sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Apoios à Educação Especial da Fundação Gulbenkian



As candidaturas ao Concurso da Fundação Calouste Gulbenkian - Educação Especial 2016 estão abertas entre 1 de fevereiro e 4 de Março 2016.
Podem candidatar-se instituições públicas ou privadas, individualmente ou em associação, que apresentem a Concurso atividades e ações que promovam a educação, no âmbito da intervenção precoce, reabilitação e integração escolar e social de crianças e jovens com necessidades educativas especiais.
As candidaturas devem contemplar, especialmente, as seguintes iniciativas:
  • Ações de formação para professores, educadores e outros profissionais ligados à educação;
  • Ações de formação para pais e encarregados de educação de crianças e jovens com necessidades educativas especiais, promovidas por Associações de Pais, ou outras instituições, preferencialmente ligadas a instituições de ensino.
  • Aquisição de equipamentos para melhoria da qualidade do atendimento e da aprendizagem do público-alvo.
Estes projetos devem identificar, projetar e desenvolver experiências concretas, que permitam criar condições para uma efetiva melhoria da qualidade das aprendizagens destas crianças e jovens.

Consulte o Regulamento, o Anexo ao Formulário de Candidatura e submeta a sua Candidatura on-line.

fonte: INR

Visita aos bastidores da Culturgest para cegos e amblíopes


destaque

A Culturgest realiza, no dia 5 de março, uma visita aos bastidores do grande auditório destinada a cegos e amblíopes.
Neste percurso os visitantes vão descobrir (através da audição, tato, olfato e temperatura) o fosso de orquestra e os camarins do Auditório, aprender como se fazem as mudanças de cenário e os efeitos de luz e conhecer as histórias vividas pelos técnicos que diariamente trabalham nestes espaços.
  • Esta visita tem a duração de 1 hora e terá 2 sessões: às 15h e às 17h30.
  • Os ingressos têm umo valor de 5€, para o público em geral, e de 2,5€ para menores de 30 anos, maiores de 65, desempregados e sócios da ACAPO.
  • Os acompanhantes não pagam.

É obrigatória inscrição prévia para  culturgest.bilheteira@cgd.pt .

Com varas ou à mão, cegos experimentam a apanha da azeitona no Douro

fonte: LUSA | Sapo

 
Com varas ou à mão, cegos experimentam a apanha da azeitona no Douro
Uns trocaram as bengalas pelas varas, mais pequenas ou maiores, e bateram na oliveira para deitar a azeitona para a lona estendida no chão. Outros optaram por tirar o fruto diretamente dos ramos e ainda houve quem se tenha ajoelhado para apanhar a azeitona da lona, separando-a das folhas, para meter dentro dos baldes.

"É uma experiência espetacular, nova. Nunca tinha vindo à apanha da azeitona, nem sabia como era feita. Mesmo não vendo está a ser excelente", afirmou à agência Lusa Jaime Oliveira, que foi de Vila Nova de Gaia para o planalto de Favaios, no concelho de Alijó, distrito de Vila Real.

A Quinta da Avessada abriu as portas no sábado para um grupo de meia centena de cegos e amblíopes para a apanha da azeitona, mas já em setembro alguns deles aqui tinham estado para vindimar.

"Já fizemos cá a apanha da uva e era muito mais simples porque nós, com o tato, conseguimos sentir onde estavam as uvas e os cachos. Aqui é um pouco mais difícil. Com a vara não conseguimos saber onde estamos a bater, a perceção é um pouco diferente. Conseguimos saber que estamos a bater na árvore, mas especificamente na azeitona não sabemos", explicou Jaime Oliveira, que há sete anos perdeu grande parte da sua visão.

Mais fácil foi, continuou, "ripar a azeitona porque se sente a diferença entre a folha e a azeitona": "Mesmo sendo ela pequenina, nós temos a sensibilidade na mão, onde está a azeitona".

Este foi também um presente de aniversário para este "novo agricultor do Douro", que fez 55 anos durante a atividade promovida pela delegação do Porto da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO).

O ambiente foi de festa no olival, com música de acordeão e de bombo à mistura e, entre gargalhadas, alguns gritavam "cuidado com as cabeças".

"Estive a varejar com o pau. Estive a apanhar a azeitona, a ripar, tenho as mãos cheias da gordura do azeite, mas estou muito contente", salientou Maria do Céu Francisco, 57 anos e residente em Santo Tirso.

E à pergunta sobre o que sentiu, esta "trabalhadora" respondeu: "liberdade".

"Liberdade porque quando a gente pega em qualquer coisa está sempre com medo de dar em alguém e aqui a gente dava, dava e sentimo-nos à vontade. Só tinha de ter cuidado para não acertar na cabeça de ninguém, mas não acertei, por acaso, muitas vezes o pau dos outros é que dava no meu", contou.

Para Maria do Céu, este é um "trabalho muito duro" e, por isso, "realmente o azeite merece o valor que tem".

Os namorados José Rodrigues, 41 anos, e Carla Vieira, 29, lideraram o grupo no caminho para o olival, com a vara às costas e sempre a dançar. Trabalharam com entusiasmo e José fez questão de ensinar a Carla o que fazer, já que esta não foi a primeira vez que apanhou azeitona.

"Foi rever uma experiência. Estive a varejar, a escolher a azeitona porque não pode ir com folhas, tem que ir tudo separado, e a pôr dentro do cesto", referiu.

Paula Costa, 49 anos e presidente da delegação do Porto da ACAPO, salientou que o grupo gostou da experiência e explicou que "muitos nem sequer tinham a noção da oliveira, da rama, da azeitona na oliveira, do varejar a azeitona".

Estas pessoas, frisou, recusam-se a ficar em casa. "Nós somos cegos, amblíopes, mas podemos fazer tudo ou quase tudo que o normal visual faz. Mas em casa, fechados, nunca", frisou a responsável, que perdeu 95% da visão há 10 anos.

Também Jaime Oliveira fez questão de deixar a mensagem: "Só não vemos, o resto funciona tudo e com os outros sentidos conseguimos superar a incapacidade da visão".

Depois da vindima e da azeitona, o grupo vai regressar à Avessada em março para a matança do porco. Esta quinta recebe milhares de turistas durante todo o ano.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Ana Sofia Antunes: São muitas as formas de ver


fonte: SOL


Já no gabinete do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança
Social, a explicar ao BI que softwares específicos usa para
trabalhar e o que espera atingir com este mandato

Premissa: Ana Sofia Antunes é cega. Não há aqui nada de discriminatório. Ana Sofia Antunes é Secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência. Ana Sofia Antunes chamou a atenção por ser o primeiro membro de um Governo com este tipo de deficiência. Juntamente com o seu colega Carlos Miguel, teve direito a uma chamada de capa no “Correio da Manhã” que gerou pelo menos 236 queixas à Entidade Reguladora da Comunicação Social, batendo os recordes de denúncias feitas àquela entidade. Ana Sofia Antunes, 34 anos, nasceu em Lisboa mas cresceu em Vale de Milhaços, Corroios. É licenciada em Direito, uma área de que sempre gostou, pela Universidade de Lisboa. Do seu currículo fazem parte um ano de exercício de advocacia, seis de assessoria jurídica da vereação da Câmara Municipal de Lisboa, dois anos como provedora do cliente na Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento (EMEL) e outros dois como Presidente da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal. Ana Sofia Antunes será, provavelmente (ou antes expectavelmente), até ao fim da legislatura, notícia pelo exercício do seu trabalho e não pela sua deficiência. Até agora, fez 41 audiências em 33 dias úteis e tem feito cerca de uma visita por semana a uma nova instituição. A verdade é que o voyeurismo da sociedade - e nosso -, pergunta-se: como é que uma pessoa com deficiência visual pode exercer, de forma independente, um cargo como o de secretário de Estado? Como assina despachos, faz visitas oficiais, elabora propostas de projetos de lei?

Não só pode como o faz com uma graça desarmante e um profissionalismo que só quem trabalha e se prepara consegue atingir. Fica aqui fechado o parênteses da cegueira. Obviamente que o tema voltará ao texto, até porque, falar com naturalidade de qualquer tipo de deficiência, faz parte do processo de inclusão. E esse é, no fundo, o grande desafio de Ana Sofia Antunes.

Passava pouco das 9:30 quando a secretária de Estado saiu do carro para a primeira visita do dia, o centro Hípico da Paiã, em Odivelas, vinda de Vila Franca de Xira, onde reside. A chuva, que tinha caído ininterruptamente nos dias anteriores, deu tréguas e o dia estava, apesar de frio, soalheiro.

A bengala cor de rosa espreita do carro. À espera estão já o presidente da Câmara Hugo Martins, vereadores, e o presidente da Escola Profissional Agrícola D. Dinis, onde se insere o Centro Hípico. Aqui, além de funcionarem cursos técnicos relacionados com equinos, há um programa especial a funcionar: o de hipoterapia, ou seja, equitação com fins terapêuticos para crianças com problemas cognitivos ou deficiências. A maioria dos alunos sofre de autismo e de multideficiência e frequenta o ensino público neste concelho. Há mais centros de hipoterapia no país e algumas parcerias celebradas entre, por exemplo, a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa e a Sociedade Hípica Portuguesa. No entanto, este será exemplo único em que alunos do ensino especial da rede pública conseguem aceder a terapia com cavalos de forma gratuita - dado que muitos utentes provêm de famílias com baixos rendimentos, e até o transporte desde as escolas até à aula é assegurado pela Rodoviária de Lisboa.

Parece que é Ana Sofia Antunes a pôr as pessoas à vontade. Estende o braço ao presidente, cumprimenta os presentes que se aproximam e segue para o picadeiro coberto onde quatro alunos - João, Diogo, Rita e Wilson - intercalam a vez para montar um dos dois cavalos destinados a esta aula, Canela e Tebrito. “Canela? É por causa da cor?”, pergunta a secretária de Estado. Sim, confirmam as monitoras. Já o outro cavalo despertou-lhe a atenção pela meiguice com que servia de montada, e ri quando lhe contam que, num contexto sem crianças, o equino é até bastante rebelde.

“Já andou a cavalo?”, pergunta a responsável pela equipa multidisciplinar que coordena o projeto. “Já, muitas vezes”, responde. Neste momento, 62 alunos frequentam o Centro Hípico mas já chegaram a ser 70. A secretária de Estado sabe, por experiência adquirida no tempo de dirigente da ACAPO, que o contacto com animais “é muito importante para a auto estima”, além de “ter diversas vantagens para as diferentes áreas da deficiência”. No caso concreto da hipoterapia, “para as pessoas com deficiências motoras ou com condicionantes do ponto de vista da mobilidade tem essa dupla vertente: por um lado trabalha fisicamente os músculos e ajuda-as do ponto de vista da postura, por outro tem uma parte mais cognitiva e psicológica de trabalhar a auto confiança do miúdo.”

E contacto com os miúdos presentes nesta aula foi um ponto que Ana Sofia Antunes não descurou na visita, enquanto ouvia, em simultâneo, a explicação sobre o trabalho ali desenvolvido. Chamou todos os alunos pelos nomes - característica que parece ser sua - e fez questão de ver um bocadinho da aula de cada um. Sim, ver.

Sem medo do trabalho de campo

A primeira visita oficial de Ana Sofia Antunes aconteceu dia 2 de dezembro, menos de uma semana após a tomada de posse do novo Governo. Diz que “é no trabalho de campo que se descobrem as lacunas”, mas admite ter de controlar as saídas e recusar algumas pois também é necessário ficar no Ministério do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social a “coordenar trabalho a nível interno, a pensar, redigir propostas para diplomas legislativos e rever o trabalho que é feito pelos assessores”. Mas confessa o carinho especial que tem por este lado do trabalho, feito fora de portas. “Por um lado, sinto que estou em processo de aprendizagem, há muitas coisas das áreas que tutelo que tenho de conhecer melhor para poder fazer um bom trabalho”. Além da necessidade de conhecimento, há outro ponto que a Secretária de Estado considera essencial nestas visitas. “Sinto que de, forma transversal, uma coisa que vai perpassar ao longo deste mandato - e que sinto que é minha obrigação ir dando resposta na medida em que as minhas capacidades físicas me vão permitindo -, é a divulgação de realidades que a população em geral deve conhecer. Conhecer projetos da área da deficiência faz com que a população em geral comece a contactar com esta realidade com a maior naturalidade possível. Se eu puder, através da alguma visibilidade que tenho, ajudar a divulgar entidades para potenciar sinergias e multiplicar parcerias, é o ideal”.

O trabalho de uma entidade que Ana Sofia Antunes só agora conheceu mas considera “belíssimo” é o efetuado pela Casa Pia de Lisboa, instituição tutelada pela sua pasta. “As pessoas acham que enquanto secretária de Estado da Inclusão tenho trabalhado sobretudo na área da deficiência, mas tenho algumas responsabilidades acrescidas que me foram confiadas pelo ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social”. Para além da Casa Pia, a secretaria de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência assegura os trabalhos do Instituto Nacional para a Reabilitação, da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, e ainda todas as matérias da área da adoção.

Visitar e não reunir

É para o Centro de Educação e Desenvolvimento (CED) de Pina Manique (Casa Pia de Lisboa), em Belém, que a agenda prossegue. Ana Sofia Antunes já tinha reunido com a presidente da instituição, Cristina Fangueiro, mas esta foi a primeira vez que visitou o espaço. À chegada, a secretária de Estado é conduzida para uma sala onde todos se sentam à volta de uma mesa oval: “Estou aqui para visitar e não para reunir”, avisa. Pede imediatamente o computador, onde vai tirando notas. Discutem-se as formas de cativar alunos para os cursos com menos procura mas que têm uma taxa de empregabilidade altíssima, como é o caso do curso de relojoaria. “Eles são muito novos quando escolhem”, assume Cristina Fangueiro. “E todos sabemos como é a adolescência”, remata Ana Sofia Antunes.

Os cursos profissionais de ótica, relojoaria (caso único na Península Ibérica), análises laboratoriais e desporto são os escolhidos para receberem a governante. Em cada sala, Ana Sofia Antunes faz perguntas aos professores e alunos, impressiona-se com o tamanho microscópico das peças dos relógios, que segura com as mãos, ou com a quantidade de alunos presentes nos cursos de desporto. O almoço é servido no restaurante pedagógico deste CED, preparado pelos alunos da área da cozinha e bar, e servido também por alunos que estudam para empregados de mesa. “Este trabalho com a Casa Pia, com os dirigentes, com os técnicos e professores que acompanham estes jovens tem sido, para mim, uma grande descoberta”, diz ao BI. “Os cursos que a instituição tem implicam um grande investimento tecnológico que é assegurado por aquela estrutura mas que dá, efetivamente, um background profissional aqueles jovens e que permite à maioria sair dali já com colocação no mercado de trabalho, o que hoje em dia é muito difícil”. Até porque, defende, nem todos os jovens são obrigados a ir para a universidade. “Acho que a sociedade está a evoluir no sentido de perceber que cada um deve ter a oportunidade de fazer as suas escolhas e de não ser vedado no percurso escolar - formativo e profissional - que venha a fazer. Durante muito tempo estivemos completamente vocacionados para a questão do ensino superior, e ele deve ser sempre uma opção para todos aqueles que o queiram, mas precisamos também de outras respostas e ali temos excelentes exemplos podem significar inclusão no mercado de trabalho”.

Duas visitas feitas, uma audiência ainda espera a secretária de Estado no ministério. Pelo caminho, aproveita para ler documentos e preparar-se para a reunião. É já no seu gabinete na Praça de Londres que nos explica as partes mais técnicas do seu trabalho. Rodeou-se de especialistas, oriundos de áreas tão distintas como a economia, o direito, a comunicação, os fundos comunitários e a mobilidade. “Um grupo pequeno mas muito coeso”, assegura. E rodeou-se também das ferramentas que lhe permitem trabalhar de forma independente. “No meu trabalho de escritório, uso um computador normal, com duas adaptações: um software leitor de ecrã, que no fundo é uma voz sintética que funciona no computador e que me lê todo o conteúdo de texto a que acedo, seja aos documentos em word, emails e qualquer acesso à internet. E depois tenho também outro programa que me ajuda bastante que é um OCR (Optical Character Recognition), que tem a especificidade de fazer automaticamente o reconhecimento de carateres e os transforma em texto. Portanto, posso gravar esse texto no formato em que entender e lê-lo de imediato. Basta pegar num papel, numa fotocópia, num ofício que chega, digitalizá-lo e lê-lo. E, basicamente, é isso. O computador mais pequeno que trago sempre comigo já anda na minha mala há muitos anos, é uma questão de gosto pessoal. No fundo é o meu bloco de notas, é onde acedo ao email e onde vou organizando as minhas ideias e o meu dia a dia. Contudo, assinar despachos ou outros documentos é algo que já fazia anteriormente. É uma ação que se treina ao longo dos anos”, conta.

Uma pasta pioneira

A Secretária de Estado desdramatiza e diz não se sentir pioneira por estar à frente de uma pasta anteriormente inexistente. “Esta pasta não existia, de facto, no anterior Governo, embora já tenha existido anteriormente, com uma configuração diferente, enquanto secretaria de Estado da Reabilitação noutros governos. O facto de se ter extinto e os assuntos da área da deficiência terem ficado dispersos por diversas outras pastas tirou coerência em termos de tratamento sistematizado. Por isso, não sei se estou a ser justa se disser que só eu é que estou a fazer este trabalho. Ele já foi feito. Mas, de alguma forma, tenho que voltar a desbravar terreno”.

No entanto, diz ter agora a confirmação de algo que já sentia anteriormente como pessoa com deficiência.”O que notava enquanto ativista e comprovo desde que aqui estou é que aquilo que aconteceu dentro de portas deste ministério foi deixar estas temáticas da deficiência para segundo ou terceiro plano e que se tornassem, como disse o nosso ministro [Vieira da Silva], o parente pobre das políticas sociais. E isso é uma perda enorme para o nosso sistema social, nomeadamente para as pessoas com deficiência”.

Estes tempos iniciais têm sido “gratificantes” e “estimulantes”, mas Ana Sofia Antunes não se esquece de que “não estamos ainda nem com dois meses de exercício”. Por agora sente que o seu trabalho ainda gravita à volta da delineação de um plano de ação, até porque o orçamento de Estado ainda não saiu. “Estamos a pôr a estrutura de pé e definir exatamente o nível de pastas de transição, ou seja, aqueles assuntos que de alguma forma ainda mexiam”. O outro desafio será “voltar a juntar todos os assuntos aqui, e ao mesmo tempo construir um plano de ação para os próximos quatro anos. Dá mais trabalho porque é preciso voltar a juntar os pedaços daquilo que foi desmembrado, mas ao mesmo tempo também funciona como estímulo adicional porque não estamos só a fazer um trabalho de continuidade, há uma grande renovação e áreas novas em que queremos apostar”.

E Ana Sofia Antunes está bem ciente das áreas em que é necessário intervir. “Todo o meu percurso enquanto pessoa que vivenciou a realidade da deficiência neste ponto de vista da limitação visual me deu obviamente muita informação, que só mesmo quem vivencia pode ter”, pelo que, se tivesse que escolher uma área prioritária de intervenção, não tem dúvidas. “Nesta fase temos muitos planos e sonhos na cabeça e queremos conseguir concretizá-los ao máximo. Mas se tivesse que escolher uma área prioritária para aquilo que considero que é o impacto na vida das pessoas com deficiência, principalmente aquelas que ainda estão a fazer o seu processo de inclusão, diria que há que combater a exclusão social e a pobreza que lhe vem associada. E portanto é para nós uma grande prioridade conseguir criar a prestação social única”.

Curiosamente, a última reunião do dia seria o único momento diretamente ligado com a deficiência visual, com a Associação Beira Aguieira de Apoio ao Deficiente Visual. “Há aqui um projeto-diploma que tem que ser alterado, sobre a lei dos cães guia”, explica Ana Sofia Antunes. Não resistimos à deixa e perguntamos à secretária de Estado se tem um cão guia, além da bengala cor-de-rosa que sempre a acompanha. “Tenho, mas não é um cão guia. É um cão cão!”.

Todos Juntos Podemos Ler



Todos juntos podemos ler

A Rede de Bibliotecas Escolares, Plano Nacional de Leitura e a Direção de Serviços da Educação Especial e Apoios Sócioeducativos conceberam um projeto conjunto denominado Todos Juntos Podemos Ler, que tem como principal objetivo a criação de bibliotecas inclusivas, capazes de proporcionar oportunidades de leitura para todos os alunos.
Perante a crescente inclusão de alunos com necessidades educativas especiais nas escolas do ensino regular, as bibliotecas escolares veem-se, hoje, confrontadas com a imprescindibilidade de responder a uma população escolar com competências diversas e que requer, em muitas situações, meios tecnológicos diferenciados de acesso à leitura.
Criar bibliotecas escolares inclusivas, que assegurem reais oportunidades de leitura para todos os alunos, é talvez um dos maiores desafios colocados às bibliotecas, que se devem assumir como espaço de excelência para o desenvolvimento da literacia e como garante da igualdade de oportunidades quer em contexto sóciocultural, quer em situação de aprendizagem.
Na sequência da receção das candidaturas ao projeto 'Todos Juntos Podemos Ler', foram seleccionados, para o ano letivo de 2014/15, um conjunto de vinte agrupamentos.

Atletismo adaptado. Nesta escola, a meta é só o início

Atletismo adaptado. Nesta escola, a meta é só o inícioJorge Pina cegou há dez anos e desde então que faz das corridas a sua vida. Abriu a Escola de Atletismo Adaptado, a primeira do país em que crianças com limitações podem praticar todas as modalidades do atletismo.

Esta é só a segunda vez que sobe para a cadeira de atletismo e, por isso, o entrar ainda é atabalhoado. “Estás confortável?” Rafa nem precisa de responder. De capacete já posto, põe-se em posição de arranque. “Calma, não dês tudo de uma vez”, avisa Jorge Pina, numa luta para ajustar a cadeira, quando a vontade de Rafa era já ter dado duas voltas à pista do INATEL. “Tens de me ajudar aqui que eu não tenho olhos”, lembra Jorge, entre risos, e aperta com força o cinto que dá uma melhor postura ao atleta. Os gestos são tão decididos que, de facto, de vez em quando, é bom lembrar que há dez anos que Jorge deixou de ver com os olhos, passando essa função para os outros sentidos que, num conjunto aparentemente confuso, o ajudam a treinar as mais de 60 crianças que atualmente fazem parte da primeira Escola de Atletismo Adaptado do país.

Correr, saltar, lançar, saltar barreiras, treinar velocidade. Aqui nenhuma variante do atletismo fica de fora. A única diferença entre os treinos que ocupam o lado direito da pista e todos os outros que ajudam a encher o parque 1.º de Maio ao fim da tarde é que, para se juntar a esta equipa, tem de ter um handicap. “As pessoas preferem estas palavras, não é?”, pergunta Jorge, não escondendo a ironia de quem tem estatuto para tratar as limitações por tu. Pugilista profissional, há dez anos, quando cegou, trocou as luvas pelas corridas adaptadas, o que já lhe valeu a participação em dois Jogos Paraolímpicos: Pequim e Londres. “Mas estou a ficar velho, sabe? Senti necessidade de trazer gente nova para o desporto”, conta (...). Da vontade à prática tiveram de ser percorridos muitos quilómetros, literalmente. Para angariar dinheiro para criar uma escola que se quer gratuita, Jorge associou-se a uma campanha feita em ginásios de todo o país, na qual cada quilómetro percorrido nas passadeiras era convertido numa moeda de um euro. No total, foram percorridos mais de 135 500 quilómetros, “o equivalente a mais de três voltas ao mundo”, lembra o treinador, com um entusiasmo difícil de esconder.

Sou diferente? Ainda não deu a volta ao mundo, mas à pista já foram umas tantas. Jonas entrou para a escola em novembro e, segundo a mãe, Anabela, faltar não chega sequer a ser uma opção. “Já o vi correr com frio, a chover a potes, e nem assim ele desiste.” Jonas tem a doença da moda, microcefalia, mas Anabela garante que nada teve a ver com mosquitos, até porque até hoje não há uma explicação para o que aconteceu durante a gestação. “Na prática, o cérebro não dá ordens ao corpo”, explica, “e por isso deram ao meu filho apenas dois anos de vida.” Hoje, com 12, mostra que na vida as únicas barreiras são aquelas que o treinador lhe está a pôr para saltar e que o fazem abandonar a conversa em direção à pista, para algo que o estimula verdadeiramente. “O desporto faz com que o cérebro aprenda que consegue fazer alguma coisa, que consegue dar ordens ao corpo.”

Depois de ter passado pelo futebol, a natação e as artes marciais, parece que o atletismo vai funcionar para Jonas como destino final. Com uma energia que parece não se esgotar nem depois de quase uma hora de aula, não dá tempo sequer para uma pausa entre exercícios. Ainda José Santos está a retirar os pinos que pôs no chão para que fossem contornados, já Jonas pergunta: “E a seguir?” A seguir é igual, mas mais rápido. “Vocês não adormecem a correr?”, ironiza José. “Mais rápido, vá.” Jonas vai e vem, vai e vem, e só depois de cinco voltas começa a abrandar o ritmo. Finalmente sentado no relvado, diz em tom de conclusão: “Acho que estou a ficar rápido demais.”

De facto, de acordo com as contas de Anabela, foram raras as vezes que Jonas ficou para trás. Como se tivesse as memórias organizadas em forma de agenda, começa a debitar uma série de feitos: “Sorriu com cinco semanas, sentou-se aos seis meses, pôs-se de pé com dez meses, andou com 15 meses.” Com os problemas fundamentais a centrarem-se mais no intelecto, atualmente anda num quarto ano “muito adaptado” e já chegou a casa com perguntas difíceis. “O que diz uma mãe a um filho que lhe pergunta se é diferente dos outros meninos?”, pergunta, no único momento em que as lágrimas são mais fortes do que o esforço para parecer forte. “Respondi-lhe que é diferente, sim, mas não é por isso que é inferior.”

Um ano de escola

Pela escola já passaram mais de mil miúdos, mas atualmente são 60 aqueles que treinam quase diariamente. Alguns atletas já venceram provas nacionais e tiveram até medalhas de ouro nos Jogos Paraolímpicos Europeus da Juventude. “Temos campeões de tudo e mais alguma coisa. Pena que só haja um desporto em Portugal, o futebol”, lamenta José Santos, que com mais quatro treinadores completa a equipa técnica da escola. Orgulha-se de ter sido um dos impulsionadores do desporto para cegos, ainda em 1988, quando pensar em atletismo para quem não via era quase utópico. “Depois de anos em maratonas, comecei a conhecer demasiado bem as corridas e precisava de algo que me estimulasse”, conta (...). Desde 2008 que trabalha com jovens com limitações e faz questão de reforçar a palavra “trabalho” quando fala do seu dia a dia: “Imagine o que é juntar a dificuldade do desporto a uma limitação física ou mental.”

As palavras de quem tem de contornar as dificuldades dos atletas trazem de volta a microcefalia de Jonas e a espinha bífida de Rafa, muitas vezes esquecidas para quem vê a velocidade de um e a destreza do outro. Rafa aproxima-se, a mostrar timidamente as novas habilidades. É a sua segunda aula, mas já consegue girar sobre si próprio sem sequer pousar a roda da frente. “Parece que nasceu mesmo para isto”, exclama Jorge Pina, com um entusiasmo que já ninguém estranha e cujos movimentos fazem parecer que está constantemente preparado para entrar em campo. Próximo destino é o Rio de Janeiro, para os Olímpicos deste ano. “E acabar aí?” Jorge ri-se. “Na verdade, quero ir é a Tóquio em 2020. Vamos ver se tenho pernas para lá chegar”.

Fonte: Jornal I

Atenta Inquietude: DOS ALUNOS "QUE NÃO SE ENCAIXAM"

Atenta Inquietude: DOS ALUNOS "QUE NÃO SE ENCAIXAM": O Expresso deste fim-de-semana trata com alguma profundidade a questão do ensino vocacional cujo fim, nos moldes em que foi estruturado pe...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Ciclo de Conferências “Compreender para Atender na Escola Inclusiva”

O Agrupamento de Escolas Campo Aberto, Beiriz, vai acolher um Ciclo de Conferências Especial Beiriz dedicado ao tema “Compreender para Atender na Escola Inclusiva” organizado pelo grupo da Educação Especial deste agrupamento.

Serão realizadas três conferências sobre os temas: autismo, adequações curriculares e altas capacidades (sobredotação) cujas datas e informações se encontram no cartaz em anexo. A primeira será já no dia 24 de fevereiro.

Informações em http://especialbeiriz.blogspot.pt
Inscrições em https://docs.google.com

Visita aos bastidores da Culturgest para cegos e amblíopes

A Culturgest realiza, no dia 5 de março, uma visita aos bastidores do grande auditório destinada a cegos e amblíopes.

Neste percurso os visitantes vão descobrir (através da audição, tato, olfato e temperatura) o fosso de orquestra e os camarins do Auditório, aprender como se fazem as mudanças de cenário e os efeitos de luz e conhecer as histórias vividas pelos técnicos que diariamente trabalham nestes espaços.

Esta visita tem a duração de 1 hora e terá 2 sessões: às 15h e às 17h30.

Os ingressos têm umo valor de 5€, para o público em geral, e de 2,5€ para menores de 30 anos, maiores de 65, desempregados e sócios da ACAPO.


Os acompanhantes não pagam.

É obrigatória inscrição prévia para culturgest.bilheteira@cgd.pt

Fonte: INR
“ISOLearn para um Ensino Superior de Qualidade” é o nome do evento que decorre a 11 de fevereiro na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. O Workshop Nacional “Pensar a qualidade do Ensino Superior para estudantes com deficiência visual e auditiva”, e o Seminário Europeu “Por um Ensino Superior Europeu melhor e mais inclusivo para estudantes com deficiência visual e auditiva” fazem parte do Programa, que pode consultar na íntegra num dos links abaixo.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Eles puseram a tecnologia ao serviço das pessoas cegas | P3

Eles puseram a tecnologia ao serviço das pessoas cegas | P3: Em Portugal, as universidades são laboratórios de desenvolvimento de aplicações móveis que contornam os obstáculos de acessibilidade das novas tecnologias. Os ecrãs tácteis podem ter sido um revés na autonomia das pessoas cegas, mas há quem trabalhe para que quem não vê possa beneficiar de 'smartphones' e 'smartwatches'