pensei que precisava fazer algo de relevante àqueles que, apesar de privados de visão, têm muito a mostrar", disse.
Para Coradini, a composição fotográfica nasce na mente, antes mesmo do clique. "A boa fotografia deve ser pensada antes de ser executada, principalmente em se tratando de retratos", ressaltou.
Imaginação
“Eu fotografo com a imaginação e com meus ouvidos, eles são bem melhores que meus olhos”, brincou Marcelo Baptista, de 48 anos, um dos alunos da oficina ministrada aos deficientes visuais.
“Eu fotografo com a imaginação e com meus ouvidos, eles são bem melhores que meus olhos”, brincou Marcelo Baptista, de 48 anos, um dos alunos da oficina ministrada aos deficientes visuais.
Ao dizer isso, faz lembrar uma das frases do fotógrafo esloveno Evgen Bavcar, quando afirmou que “os originais” estavam dentro da cabeça dele. Cego, se tornou conhecido pelas imagens que captava.
Baptista, inspirado no artista visual e incentivado pelo projeto, garantiu que esse é só o começo e explicou algumas das técnicas utilizadas para captar as imagens.
“Marcamos a distância ideal do fotografado com o braço", disse. "Pretendo continuar e aprender mais sobre a arte da fotografia", afirmou.
“Marcamos a distância ideal do fotografado com o braço", disse. "Pretendo continuar e aprender mais sobre a arte da fotografia", afirmou.
"As pessoas que veem os retratos que fiz se surpreendem com o resultado”, contou.
Diabético, ele perdeu totalmente a visão há seis anos, em decorrência da doença. “Comecei a ter dificuldades para enxergar quando ainda era jovem. Os sintomas evoluíram e são irreversíveis”, disse.
Também participam do projeto os alunos Aílton José da Silva, Natalícia da Silva, Josirene Pereira Passos, Eduardo Gonçales da Silva, Gilmar Nunes Falcão e Nilo Martins.
Técnica
Além de conhecer a arte da fotografia, Claudio Coradini afirmou que um dos objetivos das aulas é desenvolver o olhar fotográfico nos alunos deficientes visuais. "Com isso, pretendo, contribuir para melhora da convivência social deles", ressaltou.
Além de conhecer a arte da fotografia, Claudio Coradini afirmou que um dos objetivos das aulas é desenvolver o olhar fotográfico nos alunos deficientes visuais. "Com isso, pretendo, contribuir para melhora da convivência social deles", ressaltou.
A semente do projeto, concretizado neste ano, foi plantada em 2003. "Após consultar amigos psicólogos e voluntários de entidades sociais, desenvolvi as técnicas específicas e iniciei o laboratório do projeto com alguns participantes, mas precisei engavetá-lo", lamentou.
O professor explicou que tudo começa do ponto "zero", que é a posição correta de segurar uma câmera, até a formação de “retratistas” preparados para a captação de imagens de pessoas em qualquer ambiente e situação.
"Trabalhamos o empunhamento das câmeras, refinamento do tato e audição para a captação de imagens, no caso retratos. A assimilação e o resultado são surpreendentes para todos os envolvidos e principalmente aos fotografados", explicou.
A ideia é fazer como que os alunos desenvolvam a personalidade do artista da fotografia. "Ele podem dirigir pessoas e cenas e essa autonomia se reflete também na vida pessoal deles", ressaltou.
"O resultado é gratificante, não só para eles, mas para os modelos também", disse Coradini. "Quanto a mim, aprendi a enxergar além do olhar", afirmou.
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