O oftalmologista António
Travassos afirmou, esta quarta-feira, que existe um excesso de crianças a usar
óculos sem necessidade clínica e que só o fazem porque existe uma pressão nesse
sentido.
Em declarações à agência Lusa, o antigo
presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) disse que muitas das
crianças que usam óculos têm dioptrias que não justificam a correção pelo uso de
óculos.
O médico recusou-se a atribuir a uma só causa
este excessivo uso de óculos por parte das crianças, afirmando que existem
vários motivos, como razões estéticas ou a pressão das óticas.
António Travassos lembrou que existem óticas
que vão às escolas fazer rastreios à visão das crianças, o que pode conduzir ao
uso de óculos por crianças.
Para este especialista, crianças com dioptrias
na ordem das 0.25, 0.50 ou 0.75 não têm necessariamente que usar óculos, embora
isso aconteça.
Isso mesmo confirmou à Lusa a oftalmologista
pediátrica Rita Gama, para quem a prescrição de óculos para crianças com menos
de duas dioptrias não se justifica, salvo algumas exceções.
A especialista considera que esta prescrição só
pode ter uma razão: inexperiência no atendimento de crianças.
Isto porque "é diferente" receitar óculos para
adultos e crianças, pelas suas características, razão para nos mais novos ser
sempre necessária a dilatação da pupila, através de gotas.
Rita Gama reconhece que as óticas têm algum
papel na prescrição injustificada de óculos, mas não considera isso preocupante,
além de ser "uma despesa desnecessária".
"Os rastreios visuais são feitos por óticas e
por vezes são estas que fazem com que as crianças que de facto precisam vão ao
oftalmologista", sublinhou.
António Travassos é, nesta matéria, perentório:
"Quem prescreve não deve vender".
Sobre os efeitos da crise no acesso aos óculos
das pessoas com dificuldade de visão, António Travassos não conhece, para já,
casos concretos.
A presidente da SPO, Manuela Carmona, reconhece
que, devido à crise, as pessoas evitam trocar de óculos com a frequência com que
o faziam no passado.
Este atraso na troca de óculos não é tão
preocupante nos adultos como nas crianças, as quais, devido ao crescimento,
precisam de trocar de óculos com mais frequência, adiantou.
Sobre os efeitos na saúde deste efeito da
crise, Manuela Carmona disse que estes não são graves.
Os oftalmologistas reúnem-se a partir de
quinta-feira no 55º Congresso Português de Oftalmologia. Até dia 08 decorre
ainda o primeiro Congresso de Oftalmologia de Língua Portuguesa.
São esperados 800 especialistas portugueses,
dos países africanos lusófonos, Espanha, Brasil, EUA e Canadá.
Da programação científica do congresso
destacam-se as conferências sobre tumores oculares e cirurgia oculoplástica,
enquanto no primeiro Congresso de Oftalmologia de Língua Portuguesa a temática
central serão as patologias específicas de África, como a oncocercose e o
tracoma.
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