quinta-feira, 19 de junho de 2014

Conselho Nacional de Educação aponta várias falhas ao Ensino Especial

in: Público

Sem recursos, a inclusão de alunos com necessidades especiais é mera “retórica”. Formação de professores continua a ser frágil.
A actual legislação sobre educação especial “deixa desamparado um conjunto considerável de alunos e alunas que manifestam necessidades educativas especiais e para os/as quais não é possível construir respostas educativas ajustadas”, diz o Conselho Nacional de Educação (CNE) numa recomendação tornada pública nesta sexta-feira. Os conselheiros sugerem várias alterações legais e sublinham a necessidade de garantir recursos, que por vezes falham – desde o apetrechamento das escolas até à afectação de profissionais.

A pedido da Assembleia da República, o CNE debruçou-se sobre as respostas dadas aos alunos com necessidades educativas especiais – no ano lectivo de 2012/2013 havia cerca de 62 mil, dos quais quase 61 mil frequentavam escolas do ensino regular.

Das audições e análises feitas resultam algumas preocupações. O CNE diz, por exemplo, que, embora as políticas públicas neste sector adoptem “o princípio da educação inclusiva”, e até sejam objecto de reconhecimento internacional, “a atitude voluntarista do legislador não encontra respaldo” na capacidade de mobilizar recursos. Exemplos: por vezes, os estabelecimentos de ensino só têm técnicos muito depois do ano lectivo começar; há escolas de referência para alunos cegos e de baixa visão que apenas têm acesso aos manuais em Braille no final do ano lectivo; há tecnologias de apoio que só chegam aos alunos quando já não são adequadas...

Em suma: existem escolas que têm na sua população escolar alunos com necessidades especiais mas que não têm, “em tempo útil, os recursos e profissionais que permitam dar resposta apropriada” a essas crianças e jovens.

“Estas situações representam um desperdício de recursos, mas sobretudo de tempo, essencial e irrecuperável num processo de aprendizagem”, lê-se no texto do CNE. “A existência destas respostas, nomeadamente no que concerne aos meios e profissionais que servem na e com a escola, em toda a extensão do ano lectivo, é condição fundamental, sem a qual o princípio da inclusão não passa de mera retórica.”

Por isso, entre as recomendações enumeradas pelos conselheiros, está a de que é preciso clarificar e adequar os critérios de atribuição de recursos e profissionais aos estabelecimentos de ensino.

O CNE acha ainda que o Sistema Nacional de Intervenção Precoce funciona, mas que há zonas do país que não estão abrangidas, o que põe em causa a equidade. Por outro lado, há o risco de meninos com necessidades especiais “transitórias” não terem acesso a “intervenção especializada”, o que pode levar a que essas necessidades se tornem “crónicas”. O CNE entende que a legislação deve ser alterada de forma a que seja possível desenvolver “medidas educativas temporárias”, que contemplem aquelas situações.

Formação duvidosa
A qualidade da formação dos docentes de educação especial que, em anteriores pareceres, já tinha sido apontada como uma fragilidade não está a melhorar, prossegue o CNE. Os conselheiros sugerem que seja desenvolvido, “com urgência”, um plano de formação contínua.

De resto, há cursos de educação especial no mercado com qualidade duvidosa, diz-se. E as próprias motivações dos professores que escolhem esta via nem sempre serão as mais indicadas. “Em alguns casos, a apresentação a concurso em educação especial não decorre da escolha intencional de um percurso profissional, mas antes da possibilidade de obtenção de emprego ou de aproximação à residência.”

Na sua recomendação, o CNE sugere, entre outros, que “sejam desenvolvidos processos urgentes e rigorosos de regulação dos cursos de formação especializada”, que seja dada especial atenção à “qualidade científica” das formações e que se clarifique o “perfil” e as “competências” dos docentes de educação especial. Mais: é preciso definir critérios rigorosos de recrutamento. Recomenda-se ainda que se desenvolvam mecanismos legais que permitam ter professores com estabilidade nas escolas, a trabalhar com estes alunos.

Exames desadequados?As dúvidas do CNE estendem-se à forma como estes alunos são avaliados. “A existência de avaliação externa das aprendizagens” – exames – “tendo como referência os curricula e as metas de aprendizagem”, sem que estes estejam adaptados às condições especiais dos alunos do ensino especial, “poderá pôr em causa a qualidade e a equidade na possibilidade de obtenção de sucesso”.

Dúvidas são também levantadas em relação à forma como estará a decorrer a transição para a vida activa. O CNE acha que parece não estar a ser garantida uma “plena integração social e laboral depois de concluída a escolaridade obrigatória”. E diz que é preciso “repensar a certificação decorrente deste percurso escolar”.

O alargamento da escolaridade obrigatória é referido mais do que uma vez no texto do CNE – porque veio aumentar o período de permanência de alunos com necessidades especiais nas escolas, “alargando a sua frequência às escolas secundárias, as quais, na sua maioria, se debatem com dificuldades, ao nível da prática e das condições necessárias, para responder a este novo desafio”. Esta situação é ainda mais premente nas escolas profissionais, onde não existe resposta no âmbito das necessidades educativas especiais.

De acordo com a Constituição da República Portuguesa, é da responsabilidade do Estado “promover e apoiar o acesso dos cidadãos portadores de deficiência ao ensino e apoio ao ensino especial, quando necessário.”

O CNE é um órgão independente, com funções consultivas, que emite opiniões, pareceres e recomendações sobre todas as questões relativas à educação, por iniciativa própria ou em resposta a solicitações apresentadas pela Assembleia da República e pelo Governo. O seu presidente é eleito pela Assembleia da República. Actualmente, o cargo é ocupado pelo ex-ministro da Educação David Justino.

Governo apresenta resultados
Já durante esta tarde de sexta, o Ministério da Educação e Ciência e o Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social convocaram os órgãos de comunicação social para a apresentação, na quarta feira, das conclusões de um grupo de trabalho criado em Janeiro com a missão de estudar a revisão da legislação que regula a Educação Especial.

“Tendo presente a avaliação desenvolvida pelo Governo e a opinião de escolas e de outras entidades sobre os instrumentos legais e orientações existentes, tornou-se evidente a necessidade de realizar uma análise abrangente e sustentada da Educação Especial e das dimensões que implica e mobiliza, tendo também em consideração o contexto mais amplo das medidas de promoção do sucesso escolar oferecidas pelo sistema educativo”, lê-se no comunicado enviado às redacões.

O Governo recorda que foram auscultados especialistas, instituições de ensino superior, organizações representativas de professores, pais e encarregados de educação, de pessoas com deficiência, de instituições particulares e cooperativas de educação especial, dos órgãos de administração e gestão de escolas, e outras entidades com reconhecido trabalho nesta área. “Pretende-se assim um consenso o mais alargado possível em torno desta matéria”, remata o comunicado.
 

Workshop Helen Keller e a Surdocegueira Mito ou utopia na era da Tecnologia


A Associação Presença - Associação de Pessoas Surdocegas, suas Famílias e Técnicos em parceria com a SUPERA - Sociedade Portuguesa de Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade e a Fundação Portuguesa das Comunicações | Museu das Comunicações convidam-no a participar no Workshop Helen Keller e a Surdocegueira Mito ou utopia na era da Tecnologia, a ter lugar no próximo dia 28 de junho nas instalações da FPC.

Informações úteis:
Data: 28 de junho de 2014 (sábado)
Horário: das 14h30 às 18h30
Local: Fundação Portuguesa das Comunicações (Rua do Instituto Industrial, nº 16 1200-225 Lisboa)
Coordenadas do local: GPS 38.707818 | -9.150462
Inscrições para o email: associacaopresenca@gmail.com

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Governo quer separar educação especial das dificuldades de aprendizagem


in: JN


O Governo quer retirar dos apoios da educação especial todos os alunos que não apresentem deficiências permanentes, mas garantido que a escola continua a apoiar todos os alunos com dificuldades de aprendizagem.

A proposta integra as conclusões do grupo de trabalho que, ao longo dos últimos meses, teve a cargo um estudo para a revisão da legislação relativa à educação especial, e que hoje apresentou resultados numa sessão no Palácio das Laranjeiras, em Lisboa, que contou com a presença dos secretários de Estado do Ensino Básico e Secundário, João Grancho, do Ensino e da Administração Escolar, Casanova de Almeida, e da Solidariedade e da Segurança Social, Agostinho Branquinho.

As conclusões do grupo de trabalho apontam para a necessidade de alguma revisão da legislação, sobretudo ao nível da integração num único diploma dos diversos normativos dispersos, que deve, acima de tudo, clarificar conceitos, em particular no que diz respeito à separação entre necessidades educativas especiais permanentes ou temporárias ou, dito de outra forma, entre o que realmente se enquadra na educação especial e o que deve apenas ser classificado como dificuldades de aprendizagem.

"Essa distinção, à partida, da população alvo da educação especial é determinante. É necessário especificar e clarificar que públicos é que são alvos da educação especial", afirmou João Grancho, que sublinhou que as necessidades educativas especiais se transformaram numa "grande categoria" onde cabe tudo, afirmando que é preciso rever o que considerou uma "fragilidade ao nível dos conceitos".

"O que nós perguntámos é o que é que está a faltar na escola, para que estes alunos tenham a resposta de que necessitam, e não tenham mais tarde que vir a integrar a educação especial, porque as suas necessidades se tornaram permanentes, irrevogáveis e, portanto, têm de ser apoiados por técnicos altamente especializados, em contextos mais segregados, o que não é desejável", referiu Pedro Cunha, coordenador do grupo de trabalho.

A título de exemplo sobre o que podem ser consideradas dificuldades de aprendizagem, Pedro Cunha referiu a dislexia e o défice de atenção.

"Mesmo que venhamos a introduzir alguma diferenciação a este nível, as escolas deverão continuar a prestar os apoios aos alunos que precisarem", frisou o secretário de Estado.

A propósito da recomendação recente do Conselho Nacional de Educação sobre a educação especial, que apontava para falhas na prestação dos apoios a estes alunos e para desigualdades territoriais no acesso, João Grancho disse que "esse desatendimento incorre numa lógica de integrar na educação especial todo o tipo de alunos com dificuldades", o que leva a que "os recursos sejam desviados das necessidades de caráter permanente".

João Grancho declarou que "os recursos necessários" têm de ser afetados "à medida das necessidades que forem detetadas".

"Não há qualquer restrição ao investimento ou orientação no sentido de diminuir o investimento que tem vindo a ser feito", garantiu, sublinhando o crescimento que houve a este nível nos últimos dois anos letivos, e recusando a ideia de que esta seja "uma área descuidada pelo Governo.

"Temos vindo a incrementar os apoios disponibilizados e os recursos, de uma forma que é resultante da pressão que vai surgindo, deste crescimento quase descontrolado com necessidades educativas especiais, quando todos nós sabemos que um aluno que integre este quadro das necessidades educativas especiais dificilmente é retirado, e quando muitas vezes estamos a falar de dificuldades de aprendizagem", afirmou o secretário de Estado.

De acordo com a proposta do grupo de trabalho, um novo quadro normativo deverá manter o âmbito de intervenção dos serviços de educação especial, centrado no que está previsto no decreto-lei de 2008, que enquadra os apoios a estes alunos e que estabelece que os apoios especializados devem ser prestados a crianças "com alterações de caráter permanente nas estruturas e funções do corpo".

Jovem cega apresenta programa de viagens

Estreou no dia 11 de maio no canal espanhol TVE, uma série intitulada «Com mis ojos» [Com os meus olhos]. Trata-se de um programa de viagens em que Pili, uma jovem cega descobre Espanha acompanhada pelo seu cão-guia, Kenzie.
O primeiro episódio desta viagem sensorial pode ser acedido através do link:

Os cegos não são super-heróis, apenas não vêem



 
Ricardo Teixeira perdeu a visão aos 18 anos - Lusa
Ricardo Teixeira perdeu a visão aos 18 anos | Fotografia © MÁRIO CRUZ/LUSA

Ricardo perdeu a visão aos 18 anos, mas ganhou a capacidade de "observar muito do que não se vê com os olhos" e faz questão de dizer que os cegos não são super-heróis, apenas "não vêem, nada mais do que isso".
O jovem, hoje com 31 anos, ficou cego num pós-operatório de uma cirurgia que correu mal. Os primeiros tempos não foram fáceis: "Era um dia de revolta, um dia de frustração, um dia de tristeza profunda, um dia de querer desistir de tudo".
Parou de estudar, parou com tudo. "Tive um período em casa literalmente sem fazer nada, porque a força que existia era zero ou abaixo disso", conta à agência Lusa Ricardo Teixeira, autor do livro "Curva no escuro", recentemente editado.
Depois de um período de revolta interna, já que exteriormente nunca a revelou, Ricardo decidiu que era tempo de recomeçar e apostou num curso de massagem de recuperação na Associação Promotora de Emprego para Deficientes Visuais.
"Não era coisa que alguma vez tivesse pensado fazer", porque a sua formação era na área da multimédia, mas era preciso recomeçar "fosse por onde fosse".
E com "tropeções e uma frustração aqui e além", foi estudando e praticando artes marciais. "Gostei da área e nunca mais parei de estudar", disse, comentando com um sorriso rasgado: "Passei de um pós adolescente que estava em casa sem fazer nada para um tipo que estava metido em dois e três cursos ao mesmo tempo e a trabalhar em dois sítios".
Ricardo terminou os cursos de massagem de recuperação e de osteopatia e começou a estagiar na Escola Superior de Dança, onde está a trabalhar e a ajudar na recuperação das lesões dos alunos. O seu dia-a-dia é uma azáfama, sempre a correr, mas sem necessitar de bengala branca: "Baralho-me mais com ela", diz, com graça.
"Faço a minha rua a correr e não vou contra nada", uma situação que suscita a curiosidade das pessoas, que o questionam sobre como consegue correr, escrever no teclado do computador ou fazer artes marciais sem ver.
"São coisas perfeitamente normais" e dá como exemplo: "As pessoas quando vão à casa de banho durante a noite normalmente nunca acendem a luz e não batem em nada e se for preciso até se desviam do gato que está a dormir no corredor".
"O corpo vê de todas as maneiras. O cérebro fica mais atento ao sentido que está disponível. É tão simples quanto isso", explica. A perceção, a intuição, a imaginação e a sensibilidade também dão informação. "Apesar de não ser fácil", é uma questão de a ler e processá-la.
Ricardo escreveu o "Curva no escuro" para esclarecer dúvidas, desmistificar alguns assuntos e "lutar contra a noção de espetacularidade" que existe em relação a quem não vê.
O cego é "uma pessoa com as outras, apenas não vê. Não se transformou nem num super-herói, nem numa pessoa que é incapaz de fazer seja o que for", insiste.
"Eu conheço pessoas que têm um grau de visão baixa e fazem dança aérea e não são de outro planeta", sustenta, considerando que as pessoas questionam porque não estão habituadas a lidar com a situação. Para Ricardo, se o Estado criasse condições e se "tudo fosse encarado como sendo normal", as pessoas deixariam de encarar os cegos como sendo especiais ou diferentes, passando a vê-los de "forma normal e igual".
Mas não é isso que acontece: "A situação já tem o peso que tem, não precisa de um nível de dramatismo acrescido de uma espetacularidade. É encarar as situações com realismo, como elas são".

Novo implante biodegradável pode auxiliar no combate à perda de visão de portadores de diabetes


Um novo implante biodegradável chegou ao Brasil recentemente; ele tem como principal função fazer a liberação de um medicamento, no interior dos olhos, de maneira gradativa; a função pode ser utilizada por um período que chega a seis meses; esse novo implante pode auxiliar no combate a perda de visão de pessoas que tem diabetes.

O medicamento contido no implante é a dexametasona que é um anti-inflamatório que é da mesma classe dos corticosteroides, este tem a capacidade de agir contra o edema macular que é a acumulação de liquido na mácula, que é a parte do centro da retina ocular, que fica localizada na parte posterior do olho.

Para pessoas com diabetes o edema macular representa uma complicação grave e pode levar à perda total da visão, esse edema é mais comum dentre os pacientes que não tem a glicemia controlada, a variação dos níveis de açúcar no sangue causam inflamações nos vasos sanguíneos, isso pode levar o líquido a vazar para a parte de fora dos vasos.

De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, somente no Brasil existem atualmente 6 milhões de pessoas que possuem baixa visão e 585 mil pessoas cegas, a diabetes é a principal causa de cegueira entre pessoas adultas com idades que variam de 20 até 65 anos.

Atualmente o tratamento para pessoas que possuem o edema macular é realizado com injeções que são dadas a cada dois meses e também com laser, mas de acordo com especialistas esses medicamentos que compõem o tratamento não são tão eficazes quanto a dexametasona, segundo o oftalmologista Paulo Augusto Mello a dexametasona não tem sua utilização nas injeções porque a ação do medicamento é muito rápida e com isso seria necessário que o paciente tomasse mais doses da injeção.

Segundo o oftalmologista que também é consultor da Allergan, fabricante do implante, que tem o nome de comercialização como Ozurdex, a principal vantagem da utilização do implante é justamente o fato de esse permanecer liberando o medicamento até um período de seis meses sem que haja a necessidade de uma outra aplicação.

O implante é colocado sem a necessidade de cortes serem realizados, o paciente toma uma anestesia local e o implante é inserido por meio de uma injeção, o procedimento para colocação dura em média 30 minutos e não é necessário que o paciente remova o implante já que ele é feito de um material que é absorvido pelo organismo.

Aplicação informática promove turismo inclusivo nas Caldas da Rainha



Criada com o objetivo de "disponibilizar aos turistas percursos e informações sobre os eventos e pontos de interesse do concelho".
A Câmara das Caldas da Rainha lançou uma aplicação informática para iPhone e Android que promove o turismo inclusivo, estando já preparada para utilizadores invisuais e que até ao final do ano será complementada com linguagem gestual. A aplicação, denominada 'City Guide' (guia da cidade), foi criada com o objetivo de "disponibilizar aos turistas percursos e informações sobre os eventos e pontos de interesse do concelho", tendo, segundo o vice-presidente da câmara, Hugo Oliveira, "uma importante componente inclusiva". O 'City Guide', que pode ser descarregado gratuitamente "nos hotéis e locais com 'wi-fi', permite o acesso a um mapa interativo da cidade, que "avisa o utilizador dos pontos de interesse e disponibiliza informação sobre os mesmos", com a particularidade de a mesma poder ser lida ou ouvida, "facilitando a utilização por invisuais", explicou à Lusa o responsável pela aplicação, Pedro Manuel.

Cientistas portugueses melhoram o uso de smartphones para os cegos

in: publico

O alfabeto baseado numa malha de seis pontos, o Braille, inventado pelo francês Louis Braille em 1824, é a porta de entrada dos cegos para a literacia e o mundo do trabalho. A malha tem dois pontos horizontais por três verticais. Todas as letras do alfabeto têm uma tradução em pontos na malha do Braille. Por exemplo, o “a” é representado por um único ponto em cima do lado esquerdo. No papel, graças ao relevo, as palavras são lidas pelos dedos e escritas com máquinas próprias. Mas nos smartphones e tablets, com visores táteis, ainda se está a aperfeiçoar uma forma de os cegos os usarem. Uma equipa internacional com portugueses está a desenvolver um corretor ortográfico e um aparelho para ajudar à escrita do Braille nestes aparelhos.

“O Braille continua a ser vital para os cegos, tem um grande impacto nas suas vidas”, diz (...) Hugo Nicolau, um dos autores do projeto, a trabalhar como pós-doutorado no Instituto de Tecnologia de Rochester, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Cientistas do Departamento de Informática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) e do Instituto Superior Técnico também participaram neste trabalho, coordenado por Vicki Hanson, da Universidade de Dundee, na Escócia.

“Queremos trazer o Braille para as novas tecnologias”, diz. Segundo o investigador de 28 anos, apenas 10% das crianças cegas aprendem Braille nos EUA. Um estudo de 1998 mostrava que 77% dos cegos que não aprendem este alfabeto estão desempregados, enquanto na população que aprendeu esta percentagem é de 44%. Em Portugal, existem cerca de 130 mil cegos.

Nos smartphones há programas de voz que leem o que está nos ecrãs. Mas escrever Braille nestes aparelhos é mais complexo. Tal como as máquinas de escrever Braille, nos programas para a sua escrita usa-se o dedo indicador, o médio e anelar de cada mão. Cada um dos seis dedos funciona como um dos pontos da matriz do Braille. O toque só do dedo indicador da mão esquerda é o equivalente, na malha, ao ponto de cima do lado esquerdo, ou seja, a um “a”.

O corretor ortográfico B# desenvolvido por Hugo Nicolau e a equipa é um passo em frente em relação a um corretor normal que analisa palavras e, se a palavra não está no dicionário, corrige-a. Mas o B# tem em conta os símbolos do Braille. “A nossa solução oferece o dobro de correções acertadas”, diz Hugo Nicolau. “Um código Braille que não faça sentido, e que seria por isso descartado, pode ainda ser utilizado para encontrar acordes (combinação de dedos) que sejam parecidos [com o que foi escrito], e assim encontrar a palavra que o utilizador desejava inserir.”

O sistema consegue sugerir em 72% dos casos a palavra correta. Segundo o investigador, é difícil prever a palavra certa para 100% dos casos. Mesmo nos casos em que há apenas um erro numa das letras da palavra, as alternativas podem ser muitas. A palavra mal escrita “brla” pode ser “bela”, “bola”, “bala”, “borla” ou “burla”. “Estamos a criar modelos de linguagem representativos da língua e que possam dar com maior certeza a palavra pretendida.”

Já o objetivo do HoliBraille é completamente diferente. Este objeto funciona como uma caixa ou capa que se anexa à parte de trás do smartphone. De cada extremidade desta caixa saem três “atuadores” onde se apoiam os dedos usados na escrita de Braille e que vibram quando se escreve. A ligação entre a caixa e o telemóvel faz-se por Bluetooth. De uma forma imediata, o HoliBraille sabe quais os dedos que o telemóvel reconheceu enquanto se escreve Braille e dá essa informação ao utilizador através da vibração (ou ausência dela) de cada um dos “atuadores”.

“O problema dos ecrãs táteis é que não tem retorno tátil acerca dos elementos que estão a ser ativados. O HoliBraille permite que os utilizadores cegos sintam nos dedos qual a letra que está a ser inserida e, assim, evitar erros de escrita.”

Esta tecnologia poderá ajudar as pessoas que estão a aprender Braille. Investigadores na Universidade de Lisboa estão a criar jogos para a aprendizagem deste alfabeto. “O sistema mostra ao utilizador como escrever a letra, vibrando os dedos correspondentes. Após a letra ter sido ensinada, pede ao utilizador que a insira”, exemplifica o cientista.

Para testar estes desenvolvimentos, a equipa trabalha com a Fundação Raquel e Martin Sain (FRMS), instituição portuguesa, que faz formação de cegos. “As opiniões que nos foram dadas [pela FRMS] são essenciais para criar tecnologias úteis e usáveis”, diz Hugo Nicolau.

O HoliBraille ainda está em fase de protótipo e construí-lo custa entre 80 e 100 euros. Tanto este objeto como o B# não têm patentes. A filosofia do grupo é que as suas criações sejam abertas a todos, frisa Hugo Nicolau: “Pretendemos criar soluções que sejam aplicadas rapidamente. Estamos abertos a novas colaborações.”

Fifa vai ajudar a implantar projetos de audiodescrição

A Fifa vai intermediar as negociações para que as transmissões áudiodescritivas possam seguir fazendo parte do dia a dia dos estádios brasileiros após a Copa do Mundo. “Muita gente passou a pensar em vir aos estádios depois que soube do projeto”, afirmou Anderson Dias, presidente da Urece, uma ONG voltada para projetos especiais para cegos e pessoas com baixa visão. Para começar, os equipamentos que está sendo usados nas transmissões no Rio, Belo Horizonte, São Paulo e Brasília vão ficar no país. “Se for para ficar trancado em uma sala, vamos doá-los às ONGs”, disse Federico Addiechi, responsável da Fifa pelo projeto.
Federico contou o quanto foi difícil fazer o projeto andar. “Conseguir uma frequência de rádio para as transmissões foi quase impossível”, lembrou, dizendo que as licenças saíram quase na última hora. “E só saíram porque era para a Copa do Mundo”, lembrou. Anderson Dias já foi atleta do futebol paraolímpico brasileiro e lembra que nunca houve vontade no país para que um projeto desse tipo fosse adiante. “Queria que o governo se interesse a levar o projeto adiante”, afirmou.
Por enquanto, só quem compra ingresso e vai ao estádio tem acesso ao serviço, mas Anderson espera que alguma rádio, no futuro, possa se interessar em tocar o projeto e fazer com que pessoas com deficiência visual possam ouvir aos jogos de futebol ou outras transmissões esportivas de suas casas. “O equipamento que a Fifa disponibiliza só permite a emissão por aqui. Para ampliar seria necessário outra autorização da Anatel, mais antenas. Vamos tentar negociar para que isso seja realidade um dia”, afirmou Federico, que vai intermediar negociações com as concessionárias do MaracanãMineirão, Mané Garrincha e Arena São Paulo para que isso seja possível.

A intenção da Fifa é fazer com que o projeto de narração com audiodescrição seja uma realidade também na Copa do Mundo de 2018 na Rússia. “Quando um projeto dá certo, temos que ampliá-lo e leva-lo a outros lugares”, confirmou o dirigente. Joyce Cook, da ONG europeia CAFÉ, que desenvolveu o projeto para a Fifa no Brasil e treinou os 16 voluntários que participam da narração, quer que o modelo se multiplique no país. “Queremos que os que foram treinados, se tornem treinadores de outros interessados”, disse.
Ingressos polêmicos
A Fifa disponibilizou uma cota de cerca de 700 ingressos em média para pessoas com necessidades especiais e muitos desses ingressos ainda não foram vendidos. A entidade afirma que está tentando evitar que os ingressos sejam usados por pessoas sem deficiência. “Temos critérios estabelecidos por experiências internacionais e temos mecanismos para evitar fraudes”, disse Federico Addiechi.
Uma das polêmicas ficou em torno dos ingressos para obesos, já que o Brasil tem uma grande parcela da população acima do peso e que poderia se beneficiar disso para conseguir entradas. “Seguimos as normas da Organização Mundial de Saúde que é de beneficiar a quem IMC acima de 30”, se limitou a dizer Federico. O fato é que para alguns jogos ainda restam entradas para categorias especiais e a Fifa não pensa em transformar essas entradas em ingressos para pessoas sem deficiência. “Achamos que vai vender”, disse.
Para Joyce Cook é triste que pessoas com deficiências ainda não tenham conhecimento de seus direitos. “Isso é triste. É uma Copa do Mundo e queremos que essas pessoas venham e participem”, disse. Federico Addiechi disse que é complicado saber até que ponto se pode ser rígido sem deixar de ser justo. 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

revogação imediata da portaria 275-A/2012

Subscrever : Em defesa da inclusão de todos os alunos com necessidades educativas especiais e/ou deficiência, no sistema educativo português, exigimos a revogação imediata da portaria 275-A/2012.

petição

Relatório Educação Especial

 http://www.slideshare.net/jbarbo00/relatorio-educacao-especial

http://www.slideshare.net/jbarbo00/relatorio-educacao-especial

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Tabagismo interfere na visão e aumenta a probabilidade de doenças que causam cegueira


O tabagismo é considerado fator de risco na incidência e na evolução de uma série de problemas oculares: Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI), catarata, glaucoma, Doença de Graves (causada por distúrbios hormonais da tireoide) e doenças oclusivas venosas e arteriais.

O hábito de fumar aumenta em pelo menos duas vezes o risco de desenvolver Degeneração Macular Relacionada à Idade, que é uma das doenças que mais causam cegueira no mundo. Fumadores têm mais propensão a essa degeneração, pois o cigarro acelera a oxidação do organismo e favorece o acúmulo de substâncias nas camadas mais profundas da retina. Com a diminuição de mecanismos antioxidantes, ocorre a "intoxicação" dessa parte do olho.

Esse problema se desenvolve a partir do envelhecimento na parte da retina chamada mácula, que é diretamente ligada ao sistema nervoso central, onde a visão é processada e são definidas as formas, cores, rostos e leitura. "Toda a retina tem origem no tecido nervoso, suas células não se regeneram nem se multiplicam. Por isso, é importante preservá-las", afirma Dr. Cláudio Dalloul, especialista em retina e vítreo do D'Olhos Hospital Dia de Rio Preto.

Estudos também indicam que o tabagismo pode contribuir para o agravamento do glaucoma. O cigarro isoladamente não causa a doença, mas está associado a um maior risco de piora da patologia. O conjunto de fatores que causam má circulação sanguínea no corpo também podem prejudicar a saúde do nervo óptico, pois, assim como em outras partes do corpo, o nervo óptico recebe nutrientes e oxigênio pelo sistema vascular. “O cigarro não eleva a pressão intraocular, mas pode prejudicar a circulação do nervo óptico. Os efeitos de alterações vasculares na evolução do glaucoma têm sido tema para muitas pesquisas", disse Dr. Kássey Vasconcelos, especialista em glaucoma do D'Olhos Hospital Dia.

O fumo do cigarro também tem efeito irritativo na parte anterior do globo ocular, principalmente na conjuntiva e na córnea. Isso faz com que as pessoas idosas - que produzem menos lágrimas - sejam muito mais sensíveis e alérgicas. O cigarro também piora quadros de síndrome do olho seco, alergias oculares e promove desconforto àqueles que usam lentes de contato.


Portugal vai ter primeira escola de atletismo para pessoas com deficiência

Portugal vai ter em breve a primeira escola de atletismo para pessoas com deficiência, um projeto do atleta paralímpico Jorge Pina, que pretende dar a conhecer a realidade do desporto adaptado e captar novos talentos.

“A escola começará a funcionar em pleno em setembro, no início do ano letivo, mas vamos já começar a ir às escolas apresentar o projeto aos jovens e aos pais”, explicou Jorge Pina, em declarações à agência Lusa.
O atleta, que marcou presença nos Jogos Paralímpicos de Pequim2008 e Londres2012, referiu que o grande objetivo da escola é “dar oportunidade aos jovens com qualquer tipo de deficiência de experimentarem as várias disciplinas do atletismo e de as começarem a praticar”.
Jorge Pina considerou que este projeto é “também uma forma de rejuvenescer o desporto adaptado” e admitiu que “gostaria de abrir o leque a outras modalidades”.
O atleta, que cegou aos 28 anos numa altura em que praticava pugilismo, explicou que a escola servirá também para ajudar a formar futuros professores.
“Além de ser uma escola para pessoas com deficiência também será uma escola para futuros professores, pois temos protocolos com faculdades, para que os futuros professores tenham oportunidade de trabalhar diretamente para o terreno trabalhar com pessoas com deficiência”, disse.
Numa primeira fase a escola vai ter cerca de 70 alunos “referenciados pela Direção Regional de Educação de Lisboa (DREL)”, disse Jorge Pina, garantindo que no futuro “o objetivo é chegar a mais instituições, nomeadamente a centros de reabilitação”.
A escola de atletismo vai funcionar em três polos localizados em Lisboa – Estádio Universitário, INATEL e Pista de Atletismo Municipal Professor Moniz Pereira –, mas Jorge Pina espera “crescer e formar treinadores e técnicos noutras zonas”.
A criação da escola, uma aspiração antiga da Associação Jorge Pina, foi possível devido à parceria com a marca Rexona, que através de uma iniciativa realizada em vários ginásios colocou os portugueses a correrem.
Por cada quilómetro percorrido, nos locais aderentes, a marca doou um euro, tendo em cerca de 15 dias sido conseguidos os 50.000 euros necessários para o arranque.
“Muitos portugueses deram quilómetros para que tudo se tornasse realidade”, afirmou Jorge Pina, lembrando que a escola tem parcerias com o Instituto do Português do Desporto e Juventude e com o Instituto da Nacional para a Reabilitação.
Diário Digital/Lusa

Declaração de Salamanca: 20 anos pela educação para todos


artigo Público

Dia 7 de Junho próximo, faz vinte anos que se iniciou em Salamanca uma Conferência promovida pela UNESCO. Desta conferência saiu uma Declaração que foi subscrita por 92 países – entre os quais Portugal – e mais 25 organizações não-governamentais. Esta Declaração tem uma importância seminal no aprofundamento de uma perspetiva de “educação para todos”.
Antes de 1994, existiam já documentos internacionais que proclamavam o direito de todas as pessoas à Educação. Por exemplo, a Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH) de 1948, afirma no seu artigo 26º que “Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório (…)”. Na decorrência da DUDH muitas foram as declarações e convenções que confirmaram este direito universal à Educação. Mas então o que há de novo, de original, na Declaração de Salamanca? É, talvez, a forma como este direito deve ser concretizado. Senão vejamos:
Ainda no preâmbulo da Declaração de Salamanca se diz (e vale a pena voltar a ler):“(…) as crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas regulares, que a elas se devem adequar através duma pedagogia centrada na criança, capaz de ir ao encontro destas necessidades,(…) as escolas regulares, seguindo esta orientação inclusiva, constituem os meios mais capazes para combater as atitudes discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias ,construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos; além disso, proporcionam uma educação adequada à maioria das crianças e promovem a eficiência, numa ótima relação custo-qualidade, de todo o sistema educativo.”
Estes dois parágrafos têm um alcance ético e implicações práticas extraordinárias. Quando se afirma que as escolas regulares se devem adequar às necessidades dos alunos, está a traçar-se uma linha divisória muito clara entre uma conceção de educação que está “lá em cima” (e que os alunos têm que “escalar”) e outra conceção em que a escola não está nem em cima nem abaixo dos alunos: está ao seu lado. Está ao lado dos alunos porque os conhece, conhece o seu contexto, conhece os valores que lhe foram transmitidos até então, conhece a forma como o aluno aprende melhor, conhece a forma como ele se relaciona, enfim, conhece o tempo que ele precisa para aprender o que é necessário para ser um cidadão útil e ético. Afirmar numa Declaração Internacional que a escola tem a obrigação – sob pena do seu insucesso como instituição pública – de servir competentemente a todos os alunos, é original e, mais do que isso, é uma referência que devia ser tomada como princípio inspirador de toda a pedagogia que se pratica na escola.
No segundo parágrafo afirma-se que as escolas regulares são os meios mais eficazes de combater as atitudes discriminatórias e de criar comunidades abertas e solidárias (…).  De novo as escolas regulares são convocadas para serem aquilo que por vezes esquecem que são: escola para todos sem qualquer exceção, Escolas Públicas. É certo que existem forças, atitudes e opiniões que querem que a escola pública se esqueça daquilo que deve ser: há normas que encorajam a seleção e a segregação dentro da escola, há opiniões que barram e desencorajam que todos os alunos se possam matricular e ter sucesso na escola da sua comunidade, há professores que acham que não há qualquer alternativa a cumprir o “sacrossanto” currículo (e “daquela” forma), há pais que desconfiam das escolas que são frequentados por alunos pobres ou com deficiências, etc. etc.   
Mas Salamanca aqui está. Vinte anos depois a dizer, a proclamar e a apontar o caminho que é preciso fazer e trilhar para se construírem sociedades abertas e solidárias. E avança com os meios que são necessários para isso: construir antes de mais uma Educação Inclusiva.
Dia 7 de Junho uma associação de professores “Pró-Inclusão” e uma associação de Pais “Pais em Rede” vão realizar às 10h00 no auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian uma sessão comemorativa da Declaração de Salamanca. Uma sessão aberta e inclusiva.
E gostava de deixar aqui uma sugestão a todas as escolas e em particular aos colegas que têm responsabilidade na sua gestão: afixem na entrada da escola um cartaz grande, bonito e bem visível que diga: “O compromisso desta escola é educar os nossos alunos o melhor que todos sejamos capazes”.
Foi isto que nos ensinou a Declaração de Salamanca que esta semana faz vinte anos.
Professor Universitário, Presidente da Pró- Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial