Há mais de 300 anos, o cientista irlandês William Molyneux perguntou ao filósofo John Locke: se um cego de nascença que consegue distinguir pelo tacto as diferenças entre esferas e cubos, ao adquirir o sentido da visão conseguirá distinguir esses objectos apenas com esse sentido? Esta questão – conhecida como Problema de Molyneux – tem agora uma resposta: não.
Um grupo de investigadores do MIT - Instituto de Tecnologia de Massachusetts, conseguiu responder a essa pergunta através de uma investigação feita com crianças cegas na Índia, que começaram a ver depois de intervenção cirúrgica. As crianças não foram capazes de relacionar diferentes tipos de informação sensorial, mas aprenderam a fazê-lo rapidamente, numa questão de dias.
Os investigadores, liderados por Pawan Sinha, professor no departamento de Ciências Cognitivas do MIT, estudaram cinco crianças com idades compreendidas entre os 8 e os 17 anos e cegas de nascença, quatro com cataratas congénitas e uma com córnea opaca.
Construíram 20 pares de formas simples a partir de blocos e testaram as crianças 48 horas antes da cirurgia que lhes iria permitir ver pela primeira vez. As crianças não tinham tido contacto com estas formas antes e depois de ver também não foram capazes de as identificar só através da visão.
Este estudo, agora publicado na «Nature Neuroscience», decorreu no âmbito do Projecto Prakash (“luz”, em sânscrito), uma iniciativa que tem uma dupla missão: restaurar a visão a crianças com formas tratáveis de cegueira e investigar de que forma o cérebro aprende a processar a informação visual.
As causas da maioria dos casos de cegueira na Índia são a deficiência de vitamina A, cataratas, distrofias de retina ou microftalmia. Metade dos casos são tratáveis ou podem ser evitados, mas a maior parte das crianças não tem acesso a cuidados médicos, especialmente nas zonas rurais. O projecto já examinou mais de 24 mil crianças e conseguiu tratar 700.
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