domingo, 17 de novembro de 2019

A Educação Física como Agente de Inclusão

Gymnastics at the Blind School in Budapest

imagem: Ginástica na Escola de Cegos, Budapeste

■ O Aluno portador de Deficiência Visual
■ A Inclusão do Aluno portador de Deficiência Visual
■ A Educação Física como Agente de Inclusão
■ Adaptações Curriculares para Alunos portadores de Deficiência Visual
■ Importância da Educação Física no Currículo

O Aluno portador de Deficiência Visual
A visão é de todos os sentidos aquele que permite ao ser humano olhar e conhecer o meio tal como ele é. Permite tomar conhecimento da posição das pessoas, dos objetos e da nossa posição em relação aos demais.
A criança com deficiência visual congénita ou adquirida terá sérias dificuldades relacionados com a capacidade de se orientar e de se locomover com independência e segurança, para além de comprometer a aquisição e desenvolvimento de conceitos, a interação com as outras pessoas com o meio e consigo mesmo.
Como as pessoas não são autónomas e recorrem à ajuda dos outros para se moverem, o resultado pode traduzir-se em sérios problemas pessoais e sociais, assim, justifica-se uma atenção especial nesta área.
“Para os deficientes visuais os problemas mais sérios a ultrapassar assentam na trilogia: do conhecimento do espaço, na orientação do mesmo e no movimento independente” Dolores, M. (2004).
As limitações que a deficiência visual impõe às crianças, bem como uma proteção mal entendida por parte dos que a envolvem, limitam-na à exploração e conhecimento do mundo que a rodeia, passando a ter conhecimento desse mundo, exclusivamente, de forma verbal.
Martin, M. B. y Bueno S. T. (1997,p.328) dizem-nos que:
“A forma como aprendem através dos outros sentidos e do movimento é diferente da forma de aprendizagem das crianças sem esse défice e dependerá muito das pessoas que com ela convivem (família, professores, colegas…), já que são essas pessoas que a ensinarão a movimentar-se e lhe facilitarão os meios e situações propiciadores do conhecimento e exploração”.
Os autores referem ainda que o desenvolvimento destas crianças está muito determinado pela capacidade de deslocação autónoma.
Estas crianças devem ser estimuladas e motivadas quer em casa quer na escola a realizar tentativas de mobilidade, embora, seja na escola que ganham mais significado pois são orientados a conseguir destrezas que lhe permitam estabelecer relações corretas com o seu meio envolvente.
Um aspeto crucial que se deve ter em conta com a criança deficiente visual será lançar as bases para a sua independência motora logo na etapa do pré-escolar. Nesta etapa devem-se fomentar dois aspetos fundamentais: a atividade motora e a utilização eficaz e utilitária dos sentidos, através de uma correta organização de atividades encaminhadas nesse sentido.
A atividade motora e a estimulação dos outros sentidos são, sem dúvida, aspetos fundamentais que se deve ter em conta quando trabalhamos com crianças com a visão comprometida, pois, são alicerces que guiarão a criança na sua adaptação ao meio.
Fonseca S. (1978) cit. por Sousa, A. (2011,p.50) salienta a importância do desenvolvimento dos outros sentidos, dizendo:
“ As crianças cegas que perderam precocemente a sua visão formam uma perceção do mundo através apenas dos outros sentidos. Sem a perceção visual, desenvolve-se sobretudo a sua perceção auditiva, sofrendo também um grande desenvolvimento a perceção táctil-cinestésica e sendo estes dois os principais intervenientes na conjugação sensorial que lhes permite perceber e integrar-se no meio que a rodeia.”
O autor refere ainda que a audição permite à criança cega a noção de distância e de direção dos objetos, bem como as suas condições acústicas (altura, intensidade, e timbre), que lhe permitem fazer a discriminação entre os objetos sonoros, como por exemplo, distinguir vozes de pessoas. Relativamente, à perceção táctil-cinestésica, esta permite-lhe adquirir outras informações sobre os objetos, como a sua grandeza, forma, textura, peso localização, etc.
Faltando-lhe a visão é com a associação das outras sensações (incluindo o olfato e o paladar, também indicadores por vezes da presença de certos objetos) que a criança invisual organiza a sua estruturação espacial. Claro está que a criança cega apresenta outras dificuldades de desenvolvimento, por exemplo, a nível cognitivo, emocional-sentimental, social e motor.
Sousa, A. (2011, p.51) desperta-nos a ideia de que a perda de visão afetará o desenvolvimento cognitivo, dado poder haver dificuldades na integração da informação real, em virtude das reduzidas experiências de assimilação.
Fonseca (1878) cit. por Sousa, A. (2011,p.51) diz-nos que:
“Esta privação de estímulos visuais interfere na realidade do desenvolvimento mental, pois que não havendo feedback não existem padrões visuais de referência. Há, no entanto, a superação desta privação sensorial através de associações tátilo-cinestésicas e auditivas que colocam em jogo outras associações interneurossensoriais de cérebro que compensam aquelas lacunas”.
Relativamente ao desenvolvimento cognitivo Fonseca S. (1976) cit. por Sousa, A. (2011,p.51) apresenta-nos outro parecer, referindo que:
“ O desenvolvimento cognitivo da criança com graves problemas visuais é mais lento do que a criança que vê, podendo haver uma diferença de desenvolvimento entre os aspetos operatórios e figurativos do seu pensamento, bem como dificuldades na formação das imagens mentais. No seu desenvolvimento, porém, vai-se efetuando uma recuperação e ao fim de alguns anos possui um desenvolvimento cognitivo praticamente igual ao de um pessoa com visão”.
Num estudo realizado por Cromer (1973) e cit. por Sousa, A. (2011,p.50) não foram encontradas diferenças significativas na comparação das capacidades e conservação entre crianças visuais e invisuais. No entanto, refere que:
“ A pessoa que vê tem mais tendência para negligenciar as perceções auditivas, tátilo-cinestésicas e olfativas, construindo a sua imagem mental sobretudo através da visão. O cego, porém, desenvolvendo aquelas organizações percetivas, acaba por compensar, em parte, a sua falta de visão, conseguindo criar uma imagem mental do mundo dos objetos que não se afasta muito da que possui uma pessoa com a visão intacta."
Quando a visão é prejudicada, para além de algumas dificuldades que se refletem no desenvolvimento físico, neurológico e psicomotor, há repercussões a nível emocional. É na base da carência intersensorial que o portador de deficiência visual edifica a sua personalidade, caracterizada por ausência de segurança, de autonomia e de iniciativa, ingredientes emocionais específicos dos primeiros processos de maturação.
Tendo como alicerce da personalidade uma estrutura visuo-motora peculiar, o deficiente visual apresenta diversos traços caracteriais específicos, como por exemplo: falta de iniciativa, conhecimento da vida quotidiana muitas vezes em “ segunda mão”, insegurança, ansiedade, maneirismos (“blindismos”), tiques estereótipos, sincinésias, problemas de expressão facial, distúrbios emocionais, etc.
A natureza do comportamento da criança portadora de deficiência visual, para além dos aspetos acima levantados, oferece outros sinais característicos, como: a inibição natural, o isolamento, a inferioridade, a culpabilidade, a falta de independência, e de identidade, o peso da frustração interior, um “ Eu” desfalecido, um excesso de fantasmização, uma certa depressão camuflada com comportamentos de recusa e de rejeição, confusões mentais temporais e periódicas, problemas posturais, laxidão articular, e hipotonicidade.

A Inclusão do Aluno portador de Deficiência Visual
A inclusão do aluno portador de deficiência visual na escola deve ser equacionada prevendo uma educação apropriada às suas características e necessidades como nos refere o autor, Correia, Luís de Miranda (2008, p.8). O autor refere ainda que estas crianças devem ser inseridas numa moldura educativa que defenda os seus direitos e responda às suas necessidades específicas.
Coimbra, I. (2003, p.18) menciona na sua obra sobre a temática da inclusão o seguinte:
“ Considerando que a proposta de inclusão implica a perceção do portador de deficiência enquanto sujeito ativo capaz de construir o seu próprio conhecimento, tal inclusão vai requerer da escola a transformação do seu modelo, que vem sendo inspirado, basicamente nos princípios da racionalidade positivista, para uma nova conceção de educação e conhecimento, baseado na complexidade, na multirreferencialidade e na intersubjetividade das condições humanas”.
A escola tem um papel preponderante na resposta aos direitos destas crianças e deve ser uma referência na procura de soluções para combater qualquer tipo de discriminação e preconceito, que ainda possa existir aos portadores de necessidades educativas especiais.
A escola tem o dever de repensar a cada momento da história acerca do tratamento a ser dispensado ao portador de deficiência visual, no sentido da sua inclusão social. Face ao seu deficit visual o comportamento destas crianças é fortemente influenciado pelas dificuldades em orientação e mobilidade e por não se sentirem seguras em locomover-se, pois, dependem de quem as apoie. Portanto, quem lhes proporcionar um incentivo à autonomia está a responder às suas necessidades específicas.
Estas crianças necessitam que a escola, em particular, e a comunidade, em geral, lhes proporcione condições que lhes permitam maximizar o seu potencial.
A escola, enquanto promotora da inclusão para todos, deve ter como requisito central para trabalhar com o portador de deficiência visual professores qualificados.
Coimbra, I. (2003, p.13) afirma que:
” A ação docente é o principal alicerce que sustenta o processo de apropriação do conhecimento, enquanto veículo de organização do ambiente educacional, de orientação das ações dos educandos e de observação da evolução, destes últimos."
A inclusão segundo Cambell, S. (2009, p.193) torna-se viável somente quando por meio da participação em ações coletivas, os excluídos são capazes de recuperar a sua dignidade e conseguir acesso à educação, à saúde, aos serviços sociais, à cultura, ao lazer, etc.
Acompanhando o raciocínio da autora podemos dizer que face ao deficit que estas crianças enfrentam precisamos de as envolver oferecendo-lhe oportunidades de realização pessoal e social quer na comunidade local onde habita quer na escola ou noutros locais onde ela possa esgrimir seus talentos inatos. Estas crianças escondem talentos que só mais tarde são percetíveis devido ao fraco convívio que eles têm com aqueles que os rodeiam. Para isso, Campbell, S. (2009) apela que é necessário mudar a forma de ensinar, tornando mais atraentes os conteúdos a serem ministrados, não só integrando a realidade mas também transformando-a, aliando-a aos interesses dos alunos, tornando prazeroso e mais efetivo o ato educativo. Os professores deverão dar continuidade aos seus estudos, aprofundando o desenvolvimento profissional, visando estar sempre preparados para criar novas formas de estruturar o processo de ensino e aprendizagem mais direcionado às necessidades dos seus alunos.
Batista, C. (2009,p.80) acentuando a importância do professor diz-nos que:
“ …O professor em sala de aula é peça fundamental para que a ação educativa junto aos alunos com necessidades educacionais especiais tenha margem razoável de sucesso. Assim, tanto a formação inicial como a formação continuada do professor em serviço deve englobar conceitos e uma prática pedagógica que criem as condições para uma prática educativa coerente com o projeto inclusivo”.
Para ampliar os conhecimentos dos estudantes, o primeiro passo é procurar saber o que o aluno com deficiência já sabe e quais são as possibilidades que ele tem de aumentar esses conhecimentos, por isto é importante descobrir como tem sido a experiência da criança, pesquisando seu histórico escolar e trocando informações com os pais e antigos professores.
Vislumbra-se ainda hoje nas escolas a dificuldade em ajudar o aluno com necessidades educativas. Os colegas devem ter ações de sensibilização para prestar este apoio a quem dele necessite. O apoio ao colega com dificuldade nas salas de aula e a cooperação são atitudes extremamente úteis que têm sido pouco utilizadas nas escolas, sempre tão competitivas e despreocupadas com a construção de valores e de atitudes morais; esta é uma solução natural, que pode ajudar muitos alunos, desenvolvendo neles o hábito de compartilhar e saber. A autora segue dizendo que o professor deve incentivar a solidariedade e buscar na turma colegas dispostos a ajudar o deficiente nas suas necessidades, como por exemplo, oferecer o braço para guiar o cego. Campbell, S. (2009)
No seu quotidiano, deve ainda o professor organizar as aulas de forma que, quando necessário, seja possível dedicar um tempo específico para atender às necessidades específicas de quem é portador de deficiência e deixar claro aos alunos que manifestações preconceituosas contra o portador de deficiência não serão toleradas.
Poderá, ainda, segundo a autora verificar-se preconceito, percebido pelo professor, em relação aos pais, e neste caso deve-se mostrar-lhes nas reuniões o quanto a turma toda ganha com a presença de alguém portador de deficiência e procurar desfazer com informações todas as dúvidas, colaborando, dessa forma, para eliminação do preconceito.
Ninguém nasce com preconceito, e a intolerância é assimilada e fomentada pela sociedade que, muitas vezes, é resistente quando se trata de lidar com as diferenças. As crianças só repetem as atitudes dos adultos em relação às pessoas com deficiências e ao papel que estas desempenham na sociedade.

A Educação Física como agente de inclusão
A Educação Física do novo milénio deve procurar desenvolver em todos os alunos, desde o jardim de infância até ao final da escolaridade obrigatória, experiências motoras significativas ajudando a superar seus défices motores. Para que se ultrapassem estes défices motores será benéfico socorrer-se a dois pilares básicos utilizados na psicomotricidade. Segundo, Fonseca, V. (2001) estes dois pilares são diagnóstico e intervenção.
Ao fazer-se um diagnóstico de todas as crianças que entram num determinado estádio e, se porventura, detetarmos que a criança está aquém do que é exigido a intervenção deve ser logo feita para procurar atenuar ou corrigir esse défice.Estes pilares referidos devem utilizar-se sempre que a criança entre noutro estádio de desenvolvimento.
Foi Piaget, J. (1983) que falou sobre os estádios de desenvolvimento ao abordar o crescimento da criança, referindo que:
“ Cada estádio é definido por diferentes formas do pensamento. A criança deve atravessar cada estádio segundo uma sequência regular, ou seja, os estádios de desenvolvimento cognitivo são sequenciais. Se a criança não for estimulada / motivada na devida altura não conseguirá superar o atraso do seu desenvolvimento. Assim, torna-se necessário que em cada estádio a criança experiencie e tenha tempo suficiente para interiorizar a experiência antes de prosseguir para o estádio seguinte”.
A evolução da criança cega está sujeita às mesmas leis que a evolução das outras crianças que veem. As dificuldades manifestam-se na maioria dos casos por um desfasamento na idade de aparição de certas condutas e pela forma como se produz a evolução e não pela impossibilidade total de aquisição.
Ochaíta, 1984 cit por Aragón, Mónica, (p.156) afirma que:
“As diferenças evolutivas frequentemente provocam um atraso entre dois e quatro anos nas crianças com deficiência visual relativamente às crianças que veem, embora, essas diferenças fiquem equiparadas entre os doze e os quinze anos”.
Para González, E. (1990), a maioria das dificuldades das crianças com deficiência visual radica na ausência da imitação visual e nas carências estimuladoras. A criança com deficiência visual pode desenvolver-se como qualquer aluno que vê embora siga caminhos diferentes na conquista do seu desenvolvimento.
As crianças portadoras de deficiência visual, segundo a autora Aragón, M. (2006), ficam diminuídas nas suas possibilidades de movimento o que as limita para o conhecimento do meio e, assim, as torna mais dependentes que as outras crianças. Propõe programas de estimulação psicomotora de forma a evitar e reduzir os possíveis atrasos destas crianças e assim facilitar o seu desenvolvimento psicomotor. A psicomotricidade dirigida propõe um programa amplo de atividades de movimento baseadas no jogo que ajudam a desenvolver seu esquema corporal, espacial e temporal. Perante a falta de visão deve potenciar-se ao máximo o resto dos sentidos estimulando as sensações cinestésicas, tácteis e auditivas.
Como refere Escribá e al., 1999, cit. por Aragón, M.(p.158):
“A cegueira origina uma série de distúrbios associados ao conhecimento e compreensão da realidade. As pessoas que padecem de uma deficiência visual reduzem bastante a sua atividade motriz o que implica o empobrecimento do desenvolvimento psicomotor”.
A prática psicomotora com estas crianças é necessária especialmente nas idades compreendidas entre os quatro e os seis anos. Em primeiro lugar as experiências de movimento são insubstituíveis para alcançar o resto das aprendizagens e em segundo porque a criança com deficiência visual depende do seu próprio corpo na capacidade de orientação, agilidade, coordenação de movimentos e equilíbrio para ter autonomia própria. (Martinez, 2004)
O profissional de Educação Física deve aplicar os seus ensinamentos respeitando o desenvolvimento motor.
Para Melhem, A. (2009):  O Desenvolvimento motor é a contínua alteração no comportamento ao longo da vida, realizado pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do individuo e as condições do ambiente.
Os alunos portadores de deficiência visual como todas as outras crianças necessitam, igualmente, de ultrapassar os seus handicaps.
Como nos diz Conde (1981), a discrepância no desenvolvimento geral da criança cega é mais acentuada na área motora, em função das privações de experiências motoras dessas crianças. A criança cega apresenta dificuldades no equilíbrio, no esquema corporal, locomoção, coordenação motora, postura defeituosa, falta de expressão facial e corporal, lateralidade, falta de resistência tônus muscular inadequado e falta de autoiniciativa para ação motora. Na área sócio-afetiva, há a presença do medo e insegurança em ambientes desconhecidos, proporcionando em alguns casos o isolamento social.
Gonzalez, E. (2007) dá-nos a sua opinião sobre a relação entre a criança portadora de deficiência visual e a criança que nasce com visão. Diz-nos que o desenvolvimento sensório-motor é mais rápido quando existe uma estreita relação entre visão e movimento. Acrescenta que nos primeiros meses de vida, não aparecem diferenças entre as crianças com visão e sem visão, mas, que posteriormente começam a existir desigualdades, pois a criança que não pode ver não costuma gatinhar e isso implica um atraso no seu caminhar. A falta de manejo das suas mãos implicará, igualmente, que a motricidade fina sofrerá um atraso. Outro dos problemas apontados que aparece nestas crianças é a estereotipia que consiste em condutas de balanço corporal e de cabeça, sacudidas violentas e esfregão dos olhos que segundo Herranz e Rodríguez de la Rubia (1989) se devem ao facto de a criança não receber informação visual e com esses comportamentos tentar compensar a falta de estímulos pessoais.
Os atrasos no desenvolvimento motor devem-se fundamentalmente, segundo González à falta de estimulação visual e às vezes, auditiva e táctil.
Nas crianças com incapacidade visual a orientação e a mobilidade são aspetos evolutivos que devemos considerar, embora estejam relacionados com o desenvolvimento motor.
O conceito “orientação é entendido pelo autor como o processo mediante o qual se estabelecem relações com os objetos de um espaço determinado”. Por “mobilidade entende que é a capacidade de mover-se no espaço."
A disciplina de educação física é um agente que poderá desempenhar não só esse aperfeiçoamento na área motora como pode potenciar outros benefícios através da prática de educação física. Mas para que isto aconteça o professor deve saber aplicar uma metodologia adequada ao grupo de alunos que constituem a turma.
Vinãspre, P. (2002, p.18) fala-nos da necessidade didática especial das atividades físico – desportivas que têm como objetivo a aquisição de competências profissionais que permitam utilizar as ações motrizes e o desporto como meio de desenvolvimento e educação. Esta especialidade didática procura, como refere o autor, dar resposta à seguinte pergunta: Como ensinar a educação física?
Assim, os principais aspetos referidos pelo autor que devem ser tidos em conta em função da pergunta e que justificam a necessidade de estabelecer uma didática específica são os seguintes:
  • conhecimentos próprios sobre ensino, programação e avaliação das aprendizagens;
  • a natureza das atividades;
  • o conjunto de estilos de ensino que o professor pode adaptar;
  • o caráter lúdico e experimental das ditas atividades;
  • as múltiplas relações interpessoais que se geram;
  • a complexidade da organização e controlo da aula
  • e a utilização de grande quantidade de recursos e materiais didáticos.
Saber gerir todos estes conhecimentos é importante mas crucial será também fazer uma avaliação das práticas.
Idem, p.38 sobre o conceito de avaliação refere que: “A avaliação é o conjunto de práticas que servem ao professor de educação física para determinar o grau de progresso atingido e para poder ajustar, deste modo, a intervenção didática às características dos alunos”.
O autor sublinha ainda que toda a avaliação deve recolher informação sobre três aspetos: os alunos, o processo e o professor.
Acrescenta que o objetivo da avaliação é informar e orientar sobre o ritmo da aprendizagem de cada aluno mediante a valorização dos objetivos atingidos e até que ponto o foram.
Ao desejarmos que exista inclusão nas aulas de educação física teremos que pensar numa forma destes alunos participarem no processo de avaliação em simultâneo com os colegas da turma.
Existe uma modalidade intitulada de goalball que é específica para os alunos portadores de deficiência visual, mas, que pode muito bem ser integrada no currículo das escolas de referência e adaptada a toda a turma e ao mesmo tempo servir para que todos sejam avaliados em simultâneo nesta modalidade. Digamos que aqui a adaptação não seria para a criança portadora de deficiência visual, mas para os seus colegas de turma. Estas crianças na realidade sentiriam a dificuldade que os alunos com deficiência visual sentem.
Assim como, uma criança que não tem habilidade para jogar a bola e é excluído devido a essa inabilidade pelos colegas que não lhe passam a bola acontece o mesmo com a criança com deficiência visual, principalmente nos jogos desportivos coletivos.
Estas crianças merecem sentir-se iguais e nada melhor que implementar nas aulas de educação física esta medida aproveitando ainda a avaliação para justificar uma adequada igualdade entre todos.
Melhem, A. (2009,p.118) referindo-se sobre a avaliação e segundo o que os parâmetros Curriculares do seu país consideram é que:
“A avaliação deve ser algo útil, tanto para o aluno como para o professor, para que ambos possam dimensionar os avanços e as dificuldades dentro do processo de ensino e de aprendizagem e torná-lo cada vez mais produtivo”.
A educação física deve permitir ao aluno portador de deficiência visual que ao praticar atividades físicas o vejam como um aluno adaptado à sociedade, uma mais valia para todos aqueles com quem partilha o dia a dia. Estes alunos podem partilhar com seus colegas suas vivências relativamente à forma como absorvem as informações nas aulas de educação física e a melhor forma de as ultrapassarem com a ajuda deles. Havendo interação entre todos existirá um ambiente favorável para que esta disciplina seja um agregador de motivações para a prática futura de atividades físicas e desportivas.
Antes de referir os benefícios que a Educação Física promove nos cidadãos com ou sem necessidades educativas especiais irei salientar uma definição da Educação Física que os alunos podem aprender nos livros da disciplina em questão. Assim, Segundo (Batista, P. e al. p.11) “Educação Física é uma disciplina que, através do movimento, contribui para o desenvolvimento do ser humano”.
“ Para Viñaspre, P. (2002) a educação física refere-se ao estudo das condutas motrizes suscetíveis de possuir conteúdo educativo; ou seja, aproveita-se o conteúdo das atividades físicas para educar. O que se procura, em resumo, é o desenvolvimento integral do indivíduo”.
Melhem, A. (2009,p,93): “A Educação física pelos seus valores, deve ser compreendida como um dos direitos fundamentais de todas as pessoas…”.
A participação nas aulas de educação física segundo este autor poderá favorecer a autonomia dos alunos para orientarem suas atividades, regulando o esforço, traçando metas, conhecendo as potencialidades e limitações e sabendo distinguir situações de trabalho corporal que podem ser prejudiciais. Aponta-nos a possibilidade de vivência de situações de socialização e de desfrutar de atividades lúdicas, sem caráter utilitário que são essenciais para a saúde e contribuem para o bem estar coletivo. Salienta, por exemplo, que a mortalidade por doenças cardiovasculares tem aumentado e que nos principais fatores de risco encontram-se a vida sedentária e o stress. É de opinião que os conhecimentos sobre o corpo, seu processo de crescimento e desenvolvimento, que são construídos concomitantemente com o desenvolvimento de práticas corporais contribuem para o cultivo de bons hábitos de alimentação, higiene e atividade corporal e para o desenvolvimento das potencialidades corporais do indivíduo e permite compreendê-los como direitos humanos fundamentais.
A formação de hábitos de autocuidado e de construção de relações interpessoais colaboram para que a dimensão da sexualidade seja integrada de maneira prazerosa e segura. Relativamente à questão do género, as aulas de educação física podem dar oportunidade para que meninos e meninas convivam, se observem, se descubram e possam aprender a ser tolerantes, a não discriminar e a compreender as diferenças, de forma a não reproduzir esteoriotipadamente relações sociais autoritárias Melhem, A. (2009)
Os conhecimentos construídos no âmbito da educação física devem possibilitar a análise crítica de valores sociais tais como padrões de beleza e saúde que se tornaram dominantes na sociedade, seu papel como instrumento de exclusão e discriminação social, e a atuação dos meios de comunicação em produzi-los, transmiti-los e impô-los. Alerta que uma discussão sobre a ética do desporto profissional, sobre a discriminação sexual e racial que existe nele, entre outras coisas, pode favorecer a consideração da estética do ponto de vista do bem estar, as posturas não consumistas, não preconceituosas, não discriminatórias e a consciência dos valores coerentes com a ética democrática.
Acentua o papel dos jogos, pois, ao interagirem com os adversários, os alunos podem desenvolver o respeito mútuo, participando de forma leal e não violenta. Ao confrontarem-se com o resultado de um jogo e com a presença de um árbitro permitem a vivencia e o desenvolvimento da capacidade de julgamento e de justiça (e de injustiça). Principalmente nos jogos, em que é fundamental que trabalhe em equipa, a solidariedade pode ser exercida e valorizada. Em relação à postura frente ao adversário podem desenvolver-se atitudes de solidariedade e dignidade, nos momentos em que, por exemplo, quem ganha é capaz de não provocar e humilhar, e quem perde pode reconhecer a vitória dos outros sem se sentir humilhado.
Mercedes, R. (2006) refere-nos que o jogo promove o desenvolvimento das capacidades físicas e motoras, assim como, é também uma prática que intromete a criança ao mundo dos valores e atitudes: o respeito pelas diferenças, pelas regras, o espírito de equipa, a cooperação e a superação. Revela-nos, ainda que o jogo é um instrumento transcendental de aprendizagem que o professor deve aproveitar como um recurso para incidir profundamente na formação integral do indivíduo.
Rodríguez, F. y al (2003). Os autores pensam que a área da educação física sempre motivante para os alunos e alunas desempenha um papel importante no desenvolvimento do currículo de temas transversais e especialmente na educação de valores, pois, através dos jogos, música, danças, dramatização e expressão corporal, as crianças alcançam de forma lúdica diversas aprendizagens e desenvolvem diversas atitudes.
A educação física no pensamento do autor é fator chave no processo de socialização da pessoa e contribui na sua qualidade vida. O conhecimento do corpo, o domínio da ação motora no espaço e o envolvimento de todos nas relações afetivas que se estabelecem ajudam nesse processo.
Turpin, J y Llorca, C. (2004, p.51) dizem-nos que os objetivos que a Educação física em geral pretende atingir são:
  • Um corpo são e equilibrado;
  • Uma atitude para a ação;
  • Valores morais, dotando a pessoa de capacidade para conseguir um equilíbrio psicobiológico e uma motivação para o exercício físico.
Vários autores enumeraram os benefícios e motivos da prática desportiva em pessoas com cegueira ou deficiência visual.
Checa, J. (2000,p.191) diz-nos que a área da educação física contribui na consecução de aspetos formativos fundamentais para o desenvolvimento do aluno(a), a saber:
  • Autonomia pessoal: para que domine o espaço que o rodeia e o movimento; terá que valer-se do desenvolvimento das suas capacidades percetivas e aprender a explorar;
  • Auto estima: facilitando ao aluno a vivência da sua própria progressão, aceitação das suas próprias limitações embora com reforço pelos seus próprios progressos. Não se pode negar que as pessoas portadoras de cegueira não possam participar na totalidade de jogos/desportos, mas também não se deve persistir nessa atitude. Deve propor-se atividades que ofereçam a oportunidade de participar em igualdade de condições e ao mesmo que os colegas que veem para que desfrutem com eles.
  • Relação social: A turma de educação física é um contexto educativo adequado para a comunicação e expressão de sentimentos. Assim, por exemplo, será muito importante ao aluno confiança e segurança. Será importante transmitir-lhe que o professor domina o espaço que não vê, que controla esse risco.
Winnick, J. (2004) referindo – se ao papel da educação física diz-nos que os alunos portadores de deficiência visual têm a mesma necessidade de se movimentar e podem obter prazer a partir do movimento. Assim a habilidade e o amor ao movimento podem ser desenvolvidos por meio de uma participação ativa na educação física. Os desportos, jogos e atividades também devem ser apresentados aos alunos portadores de deficiência visual. Devem ser enfatizadas atividades para a vida toda como corrida, ciclismo, goalball, luta, judo e natação.
Como qualquer cidadão os alunos portadores de deficiência visual necessitam de continuar a exercitar-se pela vida fora e por isso será vantajoso criar um vínculo a partir da escola para que jamais deixem de participar em atividades propostas pela escola ou pela comunidade reforçando assim a sua inclusão.
A família tem um papel importante neste vínculo, pois, ao permitir que os seus filhos participem nas atividades do desporto escolar ou noutras atividades extraescolares contribuirão sempre para a melhoria da sua condição física, autoestima, cooperação e para a sua autonomia…
Grau, M. y Prat, S. (2003) referindo-se ao desporto extra escolar que é realizado fora do horário escolar as crianças passam bastante tempo com treinadores, monitores ou animadores desportivos e em função dos objetivos,
delineados por estes técnicos e a partir do seu próprio caráter e personalidade se transmitem atitudes e valores que podem favorecer o desenvolvimento moral da criança. Na oferta desportiva devem ter-se em conta as suas limitações/potencialidades individuais e devem ir de encontro ao desejo do praticante valorizando seus progressos.
Devem conceber-se atividades educativas, lúdicas e nunca seletivas para não criar exclusão.
Linares (1994) cit. por Turpin, J. y Llorca, C. (2004) dizem-nos que o desporto para as pessoas que apresentam algum tipo de deficiência é um fator indispensável que lhes permite conseguir a readaptação física e psicológica, o domínio da sua incapacidade e a inclusão social. Portanto, a participação destas pessoas em jogos e desportos adaptados, proporciona a oportunidade de serem fisicamente aptos, serem mais ativos, aprender atividades de ócio e tempo livre e realizarem experiências positivas de índole social.
Ainda hoje, como profissionais de educação física, deparamo-nos com o que refere, Sonia, A. (2003) sobre a complexa tarefa de compatibilizar os interesses gerais da turma com o das crianças que apresentam necessidades especiais, atendendo às suas características individuais.
A maioria das pessoas podem beneficiar da prática regular da atividade física. Várias são as razões que desanimam as pessoas, por vezes, para iniciar uma atividade física. Ou alegam que já são crescidos outros que a sua condição física é demasiado fraca para a tentar recuperar, ou porque são obesos ou porque sofrem de diabetes.
A atividade física é essencial para a manutenção e melhoria da saúde e na prevenção de doenças, para todas as pessoas em qualquer idade. A atividade física contribui no prolongamento da vida melhorando sua qualidade, através de benefícios fisiológicos, psicológicos e sociais, já avaliados em investigações científicas é o que referem Vásquez, P. y Márquez, A. (2007, p.87).
  • Benefícios Psicológicos – Melhora a qualidade de vida e bem estar psicológico, aumenta o estado de ânimo, melhora o autoconceito, contribui para atingir uma saúde mental adequada, facilita no combate aos agentes causadores do stress, possibilita reduzir a ansiedade, alivia os estados de depressão e ajuda a desenvolver a inteligência.
  • Benefícios Sociais - Facilita a capacidade de socialização, ajuda a evitar condutas inadaptadas e antissociais, combate o problema da drogo dependência, pode ajudar a conservar o património cultural (desportos tradicionais), promove hábitos positivos face ao ócio.
  • Valores Educativos – Promove o desportivismo e o jogo limpo, promove o espírito de solidariedade, facilita a dimensão do respeito, Torna-nos mais responsáveis, salienta a cultura do esforço, aumenta o espírito de superação, trabalha o autocontrolo, promove a auto disciplina.
Como refere Pradillo, J. (2007,p.94) na atualidade a promoção de estilos de vida ativa não deve passar só por fazer atividade física nas aulas de educação física, mas, em realizá-la fora das aulas regulares. Um dos reptos da educação física é justamente prolongar o efeito das aprendizagens e experiências no ambiente extra-escolar e na vida da comunidade. Embora esta complexa tarefa exceda a responsabilidade docente, os professores de educação física devem fazer esforços para que esta disciplina não se converta somente ao reduto escolar e portanto deve promover-se a prática regular de atividade física.
Neste sentido é importante que a comunidade educativa seja implicada de forma a converter a escola em um centro promotor de saúde. Assim seria uma forma de promover contínuas estratégias para que haja uma maior consciência dos benefícios da atividade física e aumentar as possibilidades reais de prática, fomentando conexões com associações, clubes ou outro tipo de redes comunitárias relacionadas com a atividade física.
Pérez-Samaniego, V. cit. por Castillo, M. (2005, p.16) aponta-nos numa tabela os efeitos da atividade física, das quais enumerarei apenas os seus benefícios.
 
Principais efeitos da prática da Atividade Física na Saúde
 
EfeitosBenefícios
Físicos Melhoria do funcionamento dos diferentes sistemas do corpo;
 Prevenção e tratamento de doenças crónico - degenerativas;
 Regulação de diferentes funções do corpo (sono, apetite sexual).
Psicológicos Prevenção e tratamento de alterações psicológicas;
 Estado psicológico de bem-estar;
 Senso de competência;
 Relaxamento;
 Distração, evasão e forma de expressão das emoções;
 Meio de aumentar o autocontrolo.
Sociais Desempenho académico;
 Mobilidade social;
 Construção do caráter.

O autor refere os efeitos positivos da prática da atividade física, assim como, salienta os efeitos negativos pela falta da atividade física, fornecidos por Bouchards y Cols, 1990;1994;D´Amours,1988; Heyward, 1996; Ortega y Cols, 1992; Serra y Cols, 1996).
Efeitos positivos da Atividade Física:
Aumento do consumo de oxigénio; redução da frequência cardíaca a um consumo de O2 dado; maior eficiência do músculo cardíaco; vascularização do miocárdio melhorada; tendências favoráveis na incidência da mortalidade cardíaca; aumento dos capilares do músculo-esquelético; aumento da atividade das enzimas aeróbicos do músculo-esquelético; diminuição da produção de lactato a uma percentagem dada do consumo de oxigénio; melhor utilização dos ácidos gordos livres durante o exercício de economia de glicogénio; melhoria da resistência; aumento do metabolismo, resultando daí benefícios do ponto de vista nutricional; combate à obesidade; aumenta a massa magra; melhora a estrutura e função do sistema articular; aumenta a força muscular; aumenta a libertação de endorfinas; melhora a tolerância ao calor; neutraliza a osteoporose e pode normalizar a tolerância à glicose;
Efeitos negativos por Falta da Atividade Física:
Distúrbios reguladores do sistema cardiovascular; algumas formas graves de hipertensão; arteriosclerose; insuficiência coronária e enfarte do miocárdio; obesidade; alterações posturais com repercussões ósseas, ligamentos e musculares da coluna e algumas alterações por debilidade funcional prematura. Podemos, então, afirmar que a atividade física promove grandes benefícios para a nossa saúde.
Ao falarmos dos efeitos da atividade física na saúde faz sentido referir o seu conceito. Assim segundo a Organização Mundial da Saúde cit. por Weineck, J. (1941,p.20) saúde define-se como:“ Um estado de amplo bem estar físico, mental e social e não somente a ausência de doenças e fraquezas”.
Se o professor de educação física conseguir motivar todos os alunos nas suas aulas para a prática da atividade física e desportiva estará a contribuir, porventura, com grande êxito para que os alunos logo que terminem os estudos possam vir a ser desportistas e assim desfrutar dos inúmeros benefícios que a prática da atividade física contempla.

As adaptações curriculares para os alunos portadores de Deficiência Visual
Após a Declaração de Salamanca, iniciou-se uma verdadeira mudança nas escolas no que se refere ao atendimento das crianças com necessidades educativas especiais.
A escola inclusiva ou escola para todos facultou um melhor atendimento a muitas crianças que estavam desprovidas dele.
As escolas devem estar preparadas para receberem toda a diversidade de crianças e quando digo toda refiro-me, particularmente, aquelas crianças que não conseguem acompanhar o currículo normal, devido às suas dificuldades. Estas crianças precisam de um sistema de ensino equitativo, que potencie a igualdade de oportunidades, que os respeitem nas suas diferenças, de forma, que a exclusão não se manifeste. Para isso é necessário adaptações no currículo. No seu sentido mais amplo as adaptações curriculares são: “Estratégias metodológicas que os docentes deverão empregar como vias ou medidas específicas de atenção à diversidade no processo ensino -aprendizagem e dirigem-se aqueles alunos ou grupo de alunos, que apresentam diversos tipos de dificuldades no seu processo educativo”. (Martinez, J.1998, p.23).
Para que os alunos obtenham sucesso nas escolas será preciso que se verifiquem nestas algumas mudanças, tais como: instalações, currículo, pedagogia, organização escolar, na avaliação, entre outras.
Uma atividade física adequada traz grandes benefícios às pessoas com saúde e ainda maiores às pessoas com certas limitações.
A atividade física pode por um lado ajudar as deficiências físicas e por outro lado fazer com que estas pessoas se sintam mais seguras de si mesmas e capazes de realizar as mesmas coisas que os outros, mas com certas preocupações
Sempre que seja possível os alunos com necessidades educativas devem participar nas aulas de educação física com a maior normalidade possível e aí em cada caso devem adaptar-se, limitar ou diminuir as atividades que impliquem maior risco e aconselhar e potenciar as atividades que tragam maiores benefícios.
Na atualidade, os alunos portadores de deficiência nem sempre realizam as atividades físicas conjuntamente com os colegas não existindo a inclusão, mas, a proposta caminha para uma inclusão real de todos os alunos de forma a serem participativos e ativos nesse processo de inclusão.
Garrido, L. (1994) cit. por Martinez, J. (1998) apresenta algumas sugestões comuns e específicas para o professor de educação física relativamente aos grupos de alunos com necessidades educativas. Para todos os grupos sugere que:
  • Deve criar-se um clima adequado de aceitação e uma agradável e amistosa convivência;
  • Fundamental que eles adquiram uma perceção mais fiel possível de si mesmos e a partir deste conhecimento que elaborem uma correta representação do mundo que os rodeia;
  • É vantajoso fazer com que se aceitem como condição prévia para adquirir um equilíbrio emocional, afetivo e social adequado;
  • Convém desenvolver atitudes positivas de relaxamento pois acumulam habitualmente, maior tensão e conflito que os restantes alunos;
  • É necessário insistir para que cada aluno, dentro de seus limites consiga um maior grau de independência e autonomia possível de forma que haja uma transferência útil para a sua vida diária;
  • Apesar de existir grandes dificuldades para a intervenção plena de atividades que se proponham, com os jogos poderão conseguir-se sempre atitudes positivas como: cooperação e aceitação de normas, etc.
Relativamente às sugestões específicas o autor refere que um dos maiores problemas que estes alunos têm é a perceção, estruturação e organização do espaço, assim como dos objetos que se situam nele. Teremos que os ajudar e proporcionar-lhes que conheçam e dominem tactilmente esse espaço para que possam elaborar uma representação correta destes conceitos. Não possuem um adequado controle dinâmico do próprio corpo devido à insegurança que a falta de visão produz. Para determinados exercícios é necessário que um companheiro ou o próprio professor o guiem verbalmente ou o conduzam pela mão.
Outro dos grandes problemas é que não podem ver as formas expressivas corporais, não têm um modelo de referência e terão sérias dificuldades na hora de executar gestos da vida diária como na prática de jogos ou desportos. Será necessário treiná-los partindo da perceção táctil, a execução de gestos de maneira analítica e sequenciada e pouco a pouco passando para a execução global.
Estas crianças podem participar em mais tarefas, jogos e desportos do que em principio possa pensar-se.
Winnick, J. (2004,p.186) está de acordo com esta opinião quando refere o seguinte:
“Ao lecionar educação física a um aluno portador de deficiência visual, não se esqueça de que ele consegue fazer várias das mesmas atividades físicas que os seus colegas que veem”
No entanto, será muito importante que conheçam o espaço em que se vai desenrolar o jogo valendo-se do tato e do ouvido. Utilizar-se-ão sinais sonoros para transmitir instruções e os orientar em relação à sua própria situação e se for preciso guiá-los com a mão. Pode facilitar-se a participação do jogo utilizando bolas ou balões sonoros.
Sobre a sua própria segurança realça treiná-los para que conheçam os itinerários que costumam frequentar. Será de especial interesse trabalhar o relaxamento que contribuirá para combater a hipertrofia muscular destas crianças/jovens que desenvolvem com frequência como consequência do medo do desconhecido, dos golpes e das caídas.
Hernandéz, M. (2003) aponta-nos algumas dificuldades dos alunos portadores de deficiência visual que reforçam a linha de pensamento do autor anterior que também deveremos ter em conta e que nos dizem que estes alunos apresentam medo de falhar, do desconhecido, medo que não o guiem bem, de se desorientarem e ou de se perderem, de caírem e medo dos espaços abertos. Teremos que ter em conta estas dificuldades ou pode afetar seriamente o desejo de aprender e ou participar. Assim, existe a necessidade de superar esta insegurança aumentando a sua motivação em participar das sessões. Com estes alunos teremos de ter em atenção, várias preocupações, das quais:
Desenvolver as capacidades tácteis, cinestésicas e auditivas, como estratégia de substituição da informação visual e como meio para potenciar o desenvolvimento da motricidade e da orientação; maior informação para compensar o défice visual; prática física regular e de controlo do peso corporal; dificuldade na aquisição das habilidades motrizes básicas: deslocamentos, saltos, controlo e manuseamento de objetos; dificuldade em mostrar espontaneidade no jogo;
Para ajudar os alunos na sua inclusão, os professores de apoio têm hoje um papel preponderante a desempenhar que é diferente daquele que se praticava em turmas do ensino especial e na qual os alunos eram retirados da sala regular durante todo o tempo e para uma sala separada.
Winnick, J. (2004) apresenta alguns exemplos de sistemas de apoio de forma a oferecer educação física a alunos portadores de deficiência visual. Assim, aponta-nos vários, a saber: Os colegas tutores ou voluntários treinados para ajudar a oferecer comandos cinestésicos e auditivos para estes alunos; equipamento especializado, como bolas sonoras ou campainhas; serviço de um professor assistente, instrutor de orientação e mobilidade, fisioterapeuta ou especialista em baixa visão, caso esse profissional seja necessário para incluir um aluno portador de deficiências múltiplas (inclusive deficiência visual) na educação física.
Bautista, R. (1997) salienta que a principal tarefa consistirá em proporcionar a estes alunos o reforço pedagógico necessário para concluírem com êxito o seu processo educativo. Este trabalho poderá ser exercido dentro e /ou fora da sala de aula, diretamente com o aluno, com o professor e /ou com ambos. Destaca as seguintes funções do professor de apoio:
A elaboração de programas gerais, adaptados ao desenvolvimento individual e necessário para o correto atendimento dos alunos que o necessitem; o seguimento desses programas com cada um dos alunos; o pôr em prática aspetos concretos dos programas que requeiram uma atenção individualizada ou em pequeno grupo dentro ou fora da sala; a orientação dos professores do ensino regular responsáveis pelos alunos, no que se refere ao atendimento educativo concreto desses alunos com N. E. E; a elaboração do material didático; a colaboração com o professor – tutor nas reuniões de orientação dos pais, com vista a seguir uma participação ativa no processo educativo dos filhos.

Servir de elo e elemento coordenador entre as Equipas de Apoio do setor e da escola.
Após ter destacado as funções do professor de apoio, cabe falar do papel do professor do ensino especial. Segundo Silveira, M. (2005, p.31) pode referir-se que:
“ O professor especializado intervém como mediador de aprendizagem, promovendo atendimento grupal ou individual, utilizando recursos instrucionais de acordo com as necessidades de cada educando. Desenvolverá programas que favoreçam as funções cognitivas indispensáveis ao êxito académico dos educandos com dificuldade de aprendizagem.” Tem, igualmente, especial relevo falar de Educação Especial quando se destacam os seus atores.
(Idem, p.30) diz-nos que a Educação Especial é: “Uma modalidade de ensino que visa promover o desenvolvimento das potencialidades de pessoas com necessidades especiais, condutas típicas ou altas habilidades, e que abrange os diferentes níveis e graus do sistema de ensino. Fundamenta-se em referenciais teóricos e práticos, compatíveis com as necessidades específicas dos seus alunos”.
Toda esta massa humana que trabalha diariamente nas escolas com o propósito comum de poderem contribuir para o sucesso das aprendizagens de todas as crianças necessita que as estruturas educativas disponham dos meios para que haja contínua evolução.
As reuniões entre professores de educação física, professores de apoio, de ensino especial, professores de Braille, pais e órgãos executivos devem merecer destaque para que haja a responsabilidade de manter uma educação atualizada onde a palavra inclusão seja o elo de ligação.
Devem ser definidas e comunicadas as atividades físicas que estes alunos podem fazer nas aulas de educação física, quais as que carecem de apoio do professor de educação física do professor de apoio, quer do acompanhamento de técnicos de orientação e mobilidade de forma que estes alunos não se sintam isolados da turma.
As Adequações no Processo de Ensino e de Aprendizagem prevê medidas educativas a implementarem segundo o artigo 16.º do Decreto – Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro. Assim, estes alunos têm as seguintes medidas:
a) Apoio pedagógico personalizado: reforço das estratégias utilizadas no grupo ou turma aos níveis da organização, do espaço e das atividades; estímulo e reforço das competências e aptidões envolvidas na aprendizagem; antecipação e reforço da aprendizagem de conteúdos lecionados no seio do grupo ou da turma; reforço e desenvolvimento de competências específicas.
b) Adequações curriculares individuais: introdução de áreas curriculares específicas que não façam parte da estrutura curricular comum, nomeadamente leitura e escrita em Braille, orientação e mobilidade, treino de visão e a atividade motora adaptada, entre outras. Introdução de objetivos e conteúdos intermédios em função das competências terminais e do ciclo ou de curso, das características de aprendizagem e dificuldades específicas os alunos; Dispensas das atividades que se revelem de difícil execução em função da incapacidade do aluno.
c) Adequações no processo de matrícula: Possibilidade de a efetuar na escola adequada, independentemente do local de residência do aluno; Matrícula por disciplinas;
d) Adequações no processo de avaliação: Alteração do tipo de provas, dos instrumentos de avaliação e certificação, bem como das condições de avaliação (formas e meios de comunicação, periodicidade, duração e local).
e) Currículo Específico individual: Substituição das competências definidas para cada nível de educação e ensino; Pressupõe alterações significativas no currículo comum, podendo as mesmas traduzir-se na introdução, substituição e ou eliminação de objetivos e conteúdos, em função do nível de funcionalidade da criança ou do jovem; Inclui conteúdos conducentes à autonomia pessoal e social do aluno e dá prioridade ao desenvolvimento de atividades de cariz funcional centrados nos contextos da vida, à comunicação e à organização do processo de transição para a vida pós-escolar;
f) Tecnologias de apoio: Dispositivos facilitadores que se destinam a melhorarem a funcionalidade e a reduzir a incapacidade do aluno, permitindo o desempenho de atividades e a participação nos domínios da aprendizagem e da vida profissional e social.
O mesmo currículo - adequado ao desenvolvimento e individualizado – utilizado por todos os alunos da educação física pode ser adotado para suprir as necessidades de um aluno com deficiência visual e possibilitar a sua inclusão.
Salientamos que os currículos inadequados ao desenvolvimento como os que enfatizam os desportos competitivos e estão voltados apenas para o momento do jogo, dando preferência à “elite motora”, não podem ser adaptados facilmente de modo a incluir os alunos portadores de deficiência visual.
 
Modelo de Adequação Curricular
Disciplina: Orientação e Mobilidade

Modelo de Adequações Curriculares à Disciplina de Educação Física

Estes modelos são utilizados pelos professores de educação física e servem como guia mas devem sofrer ajustamentos sempre que haja evolução do aluno.
Neste modelo podemos verificar que as modalidades que os alunos portadores de deficiência visual praticam são: Ginástica, Atletismo, Voleibol, Basquetebol, Futebol e Dança.
Existem outras modalidades que não estão referenciadas neste modelo, mas que os alunos devem praticar, tais como, goalball, judo, atividades aquáticas entre outras.
Souza, M. (2007) enumera algumas atividades usadas pelos alunos portadores de deficiência visual.
“Há algumas atividades comumente praticadas pelos deficientes visuais como: natação, judo, musculação, dança, recreação, atletismo, futebol, futebol de salão, xadrez, além de thorball e o goalball (modalidades desportivas que foram inventadas e desenvolvidas especificamente para pessoas portadoras de necessidades visuais especiais) ”.
Seria benéfico que os nossos alunos portadores de deficiência visual praticassem outras atividades físicas ou modalidades desportivas como acontece noutros países, neste caso, no Brasil como supracitado. Para além de tomar conhecimento de outra modalidade o seu reportório motor melhorará.
Existe uma lacuna nos nossos manuais de educação física ao não se debruçarem sobre a inclusão e, neste caso, não referirem qualquer modalidade ou atividade adaptada a estes alunos. Não existe em Portugal nos manuais da disciplina qualquer jogo para alunos portadores de deficiência ou referência a qualquer modalidade adaptada.
Carece de refletir sobre este assunto, uma vez que seria uma ajuda importante para que o professor de educação física se pudesse orientar. A bibliografia existente no nosso país também é rara nesta matéria.
A evolução dos nossos alunos portadores de deficiência visual depende do que conseguirmos realizar para eles.
Todos os pequenos progressos que pudermos concretizar serão para eles várias as oportunidades que terão na sua vida para realizarem as suas ambições e ajudarem, no futuro, quem acreditou neles e por eles sofre.
A importância da Educação Física no currículo dos alunos é fundamental em vários aspetos: quer pela sua interdisciplinaridade, pelo desenvolvimento motor, importância da socialização…
Claro que pode tornar-se tão ou mais importante que as outras disciplinas consoante a preponderância dos profissionais que lidam com ela no seu quotidiano.
Rosadas, Sidney de Carvalho, cit. por Oliveira J. (2008) diz-nos que:
“A atividade física para o deficiente visual deve basear-se no processo de desenvolvimento do ser humano, tendo em vista a identificação das necessidades e potencialidades de cada individuo, respeitando sempre o espaço físico, recursos materiais e modificações das regras."
No primeiro Ciclo do Ensino Básico, a Educação Física é designada por Expressão e Educação Físico Motora. Esta constitui matéria curricular obrigatória. Como área do currículo contribui para o desenvolvimento global da criança e, em particular, na aquisição de destrezas motoras, hábitos e atitudes indispensáveis para uma vida ativa e participada.
O programa está organizado em vários blocos, possuindo cada um deles características diferenciadoras, mas na sua totalidade integram as aquisições básicas desta etapa de desenvolvimento. Ela está dividida nos seguintes blocos:
  • Bloco de Deslocamentos Equilíbrios - Este bloco refere-se a ações de transladar;
  • Perícia e Manipulações - Estes blocos apelam para o domínio de atividades com objetos portáteis e manipuláveis.
  • Jogos - Este bloco parte das aprendizagens dos jogos infantis e evolui progressivamente para jogos formais (futebol, voleibol, etc.) que são exigidos mais tarde.
  • Ginástica - O bloco de ginástica dá seguimento ao iniciado nos Deslocamentos e Equilíbrios e avança para novas habilidades gímnicas.
  • Atividades Rítmicas Expressivas - Este bloco coloca à prova a exercitação de ações/habilidades cujo objetivo está na representação (individual ou em grupo) de ideias, sentimentos, expressa numa dinâmica estruturada espácio e temporalmente em conformidade com o motivo.
  • Percursos na Natureza - Neste bloco encontrámos aprendizagens que relacionam a integração das habilidades motoras com preocupações de caráter ambiental. Os alunos têm oportunidade de exercitar as habilidades aprendidas em contexto diferente, o que estimula a descoberta e possibilita o desenvolvimento do sentido de orientação.
  • Natação - A natação é uma atividade de grande interesse pedagógico porque se trata de iniciar as aprendizagens no meio aquático e de apetrechar o aluno com um significativo equipamento motor e cultural.

Analisando os programas de Educação Física do segundo ciclo pode referir-se que nesta disciplina existem Competências por Área e Competências Comuns a todas as Áreas. Nas Competências por Área temos as Matérias nucleares e as Matérias alternativas nas quais constam:
a) Jogos – Realizam-se jogos formais…
b) Jogos desportivos coletivos - Dos jogos fazem parte o Andebol, Basquetebol, Futebol e Voleibol.
c) Ginástica - Da ginástica faz parte destrezas de Solo, Aparelhos, Rítmica e Acrobática
d) Atletismo - No Atletismo realiza Corridas, Saltos e Lançamentos;
e) Raquetas - Badmington e Ténis de Mesa
f) Combate – Luta e Judo.
g) Patinagem – Fazem parte Patinagem Artística, Hóquei e Corridas.
h) Atividades Rítmicas Expressivas – Dança;
i) Percursos na Natureza - Fazem partem Orientação, Montanhismo, Vela, Canoagem, etc.
As matérias Alternativas comportam: Corfebol, Hóquei em Campo, Râguebi, Raquetas, Tiro com Arco, Natação, Combate (Judo), Jogos Tradicionais populares (jogo do pau português), Atividades de exploração da natureza (campismo, pioneirismo, canoagem, ciclocrosse/cicloturismo, montanhismo, prancha à vela e vela.
O conteúdo de cada uma das matérias encontra-se especificado em três níveis:
  • Introdução, onde se incluem as habilidades, técnicas e conhecimentos que representam a aptidão específica ou preparação de base;
  • Elementar, nível em que discriminam os conteúdos que representam o domínio da matéria nos seus elementos principais e já com caráter mais formal, relativamente aos modelos de prática e organização da atividade referente;
  • Avançado, que estabelece os conteúdos e formas de participação nas situações típicas da atividade referente, correspondente ao nível superior que poderáser atingido no âmbito da disciplina de Educação Física.
Nas Competências Comuns a todas as Áreas os alunos devem:
  • Participar ativamente em todas as situações e procurar o êxito pessoal e do grupo;
  • Relacionando-se com cordialidade e respeito pelos seus companheiros, quer no papel de parceiros quer no de adversários.
  • Aceitando o apoio dos companheiros nos esforços de aperfeiçoamento próprio, bem como as opções do (s) outro (s)e as dificuldades reveladas por eles.
  • Cooperando nas situações de aprendizagem e de organização, escolhendo as ações favoráveis ao êxito, segurança e bom ambiente relacional, na atividade da turma.
  • Conhecer os processos fundamentais das adaptações morfológicas, funcionais e psicológicas, que lhe permitem compreender os diversos fatores da Aptidão Física;
  • Elevar o nível funcional das capacidades funcionais e coordenativas gerais básicas, particularmente da Resistência Geral e de Longa Duração; da Força Rápida; da Velocidade de Reação Simples e Complexa, de Execução, de Frequência de Movimentos e de Deslocamento; da Flexibilidade; da Força Resistente (esforços localizados) e das Destrezas Geral e Direcionada.
  • Analisar e interpretar a realização das atividades físicas selecionadas, aplicando os conhecimentos sobre:
  • Técnica/tática/regulamento e organização.
  • Conhecer e interpretar os fatores de saúde e de risco.
  • Aplicar regras de higiene e segurança.
  • Preservação dos recursos materiais.

A Educação Física enquanto área curricular no terceiro ciclo, salienta Competências por Área. Assim temos as Matérias nucleares e as Matérias alternativas nas quais constam:
a) Jogos – Realizam-se jogos formais…
b) Jogos desportivos colectivos - Dos jogos fazem parte o Andebol, Basquetebol, Futebol e Voleibol.
c) Ginástica - Da ginástica faz parte destrezas de Solo, Aparelhos, Rítmica e Acrobática
d) Atletismo - No Atletismo realizam Corridas, Saltos e Lançamentos;
e) Raquetas - Badmínton e Ténis de Mesa
f) Combate – Luta e Judo.
g) Patinagem – Fazem parte Patinagem Artística, Hóquei e Corridas.
h) Atividades Rítmicas Expressivas – Dança;
i) Percursos na Natureza - Fazem partem Orientação, Montanhismo, Vela, Canoagem, etc.
As matérias Alternativas comportam: Corfebol, Hóquei em Campo, Râguebi, Raquetas, Tiro com Arco, Natação, Combate (Judo), Jogos Tradicionais populares (jogo do pau português), Atividades de exploração da natureza (campismo, pioneirismo, canoagem, ciclocrosse/cicloturismo, montanhismo, prancha à vela e vela. O conteúdo de cada uma das matérias encontra-se especificado em três níveis: Introdução, onde se incluem as habilidades, técnicas e conhecimentos que representam a aptidão específica ou preparação de base; Elementar, nível em que discriminam os conteúdos que representam o domínio da matéria nos seus elementos principais e já com caráter mais formal, relativamente aos modelos de prática e organização da atividade referente; Avançado, que estabelece os conteúdos e formas de participação nas situações típicas da atividade referente, correspondente ao nível superior que poderá ser atingido no âmbito da disciplina de Educação Física.
Nas Competências Comuns a todas as Áreas os alunos devem:
  • Participar ativamente em todas as situações e procurar o êxito pessoal e do grupo;
  • Relacionando-se com cordialidade e respeito pelos seus companheiros, quer no papel de parceiros quer no de adversários.
  • Aceitando o apoio dos companheiros nos esforços de aperfeiçoamento próprio, bem como as opções do (s) outro (s) e as dificuldades reveladas por eles.
  • Cooperando nas situações de aprendizagem e de organização, escolhendo as ações favoráveis ao êxito, segurança e bom ambiente relacional, na atividade da turma.
  • Interessando-se e apoiando os esforços dos companheiros com oportunidade, promovendo a entreajuda para favorecer o aperfeiçoamento e satisfação própria e do (s) outro (s).
  • Apresentando iniciativas e propostas pessoais de desenvolvimento da atividade individual e ou de grupo, considerando também as que são apresentadas pelos companheiros com interesse e objetividade.
  • Assumindo compromissos e responsabilidades de organização e preparação das atividades individuais e ou de grupo, cumprindo com empenho e brio as tarefas inerentes.
  • Analisar e interpretar a realização das atividades físicas selecionadas, aplicando os conhecimentos sobre:
  • Técnica/tática/regulamento e organização.
  • Conhecer e interpretar os fatores de saúde e de risco.
  • Aplicar regras de higiene e segurança.
  • Preservação dos recursos materiais.
  • Interpretar crítica e corretamente os acontecimentos na esfera da Cultura Física, compreendendo as atividades físicas e as condições da sua prática e aperfeiçoamento como elementos de elevação cultural dos praticantes e da comunidade em geral.
  • Identificar e interpretar os fenómenos da industrialização, urbanismo e poluição como fatores limitativos da Aptidão Física das populações e das possibilidades de prática das modalidades da cultura Física.
  • Elevar o nível funcional das capacidades funcionais e coordenativas gerais básicas, particularmente da Resistência Geral e de Longa Duração; da Força Rápida; da Velocidade de Reação Simples e Complexa, de Execução, de Frequência de Movimentos e de Deslocamento; da Flexibilidade; da Força Resistente (esforços localizados) e das Destrezas Geral e Direcionada.
  • Conhecer e aplicar diversos processos de elevação e manutenção da Condição Física de uma forma autónoma no seu quotidiano.
  • Conhecer e interpretar fatores de saúde e risco associados à prática das atividades físicas e aplicar regras de higiene e de segurança.
Resumindo, globalmente o percurso do currículo de educação física segundo Vinãspre (2002, p.18) está orientado da seguinte forma: durante a primeira etapa escolar entre os seis e os nove anos os objetivos da preparação desportiva limitam-se ao desenvolvimento das capacidades de coordenação dos alunos através de jogos.
Entre os dez e os doze podem começar a ensinar as técnicas de uma ou duas modalidades desportivas, ao mesmo tempo que se realizam exercícios especiais para desenvolver as capacidades requeridas por cada uma delas.No entanto a atividade competitiva limita-se ao jogo esporádico.
A partir dos 13 anos e até aos dezasseis aproximadamente a atividade competitiva já pode ser regular. É esse o momento de aperfeiçoar a prática e de aumentar progressivamente o desenvolvimento das cargas.
Perante os programas de Educação Física estabelecidos para cada nível de ensino existem competências que as crianças portadoras de deficiência visual conseguem realizar sem adaptações ou qualquer modificação. Assim, podem participar nas aulas em simultâneo com os colegas que veem. Podem, igualmente, fazerem-se pequenas adaptações sem alterar a natureza do jogo.
Conde, A (1991) refere que as modificações que não alteram a natureza do jogo são as mais aconselháveis. Sugere desportos e atividades adequadas às crianças portadoras de deficiência visual.
Em Portugal, por exemplo, face ao nosso currículo estas crianças podem realizar nas aulas em simultâneo com os colegas que veem: Natação; Atletismo; Ginástica; Judo; Goalball; Futsal; Basquetebol; Voleibol e Atividades Rítmicas Expressivas (Dança).
Todas estas atividades têm diferentes benefícios que se devem aproveitar para que a criança com deficiência visual possa desfrutar da disciplina com seus colegas aumentando assim suas experiências desportivas.
Quando penso nas crianças portadoras de deficiência visual ao lado dos seus colegas sem deficiência liderados por um professor de educação física com inexperiência, um currículo desajustado e escolas sem grandes estruturas físicas cabe romper com estas lacunas e avançarmos na criação de condições para que no dia a dia a inclusão seja uma realidade e não uma utopia.
Os profissionais da educação física deverão ter um estágio adequado com as crianças portadoras de deficiência visual que possibilite adquirirem um conjunto de experiências que os capacitem a trabalhar com eles.
Nos estágios com a população com necessidades educativas especiais necessita-se de conhecimentos sobre a deficiência em causa e neste aspeto os profissionais de educação física saem bem documentados, mas no que se refere à experiência adquirida no trabalho de inclusão numa turma de educação física existem lacunas a colmatar, pois a abordagem que se utiliza para os alunos que vêm difere daquela que se utiliza para os alunos com deficiência, uma vez que estes alunos não têm um modelo para se orientarem.
Existe todo um trabalho preparatório que é necessário explicar a todos os alunos da turma na forma como agir com estes colegas com deficiência visual, assim como, zelar pela segurança, utilização de um colega ou professor como guia ou não, dar-lhes a conhecer o espaço do jogo e se a atividade tem adaptações ou não.
Organizar uma aula dinâmica tendo em atenção se todos os alunos participam, se participam com os seus colegas portadores de deficiência visual e se estes são aceites ou rejeitados em virtude da sua inabilidade não é certamente tarefa fácil para um professor com pouca experiência.
Por experiência própria, nos jogos desportivos coletivos os alunos com fraca aptidão motora participam muito pouco no jogo uma vez que os melhores não lhes passam a bola.
O egocentrismo está muito latente nas crianças, não sabem perder e o jogo tem de estar sempre presente, portanto, as crianças com fraca habilidade acabam por desmotivar-se e o mesmo pode suceder às crianças portadoras de deficiência visual. Se o passado motor destas crianças foi pouco atrativo e se eles se desmotivam a disciplina de educação física será bastante monótona.
Winnick, J. (2004) refere que as crianças portadoras de deficiência visual têm a mesma necessidade de se movimentar e podem obter prazer a partir do movimento, assim como as outras pessoas. A habilidade e o amor ao movimento podem ser desenvolvidos por meio de uma participação ativa na educação física. Afirma, ainda, que os desportos, jogos e atividades também devem ser apresentados aos alunos portadores de deficiência visual.
Os professores de educação física, de forma pouco sensível, podem isentar-se das suas obrigações para com as crianças portadoras de deficiência visual ao segregá-los da participação nas atividades das aulas. Isto acontece quando, repetidas vezes, fazem o papel de cones humanos ou espectadores ou são dispensados da aula de educação física para irem à biblioteca.
Para que isto não aconteça o profissional de educação física deve vir bem preparado e deve atualizar-se sempre de forma a contribuir para que as aulas sejam atrativas e despertem prazer em todos os alunos.
FIM

ϟ


excerto da obra

INCLUSÃO DE ALUNOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
autor: JOSÉ MANUEL MENDES ALVES NUNES
Dissertação realizada para obtenção do Grau de Mestre em Administração e Planificação da Educação
Universidade Portucalense Infante D. Henrique
DEPARTAMENTO DE CIENCIAS DA EDUCAÇÃO E DO PATRIMÓNIO
PORTO
Setembro de 2012

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