Trata-se de um convite aos
encarregados de educação para descobrir qual a razão das dificuldades de
aprendizagem dos seus filhos. Maria Amélia Dias Martins, coordenadora da
iniciativa, resume assim o objetivo do rastreio: "Os pais precisam de saber se o
insucesso escolar se resolve com umas explicações ou se é fruto de uma
perturbação e requer terapia."
Estudos realizados nos Estados Unidos da
América revelam que em 40% das dificuldades de aprendizagem observadas na
população em idade escolar, mais de 75% têm origem em casos de dislexia. Maria
Amélia Dias Martins acredita que "as percentagens nacionais não andarão muito
distantes destas".
Cientificamente, a dislexia tem sido definida
como um problema neurológico, de base genética. Os cientistas têm avançado ainda
com a tese de que possivelmente será hereditária. Há uma forte evidência de que
os filhos de pais disléxicos têm mais probabilidade de ter a problemática. Ao
que os estudos indicam, a raiz do problema está localizada numa anomalia dos
cromossomas relacionados com a parte auditiva e visual. No primeiro caso, será a
discriminação do som bem como a sua qualidade que determinarão a dificuldade; no
segundo, será a discriminação visual e a associação de grafemas.
Por ser uma "área de saúde", refere Maria
Amélia Dias Martins, "a dislexia não se resolve com apoios educativos na
escola". "Quando muito treina a criança para chegar aos testes e ir fazendo
qualquer coisa para ir passando de ano, mas a dificuldade não melhora". Como
professora de educação especial, defende uma intervenção logo no
pré-escolar.
"Há indicadores que permitem aos educadores
identificar eventuais dislexias", garante Maria Amélia Dias Martins. E dá
exemplos: "Uma criança que se relaciona mal aprende com dificuldade a relação
com o espaço, expressa-se não utilizando o vocabulário mais adequado, não é
capaz de fazer com autonomia as suas rotinas diárias, etc." Estes são apenas
alguns dos traços que indiciam futuras dificuldades que vão resultar em
perturbações de leitura, escrita e até no cálculo.
No final do 1.º ano de escolaridade, "a criança
já teve tempo suficiente para aprender a leitura, se não aprendeu é porque
alguma coisa aconteceu", alerta. Depois de detetados os problemas, é urgente
intervir: "A equipa de educação especial tem obrigação de ir imediatamente à
escola". "Não se pode estar à espera que estas dificuldades melhorem sem
intervenção", adverte a professora.
Testar a interpretação
No rastreio, as crianças são submetidas a um
conjunto de testes onde lê um texto dado pela terapeuta. Sobre os métodos
utilizados no despiste da problemática, Maria Amélia Dias Martins explica como
se distancia da maioria dos testes que existem: "Não fazemos contagem de
palavras por determinado tempo, a nossa perspetiva é completamente diferente.
Está voltada para a capacidade de interpretação."
Como professora da educação especial, não
considera "prejudicial" que a leitura seja feita de forma mais devagar, mesmo
que isso possa estar associado a algum grau menor de dislexia. "A criança pode
ler devagar, ou até soletrar um bocado, desde que não seja excessivo e ela
consiga perceber as palavras, frases, períodos, parágrafos e textos." Se assim
for, a intervenção não é necessária. "Costumo dizer que só mexo quando começa a
fazer mossa", acrescenta.
Enquanto as crianças são testadas, os pais
respondem a um inquérito. A conjugação da informação recolhida fornece o
resultado da problemática, que no final é dado a conhecer através de um parecer
realizado por profissionais nas áreas da psicologia e pedagogia.
Mas a dislexia é apenas uma das muitas causas
das dificuldades de aprendizagem que passam também por "situações mais simples",
alerta Maria Amélia Dias Martins: "Por vezes tratam-se apenas de sintomas de
forte ansiedade e nesse caso indicamos o que os pais devem fazer para dar apoio
e tranquilidade à criança". Uma "terapêutica" que passa por fazer com que a
criança se sinta segura em casa e mais acompanhada. "Só depois, se o problema
persistir, é que se devem tomar medidas de apoio psicológico."
O rastreio decorre nas instalações da
Clipêutica, na Rua do Relógio, no Porto, e tem um custo de três euros que
reverte a favor da associação Acreditar.
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