terça-feira, 31 de março de 2015

Cegos não conseguem abrir contas em bancos, denuncia a Acapo

fonte: Público
 
Símbolo do Banco de Portugal“Para os bancos nacionais todos os cegos estão interditos", diz a Acapo. Banco de Portugal diz que está disponível para com a Acapo, ou qualquer outra associação, fazer a análise da situação e resolver eventuais problemas.
São cada vez mais as queixas de associados da Acapo — Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal “que se vêem impedidos de celebrar contratos de abertura de conta bancária e outros”. A denúncia foi feita nesta sexta-feira, pela direcção nacional da associação, num encontro com jornalistas, em Lisboa.

A associação diz mesmo que vai “recorrer aos meios judiciais que tem ao seu dispor para proteger os seus associados” contra o que considera ser uma prática discriminatória.

“Os bancos recusam que uma pessoa cega abra uma conta”, diz na Ana Sofia Antunes, presidente da direcção nacional da Acapo. Alegam que não conseguem garantir que essa pessoa tome conhecimento do conteúdo dos documentos que lhe são dados a assinar e que as pessoas cegas não sabem ler. “Mas as pessoas sabem ler e sabem escrever, só que não é com o código utilizado pelas pessoas que estão nos bancos”, prossegue.

A actuação dos bancos, pelo menos de alguns, estará relacionada, segundo Ana Sofia Antunes, com novas orientações, emitidas recentemente, do Banco de Portugal (BdP). Contactado pelo PÚBLICO o BdP faz saber através do gabinete de comunicação que "está inteiramente disponível para, em conjunto com a ACAPO e/ou com qualquer outra associação similar, analisar a situação relatada e, sendo o caso, adotar as medidas necessárias tendentes à sua eliminação".

Acrescenta contudo a seguinte nota: "No que se refere às normas regulamentares do Banco de Portugal sobre prevenção do branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo (Aviso nº 5/2013, de 18 de Dezembro) e, em particular, aos requisitos ali previstos para abertura de contas bancárias, julgamos não preverem as mesmas quaisquer procedimentos que possam inibir ou dificultar o relacionamento das instituições de crédito com as pessoas portadoras de deficiência visual."

A Acapo conta outra realidade, onde as dificuldades estão bem presentes. “As pessoas cegas sabem ler e são os bancos que não disponibilizam formas de aceder aos conteúdos, nomeadamente em formato electrónico, nem tão pouco autorizam os seus funcionários a fazer uma leitura presencial” dos documentos, diz a dirigente da Acapo.
“Os bancos exigem a presença de notário ou advogado para reconhecimento presencial de assinaturas e termo de autenticação dos documentos assinados pelas pessoas cegas, o que acarreta custos que os particulares têm de suportar.”

Nalguns casos, prossegue a Acapo, exige-se uma “assinatura a rogo” — ou seja, alguém assina pela pessoa com deficiência visual, perante notário. Isto, “mesmo quando as pessoas cegas sabem assinar”.

Na prática, diz a Acapo, aplica-se às pessoas cegas o regime de interdição previsto no Código Civil — que diz no seu artigo 138 que
“podem ser interditos do exercício dos seus direitos todos aqueles que por anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira se mostrem incapazes de governar suas pessoas e bens”. Em suma: “Para os bancos nacionais todos os cegos estão interditos.”
Para a Acapo, isto viola o direito internacional e nacional, nomeadamente a Convenção sobre os direitos das Pessoas com Deficiência e a Constituição da República Portuguesa.
 

Projecto português cria plataforma digital móvel para dar mais autonomia a cegos


fonte: Público


A plataforma pretende facilitar as actividades quotidianas (NELSON GARRIDO)

Plataforma CE4BLIND pretende ajudar à leitura de textos, ementas de restaurantes ou ao reconhecimento de embalagens alimentares.
O Inesc Tec - Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores - Tecnologia e Ciência (Inesc Tec) do Porto, juntamente com a Universidade do Texas e a Acapo — Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, está a desenvolver uma plataforma digital móvel para garantir uma maior autonomia dos invisuais nas suas actividades diárias.

A plataforma CE4BLIND pretende tirar partido dos últimos avanços tecnológicos ao nível dos dispositivos móveis e câmaras miniaturizadas, permitindo aos cegos e às pessoas com capacidade de visão reduzida mais facilidades nas actividades quotidianas.

João Barroso, investigador do Inesc Tec e responsável pelo projecto, explica que com a CE4BLIND será possível "a leitura automática de texto de livros, revistas, ementas de restaurantes ou o reconhecimento de embalagens alimentares", tudo com "recurso a técnicas de visão por computador". No projecto vão ainda ser exploradas novas formas de interpretação de dados 3D de objectos estáticos e em movimento, o que irá permitir uma melhor percepção do mundo real.

Actualmente existem diversos meios adaptados às necessidades das pessoas cegas e/ou com capacidade de visão reduzida, desde smartphones, que possibilitam o reconhecimento de objectos através de uma fotografia, a tablets com teclados braille.

A plataforma em desenvolvimento será concebida de forma a não ser necessário alterar as rotina dos invisuais, através de uma interface natural, e será usada por um grupo de utilizadores de uma forma adaptada às suas características e limitações.

No âmbito da parceria, a Universidade do Texas, em Austin, Estados Unidos, fica responsável pela ligação do projecto às empresas e pela colocação no mercado de produtos inovadores na área de apoio aos cidadãos com necessidades especiais. Já a Acapo vai disponibilizar recursos humanos para a realização de testes extensivos com a plataforma.

O projecto CE4BLIND é o mais recente na área. Em 2008 surgiu o projecto SmartVision, que fornecia ao utilizador invisual instruções para chegar a um determinado destino. Seguiu-se o Blavigator, onde se desenvolveu uma bengala electrónica que sinaliza obstáculos.

Com a revolução digital, “os dedos passaram a ser os olhos” de quem não vê

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/com-a-revolucao-digital-os-dedos-passaram-a-ser-os-olhos-de-quem-nao-ve-1690602

sexta-feira, 27 de março de 2015

As pessoas com deficiência visual também se preocupam com a imagem?

Invisuais aprendem a usar outros sentidos para combinar roupas ou maquilhagem

Em todo o mundo há milhões de pessoas que não vêm, mas isso não as impede de terem vaidade e, muito menos, de serem capazes de escolher e decidirem sozinhas, o que vestir, como se pentearem ou até mesmo de se maquilharem. Porque, tal como para tudo o resto, aprendem a usar os outros sentidos para, por exemplo, saberem a combinar as peças de roupa.

Tertúlia com leitura em Braille




Os aócios da Delegação de Braga da ACAPO vão realizar Tertúlia com leitura em Braille dos Contos da Gorongosa, dia 23 de Abril às 15 horas no Museu dos Biscainhos.

quinta-feira, 26 de março de 2015

ColorADD® – sistema de identificação de cores para daltónicos


"Mais uma colorida parceria por uma educação mais plena e igualitária para Todos!!! A inclusão do código ColorADD no livro “Bia e Kiko exploram a Língua portuguesa” é um exemplo da enorme dedicação, competência e sensibilidade. Promove e facilita um espaço de aprendizagem, de informação total, para todos os que, desde tão tenra idade, não se sentem descriminados e diminuídos. O uso desta ferramenta simples em contexto escolar é um projeto que garante, por si só, uma utilização transversal para todos como ferramenta aumentativa! Quem sabe um dia esta será uma outra história, que recordaremos como um legado que Portugal deixa à Humanidade.
Acreditamos que todos podemos contribuir para um mundo melhor. A COR para TODOS é a nossa motivação.

#colorADD #lusoinfo #biaekiko #color #educação"Mais uma colorida parceria por uma educação mais plena e igualitária para Todos!!! A inclusão do código ColorADD no livro “Bia e Kiko exploram a Língua portuguesa” é um exemplo da enorme dedicação, competência e sensibilidade. Promove e facilita um espaço de aprendizagem, de informação total, para todos os que, desde tão tenra idade, não se sentem descriminados e diminuídos. O uso desta ferramenta simples em contexto escolar é um projeto que garante, por si só, uma utilização transversal para todos como ferramenta aumentativa! Quem sabe um dia esta será uma outra história, que recordaremos como um legado que Portugal deixa à Humanidade.

11 estratégias para melhorar a percepção visual das crianças com déficit de atenção

Trabalhar a percepção da criança com déficit de atenção, desde a percepção de formas imprecisas até chegar gradualmente a percepção dos traços das letras, dos números e das palavras. Procurando fazer com que a criança perceba as formas e deste modo obter a concentração da mesma. Através destas atividades a  criança com déficit de atenção pouco a pouco diferencia símbolos distintos, que são dados por pontos, claros e escuros, linhas, ângulos, que marcam sua figura. A criança vai diferenciando figuras e traços, e chega a internalizar os elementos que constituem formas mais especificas tanto nas figuras como nas letras.
Déficit de atenção

EXERCÍCIOS

1. Percepção de formas básicas no ambiente: descobrindo formas do ambiente, fazendo que ela as reproduza em um molde de formas geométricas, na lousa, no papel, etc. Ex: pedir para que as crianças encontrem um quadrado na sala de aula, um círculo, um triângulo em alguns objetos na sala.
Déficit de atenção
2. Classificação de formas segundo um critério: dar-lhes fichas de formas quadradas, circulares, curvas e triangulares. Pedir que as agrupem em famílias e que pensem em nomes para dar a essas famílias. Pode ser usado jogos de formas geométricas também.
Déficit de atenção
3. Classificação de formas segundo vários critérios: considerar mais além de outras variáveis com o tamanho e cor. Peça que haja grupos de acordo com o tamanho, forma e cor, lhes dizendo, por exemplo:

– Procure todos os quadrados.
– Agora, separe os grandes dos pequenos.
– Olhe os triângulos pequenos! Como podem se separar em grupo?

4. Simbolização de formas geométricas: utilizando formas geométricas peça que construam uma casa, um avião, uma figura humana, etc.
Déficit de atenção
5. Discriminação de fundo: peça que discriminem formas em um fundo, que sejam letras, figuras, números, etc. Por exemplo:
– Pedir que tracem as figuras que encontrarem com diferentes cores.
– Pedir que encontrem a figura da moldura no desenho.

6. Completar figuras: pedir que completem as partes das figuras que faltam.

7. Identificação de palavras com seus correspondentes. Configurações: apresente palavras (que não possam ainda ler) e peça que as moldurem, para que eles percebam que há letras de diferentes alturas. Em seguida apresente cartões com as configurações recortadas, e peça que os coloquem em cima das palavras da configuração correspondente.

RATO – PATO – MACACO
Déficit de atenção
8. Identificação do objeto diferente: apresentar uma caixa que contenha alguns objetos e entre esses um diferente. Peça que tirem o que é diferente. Por exemplo:
– Um caixa com fichas quadradas e entre essas uma redonda.
– Alguns palitos de sorvete vermelhos e somente um azul.
– Uns cubos pequenos e um grande.

9. Identificação da forma diferente: Para que o exercício anterior se dê de maneira concreta. Este exercício se faz através da representação gráfica, com diferentes graus de dificuldade:
– Cartões com figuras, onde o elemento diferente varia em forma e cor. Pergunte qual é o elemento diferente e por quê.
– Cartões com figuras nos quais o elemento diferente varia em tamanho, cor e forma.
– Cartões com elementos da mesma cor nos quais o elemento diferente varia em categoria.
– Apresentar quatro ou mais figuras onde o elemento diferente varie em um detalhe direcional.
Déficit de atenção


10. Identificação de letras semelhantes e diferentes: Uma folha de papel com letras e pedir que:
– Risque com um lápis de cor o cartão que mostra as letras iguais.
– Risque as letras diferentes utilizando uma cor diferente para cada uma.

11. Identificação de detalhes similares ou diferente: exemplos:
– Discriminação de desenhos pares.
– Identificar o desenho que não forma partes do grupo em cada linha.
– Identificar os desenhos similares em cada linha
– Identificar quais desenhos são pares (figuras abstratas). Pinte da mesma cor os pares.
– Identificar as figuras iguais em cada linha e pinte-as da mesma cor.
Através destas atividades as criança com déficit de atenção, poderão melhorar tanto sua percepção visual como sua concentração.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Obrigada!

Olá Amigos e seguidores deste BLOG!
Muito grata pela nova meta atingida: 31.000 visitas! OBRIGADA!

VER PELA ARTE – Audição da Páscoa


No próximo dia 26 de março, 5ª feira, às 19h00, na Galeria Fernando Pessoa, no Centro Nacional de Cultura, o Coro do projeto Ver pela Arte, constituído por crianças, jovens e adultos com deficiência visual na sua maioria, apresenta a Audição da Páscoa.
O programa Ver pela Arte, coordenado pelo Centro Nacional de Cultura, tem como objetivos a aprendizagem de música por alunos com deficiência visual abrindo, ao mesmo tempo, caminho a que o ensino da música a deficientes visuais seja apoiado e impulsionado nas escolas do país.
Lançado no presente ano letivo, este projeto-piloto é apoiado pelo programa CIDADANIA ATIVA, conta com a parceria da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) e o apoio da Faculdade de Motricidade Humana.

As aulas decorrem na Escola de Música de Nossa Senhora do Cabo, em Linda-a-Velha e participam crianças a partir dos 6 anos, jovens e adultos com deficiência visual.

O projeto abrange Formação Musical, Cultura Musical, História da Música e Cultura das Artes, instrumento, Musicografia Braille, Estágio coral em formato de workshop integrado na disciplina de Coro e desenvolvimento de competências psicomotoras para a aprendizagem da Música.

Sendo a música uma arte acessível a todos, esta iniciativa incita à partilha plena destes alunos com colegas de visão normal, promove competências sociais potenciadoras de uma cidadania plena e consciente e atenua desigualdades no acesso à informação e à cultura.

As mais-valias desta iniciativa incluem ainda a criação de uma biblioteca de partituras em braille e de um Manual de Boas Práticas nesta área.

A entrada é livre e faz-se pelo Largo do Picadeiro, nº 10, 1º andar.

Aos olhos de um cego’ & 'Feche os olhos para ver melhor'


   Resultado de imagem para FECHE OS OLHOS PARA VER MELHOR 

AOS OLHOS DE UM CEGO:
Inclusão e convivência com o deficiente visual
Sérgio Sá

‘Aos olhos de um cego’ o mundo pode ser rico de sons, sabores, toques e aromas. Reconhecer o sentido desses sentidos é educar-se para uma nova e expressiva forma de viver. Sérgio Sá, cego de nascença, propõe aos que convivem com um deficiente visual – e mais especialmente aos pais e educadores – uma abordagem sinestésica do mundo, na qual cada sentido tem o seu papel e seu grau de importância para uma educação integral. São orientações para o dia a dia de quem vê ou de quem não vê, das quais ambos podem retirar boas lições de convivência.


FECHE OS OLHOS PARA VER MELHOR
Os limites dos sentidos e os sentidos dos limites
Sérgio Sá

O desenvolvimento de nossos próprios sentidos e a descoberta de novos limites para suas expansões, é a proposta central que apresenta este livro de Sérgio Sá. São reflexões e relatos de experiências vividas pelo autor, em um depoimento sensível e tocante sobre sua condição de deficiente visual e sua relação com o mundo.

Cego de nascença, Sérgio teve sua sensibilidade trabalhada com cuidado e carinho, esculpida por uma família atenta e preocupada em “adequá-lo” à vida numa sociedade tão preconceituosa quanto repressora. O fio condutor da obra está na sugestão que o autor nos faz para que criemos novas maneiras de ver, ouvir, sentir, lidar com o mundo. Para isso, devemos reavaliar o potencial de nossos recursos físicos – tato, audição, olfato e paladar -, mentais e espirituais – nossa capacidade de perdoar, de compreender, de julgar sem condenar.

Temas como a integração social do deficiente físico, a supervalorização da imagem nos dias atuais, conflitos entre individualismo e auto-estima se apresentam de maneira simples e instigante: “A cultura da imagem, tão forte, capaz de anestesiar os sentidos, (…) leva-nos a renunciar a multiplicidade. Agora sei que não é preciso apenas ver para crer; podemos também ouvir para acreditar, cheirar para compreender, sentir o paladar para aprender, tocar para interagir!”


+ sobre Sérgio Sá:http://www.saeditora.com.br/catalogo/literatura-nacional/aos-olhos-de-um-cego/

João, preste atenção! Livro sobre Dislexia para os pequenos


João estava muito feliz. Ele havia passado de ano. E com notas boas! Com nove anos completos, João tem dificuldades de aprendizado.  Foi só no meio do ano que uma psicóloga, amiga de sua mãe, começou a ajudá-lo. Ela conseguiu fazer com que todos compreendessem melhor as dificuldades de João.  O distúrbio que João apresenta, a dislexia, não impede que ele tenha uma vida escolar normal, apenas requer atenção especial, amizade e apoio dos pais e professores.
O parágrafo acima é a sinopse de um livro de Patrícia Secco indicado para crianças de 8 – 11 anos. Livros podem ser excelentes recursos para a conscientização de condições de saúde como a Dislexia, não somente para quem tem, mas também para quem convive. Pensando nisso, estamos colocando aqui como indicação. =)
Você pode procurar por esse livro em lojas físicas ou sites de grandes livrarias da sua cidade.
Você tem outras indicações de livros que sejam como esse? Comenta ou envia email para contato@reab.me =)


domingo, 22 de março de 2015

livro

Recomendo a todos os pais e educadores. Um livro fascinante escrito na primeira pessoa. Hiperatividade, impulsividade, agressividade e défice de atenção não são mais do que um estado de alma!!

O código que pode tratar a cegueira


Enxergar cores e formas é uma habilidade que muitos perdem em consequência, por exemplo, de doenças degenerativas, diabetes e ou acidentes. De acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, estima-se que existam 37 milhões de cegos no mundo. Como o anúncio de um milagre, matéria publica no site da BBC anuncia que está próximo o fim da cegueira. Vejamos do que se trata. Enquanto você olha para esta página, seus olhos fazem coisas interessantes.

A corrente de luz a partir das palavras e imagens está saltando no globo ocular e caindo sobre células fotorreceptoras na retina. Esta informação visual é repassada para as células de saída e, em seguida, transmitida para o cérebro como uma espécie de código, onde é reconstruído para fazer a composição das letras nesta frase que você está lendo agora.

Doenças degenerativas dos olhos, no entanto, podem causar estragos sobre este processo, diz a neurocientista Sheila Nirenberg, do Weill Medical College da Universidade de Cornell, Nova Iorque, EUA. Quando elas danificam a retina, a imagem na frente de você nesse processo nunca fica mais longe do que o globo ocular; a cadeia está quebrada.

Isso é o que faz com que a tecnologia que Nirenberg construiu seja bastante notável. Ela encontrou uma maneira de transmitir um código visual diretamente para o cérebro, ignorando as células danificadas no olho. Em outras palavras, ela pode ajudar os cegos a ver.

Clique abaixo e assista ao vídeo onde Sheila Nirenberg explica como sua tecnologia funciona e o momento eureka que começou tudo.
 

Convenção Multidisciplinar de Educação

Cartaz conven ao inscri  es 1 473 1000
Nos dias 30 de abril, 1 e 2 de maio de 2015 decorrerá, no Multiusos de Gondomar, a Convenção Multidisciplinar de Educação – Perspectivas sobre a Educação Especial com a colaboração de reputados especialistas e investigadores nacionais e estrangeiros, escolas, instituições, empresas e artistas sob a égide do tema da inclusão. A abordagem multidisciplinar criará espaços de partilha de boas práticas e de divulgação de novos saberes.
Nos três dias existirão momentos de exibição de projetos, conferências, workshops, posters, exposição de trabalhos e uma mostra multidisciplinar e interativa. Pretende-se com este evento estimular o debate e a troca de ideias, com o intuito da melhoria das respostas à população com deficiência.
A partir de segunda-feira as inscrições online estarão disponíveis emhttp://www.cme-gondomar.pt/. Para mais informações contacte geral@cme-gondomar.pt.

quinta-feira, 19 de março de 2015

PAIS CEGOS


 
[Reflexões sobre as dificuldades e estratégias dos pais cegos, quando cuidam de seus filhos. As situações referiam-se a amamentar, banhar, alimentar, acidentes domésticos e dar remédio, e o tato, audição e olfato e a rede social contribuindo para sua autonomia.]

O Cego e a Filha - Alfonso Castelao, aguarela - início do séc. XX
O Cego e a Filha - Alfonso Castelao
aguarela - início do séc. XX
 
INTRODUÇÃO
No processo de desenvolvimento do ser humano, os atributos do cuidar são fundamentais e não há pessoa melhor para falar, demonstrar e dedicar-se ao cuidado dos filhos que os pais. Esses exercem uma forma de cuidado especial e, muitas vezes, essa se torna sua razão existencial e essencial para o desenvolvimento dos filhos(1). Contudo, deficiências podem interferir no cuidado dos filhos e é importante que os profissionais de saúde avaliem como se sentem esses pais, quais suas dificuldades e que auxílios necessitam(2).
Para subsidiar a reflexão, realizou-se entrevista em profundidade, técnica dinâmica e flexível, útil para a apreensão de uma realidade, tendo como questão norteadora: fale sobre sua experiência, como cego, no cuidado dos seus filhos. Os sujeitos foram pais que tiveram filhos após a cegueira e que aceitaram participar do estudo após assinar termo de consentimento livre e esclarecido, aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará (COMEPE), sob o nº 345/05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Seleccionou-se um pai e uma mãe cegos, identificados como Maria e José. Maria, 28 anos, casada, dona de casa, estudante do ensino fundamental, mãe de quatro filhos. José, 53 anos, casado, pai de duas filhas, servidor público. A partir da leitura exaustiva das entrevistas procedeu-se a recortes agrupados em dificuldades e estratégias encontradas para cuidarem dos seus filhos. No interior das tabelas há categorias temáticas para melhor visualização.

Tabela 1
Dificuldades encontradas pelos
pais cegos para cuidar dos seus filhos
MARIA
Alimentação: ... não sabia amamentar, segurar, colocar para arrotar...
Higiene: ... não sabia dar banho, tinha medo da criança cai r, beber água do banho....não cuidava do umbigo, o curativo me deixava preocupada...
Cuidados de saúde: ... o remédio líquido... não tem uma marquinha no copo que possa me orientar...
Acidentes: ... o remédio líquido... não tem uma marquinha no copo que possa me orientar...
JOSÉ
Papel de pai: ... que os filhos não se sintam responsáveis por nós... cegos que tiveram filhos de visão normal e que largaram bengala, largaram braille e ficaram dependentes das crianças...
Acidentes: ... cuidados com remédio...marcar em braile...

Amamentar requer ajuda para ser feito corretamente e prevenir problemas na mama puerperal e o desmame precoce(3). Uma boa pega é fundamental para prevenir problemas na mama e propiciar vínculo afetivo(4). Maria referiu dificuldade no banho, insegurança sobre a temperatura da água, ocorrência de acidentes, aos produtos a serem utilizados na higiene da criança. Utilizar o tato e olfato ao cuidar da criança, a disposição dos utensílios e medidas de segurança transmitem autoconfiança à mãe e preservam o bem-estar da criança.
Para administrar medicamentos líquidos, os pais adotam copo com dosagem única, o que permite perceber quando está cheio por meio do toque.
Acidentes domésticos são prevenidos mantendo em local adequado materiais de limpeza, produtos tóxicos e cáusticos e as crianças longe do fogão, de janelas e escadas. A prevenção de acidentes faz parte da habilitação das pessoas cegas nas atividades da vida diária e os primeiros socorros podem ser ensinados com tecnologia educacional adequada(5-6).
José destaca sua responsabilidade como pai e manifesta repúdio aos que delegam esse papel e se apoiam no filho vidente, em um momento da vida em que a criança mais precisa dele. Apesar disso, os pais cegos encontram estratégias para cuidar dos filhos.

Tabela 2
Estratégias encontradas pelos pais cegos
para cuidarem dos seus filhos
MARIA
Aprendizagem: ... fui cuidando sozinha... mas tudo o que eu fazia tinha que pegar... pra gente que não enxerga ter que pegar...
Alimentação: ... amamentar fui aprender com o tempo... depois fui dando outras coisas, frutas, sopinha, eu mesma fazia...
Higiene: ... comecei a trocar uma fralda... minha irmã... me ensinô a banhar, cuidar do umbigo, trocar, vestir... eu colocava a água com a mão sabia a temperatura... os outros três fui eu que cuidei...
Cuidados de saúde: ... levava pra vacinar, olhava a temperatura do corpo... pezinhos e nos braços... sinal de febre, gotas... boto o dedo sinto e conto as gotas...
Acidentes: ... tinha um pano pegando fogo... a menina de seis anos apagou porque ela enxerga... se você conversar, elas vão guardando aquilo e não vai teimar...
JOSÉ
Aprendizagem: ... a gente procurou criar nossos próprios recursos, nossos próprios métodos para poder lidar com o problema...
Alimentação: ... consegue tomar conta da casa, das crianças ...questão da alimentação...
Cuidados de saúde: ... remédios, a gente faz marca em braille ou com o nome do remédio... dos cuidados que todo pai tem que ter nós tivemos, criando nossos filhos...
Acidentes: ... organizar... sempre no mesmo lugar... tatear ou cheirar... tudo marcado...
Papel de pai: ... com a minha bengala para que eu dependesse da minha bengala e não das filhas... alguém disse: "tome conta do seu pai" ... eu disse: "não é ela que está comigo, sou eu que estou com ela, eu é que sou responsável"
A cegueira: ... as filhas convivem bem com a minha cegueira... percebem que para eu ver eu tinha que pegar... na mente delas eu conseguia ver tudo com a mão... a mão na fotografia ... a tela da televisão...

As estratégias adotadas pelos pais cegos para cuidarem dos seus filhos apoiam-se nos sentidos remanescentes, o tato, o olfato e a audição. Usar redes de apoio é fundamental para o auxílio no cuidado pela mãe cega que as associou com estratégias independentes de cuidar. Maria foi apoiada pela irmã que a ensinou a alimentar, banhar. Contou com a solidariedade da vizinha que a socorria nas situações de imprevisto, quando levava a criança à pediatra, recebia instruções como identificar febre e secreção em ferimentos.
Para alimentar seu filho com colher, segura a cabeça da criança para ter noção da posição da boca. As porções sólidas são oferecidas com a colher em pequena quantidade e as líquidas, em copo. A palavra-chave usada foi o pegar, ou seja, tocar a criança, palpar o alimento, sentir a temperatura da pele e da água. A organização dos objetos é fundamental para a execução de cuidado com os filhos. A autonomia foi evidenciada, mesmo tendo sido enfatizada a procura de apoio de outras pessoas.
Ao administrar medicações em gotas, sentem nos dedos as gotas caírem. Apesar de a legislação prever a identificação dos medicamentos em braille, isso ainda não foi plenamente adotado. As receitas médicas transcritas para o braille também é direito do cego(7). Os profissionais de saúde admitem não dominar habilidades para assistir essas pessoas, relatam não saber se comunicar com pessoas cegas e surdas(8).
A ocorrência de acidentes domésticos mostra que o domicílio e as medidas preventivas não são adequados(5). As atividades da vida diária a serem realizadas pelos cegos incluem cozinhar, lavar, passar, limpar a casa e fazem parte da habilitação recebida em escolas especiais(9). Os cegos utilizam meios não visuais para estabelecerem relações com as pessoas e com os objetos que os cercam. Jamais se deve privá-los de uma experiência real, pois elas maximizam seu ajustamento social(10). O depoimento de José é um exemplo de ajustamento, seguro de si e com boa autoestima.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pôde-se constatar a complexidade de situações vivenciadas pelos pais cegos quando amamentam, alimentam, banham e administram medicamentos. O pai cego destaca o relacionamento social, a mãe cega enfatiza o cuidado biológico.
Desenvolvem estratégias criativas no cuidado com os filhos com o uso do olfato e do tato, o apoio de familiares e vizinhos. Os profissionais de saúde, especialmente os enfermeiros, devem estar mais próximos a essas pessoas e produzir conhecimento para esse grupo tão pouco contemplado em nossa sociedade.

REFERÊNCIAS
  • 1. Grossmann K, Grossmann EK. Maternal sensitivy. In: Crittenden PME, Claussen AH, editors. The organization of attachment relationship: maturation, culture and context. New York: Cambridge University; 2003. p. 13-37.
  • 2. Behl DD, Akers JF, Boyce MJ, Taylor MJ. Do mothers interact differently with children who are visually impaired? J Visual Blindness 1996; (90):501-11.
  • 3. Swanson V, Power KG. Initiation and continuation of breastfeeding: theory of planned behaviour. J Adv Nurs 2005 May; 50(3):272-82.
  • 4. Handa S, Takahasi C, Morimoto M. The management of puerpera by visiting midwives one month after delivery. Stud Health Technol Inform 2006; 122:940.
  • 5. Pagliuca LMF, Costa NM. Deficiente visual: avaliação de risco para acidente doméstico. Esc Anna Nery Rev Enferm 1999; 3(2):97-106.
  • 6. Pagliuca LMF, Costa EM, Costa NM, Souza KM. Desenvolvendo tecnologia para prevenção e tratamento de emergências domésticas para cegos. Rev Bras Enferm 1996; 48(1):83-4.
  • 7. Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências [on line] [ Acesso 2007 fev 13]. Disponível em:
  • 8. Macedo KNF, Pagliuca LMF. Características da comunicação interpessoal entre profissionais de saúde e deficientes visuais. Rev Paul Enferm 2005; 23(3/4):221-6
  • 9. Pagliuca LMF. A arte da comunicação na ponta dos dedos - a pessoa cega. Rev Latino-am Enfermagem 1996 abril; 4 (n. especial):127-37.
  • 10. Fonseca V. Educação especial. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995.

Mini-Olimpíadas promovem inclusão de alunos com necessidades educativas especiais

No sentido de promover a integração, a inclusão, a autonomia e a coesão de alunos com Necessidade Educativas Especiais (NEE) na sociedade, o Município de Braga realiza, no dia 20 de Março, a partir das 9h30, no Gimnodesportivo da Universidade do Minho, Campus de Gualtar, as «Mini-Olimpíadas para os alunos com Necessidade Educativas Especiais».

A atividade, que decorrerá no âmbito do tema «Educação para a Autonomia», incidirá sobre a educação para a inclusão e os instrumentos básicos e essenciais para a promoção do progresso dos estudantes com NEE.

As Mini-Olimpíadas para os alunos com NEE são destinadas aos alunos das escolas do 1º, 2º e 3º Ciclo, do concelho de Braga.

As atividades adaptadas inscritas nas Mini-Olimpíadas, como o Vaivém com obstáculos, para Lançamento de bola medicinal, o Salto steps, Corrida, Lançamento de peso, Estafetas, entre outros, têm como propósito uma abordagem que assenta na Educação Inclusiva, de uma forma adequada ao processo de ensino-aprendizagem destes alunos, funcionando ainda como meio de promoção da inclusão, das relações interpessoais e da igualdade de oportunidades.

terça-feira, 17 de março de 2015

CEGUEIRA E LITERATURA



A cegueira ou a falta de uma visão perfeita foram temas de muitos escritores em contos, crônicas e romances. No entanto, alguns lidaram com essa questão na pele, o que acabou influenciando seu processo de escrita e também tornando o relato do assunto mais pessoal.
Um desses escritores é o argentino Jorge Luis Borges. Ele começou a publicar seus poemas na década de 1920 e, em 1930, criou os contos que o tornariam conhecido mundialmente, anos mais tarde. Segundo o escritor Julián Fuks, Borges já sabia que ficaria cego, o que lhe deu tempo para se preparar e apostar em textos curtos, como poesias e contos – estes, sua marca.
Em 1956, por exemplo, quando foi leccionar literatura inglesa e americana na Universidade de Buenos Aires, os médicos já tinham proibido Borges de ler e escrever devido à cegueira, que havia chegado um ano antes. Em 1960, lançou O Fazedor, livro que considera o mais pessoal.


Jorge Luis Borges

“Ele tinha ficado cego cinco anos antes de lançá-lo, não conseguia mais ler, e ali foi surgindo o Borges dos ditados, das conferências, um Borges oral. Essa obra fala justamente do Borges. O Borges personagem de si mesmo surge n'O Fazedor”, comenta Fuks, que em seu primeiro livro, Histórias de Literatura e Cegueira (Record), narra em crônicas o final da vida de três escritores clássicos que perderam a visão: BorgesJoão Cabral de Melo Neto e James Joyce. No caso do argentino, Fuks diz que os textos curtos são fruto de um Borges “mais oral”.
Em O Fazedor, dois textos falam da cegueira: Poema dos dons e o conto que dá nome ao livro. “Tudo se afastava e se confundia. Quando soube que estava ficando cego, gritou; o pudor estoico ainda não fora inventado e Heitor podia fugir sem menoscabo. ‘Não verei mais (sentiu) nem o céu cheio de pavor mitológico nem este rosto que os anos vão transformar’”, escreveu Borges em "O Fazedor".
O escritor irlandês James Joyce, autor de Ulysses, não perdeu totalmente a visão, mas sofreu com um glaucoma. “O principal de sua obra foi escrito antes desse estado de quase cegueira, embora o problema progressivo de visão, devido ao glaucoma, o tenha acompanhado por bastante tempo. A dificuldade foi maior na fase final de criação de seu último romance, o Finnegans Wake (1939). Ele contou com a colaboração de Samuel Beckett, a quem ditava o texto”, diz Marcelo Tápia, doutor em teoria literária pela USP, diretor do museu Casa Guilherme de Almeida e organizador do Bloomsday, evento mundial em homenagem à obra Ulysses, em São Paulo.


James Joyce

Segundo Tápia, uma relação possível entre a obra de Joyce e seu problema de visão é a “importância que a sonoridade das palavras adquire em seus textos: o efeito sonoro parece ser um aspecto prioritário de sua escrita”, diz. Sylvia Beach, dona da livraria 'Shakespeare in Company', em Paris, e editora de Joyce, conta no livro que leva o nome de seu estabelecimento que as provas enviadas ao escritor eram sempre aumentadas para que ele pudesse revisá-las.
“Ele procurava seguir com seu trabalho, apesar da dificuldade”, conta Tápia. “Há um artigo de Eisenstein em que o cineasta russo relata a ocasião em que procurou Joyce para mostrar-lhe um filme seu, e, após Joyce tê-lo ‘assistido’, ambos conversaram sobre o trabalho; Eisenstein sentiu-se culpado, posteriormente, ao se dar conta de que Joyce, embora o tivesse recebido tão bem, estava quase cego”.

OUTROS AUTORES
O autor de "Admirável Mundo Novo", Aldous Huxley, viveu quase três anos na escuridão, aos 17 anos, em decorrência de uma queratite pontuada. Foram 18 meses totalmente cego e o restante com dificuldades para enxergar.
 

Aldous Huxley

“As coisas foram assim até o ano de 1939, quando, a despeito de um grandioso e reforçado óculos, eu vi a tarefa de ler cada vez mais difícil e fatigante. Não poderia haver dúvida disso: minha capacidade de ver estava firmemente e bem rapidamente deteriorando”, escreveu ele em A Arte de Ver, de 1942, onde fala sobre sua experiência e melhora com o método Bates, que optou pelo descarte dos óculos e por exercícios para fortalecer o globo ocular. Mas a qualidade de sua visão ainda é incerta. Uns dizem que ele nunca a recuperou totalmente; já outros afirmam que as lentes de aumento foram suficientes para ajudá-lo a enxergar melhor ao longo da vida.


Milton dita o poema Paradise Lost às filhas
Eugène Delacroix, 1826

 
O britânico John Milton, considerado o maior poeta inglês depois de Shakespeare, ficou cego aos 44 anos, quando estava preso, devido a um glaucoma. Sua obra mais famosa, O Paraíso Perdido, sobre a criação de Adão e Eva, foi totalmente ditada. A preparação do livro levou seis anos, de 1658 a 1664. A publicação aconteceu em 1667. O problema não impediu o escritor de produzir.


Luís de Camões
 
Já o autor de Os Lusíadas, Luís de Camões, escreveu o livro - cego do olho direito - e publicou-o em 1572. A perda da visão ocorreu após uma batalha em 1524.


João Cabral de Melo Neto
 
No caso do brasileiro João Cabral, a cegueira fez dele um “ex-escritor”, segundo o próprio, após o erro médico que o deixou cego em 1993. Não escreveu mais, pois dizia que precisava ver o papel. Seu último poema foi “Pedem-me um poema”, publicado na revista Terceira Margem, em 1998, um ano antes de morrer. Nos primeiros versos, fica claro que a visão era primordial para sua escrita: “Pedem-me um poema / um poema que seja inédito, / poema é coisa que se faz vendo, / como imaginar Picasso cego?”.