terça-feira, 9 de outubro de 2012

Rastreio à dislexia acontece no Porto (20 de Outubro)

 

Trata-se de um convite aos encarregados de educação para descobrir qual a razão das dificuldades de aprendizagem dos seus filhos. Maria Amélia Dias Martins, coordenadora da iniciativa, resume assim o objetivo do rastreio: "Os pais precisam de saber se o insucesso escolar se resolve com umas explicações ou se é fruto de uma perturbação e requer terapia."

Estudos realizados nos Estados Unidos da América revelam que em 40% das dificuldades de aprendizagem observadas na população em idade escolar, mais de 75% têm origem em casos de dislexia. Maria Amélia Dias Martins acredita que "as percentagens nacionais não andarão muito distantes destas".

Cientificamente, a dislexia tem sido definida como um problema neurológico, de base genética. Os cientistas têm avançado ainda com a tese de que possivelmente será hereditária. Há uma forte evidência de que os filhos de pais disléxicos têm mais probabilidade de ter a problemática. Ao que os estudos indicam, a raiz do problema está localizada numa anomalia dos cromossomas relacionados com a parte auditiva e visual. No primeiro caso, será a discriminação do som bem como a sua qualidade que determinarão a dificuldade; no segundo, será a discriminação visual e a associação de grafemas.

Por ser uma "área de saúde", refere Maria Amélia Dias Martins, "a dislexia não se resolve com apoios educativos na escola". "Quando muito treina a criança para chegar aos testes e ir fazendo qualquer coisa para ir passando de ano, mas a dificuldade não melhora". Como professora de educação especial, defende uma intervenção logo no pré-escolar.

"Há indicadores que permitem aos educadores identificar eventuais dislexias", garante Maria Amélia Dias Martins. E dá exemplos: "Uma criança que se relaciona mal aprende com dificuldade a relação com o espaço, expressa-se não utilizando o vocabulário mais adequado, não é capaz de fazer com autonomia as suas rotinas diárias, etc." Estes são apenas alguns dos traços que indiciam futuras dificuldades que vão resultar em perturbações de leitura, escrita e até no cálculo.

No final do 1.º ano de escolaridade, "a criança já teve tempo suficiente para aprender a leitura, se não aprendeu é porque alguma coisa aconteceu", alerta. Depois de detetados os problemas, é urgente intervir: "A equipa de educação especial tem obrigação de ir imediatamente à escola". "Não se pode estar à espera que estas dificuldades melhorem sem intervenção", adverte a professora.

Testar a interpretação
No rastreio, as crianças são submetidas a um conjunto de testes onde lê um texto dado pela terapeuta. Sobre os métodos utilizados no despiste da problemática, Maria Amélia Dias Martins explica como se distancia da maioria dos testes que existem: "Não fazemos contagem de palavras por determinado tempo, a nossa perspetiva é completamente diferente. Está voltada para a capacidade de interpretação."

Como professora da educação especial, não considera "prejudicial" que a leitura seja feita de forma mais devagar, mesmo que isso possa estar associado a algum grau menor de dislexia. "A criança pode ler devagar, ou até soletrar um bocado, desde que não seja excessivo e ela consiga perceber as palavras, frases, períodos, parágrafos e textos." Se assim for, a intervenção não é necessária. "Costumo dizer que só mexo quando começa a fazer mossa", acrescenta.

Enquanto as crianças são testadas, os pais respondem a um inquérito. A conjugação da informação recolhida fornece o resultado da problemática, que no final é dado a conhecer através de um parecer realizado por profissionais nas áreas da psicologia e pedagogia.

Mas a dislexia é apenas uma das muitas causas das dificuldades de aprendizagem que passam também por "situações mais simples", alerta Maria Amélia Dias Martins: "Por vezes tratam-se apenas de sintomas de forte ansiedade e nesse caso indicamos o que os pais devem fazer para dar apoio e tranquilidade à criança". Uma "terapêutica" que passa por fazer com que a criança se sinta segura em casa e mais acompanhada. "Só depois, se o problema persistir, é que se devem tomar medidas de apoio psicológico."

O rastreio decorre nas instalações da Clipêutica, na Rua do Relógio, no Porto, e tem um custo de três euros que reverte a favor da associação Acreditar.
 

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