A Fifa vai intermediar as negociações para que as transmissões áudiodescritivas possam seguir fazendo parte do dia a dia dos estádios brasileiros após a Copa do Mundo. “Muita gente passou a pensar em vir aos estádios depois que soube do projeto”, afirmou Anderson Dias, presidente da Urece, uma ONG voltada para projetos especiais para cegos e pessoas com baixa visão. Para começar, os equipamentos que está sendo usados nas transmissões no Rio, Belo Horizonte, São Paulo e Brasília vão ficar no país. “Se for para ficar trancado em uma sala, vamos doá-los às ONGs”, disse Federico Addiechi, responsável da Fifa pelo projeto.
Federico contou o quanto foi difícil fazer o projeto andar. “Conseguir uma frequência de rádio para as transmissões foi quase impossível”, lembrou, dizendo que as licenças saíram quase na última hora. “E só saíram porque era para a Copa do Mundo”, lembrou. Anderson Dias já foi atleta do futebol paraolímpico brasileiro e lembra que nunca houve vontade no país para que um projeto desse tipo fosse adiante. “Queria que o governo se interesse a levar o projeto adiante”, afirmou.
Por enquanto, só quem compra ingresso e vai ao estádio tem acesso ao serviço, mas Anderson espera que alguma rádio, no futuro, possa se interessar em tocar o projeto e fazer com que pessoas com deficiência visual possam ouvir aos jogos de futebol ou outras transmissões esportivas de suas casas. “O equipamento que a Fifa disponibiliza só permite a emissão por aqui. Para ampliar seria necessário outra autorização da Anatel, mais antenas. Vamos tentar negociar para que isso seja realidade um dia”, afirmou Federico, que vai intermediar negociações com as concessionárias do Maracanã, Mineirão, Mané Garrincha e Arena São Paulo para que isso seja possível.
A intenção da Fifa é fazer com que o projeto de narração com audiodescrição seja uma realidade também na Copa do Mundo de 2018 na Rússia. “Quando um projeto dá certo, temos que ampliá-lo e leva-lo a outros lugares”, confirmou o dirigente. Joyce Cook, da ONG europeia CAFÉ, que desenvolveu o projeto para a Fifa no Brasil e treinou os 16 voluntários que participam da narração, quer que o modelo se multiplique no país. “Queremos que os que foram treinados, se tornem treinadores de outros interessados”, disse.
Ingressos polêmicos
A Fifa disponibilizou uma cota de cerca de 700 ingressos em média para pessoas com necessidades especiais e muitos desses ingressos ainda não foram vendidos. A entidade afirma que está tentando evitar que os ingressos sejam usados por pessoas sem deficiência. “Temos critérios estabelecidos por experiências internacionais e temos mecanismos para evitar fraudes”, disse Federico Addiechi.
Uma das polêmicas ficou em torno dos ingressos para obesos, já que o Brasil tem uma grande parcela da população acima do peso e que poderia se beneficiar disso para conseguir entradas. “Seguimos as normas da Organização Mundial de Saúde que é de beneficiar a quem IMC acima de 30”, se limitou a dizer Federico. O fato é que para alguns jogos ainda restam entradas para categorias especiais e a Fifa não pensa em transformar essas entradas em ingressos para pessoas sem deficiência. “Achamos que vai vender”, disse.
Para Joyce Cook é triste que pessoas com deficiências ainda não tenham conhecimento de seus direitos. “Isso é triste. É uma Copa do Mundo e queremos que essas pessoas venham e participem”, disse. Federico Addiechi disse que é complicado saber até que ponto se pode ser rígido sem deixar de ser justo.
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